Acordo com uma dor extrema do lado esquerdo da minha cabeça, próximo a minha têmpora. Quando abro os olhos percebo que estou em um carro, que no máximo caberia cinco pessoas se ele estivesse cheio, mas olho em volta e percebo que só eu estou dentro dele – e um motorista. Vejo através da janela que estamos na estrada, tento olhar para trás, minha cabeça dói muito mas consigo me virar para ver que estamos do lado de fora da cerca, consigo ver a cidade no horizonte. Percebo que tem uns carros atrás de mim, iguais ao meu presumo.

Olho pelo espelho retrovisor para identificar o motorista e percebo que é Toby Cavanaugh.

– Boa tarde dorminhoca – diz ele

– Você sabe muito bem que eu não estava dormindo – digo com grosseria

– Desculpa. Sabia mesmo. Acho que você vai gostar bastante desse passeio. Novos horizontes.

– Para onde estamos indo? – pergunto intrigada.

– Para onde você acha? Onde tem avião aqui nessa espelunca de lugar?

– Ah

Tento disfarçadamente abrir a minha porta para tentar pular do carro.

– Pode ir parando – diz Toby – Essas portas só abrem por fora

Porcaria.

– Agora, você sabe né? – continua ele – Eu fiz questão de ser aquele que vai te levar para fora daqui.

– Para onde estamos indo? – pergunto novamente

– Já disse, caramba!

– Não para isso … mas … para onde o avião nos levará?

– Atlanta. Um dos experimentos programados pelos cientistas na mesma época em que o seu foi feito. Com o mesmo sistema de facções. Só que o de lá permanece firme.

O que? Facções? Não pode ser. Não vou aguentar isso novamente. Vai ser a nossa derrota!

– Mas por quê? – digo com lágrimas nos olhos e voz de choro. Sinto a primeira gota escorrendo pela minha bochecha.

– Porque será melhor para todos vocês. Isso eu posso garantir. Vocês viverão uma vida nova. Diferente dessa desgraça de governo que Evelyn fez para todos nós. Se é que isso se pode chamar de governo

– Eu achei ótimo assim. As facções só traziam problemas. Não tinham que fazer isso.

– Mas vocês terão que aceitar.

– O que você quer dizer com vocês? Por que nunca se inclui nesses planos? Por que está sempre falando como se você e as pessoas que estão com você, porque aposto que tem gente aliada, não irá conosco?

– Porque nós não iremos. – diz ele com os olhos fixos na estrada. Desde quando acordei, ele não olhou para mim nem um segundo.

– E o que vocês farão? – pergunto

– Vamos dar uma baita de lição em Evelyn. Ela não perde por esperar.

Mas o que? Como assim?

– Mas … ela não está vindo conosco? Ela ainda está na cidade? Como assim?

– Está. Elas e os sem fações. Vamos eliminar ela e aquela raça de uma vez por todas! Não vai sobrar um para contar o que aconteceu. Queremos purificar todos os experimentos. Já aconteceu em L.A, NY e Atlanta. Agora só falta o seu. E eu acho que vai ser o melhor e mais prazeroso de todos.

– Purificar? O que você quer dizer com isso? E como Evelyn não tem o menor conhecimento de tudo que está acontecendo?

Olho pela janela, nenhum sinal da pista de pouso. Parece que nunca chega.

– Dopamos ela e os sem facções antes de anunciarmos. Ela não suspeita de nada. E vai ser o maior choque ela acordar e não ter ninguém lá para socorrer ela. – diz ele com um sorriso no rosto, parecendo um psicopata.

– Socorrer ela de que exatamente? – não estou gostando do rumo dessa conversa

– Ela está, minha querida Beatrice, trancafiada. Não tem como escapar. E tudo vai pelos ares. Não tem mais o que fazer. Não tem mais volta. Mas antes de explodirmos tudo nós faremos questão de dar uma palavrinha com ela. E mostrar a miséria em que ela nos deixou.

– Mas … Jenna então estava com você esse tempo todo?

– Estava – diz ele rindo novamente – Ela controla a fronteira. Com esse escândalo do desvio de dinheiro e o nome dela no meio disso quase que ela perde o emprego e o nosso plano entrava pelo cano. Não podia deixar isso acontecer. Então intervi. Disse que não tinha nada a ver.

– Mas e Spencer? – pergunto. Vejo que ele não mencionou ela ainda.

– Que é que tem ela?

– Onde ela está?

Ele ri antes de responder:

– Ela está lá com Evelyn. Garantindo que tudo esteja saindo como planejado. Nada pode sair errado. Nada pode sair da linha. Tem que ser tudo mais que perfeito.

Começo a chorar de verdade. Não posso acreditar. Minha cidade. Onde vivi. Onde cresci. Vamos deixá-la.

– Ah Tris. Não se preocupe – ele me olha pela primeira vez pelo espelho – Sabia que antigamente muitas pessoas faziam isso? Se mudavam sempre. Você não é a primeira e acho que também não vai ser a última.

– Cadê os meus amigos? Onde eles estão?

– Está vendo esses carros atrás de você? Então, cada um é para um amigo seu.

Ele dá uma tosse, como estivesse concertando a voz ou talvez chamando a minha atenção.

– Tivemos que apagar vocês. Foi necessário. Vocês não poderiam ficar lá. Não poderiam ajudar ela.

Vejo que estamos chegando no aeroporto. Somos uns dos últimos a chegar. Porque vejo vários ônibus bem grandes estacionados e todos já dentro do prédio.

