– Christmas Gift -

Konoha – 04:40 am – 24 de dezembro

Os pulos eram rápidos e precisos por entre os galhos das árvores. Alguns feixes de luz se sobressaiam dentre a escuridão da madrugada na floresta. Luzes que não eram vistas em outras épocas do ano.

Mais alguns pares de pulos e um rapaz moreno de capa preta e capuz finalmente colocou seus pés no chão. Ergueu a cabeça e pôde ver os portões da vila. Vila essa que um dia o mesmo rapaz deixou para trás e prometeu que se vingaria de todos que ali morassem. Tempos difíceis onde as dores da alma e da solidão eram maiores do que qualquer dano físico.

Ele colocou o pergaminho que segurava na axila contra lateral e retirou o capuz que atrapalhava sua visão. As vezes sentia falta de seu braço. Não que a falta dele o atrapalhasse, mas as coisas não seriam tão demoradas se escutasse o que uma certa irritante sempre lhe dizia.

Ele bufou quando a voz melodiosa dela ecoou em sua mente. “Deveria ter colocado a prótese, Sasuke-kun...”

Pegou novamente o pergaminho com a mão que lhe restava e caminhou para dentro dos portões. Os passos eram lentos e silenciosos. A grande maioria das pessoas dormia em suas casas.

Os olhos negros observavam dentro das casas. Algumas janelas tinham cortinas abertas e as luzes coloridas que piscavam freneticamente emolduravan os pinheiros recheados de enfeites vermelhos e dourados.

As mesmas luzes coloridas ocupavam boa parte das fachadas dos comércios da cidade e o tronco de algumas árvores. Tudo parecia tão alegre...

As pessoas pareciam mais alegres e as famílias mais unidas. Era uma sensação boa. Uma sensação que Sasuke não se lembrava tão bem em sua infância e adolescência. Suas lembranças eram preenchidas com lágrimas, sangue e solidão.

A cabeleira negra sacudiu algumas vezes na tentativa de afastar todos aqueles sentimentos. Felizmente sua vida tomara um rumo diferente. Um bom caminho. Um caminho que nem mesmo ele conseguia acreditar.

Konoha – 05:00 am – 24 de dezembro

Uma cabeleira loira tombada na mesa do Hokage fez Sasuke pigarrear. Viu o amigo e ex-companheiro de time fungar e coçar os olhos enquanto tentava inutilmente afastar o cansaço.

– Hey, Teme... – Naruto resmungou sonolento. – Faz tempo que está aí?

O Uchiha sorriu de canto.

– O suficiente para saber que você continua barulhento enquanto dorme. – Sasuke deu mais alguns passos e estendeu o pergaminho para o atual Hokage. – Aqui está o que me pediu.

– Obrigada, Sasuke. – o loiro levantou-se da cadeira onde estava e caminhou para a janela onde era possível ver toda a dimensão da cidade. – Sei que não deveria ter te mandado em missão exatamente nessa época. Ainda mais pela Sakura-chan, mas... – ele virou-se para encarar o amigo. – Precisávamos disso. Quando Sakura-chan voltar a ativa, precisamos ter os ninjas médicos com essa técnica bem treinada.

O Uchiha assentiu.

– Nos vemos mais tarde, certo? – o Uchiha pareceu ignorar a pergunta do loiro. – É o primeiro Natal que passaremos juntos, Teme. Deveria se alegrar.

– Que seja.

E em um piscar de olhos, o Uchiha desapareceu.

Konoha – 05:30 am – 24 de dezembro

Sasuke caminhava apressado por entre as ruas do antigo distrito Uchiha. Agradecia a Kami por ter chegado a tempo para os festejos de Natal. Caso contrário Sakura o mataria. Lembrou-se do natal anterior e o quão surpreso ele ficou ao ver a casa toda enfeitada.

E nesse Natal não tinha sido diferente.

A casa – assim como muitas outras da vila – estava iluminada pelas luzes coloridas. Uma árvore enorme ocupava um dos cantos da sala dos Uchihas. Algumas colunas que sustentavam o telhado da casa também eram iluminadas durante a noite.

Sua atenção foi desviada por um barulho na cozinha. Estreitou os olhos e puxou uma kunai por reflexo. Observou que a luz do cômodo também se encontrava acesa. Ele suprimiu o chakra e esgueirou-se pela escuridão.

