O Peregrino escrita por Deusa Nariko


Capítulo 11
Capítulo XI


Notas iniciais do capítulo

Décimo primeiro capítulo dedicado à Yin Haru pela linda recomendação. Obrigada mesmo! *-*
...
Boa leitura!



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O Peregrino

Capítulo XI

Ho no Kuni (País do Fogo), dias atuais.

Acordei cedo no segundo dia de viagem, com o céu ainda clareando e o canto tímido das cotovias ressoando na floresta.

Lavei meu rosto e enchi meu cântaro num regato que corria entre os seixos, numa vala rasa. Como havia dispensado uma refeição mais reforçada no jantar na noite anterior, sabia que teria de repor toda a energia que já havia gasto, portanto colhi algumas ameixas, reacendi a fogueira e pesquei alguns peixes, subindo o fino regato por alguns metros.

Espetei-os em gravetos e os coloquei para assar junto ao calor das brasas, mordiscando as ameixas enquanto aguardava. Comi-os com pressa, apaguei a fogueira chutando terra sobre o que restara da lenha, e então finalmente apanhei minha espada e a bolsa e parti.

Conforme avançava através das ramagens densas notei como a floresta mudava à medida que eu me aproximava da fronteira do País do Fogo com o País da Cachoeira, à noroeste do imenso território.

As árvores eram colossos antigos e sábios, carrancudos como eu de uma certa forma, e o vento perene e gélido era uma constante incômoda mas aceitável, ondulando meu manto e queimando-me as faces.

Cruzei trechos de mata fechada, alguns descampados fustigados pela neve e outros arrozais mirrados cuja colheita já havia sido feito semanas atrás. O cenário desalentador e macambúzio agravou meu humor ranzinza. Na verdade eu me dualizava entre um estado de aflição manente e uma excitação irrefreável.

Tudo dependia de mim e eu não pretendia desapontar Naruto nem Kakashi. Eu não podia falhar com Sakura desta vez.

Assim, apertei minhas passadas, movendo-me como um relâmpago por entre as copas das árvores, por pouco não voando sobre os galhos que meus pés mal roçavam. Minha cabeça estava cheia e meus ouvidos zumbiam baixo, mas minha guarda não havia abaixado em nenhum instante; eu estava mais atento e cuidadoso a cada passo dado em direção à Taki.

As horas correram tal como o panorama foi gradualmente permutando. As árvores caducas e de raízes sobressalentes deram lugar à gigantescas criptomérias centenárias de troncos espessos e largos e folhagens vistosas. Paredões de rochas logo surgiram no horizonte, emoldurando um céu que era tão claro quanto os riachos que nasciam nos seus topos cobertos em bruma.

Eu saltei sobre o último ramo antes da luz do dia que varava a floresta turvar minha visão por um milésimo de segundo, para então me oferecer uma vista de tirar o fôlego: à minha frente, um abismo se abria, lá embaixo o som das corredeiras era notório. A floresta terminava um pouco antes do precipício e na outra borda tornava a se erguer depois de uns cento e cinquenta metros.

Uma ponte unia as duas orlas, tornando possível a travessia, mas o que realmente chamou a minha atenção foi o imenso paredão rochoso à vista, colossal, talvez trezentos, trezentos e cinquenta metros de calcário com veios tão delicados quanto discrepantes pelos quais fluíam filetes de água cristalina.

Atrás destes paredões, uma floresta densa de criptomérias e sequoias se erguia, árvores tão velhas quanto descomunais em tamanho e vigor. Suas copas frondosas, intocadas pelo inverno brutal, emergiam das bordas lineares da curiosa formação rochosa.

Enfim eu havia chegado à fronteira entre os dois países.

Desci do galho no qual pousara e me dirigi à ponte com passadas controladas. Eu estava ressabiado e até talvez um pouco arisco. Por precaução, por baixo do meu manto, minha mão direita encontrou consolo na espada embainhada.

