O Peregrino escrita por Deusa Nariko


Capítulo 12
Capítulo XII


Notas iniciais do capítulo

Décimo segundo capítulo.
Boa leitura!



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O Peregrino

Capítulo XII

Taki no Kuni (País da Cachoeira), dias atuais.

Yoshiaki era um comerciante modesto, oriundo da Baía de Kusegawa, a nordeste do território de Taki.

Ele tagarelou a respeito da sua jornada de migração ainda no auge da juventude que o levou tão ao sul do país durante todo o percurso, ressaltando que o fizera quando a principal atividade econômica que sustentava seu vilarejo, a pesca artesanal, entrou em declínio.

Disse-me que não se arrependia da decisão, que encontrou em Imagawa conforto, paz e a mulher que se tornou o grande amor da sua vida.

Seu discurso apaixonado era um contraste gritante com meu estado de humor apático, mas acredito que em nenhum momento minha inexpressividade o desencorajou a prosseguir com seu relato. Muito pelo contrário: creio que tomava meu silêncio como um sinal de concordância muda para que prosseguisse.

— Hoje, vivemos apenas eu, minha filha mais velha Naomi e minha linda neta Ajisai. Temos um padrão de vida humilde mas honesto. Ora, não é isso tudo o que um homem pode pedir em sua velhice? Conforto e estar rodeado por aqueles que ama — Yoshiaki aquiesceu vigorosamente, enfatizando as próprias convicções de uma vetustez tranquila.

Pesei suas palavras, mirando-o de soslaio. O homenzinho, apesar da idade avançada, era robusto e talvez ainda conservasse um pouco da energia de sua juventude. Carregava nas costas a caixa pesada com os tais medicamentos que mencionara mais cedo e dissera mais de uma vez — com um orgulho tangível — ter sido encarregado pelos demais chefes de família de adquiri-los em Karasawa, no país do Fogo.

Conforme nos aproximávamos de Imagawa, mais entusiasmado Yoshiaki se mostrava e, em contrapartida, mais ansioso eu me surpreendia. Tinha o olhar fixo no horizonte límpido e na sombra do imenso Monte Tsuzuka.

Uma das mais famosas e perigosas quedas d’água localizavam-se ali, entre os imensos paredões de calcário que culminavam nas águas revoltas do rio Kitakamu e seus diversos afluentes. O país da Cachoeira era, obviamente, conhecido por suas inúmeras e imensas cascatas.

A maior delas e mais conhecida era a cachoeira cujas águas desembocavam na própria Takigakure no Sato, onde se encontrava a maior concentração de Shinobis leais à Taki e, por consequência, o seu líder atual.

Um sentimento sombrio se apoderou de mim quando vislumbrei o homem, ainda sem rosto, e o modo como vinha conduzindo a política desde que assumira o cargo, movendo peça por peça como num tabuleiro de shoji.

— Ora, veja! Os deuses nos enviaram um sinal; abençoaram a minha viagem de volta!

Encarei o velho Yoshiaki de súbito. Ele retirou as alças de couro dos ombros e pousou a caixa pesada no gramado que cobria a ravina, aproveitando a oportunidade para alongar suas costas certamente doloridas.

Fitei além do barranco então, mirando a paisagem que se abrira à minha frente: mais ao fundo, encontrei uma cachoeira imensa cujas águas brotavam das rochas escuras e o som da água corrente era discernível entre os gorjeios dos pássaros e o som do vento nas árvores.

Um arco colorido se estendia desde a superfície agitada das águas e desaparecia por trás de um véu de bruma: um arco-íris, compreendi como sendo o tal sinal dos deuses que Yoshiaki mencionara.

Nunca fiz o tipo supersticioso, apesar de todo o mítico que cerca o meu clã desde a aurora dos tempos, portanto não me atentei ao fato.

— Estamos quase lá, jovem Sasuke! — exclamou Yoshiaki, presumindo que minha inexpressividade facial se tratasse de desânimo ou talvez tédio e intentando me animar. — Assim que chegarmos, será meu convidado de honra para o jantar. Minha querida Naomi cozinha divinamente!

Seguimos viagem então, tomando uma estreita trilha na floresta que se tornava cada vez mais íngreme. Contornamos a cachoeira que vimos anteriormente e, por fim, alcançamos novamente a estrada de terra batida que nos conduziria até Imagawa.