– Sou eu, Sasuke-kun... – o Uchiha ouviu a esposa dizer e surpreendeu-se. Algumas vezes ele esquecia o quanto Sakura tinha evoluído e se culpava mentalmente por isso.

Sasuke depositou a kunai em uma pequena mesa no corredor e encaminhou-se para a cozinha. Sakura estava de costas para a porta e ao que parecia preparava algo. Ele observou-a limpar as mãos em um pano e virar-se para vê-lo. E quando não foi sua surpresa em observar a barriga arredondada marcada pelo avental branco. Parecia maior do que da ultima vez que a vira... há duas semanas atrás.

Ele viu a rosada aproximar-se dele com o rosto carrancudo.

– Não me olhe assim. – ela resmungou. – Sei que estou enorme... – lamentou-se alisando a barriga de quase nove meses.

Sasuke sorriu de canto. Era bom ter sua família por perto de novo. Lembrou-se de quando era um renegado que evitava criar laços. Quando renegou o amor de todos e principalmente o de Sakura por pura covardia. Era covarde por não se apegar por ter medo de perder os laços como havia perdido uma vez com sua família.

– Está me ouvindo, Sasuke-kun? – os orbes verdes observavam os olhos negros perdidos. – O que houve? Está sentindo alguma coisa?

– Estou bem, Sakura. – Sasuke respondeu enlaçando os ombros da esposa e depositando o queixo no topo de sua cabeça.– Você deveria estar descansando e sabe disso.

– Eu sei, Sasuke-kun. Só que não consegui dormir hoje... Não consegui encontrar uma posição confortável. – Sakura sorriu. – Por isso, resolvi adiantar os pratos para a ceia dessa noite.

Sakura abraçou com um pouco dificuldade o tronco do Uchiha e suspirou aliviada. Tinha receio que Sasuke não chegasse a tempo para os festejos de Natal e até mesmo para o nascimento do primeiro herdeiro Uchiha. Algo lhe dizia que em breve teria seu pequeno ou pequena nos braços e precisava que Sasuke estivesse próximo dela.

Os dois se separaram e fitaram-se por alguns segundos.

– Vá tomar um banho, Sasuke-kun. Enquanto isso, preparo o café... Você deve estar faminto.

Ele menenou um não com a cabeça.

– Você vai descansar, Sakura. Além do mais, Hinata virá mais tarde para te ajudar.

– Mas, Sasuke-kun...

– Você precisa descansar. – ele interrompeu-a. – Não quero que nada aconteça com vocês.

Sakura sorriu em resposta e surpreendeu-se quando sentiu a mão do Uchiha alisando a barriga saliente.

“Quem imaginaria você assim, Sasuke-kun...” pensou.

E juntos, ele seguiram para o quarto.

Casa dos Uchihas – 10:00 pm – 24 de dezembro

O dia passou rápido para eles. Hinata tinha chegado antes da hora do almoço para ajudar Sakura a preparar a ceia de natal e encontrou-a dormindo. Sempre muito solícita, a nova Uzumaki pediu a Sasuke que não acordasse a rosada. Só Kami e o Uchiha sabem o quanto o mesmo se arrependeu em deixar Sakura descansar.

Sasuke perdeu a conta de quantas vezes a rosada o repreendeu por ter sido tão deselegante e deixado-a dormir. Que Hinata e Naruto eram convidados e não os seus empregados. Que se fosse ao contrário, o Uchiha teria ficado irado por deixar que ela fizesse tudo enquanto Hinata dormia.

E o Uchiha perdeu as contas de quantas vezes ele revirou os olhos...

– Sakura-chan parece cansada. – o Uzumaki comentou sentado no sofá da sala dos Uchiha e bebericou um pouco de saque.

O Uchiha observou a esposa conversando com Hinata recostada na bancada da cozinha. Vestida com um quimono azul claro com o símbolo da nova família em suas costas. Os dois resolveram unir o símbolo Uchiha e Haruno quando se casaram, ficam praticamente o mesmo, exceto pelo fato de agora o símbolo Uchiha conter um contorno a mais – que seria o círculo do símbolo da família de sua esposa.

Sakura bocejou e alongou as costas. Naruto tinha razão e Sasuke odiava admitir isso. A Uchiha parecia desconfortável e cansada.

– Está tudo bem, Teme? – Naruto perguntou vendo o amigo perdido em pesamentos

O Uchiha fitou o amigo. Estava preocupado com Sakura. Não sabia se realmente ela estava bem ou se estava se fingindo de forte para não preocupá-lo.

