O Peregrino escrita por Deusa Nariko


Capítulo 14
Capítulo XIV


Notas iniciais do capítulo

Décimo quarto capítulo dedicado à Estefanny e à Annakiwi pelas recomendações maravilhosas! Obrigada mesmo! *-*
...
Boa leitura!



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O Peregrino

Capítulo XIV

Taki no Kuni (País da Cachoeira), dias atuais.

Perto do meio-dia, decidi explorar Imagawa mais a fundo. Estava, de fato, entediado e talvez uma caminhada ao redor do vilarejo ajudasse a ocupar meus pensamentos vergonhosamente ociosos e me dar uma ideia de como prosseguir minha averiguação.

Para ser franco, tudo me parecia suspeito ou falsamente alocado: desde a mochila vazia de Sakura que encontrei há algumas horas, escondida numa tábua solta do armário no quarto onde havia se hospedado semanas atrás, à súbita resistência de Ajisai em me fornecer detalhes do seu sumiço.

Estava óbvio para mim que alguns dos moradores de Imagawa não eram tão inocentes quanto sugeriam, ou guardavam segredos obscuros demais para serem revelados a um mero forasteiro como eu.

Portanto, eu tomei a trilha de terra batida que atravessava o lugarejo de ponta a ponta sob o pretexto de matar o tempo a qualquer um que me indagasse. Meus pés rapidamente me levaram para longe das casinhas de madeira e de seus habitantes invasivos.

O sol estava a pino, mas as temperaturas permaneciam agradáveis devido à altitude.

Além dos imensos paredões rochosos naturais que protegiam a vila, havia uma densa floresta de abetos mais ao sul, e foi para lá que me dirigi. O cheiro denso de terra molhada e pinheiros perfumava o ar cortante e invernal.

Entre arbustos lenhosos e árvores tão altas que se perdiam do meu campo de visão, intriguei-me ao notar um pingo carmesim entre as cores do inverno: predominantemente sépia com resguardos de um verde-oliva opaco e contido.

Acerquei-me, curioso, do espécime destoado, abrigado sob a sombra de um bordo desfolhado. Suspirei depois de tê-la reconhecido devidamente.

— Lírio-aranha vermelho — murmurei seu nome, apático.

Ouvi o ruído suave de um regato correndo ali por perto e segui o seu curso por alguns metros antes que ele se alargasse em um rio mais adiante; sem dúvida, um dos afluentes do rio Kitakamu. Estava raso, afinal era uma época de estiagem, conhecida por suas chuvas parcimoniosas e a vegetação que crescia em ambas as margens havia perecido sob o inverno.

Ainda assim, continuei a seguir o curso calmo do leito, demarcando um perímetro para que não me afastasse demais do vilarejo e, ao mesmo tempo, avançando em direção à parte mais densa da floresta.

Tinha me afastado mais ou menos um quilômetro e meio do ponto inicial, quase duas horas depois, quando a luz do sol, refletida nas águas cristalíferas do rio, chamou minha atenção para um objeto cintilante, perdido na sua rasa fundura.

Enviei chakra para a sola dos meus pés antes de saltar sobre as águas, andando por cima da superfície até o pequeno objeto, meio enterrado no solo lamacento. Abaixei-me e enfiei o meu punho até o cotovelo nas águas congelantes, agarrando-o e puxando-o do fundo do rio.

Meus dedos entorpecidos pelo frio apertaram-no com mais força quando o reconheci, de fato. Era um hitaiate e estava rasgado e sujo, mas a tonalidade do tecido não mentia e permanecera preservada, tal como a insígnia cravada no centro do metal: era vermelho e tinha o símbolo da Folha, ainda que semicoberto de lama.

Tentei me conter antes que tirasse qualquer conclusão. Mas Sakura usava um hitaiate vermelho amarrado no cabelo já havia alguns anos. Havia uma grande possibilidade de que aquele que eu segurava, pertencesse a ela.

Com um suspiro de resignação, limpei-o o máximo que consegui e em seguida o escondi sob o meu manto.

