A Profecia de Delfos escrita por GG


Capítulo 2
Two


Notas iniciais do capítulo

Demorei, tipo, uns oito meses para postar o segundo capítulo, mas aqui estou. Acho que ninguém lerá isso mas vou tentar. Boa leitura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/573790/chapter/2

Capítulo 02 — Sou atacada logo de primeira

Nunca pensei que fosse tão fácil pegar um ônibus ás duas e meia da manhã, mas eu consegui pegar um ônibus que me levaria até Long Island, embarquei meio receosa e o motorista lançou-me um olhar de desconfiança quando apareci na catraca.

—Boa noite.

É tudo que dizemos um para o outro, eu pago a passagem e sento-me num banco perto do motorista, não há quase ninguém no ônibus, dentre elas estava uma senhorinha que muda de lugar para sentar na poltrona do outro lado do ônibus, perto de mim.

Já estava acostumada com isso, sair sozinha. Algumas vezes eu "fugia" de casa e ia até o Central Park para ficar longe de minha mãe e do cheiro pútrido do álcool que a casa exalava, podia parecer perigoso e idiota mas lá eu me sentia reconfortada.

— Filha do Olimpo.... — diz uma voz cortante como cacos de vidro de um vaco de porcelana quando caí no chão e se desfaz em milhares de pedacinhos, viro e encontro a idosa que alguns instantes atrás estivera a três poltronas de distância de mim, ela abre um sorriso assustador.

— O que a senhora disse?

— Não se faça de sonsa, menina. — ela diz friamente.

— Perdão, mas eu realmente não estou compreendendo você.....

— Conte-me, semideusa, quem é seu pai ou mãe divino?

— Por favor, senhora, você poderia me deixar em paz?

— Não fuja de mim, um grego não foge!

Fiquei assustada com aquilo, não entendia o que aquela mulher esquisita queria dizer com toda aquela esquisitice. Comecei a me levantar mas ela me empurrou de volta para o banco do ônibus, eu gritei abafadamente, ninguém me ouviria, as outras pessoas pareciam distraídas, um rapaz escutando música, uma mulher cochilando, um casal se beijando, uma moça lendo um livro distraidamente e o motorista prestando atenção na estrada a sua frente.

— Senhora, eu realmente não quero ser mal educada com você mas se você continuar agindo assim, terei que fazer isso. — eu digo enquanto mordo o lábio inferior, seus olhos ficam injetados de sangue e um sorriso sinistro se forma em seus lábios secos e murchinhos.

— Enxergue-me de verdade, meio-sangue. — ela ordena altivamente, eu faço isso tentando entender o que ela quer dizer, pisco várias vezes e vejo-a de verdade pela primeira vez, uma criatura com jeito de cobra, ela ri. — Não sabe o que vê ainda, é desorientada, aposto que nem sabe quem é seu parente divino!

— Que diabos.... — eu indago. — Você bebeu?

Lembro de todas as vezes que minha mãe chegou embriagada em casa delirando que meu pai era um deus grego, um ser divino, eu nunca acreditara, ela dizia que ele era seu deus grego, mas só podiam ser delírios de uma bêbada, todavia como eu explicaria essa mulher meio cobra esquisita sentada do meu lado no ônibus? Eu não bebi.

— Você me vê agora, então é real. — ela diz dando de ombros. — Agora, você daria um ótimo lanche da madrugada, meio-sangue.

Ela começa a virar-se para mais perto e eu lhe dou um chute nas pernas, com toda a força que tenho, levanto num rompante com a mochila e grito para o motorista parar o ônibus, ele não faz nada então eu simplesmente me jogo da janela do ônibus, eu ouço gritos quando caio no chão e sei que a criatura deve estar irritada.

Caio num baque surdo na grama do lugar desconhecido, sinto a dor e me arrasto para perto de uma árvore, me apoio e respiro fundo tentando recuperar o meu fôlego, preciso ser forte o suficiente para levantar agora e prosseguir a viagem, tenho que chegar logo ao tal acampamento.