– Sakura está se esforçando demais, Dobe. – resmungou.

– Você a conhece, Teme. Está se preocupando a toa... – Naruto animou-o. Em seguida, levantou-se do sofá e andou em direção a porta. – Vamos lá fora um pouco para você se distrair.

Naruto tinha razão e além disso, Sakura era médica. Ela sabia seus limites.

Casa dos Uchihas – 11:00 pm – 24 de dezembro

Os dois amigos encontravam-se próximos da calçada admirando alguns fogos que já explodiam e coloriam os céus de Konoha.

– Sasuke! – A Uzumaki gritou a plenos pulmões atravessando a porta principal dos Uchihas.

Os dois prontamente olharam para a morena que parecia desesperada.

– Por favor, venham. Sakura-chan está com dores!

A Uzumaki não esperou qualquer resposta deles e sumiu para dentro da casa.

Sasuke não soube como ou quanto tempo demorou entre voltar para dentro da casa e encontrar a rosada deitada na cama de casal.

– Sakura? – ele murmurou estreitando o olhar pelo quarto. Os olhos do Uchiha se arregalaram quando a encontrou recostada na cabeceira da enorme cama de casal. – Sakura!

Ela transpirava enquanto sua respiração mantinha-se descompensada. As mãos agarravam com força os lençóis embaixo de si.

– Por Kami, O que você está sentindo? – perguntou em um tom tão insano que nem ele mesmo pode controlar.

– Pensei que iria passar... – ela resmungou cerrando os dentes.

– Droga, Sakura! – Sasuke exclamou puxando os cabelos negros. – Vamos para o hospital!

Naruto chegou logo em seguida. Os olhos azuis ficaram arregalados e por alguns instantes o Uzumaki prendeu a respiração. Sasuke parecia desesperado enquanto Sakura estava a ponto de explodir de dor.

– N-não, Sasuke-kun... – ela retirou a mão do Uchiha de sua cintura. A dor ia e voltava em uma intensidade cada vez maior.- Hina-chan foi chamar Tsunade.

O Uchiha mal conseguia falar. Não sabia o que fazer ou como agir. Todo aquele sentimento de medo e perda tomaram conta do moreno. Ele sentia suas pernas tremerem, as pontas dos dedos gelaram e não conseguia falar nada.

– Sasuke-kun... A-apenas, fique aqui... – ela ofegou com os olhos marejados. – C-comigo...

Sasuke suspirou pesado e tentou focar-se. Naquele momento, Sakura precisava dele. Por mais desesperado que estivesse não poderia transmitir insegurança ou medo.

Ele apoiou-se na beira da cama e lhe deu um beijo casto na testa.

– Acalme-se... Estou aqui.

Casa dos Uchihas – 11:56 pm – 24 de dezembro

– Kami... – ele resmungou entre os dentes.

– Acalme-se, Teme... – Naruto pousou uma das mãos no ombro do Uchiha. – Isso acabará em breve.

– Aquela velha... – Sasuke cerrou os punhos de raiva. Quem Tsunade pensava que era em expulsá-lo do quarto quando seu filho ou filha estava prestes a nascer.

– Sasuke... – a voz de seu antigo sensei se fez presente. Os olhos escuros avistaram Kakashi próximo da janela.

– Quando chegou aqui? – ele resmungou para Kakashi que não largava aquele livrinho pornográfico.

O ex-sensei soltou uma risada por debaixo da máscara.

– Há uma hora atrás. – respondeu divertido.

O Uchiha passou as mãos pelos cabelos negros. Estava ficando louco. Aquela situação estava demais para a sua sanidade. Ele desviou o olhar para o corredor, onde ouvia vozes de Tsunade e Hinata.

Por que ninguém vinha dar notícias? Ele era o pai dessa criança que só Kami sabia se tinha nascido. As palmas das mãos do moreno já latejavam e só então percebeu o quanto estava apertando as mãos.

Aquele silêncio estava irritante.

– Relaxe, Teme! – o loiro resmungou tão preocupado quanto o Uchiha. Sasuke estava mais pálido do que o norma.

Em um supetão, Sasuke levantou-se do sofá. Aquela situação já estava indo longe demais. Sem notícias, sem barulhos... o que Tsunade queria? Enlouquecê-lo?