Pelas escassas informações de que dispunha, Sakura não travara uma batalha nem sequer remotamente próxima ao território de Imagawa. Não, ela fora emboscada alguns quilômetros mais adiante e desapareceu nas águas do rio Kitakamu havia quase três semanas. Parando agora para observar o relevo da região, constatei que uma vazão inesperada do rio poderia ter trazido o hitaiate de Sakura até aqui, contrariando a correnteza.

Saltei da superfície do afluente diretamente para o ramo de uma faia centenária praticamente desnuda, ainda com chakra infundido na sola dos meus pés. Dali de cima, observei. Quase duzentos metros adiante, entre o dossel de folhas das árvores, localizei o ponto exato em que o afluente e o rio Kitakamu se encontravam.

Era um rio impressionante, largo nas margens, com uma correnteza forte e um leito fundo o bastante. Nascia no topo da montanha e descia todo o desfiladeiro rochoso num ritmo imponente, espatifando o seu curso nas rochas pontiagudas de sílex.

Cogitei a possibilidade de avançar mais, mas percebi que o tempo estava fechando: nuvens cinzentas abarcavam o horizonte antes límpido, e nem mesmo havia mais sinal do sol. As temperaturas estavam caindo depressa.

Praguejei baixinho e me resignei a refazer o percurso até a vila, amuado e insatisfeito. O hitaiate molhado na minha bolsa ninja parecia pesar a cada passada.

Levei menos tempo para voltar e, assim que passei pelo vestíbulo da casa de Shizuka, ela me lembrou com uma expressão azeda de que eu havia perdido o horário em que o almoço era servido para os hóspedes.

Dei-lhe um olhar apologético, assegurando que tentaria me lembrar disso da próxima vez. Em seguida, fechei-me no quarto, retirei o meu manto e revi os itens que havia recuperado até agora: o primeiro indiscutivelmente pertencia à Sakura. A possibilidade do segundo também ser dela havia me deixado aflito, por mais que eu tentasse manter a compostura.

Revirei a mochila novamente, checando minuciosamente cada bolso, interno ou externo, e até mesmo o forro atrás de alguma costura desfeita. Mas estava mesmo vazia e isso me frustrou enormemente.

Minha única pista até agora sobre Sakura continuava sendo Ajisai. Eu precisava espioná-la, talvez encontrar uma forma de afastá-la da vila e, depois, extrair tudo o que pudesse dela com meu Sharingan. Eu não queria traumatizar a menina de forma alguma, mas não via alternativas.

Eu também tinha que me assegurar de não estragar o meu disfarce. Ninguém na vila poderia suspeitar que eu estava envolvido com os assuntos de Konoha ou com a Kunoichi que cumpriu uma missão aqui há alguns meses. Não, eu só tinha a discrição a meu favor no momento.

Deixá-los descobrir a minha ligação com o Rokudaime Hokage poderia pôr em risco a minha busca por Sakura e isso decididamente eu não poderia arriscar.

Como começava a apresentar sinais de impaciência e ansiedade, voltei aos meus pertences e rompi o lacre do segundo pergaminho que Kakashi havia me confiado. Fiquei surpreso com seu conteúdo porque aquela era a letra de Sakura, indiscutivelmente.

Apertei a folha fina sem perceber enquanto corria meus olhos pelas linhas: era um relato profissional, como imaginei, a impessoalidade na alocação dos termos médicos para se referir aos diversos sintomas da doença e as citação das ervas e raízes que ela utilizou na elaboração dos medicamentos deixava isso bem claro.

Era um tipo de relatório que eu podia facilmente imaginar Sakura escrevendo debruçada sobre uma mesa, tarde da noite, depois de haver se doado até a sua última gota de vigor para cuidar daquelas pessoas.

Também era impressionante a sua habilidade de descrever os sintomas e como ela os combateu minuciosamente, relacionando diversas possibilidades para a causa do surgimento da moléstia: o consumo de uma raiz local como tempero para a comida foi descartado logo nos primeiros dias, ela enfatizou que não havia riscos no seu uso — contanto que uma dieta balanceada fosse mantida não deixou de acrescentar e eu sorri minimamente.