Atravessei a passarela, ciente do ruído que as corredeiras violentas mais abaixo produziam ao se espatifar contra rochedos. Uma vez que meus pés tocaram a grama orvalhada da outra extremidade eu senti o peso da constatação de que havia chegado, enfim, à Takigakure.

Tentei não me ater a este fato mais do que o necessário enquanto reassumia minha marcha em direção à floresta e, então, depois eu me encaminharia até o imenso paredão de calcário, o coração pulsante do país onde a maior parte de suas vilas e lugarejos se localizavam a salvo, atrás da imensa fortificação natural.

Estranhamente, minha mão ainda não havia abandonado minha espada quando captei um ruído característico a alguns metros dali. Retesei meu corpo, tensionando todos os meus músculos ao passo que assimilava o ruído como um lamento, um pedido de ajuda alquebrado pelo vento.

Cerrei os dentes e me apressei na direção do grito, desembainhando minha espada enquanto mergulhava certeiro e letal como a ponta de uma lança no interior da floresta densa.

A luz do sol sumiu por trás do dossel de ramagens e o canto dos pássaros antes exultante morreu ante um silêncio sepulcral. Apertei o passo quando outro pedido de ajuda soou agudo, ecoando além das árvores silentes.

Meu olho esquerdo se fechou por reflexo no instante que meu globo ocular direito assumiu o aspecto temível do Sharingan. Não demorei a encontrar um fluxo de chakra a noroeste de mim e segui nessa direção, impelido por um senso de justiça que não reconheci como meu.

Encontrei-os mais rápido do que previ, apressadamente absorvendo tudo o que pude da situação: um homem idoso, meio calvo suplicava por clemência, atirado ao chão da floresta enquanto seus agressores, cerca de doze sujeitos mal encarados o cercavam como lobos famintos.

Eles notaram a minha presença quando já era tarde demais e o primeiro deles caiu ante mim ainda sem ter ideia do que o havia abatido. O cabo de minha espada acertou-o em cheio na nuca, nocauteando-o e enviando-o ao chão com um baque abafado.

Manejei a lâmina no meu punho com um floreio do pulso e a empunhei diante do meu corpo novamente e então doze pares de olhos se voltaram para mim, esbugalhados.

— Oe, você...! — Um deles exclamou de forma parva, as mãos já buscando por suas kunais.

O homem idoso, amedrontado, encolheu-se em posição fetal no chão. Um sacolejar de minha lâmina no vazio e os bandoleiros retesaram. Olhei cada um deles com um escrutínio descarado e, ao fim, sorri, desativando meu Sharingan. Não precisaria do meu Kekkei genkai para derrotar uma dúzia de fracassados.

Eles partiram para cima de mim descoordenados e desorganizados, todos ao mesmo tempo e com um bramido raivoso ascendendo do peito, sem qualquer noção da verdadeira extensão do meu poder.

Eu esquivei do primeiro golpe de lâmina, jogando meu corpo para o lado e rechacei o segundo com minha Kusanagi. Plantei meus pés no solo e saltei sobre o terceiro, voando sobre a sua cabeça. O quarto realizou alguns sinais de mão e em seguida forjou uma lâmina de vento, manejando-a na ponta dos dedos antes de direcioná-la a mim:

— Fuuton: Kaze no Yaiba!

Eu atirei o meu corpo contra o solo, desviando sem dificuldade quando a foice de vento passou por cima da minha cabeça, chocando-se contra uma árvore velha e esfolando seu tronco.

Rolei para o lado em seguida sobre os joelhos, impulsionando-me para cima a tempo de entrechocar minha lâmina contra um par de kunais. Encarei o rosto severo e suado do meu oponente e sorri debochado enquanto uma corrente elétrica poderosa atravessava meu corpo. Minha vez.

— Chidori Nagashi! — sibilei através dos lábios enquanto sentia a corrente de Chidori perpassar todo o meu corpo e se espalhar ao meu redor, afetando três dos meus adversários que se encontravam próximos demais a mim.

