Herança genética.

Eles me chamavam de louca e mal-humorada,
Como um fio de luz na despensa onde minha família esconde nossos segredos.

Minha mãe, uma submissa convicta,
Me disse para amar meu pai,
Como quem caminha num campo minado;
Amá-lo com cuidado, amá-lo estrategicamente,
Porque ele era mal-humorado também.

Ela estava acostumada a lidar com homens assim,
Minha concepção foi o resultado de um silêncio forçado
Mas ela sempre acha voz nos gritos endereçados a mim.

Meu pai afogava sua depressão
Com álcool e violência
E regava sua mania
Com amor e passeios repentinos.

E no entre-ciclos,
Quando não havia uma desculpa
O que restava era a podridão inerente dele.

Às vezes fico com raiva sem motivo,
É assim que digiro depressão.
Eu gosto de quebrar as coisas
Preferencialmente aquelas que importam
Porque assim poderiam me amar em pedaços.

Me ame como amam meu pai,
Me ame como amam minha irmã,
Me ame como amam minha avó.

Quando a tristeza me prende num estrangulamento,
Quando os problemas tossem para fora da minha garganta,
Eu saúdo as transgressões da minha avó como quem dá as boas-vindas a um novo messias.

Eu faço coisas ruins.
Eu faço coisas boas.
Meu travesseiro me chama e não posso responder
Mas meu colchão me chama de insônia,
Minha professora do oitavo ano me chamava de problemática,
As pessoas me chamavam de puta,
Família me chama de ovelha negra.

Todos me chamaram de tudo
Menos Bipolar.

E quando falo com minha mãe sobre minha depressão, ela diz:
"Shh, nós não falamos sobre isso."
Ela me chama de joelhos para orar,
Mas a oração é a despensa onde minha família esconde nossos segredos,
E quando não consigo encontrar minha felicidade
Eu corto um sorriso no meu braço
E observo meu pai, irmã e avó chorar pelo meu pulso.

Eles nos chamam de loucos.
Quatro varas de dinamite da mesma largura,
Prontos para explodir,
Todos fodidos pela mesma herança genética,
Mas eles foram muito mais do que o transtorno
E eu não sou apenas uma garota bipolar.