A segunda possibilidade, o envenenamento da água, também foi logo posta de lado. Os animais, que consumiam água da mesma fonte, não apresentaram nenhum sintoma ou anormalidade.

Sakura relatou em detalhes os exames que realizou tanto nas pessoas adoentadas quanto nas saudáveis. Foram dias coletando e examinando amostras até que ela determinasse a origem da doença: algum tipo de esporo bacteriano que, depois de anos em estado latente, germinou e contaminou uma porção das hortas, de onde os aldeões tiravam suas leguminosas e algumas hortaliças.

Os sintomas, entretanto, variavam em gravidade e intervalo para aparecerem em cada paciente infectado. Sakura relatou enfaticamente que crianças e idosos foram os grupos mais afetados e que mais correram riscos, mas que uma pessoa com um sistema imunológico aparentemente saudável poderia contrair a doença com os mesmos riscos de um homem idoso.

Ela relatou que colheu uma amostra do esporo e o enviaria à Konoha para uma análise mais detalhada assim que possível, já que aqui não dispunha dos equipamentos necessários, e que aguardaria uma resposta de Shizune.

Ao todo, Sakura não havia levado mais do que uma semana e meia para determinar a origem da doença, conter seus avanços, tratar seus sintomas e ministrar um medicamento mais eficaz assim que elaborou um meio mais eficiente de combater a enfermidade.

Entretanto, refleti enquanto enrolava o pergaminho novamente e o queimava com meu Katon, pelas informações que havia recebido, Sakura havia permanecido bem mais tempo aqui na vila do que o necessário. Se em tão pouco tempo ela controlou e tratou a epidemia, o que a havia feito postergar sua partida?

A única resposta cabível seria a sua outra missão: as atividades ilícitas do novo Lorde Feudal, sua aliança com uma organização criminosa cujos feitos já começavam a repercutir, alcançando até mesmo os ouvidos atentos dos Kages que não gostaram nada da situação.

Mas a questão principal continuava sendo o ataque à Sakura, a emboscada que a fizera desaparecer. O que ela fez que teria entregado seu disfarce? O que ela descobriu? Seja o que for, foi o suficiente para o Lorde Feudal arriscar sua posição e seu país.

É claro que ele sabia que haveria uma retaliação, mais cedo ou mais tarde. A “morte” de uma heroína de guerra como Sakura, aprendiz de uma Hokage e Sannin, jamais passaria em branco. E estava claro como a água para mim que Shinobis de Taki estariam mais vigilantes do que nunca, à espera de que isso acontecesse.

Por isso, eu precisava ser mais cauteloso do que nunca.

Ninguém, absolutamente ninguém, poderia sequer desconfiar da minha identidade, da minha ligação com Konoha ou, mais importante do que tudo isso: do meu propósito de encontrar Sakura e levá-la em segurança para casa.

Tomei uma decisão mais tarde naquele dia, depois de muito haver ponderado. Mas era uma saída, convenci-me, apanhando meu manto e espada e saindo para o fim de tarde cinzento e invernal: caía, paulatinamente, a noite em Imagawa.

Eu me apressei na direção da floresta, evitando os aldeões e me esgueirando sob sombras que cresciam conforme um ocaso arroxeado tomava o céu frio.

Uma vez protegido de olhares intrusivos e inconvenientes, mordi meu polegar com força suficiente para romper a pele. Uma gota de sangue pequena brotou da perfuração causada pelo meu canino.

Kuchiyose no jutsu! — entoei, pousando meu polegar ferido no chão úmido.

Uma nuvem tênue de fumaça insurgiu na clareira, pouco a pouco revelando a silhueta esguia de uma serpente mediana. Eu ainda tinha contrato com a maior parte das serpentes, do meu passado negro com Orochimaru, e as achava extremamente úteis, apesar de ter uma predileção especial inegável pelos meus falcões.