Eles gemeram pela dor e logo em seguida desabaram no chão, incapacitados.

A lâmina na minha mão cintilou como mil relâmpagos, iluminando toda a floresta enquanto o chiado da eletricidade a envolvia. Olhei para os oito homens restantes que me cercavam por todos os lados, mas que se mantinham afastados devido à natureza do meu chakra.

Empunhei minha espada agora envolta pelo meu jutsu Chidorigatana e os encarei em desafio. Eu estava, obviamente, me divertindo naquela luta — se é que poderia chamá-la assim.

Em resposta à minha atitude prepotente, o maior dos bandoleiros, um homem com cerca de dois metros de altura em posse de uma alabarda gigantesca crispou a boca e com um brado animalesco avançou contra mim.

Suas mãos carnudas, bem separadas enquanto seguravam o bastão de madeira, manusearam a lâmina atada à extremidade da vara, investindo-a contra mim. Eu curvei meu corpo, desviando dos golpes; a lâmina recurva tinia a cada vez que o homem imenso a manuseava, fatiando o ar ao meu redor em dois, mas não conseguia nem ao menos me tocar.

Enxerguei uma abertura em sua defesa durante um golpe que ele executou e eu não hesitei: seus braços imensos penderam sobre o peso da própria arma quando ela se fincou no chão onde eu estivera um milésimo de segundo atrás e eu voei sobre a vara, estendendo minha perna e depois a dobrando quando meu pé o acertou no rosto.

Caí sobre outros dois desavisados enquanto o homem imenso atrás de mim desabava no solo, um filete de sangue escorrendo do seu nariz quebrado. Minha Kusanagi, envolta no meu jutsu, massacrou as katanas que ousaram tocá-la, partindo o aço e fragmentando-o como se não passasse de vidro.

Sorri novamente quando percebi que suas expressões passaram, num piscar de olhos, de raiva a medo e, mais uma vez, não senti qualquer complacência. Chutei o primeiro no estômago, enviando-o contra o tronco de uma árvore, girando sobre o meu calcanhar agilmente. Pulei sobre o segundo, assim que completei o giro, acertando meu joelho com força no seu queixo num golpe que o deixou completamente desnorteado.

Pela visão periférica, notei um arqueiro já com a mira fixa em mim e a flecha em riste no seu arco. Vi-o cerrar o dente e hesitar por só um milésimo de segundo antes que seus dedos soltassem a seta que voou na minha direção.

Ergui minha espada diante do rosto a tempo num floreio do pulso e senti o reverberar da lâmina em meu punho quando esta cortou a flecha ao meio: uma cisão perfeita. Registrei a expressão perplexa do arqueiro antes de decidir que era hora de cessar a brincadeira.

Movi-me tão rapidamente que o homem mal teve tempo de assimilar o que acontecera antes que já estivesse no chão, o ar abandonando seus pulmões num único arfar, devido à minha rasteira.

Desviei em seguida de três senbons que se fincaram no tronco de uma árvore bem atrás de mim enquanto um homem, munido de mais agulhas envenenadas, investia enlouquecido, tendo-as entre os vãos dos dedos, tentando me atingir com elas.

Evitei-o sem dificuldade e esmaguei seu pulso com minha mão esquerda num agarre de ferro. Ele gritou de dor e tentou se libertar. Eu o soltei um pouco antes de cerrar meu punho e socá-lo na cara. As juntas novas protestaram um pouco devido ao golpe, mas nada que me retardasse.

Eu quase havia esquecido como era excitante lutar com as duas mãos, poder executar uma infinidade de golpes e jutsus.

Olhei para trás só por um instante quando percebi que os bandidos restantes fugiam, espalhando-se pela floresta. Firmei minha mão em minha espada e minha boca se contorceu num sorriso perverso antes que eu avançasse na direção deles, perseguindo-os e interpondo-me no meio do caminho com minha velocidade inigualável.