Mais senti do que notei verdadeiramente as alterações na paisagem e no terreno conforme nos aproximávamos de nossa destinação final. As árvores pomposas rarearam até desaparecer, no seu lugar apenas arbustos mirrados e plantas que brotavam do meio das rochas.

O ar ali era mais úmido e denso devido ao vapor das águas e a estrada de terra rapidamente se tornou uma trilha de cascalhos ladeada em ambas as margens pela ribanceira, gigantescas formações rochosas de sílex e ardósia. Yoshiaki prestativamente me informou que aquele corredor costumava ficar inundado durante as chuvas sazonais e que, por isso, a travessia só podia ser realizada a barco nesses períodos.

Nossa caminhada se seguiu a duras penas, pois o solo, que já era íngreme, tornou-se traiçoeiramente arenoso. Tivemos de redobrar a atenção para não pisar no lugar errado e Yoshiaki começou a ofegar discretamente por conta do peso de sua bagagem.

A tarde já avançava quando ele decidiu por nós dois que faríamos uma pausa para beber água dos cantis, comer e alongar as pernas, ao menos ele o fez. Eu bebi do meu cantil, repondo a água em um regato que corria ali por perto entre os seixos.

Quando voltei até o lugar onde vi o homenzinho pela última vez, encontrei-o acomodado sobre uma rocha, massageando os pés descalços e cansados.

— Ah, estamos quase lá! — exclamou ele com um suspiro enquanto os dedos trabalhavam nos calos das solas de seus pés.

Meia hora depois, retomamos o ritmo, subindo a encosta em direção ao monte Tsukuza. Sua sombra imponente projetou-se sobre nós ao final da tarde enquanto o poente delimitava as últimas horas do dia.

Mais ou menos vinte minutos depois que o sol se pôs, nós alcançamos o pequeno vilarejo, empoleirado sobre uma curiosa formação rochosa como o ninho de um falcão. Percebi que as estranhas rochas de formatos diversificados ofereciam uma espécie de proteção natural aos seus moradores.

Avistei de longe as casinhas simples de madeira com telhados de palha e chaminés sujas de fuligem que fumegavam serenas, expelindo nuvens cinzentas e delgadas. Os arrozais, tais como as hortas, explicou-se Yoshiaki, situavam-se à beira de um dos afluentes do rio Kitakamu. Naquele solo arenoso e ácido, acrescentou ele sombrio, nem mesmo ervas daninhas vingavam.

Ainda assim, havia um curral com algumas vacas e galinhas. O único cavalo que avistei não passava de um pangaré cansado e de crina grisalha, velho demais. Os poucos aldeões que vi eram idosos, crianças pequenas demais e suas mães.

— Os homens geralmente estão nos arrozais nesse horário. As mulheres ajudam como podem durante as colheitas, mas o inverno foi bem rigoroso conosco esse ano. — Yoshiaki coçou a cabeça calva visivelmente desconcertado. — Além disso, fomos assolados por uma praga misteriosa. Nossa sorte foi Konoha ter nos enviado sua melhor ninja-médica.

Sorri à menção de Sakura. É claro que ela havia feito um bom trabalho aqui. É claro que pesquisou, ministrou e cuidou de cada pessoa doente com extrema dedicação até que melhorasse. Eu nunca esperaria menos dela.

— Eu devo ser sincero: não esperava grandes feitos de uma moça tão jovem, ainda que a fama de sua mestra e a própria fama dela a precedessem. Graças ao deuses, estava enganado, terrivelmente enganado! Ela ficou hospedada com os Murakami até que todos estivessem fora de perigo...

Registrei o pormenor que Yoshiaki deixou escapar. Eu sabia que precisaria ser discreto para investigar a missão de Sakura e, mais tarde, poder determinar seu paradeiro. Frustrava-me a ideia de poder estar tão próximo de sua localização e ainda assim não ter ideia de por onde começar a procurá-la.

Não fiz nenhuma pergunta a ele porque não queria levantar suspeita alguma. Para os moradores de Imagawa, eu devia parecer apenas um viajante de passagem, um homem em constante andança e peregrinação cujo destino sempre lhe seria errante e que tinha assuntos de alguma importância a resolver em uma vila tão pequena quanto aquela.