– Vocês planejaram isso tudo. Até os seguranças estão mancomunados com vocês. – falo

– Estão sim. Mas isso é para o seu bem.

Entramos pelos portões. Vejo todos entrando no avião o qual nos levará para Atlanta.

– Não vejo como isso pode ser para nosso bem seu desgraçado.

– Então você ficará sem saber sua menininha. Vão ter seguranças alertas lá dentro – e ele aponta para o avião – certificando de que nem você nem seus amigos falaram nada sobre a viagem até chegarem em Atlanta.

– E eles estão sabendo disso?

– Sabendo de que? – ele faz cara de intrigado

– De que não podem falar nada.

– Isso já não sei. Mas espero que sim não é? – ele estaciona o carro e vira para olhar para mim – Por que se não … – ele faz um gesto com a mão simulando uma arma e aponta para o meu rosto – BANG!

Encaro ele por alguns segundos até abrir a porta do carro e sair correndo.

– Tris ! – ouço Caleb saindo do carro atrás de mim e correndo para me seguir. Vejo todos os outros fazendo isso também.

Viro para olhar para eles, estamos todos juntos, outra vez, eu, Tobias, Caleb, Christina e Eric.

Estou chorando, mal consigo falar estou gaguejando.

– não. Falem. Nada. Sobre. A. viagem. Para. Atlanta.

– Por quê? – pergunta Eric

– Não falem para ninguém naquele avião. – e aponto para o avião

Começo a ver os seguranças atrás de nós para nos empurrarmos para o avião.

– Eles vão atirar em vocês se falarem algo. Portanto Shh.

E vem os guardas nos empurrando com as pontas das suas armas para entrarmos no avião. Subimos uma escada bem engraçada para podermos entrar. Mas no momento não consigo achar nada engraçado. Quando estou lá em cima da escada vejo que tem mais três aviões aguardando a autorização para voar. Entro no avião e vejo que só tem as últimas cadeiras vazias. A conta certa para todos nós. Seguimos o corredor, todos olhando bem fixamente para nós sem saber porque estamos com essas caras de preocupados.

Sentamos nas poltronas e ouvimos que temos permissão para decolar. Tento relaxar mas é impossível.

Como estou sentada na cadeira do corredor consigo ver várias pessoas. Pensam em como elas estão. Preocupadas? Impossível. Ansiosas? Pode até ser.

Tento localizar quais são os seguranças. Não consigo ver ninguém com esse aspecto e começo a pensar se isso foi coisa de Toby para me fazer enlouquecer antes de entrar aqui. Caleb está ao meu lado.

– O que está havendo Tris?

– Eles … – e olho mais uma vez para ver se tem alguém reparando. O avião toma voo.

– O que?

– Eles … vão matar Evelyn … e os sem facções. Todos eles.

Caleb parece ter entrado em estado de choque.

– Mas … por que isso?

– Alguma coisa a ver com purificar a cidade. E tirar Evelyn do poder que ela só trouxe desgraça e miséria para Chicago. Não consigo imaginar de onde eles podem ter tirado isso. Tudo estava ocorrendo tão bem.

– Acho que isso só é uma desculpa – diz Caleb

– Desculpa? Não Caleb … Toby me disse que Evelyn está presa. Lá na cidade. E pode perceber. Não tem sem facções aqui.

Ele se levanta do banco e olha. Senta olha pra mim e parece concordar comigo.

– Primeiro purificar os divergentes, agora os sem facções … nem Jeanine com a mente insana dela pensou em algo assim. É uma extinção em massa. A extinção dos divergentes foi brincadeira comparado a isso.

– Nem me fala … – meu choro começa a passar – Agora não há nada o que possamos fazer a não ser esperar e chegar em Atlanta. Está tudo acabado. Não há nada …

Tobias olha para minha cara. O rosto dele está encharcado com lágrimas. Abro a boca para falar mas ele faz um sinal como se fosse para eu não falar nada.

– Ouvi tudo. Pode deixar que eu lido com isso. – diz Tobias sussurrando.

– Que horrível – diz Christina. Tinha até me esquecido que ela estava ali.

– Agora se preparem – diz Caleb se encostando e relaxando totalmente na cadeira.

– O que? – digo – Será que pode ficar pior?

– Já está ficando pior. Quando estava na Erudição eu pesquisava bastante sobre os experimentos. Atlanta ainda reside sobre os sistemas de facções. Ou seja, vamos fazer novamente testes, entre outras coisas que eles vão nos inserir. Aviso logo a todos vocês.

É eu acho que isso acabou de piorar.

Tento dormir um pouco, porque realmente não se a distância que Atlanta tem de Chicago. Então eu pego no sono.

Acordo com o chacolhar de Caleb. Acordo e ele manda eu olhar pela janela. Estico-me toda para conseguir ver e vejo o que ele quer me mostrar. Atlanta. Uma cidade bem menor que Chicago, mas muito mais desenvolvida e reformada.

– É … quando eles falaram que estava dando certo não estavam brincando – digo

Sinto que estamos pousando, fico nervosa a cada metro que esse avião desce. Não quero estar aqui. Quero voltar.

Pousamos. Saímos do avião bem rápido. Percebo que todos estão intrigados com o lugar em que estamos mas, todos parecem estar felizes ao mesmo tempo. Porque mal eles sabem o que está acontecendo de verdade.

Saio do avião e sinto um clima mais quente. Sinto que este clima é perfeito. Não muito frio, mas também não muito quente.

Saímos do aeroporto e vamos em busca de mais uma nova Sede para morar.