Eu facilmente poderia ter invocado um deles para transmitir minha mensagem, mas considerando o todo, sabia que desse modo haveria mais impacto, além disso, uma víbora acharia mais facilmente o caminho de volta para o seu covil.

A serpente, enrolada em torno do seu próprio eixo lustroso de escamas pálidas e úmidas, reconheceu-me instantaneamente como seu invocador, embora não tivesse a habilidade de dialogar como outras, entenderia meus comandos simples.

Rapidamente eu lhe mostrei o pergaminho cuidadosamente lacrado. Seus olhos dourados em formato de elipse cintilaram ante o objeto antes que sua boca o agarrasse, retirando-o de minha mão.

— Encontre Hōzuki Suigetsu no esconderijo ao norte do território de Oto e entregue essa mensagem a ele — instruí calmamente e a serpente logo me deu as costas, deslizando sobre o solo da floresta e desaparecendo em um piscar de olhos.

Eu só podia contar agora que a última localização que obtive de um dos ex membros do Taka fosse verídica. A verdade é que não ouvia notícias de nenhum deles, Juugo, Suigetsu e Karin, havia meses.

Não mantive contato com qualquer um deles, muito menos com Orochimaru ou Kabuto porque minha jornada de redenção era exatamente para me purificar dos meus pecados passados. Talvez agora pudesse contar com eles uma última vez, se tivesse sorte.

E, na verdade, eu estava mesmo contando que eles respondessem meu chamado.

Tremendo de frio na noite escura que se consolidava, voltei para a vila, mas não sem antes me certificar de que ninguém havia me seguido, muito menos me notado esgueirando-se silenciosamente para a floresta.

A caminho da casa de Shizuka, enquanto os aldeões acendiam lamparinas e dividiam pequenas doses de sakê quente, cruzei com Ajisai.

Ela corou tão logo me notou ali e alisou seu quimono para desmanchar qualquer imperfeição invisível no tecido. Em seguida, tratou de comunicar que eu estava convidado — mais ou menos intimado — por seu avô para jantar em sua casa e que se recusasse a oferta, ele se sentiria muito ofendido.

Ponderei por mais tempo do que o necessário, tentado a seguir aquela linha de investigação que eu sabia que mais cedo ou mais tarde implicaria em envolver Ajisai, mas concluí no fim que não me restava alternativa: encontrar Sakura continuava sendo a minha prioridade, o meu objetivo. O que eu tivesse de fazer para alcançá-lo, bem, eu o faria. Lidaria com as consequências e com Kakashi mais tarde, depois que a tivesse sã e salva e definitivamente longe daqui.

No fim, aceitei o convite polidamente e Ajisai abriu um sorriso cheio de dentes, praticamente eufórica por eu não haver recusado a gentileza. Segui-a até sua casa, um pouco atrás, pesando em uma balança as decisões que começavam a tomar forma na minha cabeça anuviada.

Todos foram especialmente gentis comigo mais uma vez. Yoshiaki era sempre o mais entusiasmado, como de praxe, e sua filha Naomi era atenciosa o bastante para se certificar de que eu estava suficientemente confortável.

Nós comemos sob a luz das lamparinas de papel e eu estava completamente a par da atenção exagerada que Ajisai dedicava a mim. Mesmo agora sentia os seus olhos sobre o meu rosto, que não deixavam escapar o menor gesto vindo de mim.

Meus pensamentos, entretanto, encontraram-se distantes dos diálogos calmos e despretensiosos que ocorriam em torno da mesa de jantar. Agora eu só conseguia imaginar se Suigetsu sequer se daria ao trabalho de ler minha mensagem, reunir os outros e vir ao meu encontro.

A possibilidade de ser deixado na mão não me parecia muito impossível.

Depois de satisfeito, agradeci novamente pela refeição e pela hospitalidade de Yoshiaki e sua família. Eles disseram que eu seria bem-vindo ali a qualquer momento e que seriam eternamente gratos por meu ato honroso de haver salvado a vida do seu patriarca.