Yoshiaki de súbito abriu um sorriso largo e acenou fervorosamente para uma mulher de meia idade que recolhia lençóis e algumas mantas já secas de um varal.

As poucas rugas ao redor dos olhos e os vincos em sua testa quando ergueu as sobrancelhas inquisitivamente para nós, assim como alguns fios grisalhos em meio ao seu cabelo castanho-escuro denunciavam-na:

— Naomi, minha querida!

O semblante dela iluminou-se assim que pôs os olhos sobre Yoshiaki. Pelo que me lembrava de nossas conversas — ou de seu monólogo —, aquela era sua filha mais velha e viúva já há alguns anos.

— Otou-sama! — ela o saudou com um aceno e um sorriso, esfregou as mãos no avental que usava e se aproximou a passos largos de nós dois. — Ora, seja bem-vindo!

Ela levou apenas meio segundo para me notar e imediatamente olhou o pai com certa censura por não nos haver apresentado. Yoshiaki fingiu uma crise de tosse e depois gesticulou para minha figura apática.

— Naomi, esse é o Sasuke. Ele me salvou de alguns bandoleiros sujos no caminho até aqui.

— É um prazer conhecê-lo, Sasuke — ela sorriu, curvando-se em uma mesura. — E obrigada por zelar pela vida do meu velho pai.

— Não sou tão velho assim! — protestou ao franzir o rosto e Naomi riu. — Ah, e Sasuke será nosso convidado e hóspede nessa noite. É o mínimo que eu poderia fazer para retribuí-lo.

Apressei-me em dizer que não havia necessidade, mas tanto Yoshiaki quanto Naomi foram irredutíveis e, no fim, eu me vi sendo praticamente arrastado até uma casa simples mas aconchegante.

Retirei meu manto e minhas sandálias depois de passar pela porta da frente. Ouvi Naomi arquejar quando revelei minha espada embainhada, mas ela não fez qualquer comentário acerca disso, creio eu porque confiava no bom julgamento do pai.

— Yoshiaki-ojii-sama! — Ouvi uma voz feminina unir-se à conversa animada de pai e filha enquanto uma silhueta delgada emergia a passos sussurrantes do corredor logo na entrada.

— Oh, Ajisai querida!

Uma jovem surgiu à entrada. Ela recebeu o avô com um sorriso e empalideceu assim que me notou, silenciando-se. Olhei-a só por um instante com uma sobrancelha soerguida antes que Yoshiaki pigarreasse e nos apresentasse, consertando sua segunda gafe:

— Ajisai, este é Sasuke e ele ficará conosco essa noite. Prepare para ele o quarto de hóspedes e... Ah, um banho quente também viria a calhar!

Ela enrubesceu, o rosto pálido logo ganhando uma coloração rosada na altura das bochechas. Os olhos azuis e pálidos não deixaram meu rosto até que ela o percebesse, desviasse o olhar ainda mais envergonhada e em seguida assentisse, retirando-se pelo mesmo corredor por onde viera.

— É só seguir minha neta, Sasuke. Ela lhe mostrará o seu quarto — Yoshiaki disse enquanto ele próprio retirava-se, seguido pela filha.

Hesitei no vestíbulo, incerto sobre as instruções que recebera. Não queria ser um incômodo para Yoshiaki e sua família, mas, por outro lado, precisava extrair informações para ter uma base para o início de minha investigação.

Com um suspiro, resignei-me àquele sacrifício e cruzei o corredor até alcançar a moça. Ela esperava-me à porta de um dos aposentos, mexendo nervosamente nos longos cabelos preto-azulados. Corou novamente assim que notou que eu me aproximava.

— A-aqui serão as suas acomodações, Sasuke-san. Ferverei água imediatamente para o seu banho.

Ela parecia ansiosa, até mesmo expectante de que eu lhe dissesse algo, mas como tudo o que fiz foi acenar com a cabeça em concordância, seu sorriso murchou, suas bochechas coraram novamente e ela retirou-se apressadamente pelo corredor, pedindo-me desculpas.

Dei de ombros e inspecionei o quarto que me ofereceram. Entrei sem mais cerimônias, os pés descalços roçando nas tábuas frias do assoalho que gemiam de leve sob os meus passos.

