Não dormi bem a noite toda, tendo pesadelos. Que envolviam o Presidente Snow matando minha família.

Acordava aos berros e uma avox sempre entrava no meu quarto esperando por alguma ordem minha, mas eu sempre a mandava sair.

A verdade é que tudo que eu queria era que ela ficasse ali no quarto comigo, que espantasse meus pesadelos dali, que me a colocasse em seu colo como minha mãe fazia comigo quando eu era pequena. Tudo que eu queria era algo parecido com minha casa.

Finalmente cai no sono segurando em minhas mãos a única coisa que me confortava, e que me lembrava a minha família. O meu colar de madeira em formato de coração que João me deu.

No dia seguinte eu acordei cedo. Chady me levou para tomar café, mas eu mal consegui comer. Hoje era finalmente o último dia do meu pesadelo, o dia da coroação. E assim que acabasse eu poderia voltar para casa.

Depois do café fui direto para uma sala fechada para me arrumar. O vestido de coroação era encantador, sexy e delicado ao mesmo tempo.

Hikara me ajudou a vesti-lo. Um vestido longo azul como a agua, era aberto nas costas e tinha renda nas mangas. Marcava perfeitamente as curvas do meu corpo. Desta vez eu usei salto, mas o meu salta era tão confortável que eu parecia estar com um calçado qualquer.

A coroação seria as 10 da manhã por que os residentes da Capital sempre acordam tarde e ainda era nove e meia quando Hikara olhou para mim e disse.

– Pronto – como quem aprecia sua obra de arte – está linda.

Quando eu estava prestes a agradecer a ela e a tentar me desculpar pelas atrocidades que eu falei na arena, lembro que devo protege-la e a única forma de fazer isso, é fingir que não me importo com ela. Assim ela nunca será um alvo.

–E sei – digo friamente e saio da sala a procura de Chady. Quero sair o mais rápido possível daqui.

–-----------------------------------------------------------------------------------

A coroação foi na mansão do Presidente Snow. Seria transmitida para toda a Panem e depois haveria uma festa em minha comemoração e as duas horas da tarde o meu trem sairia da Capital e me levaria de volta para o distrito sete.

Parado na minha frente estava o homem que eu mais temia e odiava na minha vida. Ele segurava uma coroa de ouro, ela era grande e linda. Aquela coroa devia valer mais do que a baixada inteira junto.

– Meus parabéns minha cara – ele disse e logo senti o cheiro do seu hálito. Sangue?

– Obrigada, senhor presidente – tentei manter a voz firme.

– Gostaria que viesse me procurar depois durante a festa, temos alguns assuntos para tratar – ele sussurrou como uma serpente em meu ouvido enquanto me abraçava.

Eu apenas dei um leve sorriso a ele.

Eram onze horas e a cerimônia de coroação tinha finalmente acabado. Eu não aguentava mais ser simpática e rir para todos os lados conversar com pessoas que eu nem conhecia e tirar fotos.

Agora tem a festa. O presidente Snow ofereceu um almoço em comemoração à minha vitória.

Assim que entro na mansão vejo o quanto aquilo tudo parece nunca ter fim, parece ter uma cidade inteira dentro daquela casa.

E assim que me avistou conversando com Chady e Bligth os dois outros vencedores do meu distrito, o presidente veio falar comigo.

– Minha querida – ele dizia e eu sentia aquele cheiro de sangue cada vez que ele falava

– Senhor presidente é uma honra poder conversar com você de novo – eu digo tentando parecer a mais sincera possível.

– Querida eu gostaria de conversar com você em particular – ele falou estendendo a mão para que eu o acompanhasse – você me permite? – eu congelo das cabeças aos pés.

– Claro – eu digo engolindo em seco – sem problemas – dou uma olhada para Chady e acompanho o Presidente para dentro de sua mansão.

–-----------------------------------------------------------------------------------

Estamos em um corredor. Tem várias portas e ele abre uma delas.

– Por favor, entre – ele faz sinal para que eu entre na porta em que ele abriu.

A porta dava para um jardin. Um jardim enorme, um jardim de rosas brancas.

– Eu amo esse lugar – ele fala – é como se fosse o meu quintal.

– É lindo – eu minto, por que na verdade eu fico com medo daquele lugar

– Johanna, o que eu queria falar com você. É algo que eu falo a todos os meus vitoriosos – Snow começa a falar – eu preciso que você seja minha amiga. E que faça as coisas que eu peço. Você me entende?

– Sim – é tudo que eu digo.

– Maravilhoso, podemos ser grandes amigos se você fizer por mim as coisas que eu lhe pedir – ele falava ao pôr uma mão em meu ombro e me entregando uma flor – um presente, para você não esquecer, das coisas maravilhosas que você pode desfrutar da Capital.

– Obrigada – eu disse novamente querendo mandar ele comer aquela rosa.

– Agora pode ir, aproveite o resto de sua festa e tenha uma boa viajem de volta para a casa.

Dessa vez eu não respondi, apenas concordei com a cabeça e sai daquela sala deixando o Presidente Snow junto com suas rosas.

Voltei para onde estava Chady e ele me fez uma cara de quem queria saber o que havia acontecido, eu apenas balancei a cabeça fazendo que não. Eu não queria preocupa-lo.

Comemos, tive que conversar e rir com mais umas pessoas que eu nunca vi e quando faltava dez minutos para as duas horas, Chady me avisou e fomos para o trem.

Finalmente eu estava indo para casa. Mas por alguma razão o meu coração dizia que algo estava errado.