— Seja forte, Violet.... — murmuro para mim mesma enquanto arrasto-me até a árvore, abro a mochila e pego a garrafa d'água, bebo metade dela numa só golada, nunca havia imaginado que jogar-me de ônibus em movimento cansava tanto.

Rio com o pensamento.

Deveria escalar a árvore e dormir nas copas dela, faço isso, o que exige-me muito esforço mas acabo feliz quando estou ali apoiada, meus olhos vão se fechando ao pouco e logo estou dormindo, um profundo sono...

X-x-X-x-X

— Violet Charbonnet. — murmura uma voz feminina.

Eu me levanto do chão feito de flores e encontro uma mulher alta, esguia e muito bonita. Ela me encara com os seus grandes olhos castanhos e um sorriso ameaça abrir-se em seu rosto jovial e lindo.

— Quem é você? — pergunto curiosamente, a mulher se aproxima aos poucos, o vestido da cor das sombras tremulando suavemente com o seu caminhar.

— Não precisa saber o meu nome ainda, tudo que precisa saber é que eu sou sua madrasta, sou a esposa de seu pai. — ela diz cuidadosamente, os olhos se estreitando, talvez por causa da minha gigantesca curiosidade. — Vim até aqui pois seu pai me pediu para ajudá-la na sua caminhada até o Acampamento Meio-Sangue.

— Você irá me ajudar?

— Sim, menina. — ela diz assentindo com a cabeça os cabelos voando delicadamente. — Precisa continuar a viagem a pé, sem transportes públicos, os monstros estarão te esperando em rodovias ou táxis, tanto faz. Ficará segura pela espreita, use a sabedoria.

— Monstros…?

— Aquela senhora demoníaca no ônibus, há vários outros tipos de monstros como ela. Precisa se proteger melhor. — ela diz.

— Oh, meu deus! — eu digo assustadamente.

— Não acovarde-se, criança.

— Não estou acovardando-me....

— Então prossiga, o Acampamento Meio-Sangue irá lhe chamar de certa forma quando estiver perto, Colina Meio-Sangue, espero que consiga chegar logo, ou então será tarde demais....

O sonho novamente dissipa-se em névoa.

X-x-X–x-X

Assim que abro os olhos eu despenco da árvore, solto um gritinho abafado e sinto uma dor lancinante no meu corpo, me levanto com certa dificuldade e abro a mochila que caiu comigo, pego duas barras de cereal e as devoro rapidamente, bebo a outra metade da garrafa de água e ajeito meus cabelos castanhos num coque alto e desleixado.

Vou caminhando porém o tempo inteiro só consigo pensar na minha suposta madrasta, que coisa estranha eu poder ver meu pai e minha madrasta por sonho! E essa coisa de monstros....bem, não me agradou nem um pouco, parece com as histórias de mitologia que mamãe me contava quando ainda estava sóbria.

Como será que a minha mãe reagiu quando encontrou o bilhete? Já amanheceu e provavelmente ela já está acordada, ou está atrasada para o trabalho, ela trabalha numa farmácia no subúrbio, e depois do expediente corre para um barzinho qualquer, suspiro ao imaginar o maldito Tommy acordando ao lado dela, sinto ânsia de vômito então sacudo a cabeça afastando esses pensamentos.

Meus pés gritam no final da tarde por uma paradinha mas eu resisto corajosamente, eu tenho que encontrar o tal Acampamento logo, já estou com apenas duas garrafinhas e meia de água e apenas um simples estoque de maçãs e barras de cereal fajutas, o sol se põe ao longe quando eu alcanço uma colina alta e esverdeada, tão bonita....

Eu caminho com dificuldade por causa da subida mas quando chego ao seu topo me sinto em casa pela primeira vez na minha vida, e é aí que eu sei que estou no Acampamento Meio-Sangue.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Profecia de Delfos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.