Inspecionei as paredes e testei o assoalho. Não demorei a encontrar uma tábua solta. Com uma paciência imensa, removi-a completamente do piso encontrando um espaço oco com uma braça de comprimento; era o suficiente.

Abri minha bolsa e retirei de lá os pergaminho que Kakashi me confiara. Yoshiaki e sua família pareciam ser boas pessoas e eu me detestava por sequer duvidar da índole de qualquer um deles. Ainda assim, eu era um Shinobi e cautela e desconfiança eram inerentes da minha natureza.

Recoloquei a tábua solta e limpei minhas mãos. Observei a pouca mobília do quarto: uma cômoda vazia, uma tela de tecido pintada à mão de uma paisagem bucólica e pacata pendurada na parede. Um altar modesto onde qualquer um poderia queimar seu incenso e rezar pelos seus ancestrais e um futon estendido próximo à parede.

Era impessoal como se esperava de um quarto de hóspedes — perfeito para mim.

Ajisai retornou algum tempo depois para me avisar que a água já havia fervido. Ela corou assim que me olhou, pouco conseguindo disfarçar seu embaraço, e corou ainda mais quando me conduziu até o cômodo que era utilizado para os banhos. Garantiu-me que havia toalhas secas e um quimono limpo já à porta.

Fitei-a em silêncio, esperando que me deixasse sozinho com meus pensamentos e ela só então percebeu que protelara ali por mais do que devia. Curvou-se numa mesura e pediu-me desculpas novamente, retirando-se apressada e atarantada.

Entrei no cômodo iluminado pela luz de velas e certifiquei-me de fechar bem a porta de correr. Despi-me de minhas roupas sujas da viagem e posso dizer que até mesmo consegui relaxar um pouco devido ao efeito calmante da água quente, submergindo meu corpo exausto na tina de madeira.

Examinei a cicatriz da cirurgia que fizera há apenas alguns dias e relaxei quando notei que o corte já não estava mais sensível ao toque ou apresentava vermelhidão.

Sequei-me e me vesti com o quimono que haviam separado para mim. Naomi chamou-me à porta pouco tempo depois, perguntando se eu já havia terminado. Quando abri a porta, ela disse-me que recolheria minhas roupas e as lavaria. Tentei dissuadi-la do favor, alegando que não era necessário, mas ela respondeu que faria de bom grado pelo homem que salvou a vida do seu pai.

Durante o jantar, Yoshiaki fez questão de contar e recontar seu encontro desastroso com os bandidos na floresta que delimita a fronteira do país da Cachoeira e do Fogo. Descreveu de uma forma exageradamente heroica a minha intromissão e aquilo me incomodou um pouco, talvez. Eu não era um herói, certamente jamais seria digno de tal epíteto.

Itachi sim foi um herói em segredo. Naruto era o herói para toda a Aliança. Eu era apenas uma sombra, alguém que durante toda a vida foi manipulado, enganado e usado para os propósitos de terceiros.

Eu vivi mais da metade da minha existência afogado nas mentiras que me contaram, perseguindo uma ambição que quase me destruiu.

Comi em silêncio, ciente dos olhares cada vez mais indiscretos de Ajisai à mesa e ouvindo o relato de Yoshiaki vagamente, como se eu e ele estivéssemos em cômodos diferentes. Naomi ofereceu-me mais tonkatsu, ao qual recusei polidamente. Terminei o caldo de missoshiru e agradeci a todos pela hospitalidade.

Yoshiaki desejou-me uma boa noite de sono e eu me retirei para o quarto. Lá, esperei uma ou duas horas sentado no chão até que a última voz sussurrante dentro da residência desvanecesse. A única vela que eu mantivera acesa queimara quase até o fim, a cera se derramando sobre as bordas do castiçal.

Assim que o silêncio imperou, despi o quimono e vesti mesmo no escuro as calças e a blusa reservas que mantinha na bolsa. Enrolei meu manto em torno do meu corpo e me esgueirei até a entrada da casa. Calcei minhas sandálias e empurrei silenciosamente a porta da frente.

Saí para a noite invernal; mais uma sombra se esgueirava na inominável e tirânica escuridão.

Ho no Kuni (País do Fogo), três anos antes.