Seus rostos estavam lívidos e assustados e eu me deletei com o medo que vi nos seus olhos arregalados, me deletei com a sensação de poder que crescia dentro de mim por ver minhas presas tão amedrontadas e incapacitadas. O prazer por punir homens tão cruéis.

Não tive qualquer misericórdia quando os nocauteei, um a um, fazendo-os cair ante os meus pés. Na verdade me senti incólume, intocável, acima de qualquer noção — equivocada ou não — de justiça, pelo menos até que me lembrei do homem idoso que os bandoleiros amedrontavam e furtavam quando os encontrei.

Embainhei minha espada e tornei ao local onde o havia visto pela última vez e não fiquei exatamente surpreso quando o encontrei exatamente na mesma posição, tremendo como uma folha ao vento, olhando-me com os olhos melindrosos de um filhotinho por trás dos braços que envolviam sua cabeça calva protetoramente.

— P-por favor, leve o que quiser! A-apenas não me m-machuque! — suplicou, encolhendo-se ainda mais quando me aproximei com tranquilidade.

— Eu não vou te machucar nem tenho interesse em nada que te pertença — declarei o óbvio enquanto esquadrinhava os bandoleiros inconscientes à procura de hitaiates com insígnias de vilas.

— Oh, não? — ele exclamou de certa forma estupefato e se sentou no chão, ainda tinha os braços em torno da cabeça, contudo. — Bem, isso é um alívio... Então, devo agradecê-lo por salvar minha vida?

— Não há necessidade — dispensei-o, parando diante de um dos bandidos enquanto o cutucava com o pé para virá-lo de barriga para cima.

O homem gemeu, mas não despertou, a face ainda contorcida em dor. Sem hitaiates, sem qualquer indício de que qualquer um deles pudesse pertencer a uma vila. Tsc, eram, no fim, apenas bandidos comuns e asquerosos que assaltavam comerciantes e viajantes.

Ouvi o homem atrás de mim se levantar e espanar a poeira das vestimentas.

— Eu realmente acho que devo insistir nisso, não é todo dia que um estranho aparece do nada para peitar uma dúzia de bandoleiros fedorentos e salvar um velho como eu.

Riu sem jeito, mas desfez o sorriso quando uma crise de tosse o acometeu, forçando-o a curvar o corpo e aspirar o ar devagar; seu peito chiava a cada respiração. Abaixei-me até o corpo do bandido inconsciente e apalpei de leve os bolsos internos da sua vestimenta, mas estavam vazios.

Levantei-me com ares de uma resignação mal-humorada e passei pelo velho, pronto para seguir meu caminho quando a voz dele me deteve:

— Posso ao menos saber o nome do homem honrado que me salvou?

Suspirei, mas não me virei para olhá-lo.

— Sasuke.

— Bem, foi um prazer então, Sasuke. Espero algum dia reencontrá-lo para que eu possa lhe pagar o débito. Bah, detesto estar em dívida com alguém! De qualquer forma, espero que faça uma boa viagem... Seja lá qual for o seu destino. Tenho um longo caminho até Imagawa ainda!

— O que disse? — eu me voltei para o idoso que já acenava vigorosamente para mim, uma caixa de madeira bem lacrada com alças de couro envergava as suas costas com seu peso.

O homem coçou o queixo, aturdido.

— Hmm, disse-lhe para fazer uma boa viagem...

— Não isso — eu o interrompi, ríspido. — Disse que ia para Imagawa?

Ele concordou ainda um pouco confuso, mas acho que decidiu que eu era um homem de trejeitos estranhos tempos atrás e eu não poderia mais mudar seu julgamento a meu respeito.

— Sim, é minha vila natal. Pobre, mas pacata. No coração da montanha Tsukuza.

O homem mostrou-me a imensa caixa de madeira que carregava com um sorriso.

— Eu estou voltando de Karasawa, no país do Fogo. Fui até lá para comprar medicamentos.