– Cale essa boca, Dobe! – Ele exclamou visivelmente descompensado. – Cade essa velha que não m-

O Uchiha foi interrompido por um som novo aos ouvidos dele. Era um choro de criança que vinha do quarto. Os três homens se olharam com os olhos estalados. O corpo de Sasuke não conseguia mexer-se e de repente era como se todo o sangue de seu corpo tivesse saído pelos pés. As mãos gelaram e o coração batia em um ritmo totalmente descompassado.

– Sasuke... – uma voz atrás de si chamou a atenção. Era Tsunade. – Quer entrar?

Com dificuldade, ele virou-se e encontrou uma expressão serena no rosto da velha médica. A boca abriu e fechou alguns pares de vezes, mas nenhum som foi emitido pelo mesmo. Sasuke permitiu-se analisar Tsunade por mais alguns segundos e desviou o olhar para Hinata que vinha logo atrás.

Casa dos Uchihas – 11:58 pm – 24 de dezembro

As pernas ainda vacilavam um pouco apesar dos passos firmes. O corredor da casa nunca pareceu tão longo, mas os olhos ônix já conseguiam ver a porta aberta e a luz acesa do quarto que dividia com Sakura.

E então ele viu. Sakura olhava fixamente para um embrulho em seu colo. E era tão pequeno que praticamente sumia nos braços de sua esposa. O rosto da ex-Haruno estava sereno e o sorriso esculpido nos lábio dela não negavam a felicidade que estava sentindo.

Em passos silenciosos, Sasuke caminhou devagar e deu a volta na cama. Os olhos esverdeados de Sakura desviaram por breves momentos do embrulho e encontrou os dele.

– Sasuke-kun... – ela sorriu.

Com cuidado, Sasuke sentou-se na beirada da cama e aproximou a mão do rosto de Sakura, fazendo uma discreta carícia.

– Você está bem? – ele soou preocupado.

Sakura riu fazendo um sim com a cabeça.

– Nunca estive melhor. – Sasuke suspirou aliviado. Ele parecia tão nervoso que ela mal o reconhecia. – Veja... – Sakura deixou o embrulho um pouco mais erguido.

Sakura riu da forma como Sasuke encarou o mais novo herdeiro Uchiha. Claramente, ele não sabia o que fazer e ela jamais o imaginara assim.

Ela observou cada movimento dele. Desde o desvio do olhar para a criança, passando pelo a expressão boquiaberta e finalmente chegando no ponto mais maravilhoso que Sakura presenciara: com a mão, Sasuke tocou de leve a testa da criança fazendo-a dar um discreto sorriso de canto.

– É uma menina, Sasuke. – Tsunade apareceu recostada à porta. – Parabéns! – e fazendo uma discreta reverencia, deixou os mais novos pais a sós com a nova herdeira.

– Quer pegá-la? - Sakura murmurou baixo.

– Não, Sakura.. não acho q-

Sakura soltou uma risada baixa.

– Por Kami, Sasuke-kun... – Sakura recostou a cabeça no ombro do marido. – Você não vai machucá-la. – sorriu.

Ele relutou por mais alguns segundos enquanto alternava o olhar entre Sakura e sua filha. E então com receio, o Uchiha pegou cuidadosamente a mais nova Uchiha.

– Viu? – ela murmurou baixo.

Com cuidado, o Uchiha aproximou o rosto da menina e lhe deu um beijo na testa pequena e parou a pouco centímetros para analisar melhor a pequena. O cabelo negro, a pele branca como a dele.

– Ela é perfeita. – ele murmurou maravilhado. Afastando-se um pouco da menina, Sasuke aproximou-se da esposa e lhe deu um beijo casto nos lábios. – Obrigada, Sakura.

Sakura deixou escapar uma lagrima por um dos olhos.

– Qual será o nome dela? – Sakura indagou analisando-o.

– Sarada... Uchiha Sarada. – ele respondeu sem pestanejar e Sakura concordou. A pequena era a nova chama da família Uchiha. Aquela que iluminaria o caminho deles e tiraria o resto de escuridão que talvez ainda sobrasse no coração de Sasuke.

Casa dos Uchihas - 00:00 am - 25 de dezembro

A atenção dos dois foi desviada pelos fogos que explodiam do lado de fora da casa. Era meia noite. Era Natal!

– Feliz Natal, Sasuke-kun.

– Feliz Natal, Sakura. – sorriu de canto.

Depois de tantos anos, Sasuke percebeu o verdadeiro sentimento do Natal. O nascimento. E percebeu que os melhores presentes muitas vezes não vem com laços... Eles podem vir embrulhados em fraldas.