Não vi Sakura no dia seguinte. E nem no próximo. E nem mesmo no posterior a este. Quando encontrei uma forma discreta de questionar Naruto sobre o paradeiro dela, ele hesitou, a boca tratando de mastigar os pedaços de macarrão e carne de porco.

Assim que engoliu ruidosamente, pousou os hashis na tigela e coçou a cabeça.

— Hmm, acho que ouvi o Kakashi-sensei comentar que ela andava bem ocupada no hospital... Sabe, ajudando a Baa-chan na pesquisa das células do Shodaime para poderem fazer as nossas próteses.

— Hn — assenti, mascarando meu interesse com uma fachada pouco convencível de apatia.

Quando Naruto me pressionou para saber o motivo de minha pergunta, aleguei vergonhosamente que vinha sentindo algum incômodo nos curativos do meu braço esquerdo. Não sei se ele engoliu meu subterfúgio ridículo, mas Naruto era Naruto e irremediavelmente tapado por natureza em determinados assuntos.

Nos despedimos diante da tenda do Ichiraku e eu segui o meu caminho pensativo.

Ainda tinha fresca na memória a lembrança da nossa conversa — minha e de Sakura —, na noite em que lhe revelei toda a verdade: o calor do seu corpo, seu perfume, sua voz, sua mera presença nos sonhos que se seguiram.

Quando dei por mim, estava em frente ao prédio do hospital de Konoha. Em qualquer outra ocasião eu me sentiria irritado por haver ido até ali, por ter permitido que meus sentimentos me regessem, mas não hoje.

Ver Sakura, apenas olhá-la de longe se pudesse, havia se tornado mais do que um simples anseio nos últimos dias: era uma necessidade tão substancial quanto respirar.

Recostei-me ao muro e esperei durante quase uma hora até que ela surgisse, visivelmente cansada, mas contente. A noite enaltecia sua beleza, tal como o dia. Os cabelos estavam, como naquela noite, desbotados pela luz do luar, mas os olhos ainda eram flâmulas verdes e preciosas.

Eles ganharam um ardor todo especial quando me reconheceram ali:

— Sasuke-kun? O que está fazendo aqui? — perguntou enquanto se aproximava.

Ela examinou-me rapidamente com o olhar, mas assim que chegou à conclusão de que eu estava aparentemente bem — ao menos fisicamente —, franziu as sobrancelhas delicadas.

— Aconteceu alguma coisa?

Eu mordi a língua para não respondê-la. Olhei-a com a mesma intensidade e obstinação que ela me olhava. E, sem lhe dizer uma única palavra, desencostei-me do muro, dando-lhe as costas.

Avancei alguns passos no calçamento antes de me deter, fitando-a inquisitivamente por cima do ombro. Vi-a piscar e em seguida ruborizar quando enfim compreendeu o meu gesto. Eu suspirei de alívio discretamente.

Com um sorriso, correu para se postar ao meu lado. Eu retomei o meu passo e ela o acompanhou. O tempo todo senti os seus olhos sobre o meu rosto. Eu me permitia olhá-la quando achava que não notaria meu interesse.

Assim, nós seguimos pelas ruas vazias de Konoha. E embora meus lábios estivessem selados para tudo o que eu queria verbalizar, meus pensamentos o faziam de uma forma catastrófica, embaralhando-se uns nos outros e me tornando essa criatura volátil.

Eu ainda tinha medo de abandonar a segurança e o conforto da minha própria mente, percebi.

Mas se levasse em consideração a forma como Sakura sorria, encerrava a distância entre os nossos corpos ou o modo como seus dedos tencionavam tocar os meus — expondo desistência no último e decisivo instante —, talvez ela me compreendesse mais do que deveria.

Talvez ela compreendesse os pensamentos e sentimentos que eu não consigo conter dentro de mim. Não mais.


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Notas finais do capítulo

Espero que não odeiem a Ajisai, ela não será nenhuma ameaça para SasuSaku HUAHUAHUAHUAHUA E em breve teremos o time Taka por aqui, quero muito trabalhar com SuiKa! *-*
...
Muito obrigada a todos pelos reviews lindos! Espero vê-los nesse capítulo também ;D
Até o próximo!
P.S: Mais alguém está pirando com a Sarada ser PROTAGONISTA de Naruto Gaiden? *o* A amizade dela com a Chouchou é linda demais!