Ele me olhou por mais alguns instantes antes de deduzir com uma expressão indecifrável:

— Hmm, você também vai para Imagawa?

— Tenho assuntos pendentes a resolver lá — respondi-o sem rodeios.

— Oh! — ele exclamou com visível desconcerto e logo em seguida me ofereceu um sorriso amistoso: — Ora, Sasuke, por que não vem comigo então? Acredito que encontrei a maneira perfeita de agradecê-lo por salvar a minha vida!

Escondi meu sorriso enquanto me apressava para o lado do homenzinho que não disfarçou sua empolgação por me ter como acompanhante pelo restante da viagem.

— A propósito, o meu nome é Yoshiaki.

Assenti, pouco prestando atenção. Na verdade, eu só conseguia me focar no fato de que estava me aproximando da localização de Sakura, onde quer que ela estivesse.

Ho no Kuni (País do Fogo), três anos antes.

Estar ali, junto à Sakura, era estranho de uma forma que eu não conseguia compreender. Era novo e velho ao mesmo tempo: ela sempre esteve pronta para me oferecer conforto, eu, por outro lado, esquivei-me de cada tentativa dela de cuidar de mim.

Por anos, acreditei que o amor era traiçoeiro, que amar significava sofrer. Eu só tinha as experiências com meus pais e com meu Nii-san para comparar então não posso ser verdadeiramente responsabilizado por minha recusa em tornar a senti-lo.

Eu me afastei das pessoas e me tranquei no meu mundo escuro, vazio e frio. Isso só mudou quando fui colocado com Naruto, Sakura e Kakashi no Time 7. Eles quebraram a minha barreira, não através da força, mas de uma calma e cálida insistência. Eles destrancaram o meu coração para o amor.

Mas eu fugi, menti para todos ao meu redor e, principalmente, menti para mim mesmo. Eu nunca fui capaz de cortar completamente os meus laços com eles. Por mais mentiras que eu contasse a mim mesmo, por mais conforto que elas pudessem me trazer, eu sabia que no fundo eram apenas isso e nada mais: mentiras.

Ali, com Sakura, no entanto, tudo parecia certo outra vez. Tudo estava como devia ser.

Eu a senti suspirar contra as minhas costas. Ambos já havíamos nos acalmado, mas não havíamos feito o menor movimento para nos separar. Minha mão ainda agarrava a dela como se fosse a minha âncora com a realidade.

— Sasuke-kun — ela sussurrou o meu nome e eu fechei os meus olhos; meus cílios continuavam úmidos, tal como as minhas faces, mas os rastros de lágrimas que as marcavam já começavam a sumir.

Estagnado, quase petrificado naquela posição, deixei-a deslizar os braços, perdendo contato com o calor do seu corpo, perdendo a candura do seu toque. Ela apoiou ambas as mãos nas minhas costas e as afagou calmamente.

— Tudo bem? — ela me questionou contida e eu expirei o ar lentamente.

Ante o meu silêncio expectante, Sakura me contornou para que ficássemos frente a frente. Não me movi mesmo quando suas mãos alcançaram o meu rosto, os dedos delicadamente apagando o que ainda restasse de umidade na minha pele febril.

— Obrigada por me confiar esse segredo — ela sussurrou e pareceu-me verdadeiramente tocada por meu gesto.

Eu a olhei em silêncio. Era líquido e certo que eu detestava demonstrar fraqueza diante de qualquer pessoa, meu orgulho me impossibilitava, muitas vezes, de mostrar ou falar o que eu verdadeiramente estava sentindo.

Mas com Sakura isso nunca havia sido válido. Ela sempre conheceu o melhor e o pior que havia em mim. Esteve ao meu lado nos momentos em que eu mais precisei de uma mão para me levantar ou um ombro para chorar. Talvez por isso seja tão fácil, tão natural desabafar com ela, abrir-me com ela.