Apanhei meus pertences e me encaminhei para a porta da frente. Mal dei dois passos noite adentro antes de ouvir passadas comedidas me seguirem, procedidos pelo tom de voz melódico de Ajisai chamando-me.

— Você já vai? — questionou-me ao me olhar de baixo, através das pestanas escuras.

Aquiesci com um gesto e ela bufou quase imperceptivelmente.

— Ah, eu esperava que pudéssemos conversar um pouco mais.

Ela se aproximou timidamente, comedidamente. Avaliava cada gesto meu, isso estava estampado na sua face, e intentava me compreender, decifrar-me. Como permaneci com uma postura defensiva, ela se deteve a meio metro de mim. Sua voz mal passava de um sussurro.

— Queria muito ouvir as suas histórias. Sasuke-san me parece uma pessoa que viaja frequentemente, deve ter visto incontáveis lugares incríveis.

— Talvez em outro momento — escusei-me porque a recusa sempre havia sido o meu primeiro reflexo, mas a minha única suspeita ainda recaía sobre sua compleição inocente, portanto não pude dispensá-la de forma definitiva.

A expressão auspiciosa em seu rosto murchou só por um instante. Ela recuperou sua autoconfiança mais cedo do que eu esperava.

— Ah, é claro. Quando não estiver ocupado.

Meus pés tencionaram deixá-la ali. Eu realmente não conseguia lidar com flertes. Entretanto, Ajisai, enrubescendo ainda mais perceptivelmente, inteirou quase maliciosa:

— Quero dizer, ser um Shinobi em missão... Isso deve ser muito trabalhoso, mas também bastante excitante.

Paralisei só por um segundo, retendo o choque que por pouco não atravessou o meu rosto cuidadosamente composto. Além disso, ela ainda não havia terminado.

— Sasuke-san também deve estar muito atarefado... Procurando pela sua amiga... Eu compreendo.

Assomei sobre ela sem realmente ter a intenção, avançando contra a menina. A adrenalina por pouco não me levou a ativar meu Sharingan. Ajisai recuou de súbito, a boca apartada em choque.

— Como você sabe...? — demandei, rouco.

Não consegui obter a resposta, no entanto, uma vez que a porta da frente resvalou inopinadamente, interrompendo-nos. Naomi surgiu à porta com uma expressão que sugeria censura pelo comportamento da filha.

— Ajisai, pare de importunar o Sasuke-san! Já é tarde. — E abriu um sorriso gentil para mim. — Deixe-o ir em paz.

Sumimasen — ela sussurrou tão ou mais corada do que antes, fez-me uma pequena reverência e correu para dentro de casa, passando por sua mãe.

Naomi ainda sorria para mim quando puxou a porta.

— Tenha uma boa noite, Sasuke-san.

E eu fui deixado ali: frustrado, confuso e sem qualquer resposta.

Ho no Kuni (País do Fogo), três anos antes.

Encarei o homem grisalho diante de mim com neutralidade.

Depois de haver confidenciado a ele a minha mais recente e secreta angústia, esperei por suas palavras sábias, por seus conselhos sensatos, frutos de experiências que compartilhávamos ou que ao menos tínhamos em comum.

O recente nomeado Rokudaime Hokage Hatake Kakashi esfregou o queixo por cima do tecido da sua máscara. Minha sorte foi tê-lo abordado tão cedo, antes que ele se encerrasse em seu gabinete com suas obrigações.

Então, ele suspirou pesadamente e seus ombros que sempre pareciam cansados para mim subiram e desceram com o gesto.

— Você está me perguntando sobre o futuro...? — A incredulidade que vislumbrei nos seus olhos incomodou-me um pouco, confesso. — O seu futuro?

— Não conheço ninguém melhor que você para me indicar o caminho, Kakashi — confessei e me senti desolado.

— Bem, as opções são, de fato, limitadas — ele observou, tornando a esfregar seu queixo. — Mas você pode dar o seu melhor, Sasuke.

