Ainda estou paralisada quando um aerodeslizador para bem em cima de mim, olho para cima ainda sem saber o que estou sentindo, e no que estou pensando. É como se eu estivesse em completo transe.

Uma escada sai desse até a altura de minha cabeça.

Acabou. Eu ainda não acredito que tudo acabou.

Ainda com as mãos cobertas de sangue e com o corpo exausto, cheia de dores tanto físicas como psicológicas eu me agarro firme com as duas mãos na escada na minha frente.

Em questão de minutos já estou dentro do aerodeslizador e noto que esqueci meu machado na arena. E se tentarem me machucar?

Mal tenho tempo de pensar em pegar uma das facas em minha jaqueta quando sinto uma picada em meu braço direito. No mesmo minuto tudo escurece e eu desmaio.

Não sei ao certo quanto tempo fiquei inconsciente. Vez ou outro eu ouvia algumas vozes, mas não reconhecia nenhuma delas e também não conseguia abrir os olhos.

Na primeira vez que acordei havia uma mulher na minha frente e assim que eu abri os olhos ela saiu correndo, tentei me levantar até cair de novo na escuridão da minha mente.

Eu não tinha ideia de quantas horas se passaram, ou foram dias? Não sei ao certo.

Quando eu finalmente acordo tem um homem vestido de branco na minha frente. Eu nunca havia visto ele. E de imediato eu procuro por minhas facas em minha jaqueta, mas então eu vejo que não estou mais com a roupa da arena. Eu estou com uma camisola, olho para as minhas mãos. Elas não estão mais sujas de sangue.

Aos poucos eu analisei meu corpo e quase todas minhas feridas estavam curadas, as picadas de teleguiadas haviam sumido, e nem mesmo havia cicatrizes em nenhum lugar do meu corpo. Mas havia algumas feridas que ninguém poderia curar, algumas feridas que estariam comigo para sempre.

– Senhorita Mason receio que a senhorita esteja um pouco confusa – o homem de branco falava para mim – mas eu prometo que responderei qualquer dúvida que você tiver.

– O que estou fazendo aqui? – começo a falar – onde eu estou? O que ta acontecendo?

– Calma, senhorita – ele dizia enquanto se aproximava de mim – você está aqui para que nós possamos te ajudar a se recuperar mais rápido das feridas em seu corpo, está no centro de recuperação onde todos os anos tratamos os vitoriosos e vai ficar tudo bem, daqui a pouco será liberada e poderá ver sua equipe de preparação.

– O que vai acontecer agora? – perguntei aflita

– Você vai dar algumas entrevistas, vai ser mostrada para algumas pessoas e será coroada e depois poderá ir para casa.

– Poderei viver em paz – digo mais para mim mesmo do que para o homem que eu nem mesmo sei quem é.

– É o que esperamos querida – ele fala – bom você só precisa aguardar mais um pouco e já volto para te liberar, uma enfermeira virá trazer uma muda de roupas para você.

Enquanto ele fechava a porta atrás de si, por extinto tentei achar por algo que me protegesse qualquer coisa, uma tesoura ou uma agulha. Mas não tinha nada disso ali.

Alguns poucos minutos depois uma garota entrou no quarto, também toda vestida de branco e com uma muda de roupas nas mãos.

Ela me ajudou a pôr a minha roupa e eu ainda me sentia um pouco distante, como se tudo aquilo fosse um sonho ou algo assim.

Assim que eu terminei de pôr minhas roupas o homem de branco voltou.

– Está liberada – ele fala com um sorriso no rosto.

Depois tira todos os tubos que estão no meu corpo e me ajuda a ficar em pé. Andar parece ser uma aventura incrível agora, minhas pernas parecem não saber mais me obedecer direito.

Com muita dificuldade eu consigo sair do quarto, e já na porta eu vejo quem está esperando por mim. Hikara minha estilista, e Chady meu mentor. Por mais estranho e idiota que seja, eu me sinto feliz em ver eles. Uma felicidade tão grande que me jogo nos braços de Chady e pela primeira vez desde os jogos, eu me permito ser frágil e chorar nos braços de alguém.

Eu choro por todas as coisas que aconteceram desde que cheguei na Capital, pelo Neithan. Pelas crianças que eu matei na arena, e principalmente, por Erick.

– Eu sabia que você conseguiria – Chady me falou.

– Eu fiz co-coisas horríveis Chady – eu disse tremendo em seus braços.

– Você fez o que tinha que fazer – ele me disse baixinho – agora vamos, você tem que se arrumar para a entrevista com o Ceasar.