Estendi minha mão, hesitante, e quase desisti quando notei sua expressão perplexa. Mas ela não recuou quando minha palma descansou na sua face, meu polegar por pouco não roçava o canto da sua boca. Seus olhos brilhantes encontraram os meus no ardor suave da noite.

A luz da lua que varava a janela às minhas costas era prateada e cingia sua pele de pêssego com uma palidez etérea e desbotava o cor-de-rosa dos seus cabelos. Mas os seus lábios ainda eram carmins e me atraíam com um encanto inelutável.

— Eu não mereço você — murmurei e a ouvi arfar em resposta, as mãos imediatamente me alcançaram e os dedos se enroscaram na minha blusa com força. — Eu nunca te mereci.

A respiração de Sakura bateu contra o meu peito, errática.

— Amor não é uma questão de merecimento, Sasuke-kun. Nunca foi — respondeu-me sabiamente e minha boca se repuxou num meio sorriso.

— Irritante — devolvi e nem mesmo percebi quando meus dedos se emaranharam no seu cabelo.

Sakura riu delicadamente em resposta e puxou-me contra o seu corpo de novo. Eu relaxei, mas não desenganchei meus dedos do cabelo dela. Minha boca estava a centímetros da pele fina do seu pescoço e o cheiro dela era inebriante. Mesmo assim, não encontrei forças em mim para tocá-la.

Ela era tão diáfana quanto eu era corrompido.

Insinuei mais os meus dedos entre o seu cabelo, sentindo-o escorrer entre os vãos. Expirei na pele do seu pescoço e tive o prazer de vê-la se arrepiar, estremecendo junto a mim. Num suspiro confessou-me o que há tempos eu já sabia, o que desde sempre eu soubera:

— Eu te amo.

Eu não sabia como respondê-la, nunca soube. Mas talvez palavras sejam meros ecos supérfluos e vazios em momentos preciosos como este.

Talvez o silêncio baste, talvez ele seja o suficiente e talvez Sakura me compreenda — e eu preciso que ela me compreenda —, o porquê de eu abdicar de vocábulos que jamais expressarão o que eu verdadeiramente sinto.

O que eu senti em todos esses anos.


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Notas finais do capítulo

Demorei um pouquinho, mas apareci Haha Semana passada foi um pouco tenso por causa do concurso que eu prestei e digamos que Direito ferrou a minha cabeça! XD
...
Eu disse que revelaria e, bem, aqui está a trilha sonora de O Peregrino para quem quiser conferir ^^
1 - 3 Doors Down - Here by Me
https://www.youtube.com/watch?v=expuyIJrmxE
2 - Anju - Higanbana
https://www.youtube.com/watch?v=58ceeF9Robk
3 - Red - Yours Again
https://www.youtube.com/watch?v=KWXXho5SRxg
4 - Breaking Benjamin - Without You
https://www.youtube.com/watch?v=Kb7zhunYGik
5 - Red - Ascent
https://www.youtube.com/watch?v=qF3EhbbaOCw
6 - Saliva - Back Into Your System
https://www.youtube.com/watch?v=liO1rGZAD5w
7 - Seether feat. Amy Lee - Broken
https://www.youtube.com/watch?v=hPC2Fp7IT7o
8 - Red - Best is Yet to Come
https://www.youtube.com/watch?v=EYzxQr7LC_w
9 - Flow - Arigatou
https://www.youtube.com/watch?v=pE6BRvtjqUw
10 - Saliva - Bleed for Me
https://www.youtube.com/watch?v=ffmNxyqgJOY
11 - Crossfade - Invincible
https://www.youtube.com/watch?v=9mkAkHkBjnY
12 - Nickelback - I'd Come for You
https://www.youtube.com/watch?v=OkwzZ44iM80
...
Obrigada a todos pelos reviews lindos! Não deixem de comentar nesse, ok? ;D
No próximo, Sasuke chega ao vilarejo onde a Sakura esteve e novos personagens vão aparecer!
Até!