Levantei-me da cadeira em que estivera sentado e andei a esmo pela cozinha do pequeno apartamento de Kakashi. Ele havia se desculpado mais cedo por uma desordem que eu honestamente não via, usando como pretexto suas novas responsabilidades como Hokage que, temporariamente, haviam bagunçado seus horários.

— É por Naruto e Sakura que você está me perguntando isso? — ele indagou e eu me detive, paralisado. — É por não querer desapontá-los que você veio até mim?

Foi a minha vez de suspirar longamente.

— Não conheço ninguém que tenha se levantado mais vezes do que você, Kakashi — admiti um pouco acanhado e meu ex sensei assentiu, compreendendo onde eu objetivava chegar.

— Ah, sim. Bem...

Kakashi se levantou também e se aproximou da pia para servir um pouco de chá do bule que fumegava, descansando sobre um apoio de metal. No entanto, não fez qualquer gesto para tomá-lo ou para sequer tirar a maldita máscara do caminho.

— Você precisa encontrar um novo objetivo, Sasuke.

— Eu nem mesmo sei mais quem eu sou, Kakashi.

Dito isso, ele suspirou novamente. Nunca o vi mais cansado — ou preguiçoso — do que agora.

— Neste caso, descubra quem você é primeiro, Sasuke.

— Você fala como se fosse fácil — resmunguei e ele abriu um sorriso perceptível, um que repuxava o tecido da sua máscara.

— O que eu sei é que Naruto e Sakura lutaram muito para te ter de volta.

Depois de uma pausa e um breve olhar para a manga esquerda e vazia da minha blusa, ele continuou:

— Você só tem que fazer a luta deles valer a pena. Dê o seu melhor, Sasuke.

Entendi sua dispensa e fechei a expressão. Kakashi não havia sido de muita ajuda, afinal me deixou apenas com frases suspensas e conselhos vazios que só fizeram crescer as minhas dúvidas quanto ao meu futuro.

Descobrir quem eu era, fácil para ele falar. Mas na prática, como eu faria isso?

É por isso que deixei o apartamento de Kakashi ranzinza naquela manhã. Talvez eu arrastasse Naruto para um treinamento mais tarde, talvez eu decidisse me fechar no quarto e ruminar a minha crise existencial.

Eu me sentia patético por isso, mas não conseguia evitar.

Afinal, como faria para encontrar essas respostas? Como garantiria que jamais decepcionaria Naruto e Sakura outra vez?

Eles acreditavam em mim e eu tinha de honrar essa confiança tão auspiciosamente depositada.


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Notas finais do capítulo

O que será que a Ajisai sabe? Quanto será que ela sabe? AHUAHUAHUA
...
Próximo capítulo, o Taka chega e logo, logo teremos mais lutas! Pena que SuiKa aparentemente não é Canon, mas eu vou trabalhar o casal aqui mesmo assim u.ú
...
Gente, nunca pensei que fosse viver o bastante pra ver Sakura e Sasuke se referindo um ao outro como MEU MARIDO e MINHA ESPOSA :v Morri com três últimos capítulos, só posso dizer isso. Especialmente porque Sasuke-kun chama a Sakura por "Tsuma" que em japonês é a forma mais respeitosa que um homem pode se referir à sua companheira porque significa que ele a vê como alguém do mesmo nível dele. SOCORRO *u*
...
E aquele Sasuke confiante na força da mulher e não escondendo quanto orgulho sente dela?! NÃO POSSO COM ISSO, NA BOA!
...
E se alguém estiver acreditando naquele teste de DNA do Doutor Suigetsu especialista em genética ( :v ), por favor, SAIA DESSA! Tão óbvio que Kishimoto está gargalhando dos Haters e eles nem se tocam XD "Er, seus óculos são parecidos" HAHAHAHAHAHAHAHAHA SOCORRO!
...
Enfim, obrigada a todos pelos reviews lindos! Eu os responderei entre hoje e amanhã. Nos vemos nos reviews ;D
...
P.S: Prontos para verem a Sakura chutar a bunda do Shin essa semana?! *-*



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