Boa Sorte, Katniss escrita por Hanna Martins


Capítulo 4
Coelhos são do mal


Notas iniciais do capítulo

Sei que é um pouco tarde para isso. Mas antes tarde do que nunca (já diz aquele velho ditado). Então quero desejar a todos vocês, Feliz Ano Novo!!! Que este ano seja inesquecível!!!



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A sorte como sempre (que novidade!) não está ao meu favor. Hoje é sexta-feira. Tenho um milhão de coisas para estudar, trabalhos para fazer, e ainda terei que passar o final de semana (inteiro!) decorando o colégio. Por quê? Por quê? Por quê? E se não bastasse isso, minha meta da semana está praticamente fracassada. Não consegui descobrir o ponto fraco de Peeta. Por que o mundo é assim?

― Você sabe que eu te ajudaria na decoração do colégio... Mas neste final de semana é impossível. Preciso ajudar no restaurante ― diz Madge.

Os pais de Madge abriram um pequeno restaurante há dois anos. A comida de lá é muito boa. De vez enquanto, dou uma ajudinha. Os senhores Undersee sempre me dão deliciosas comidas. Ser amiga de Madge tem muitas vantagens!

― Tudo bem... ― falo, soltando um longo suspiro. ― Só de imaginar que terei que decorar o colégio inteiro! ― olho para o enorme prédio de Panem. Meu animo só cai cada vez mais. ― Espero que Gale seja bom com estas coisas.

Em pensar que a culpa é toda daquele idiota. Olho para ele que está conversando muito animadamente com o grupinho dos populares. Ah, louro oxigenado! Eu juro que ainda vou fazer você pagar por tudo isso.

Glimmer passa toda rebolando por nós. Se ela rebolar um pouco mais, vai precisar de uma cirurgia nos quadris, eu só estou avisando. Ela usa um tomara que caia rosa e uma calça branca mega apertada. Está com um daqueles sapatos de salto vinte (porque pelo tamanho já passou dos quinze há muitos centímetros), como ela consegue se equilibrar naqueles sapatos? Seu rosto está tão maquiado que desconfio que ela deve ter acabado com o estoque de maquiagem de alguma loja.

― Bebê! ― fala com a voz toda melosa, se atirando nos braços de Marvel.

Ele a recebe com um beijo daqueles, enquanto suas mãos fazem um tour pelo corpo de Glimmer, explorando todos os lugares possíveis. Eca, eles vão começam a fazer aquilo em nossa frente?

Pois é, esta é a novidade da semana. Glimmer e Marvel começaram a namorar. Já temos o prêmio de casal mais meloso do ano.

Eu e Madge trocamos olhares significativos.

― Eu seguro seu cabelo, se você segurar o meu quando formos vomitar ― propõe Madge.

― Combinado.

Rimos.

― Eles se merecem ― digo. ― Será que Clove e Cato também vão aproveitar a oportunidade e reatar o namoro?

É conhecida a história de Cato e Clove. Eles eram o casal mais invejado o ano passado. Se Panem tivesse um prêmio para os casais mais famosos, eles ganhariam o prêmio. No entanto, no inicio do ano, após Clove descobrir que Cato estava aproveitando o treino de futebol para “treinar” com as lideres de torcida, eles romperam, embora ele tenha jurado que era uma intriga. O fato é que Clove quase fez picadinho de Cato.

― Talvez ― responde Madge. ― Uma garota da minha aula de química, jurou que viu eles, estes dias, juntos, e eles não estavam usando a língua para conversar.

Populares, quem os entende? É mais fácil compreender a teoria das cordas.

Sexta-feira deveria ser um dia feliz para todos os estudantes. Tipo o dia internacional da liberdade. Entretanto, não é para mim. Preciso fazer um trabalho de história que irei entregar na segunda-feira, como não terei tempo nem no sábado, nem domingo, tenho que terminá-lo ainda hoje. Obrigada, Peeta, você só está acabando com minha vida, só isso.

Assim que chego no apartamento, faço um sanduíche, pego um copo de refrigerante e levo tudo para frente do computador.

Nosso computador fica na sala, é usado por todos da casa (menos por Peeta, que tem seu próprio notebook de última geração, claro). Tadinho está tão velhinho que já passou da hora de ir para o paraíso dos eletrônicos. Para ligá-lo demora ― não estou exagerando ― quase meia hora, dá até para tirar um cochilo. Sem falar no barulho que faz. Uma hora destas um de nossos vizinhos irá bater a nossa porta perguntando por que estamos fazendo uma festa.

Ligo a potente máquina (ironia aqui) e começo a comer meu sanduíche. Já devorei praticamente todo o sanduíche quando o computador resolve acordar. Gasto mais alguns minutos esperando, seu mau humor passar após acordar, e ele fazer a caridade de abrir o word.

Começo digitar igual a uma louca. Se eu não terminar este trabalho hoje estarei perdida.

Até que estou com sorte, antes da noite, já tenho quase a metade do trabalho pronto.

A tela do computador fica preta. Mas o quê? Não. Não. Isso não está acontecendo comigo. O computador quebrou, eu perdi todo o meu trabalho!

Tento ligar o computador novamente e nada.

― Ah! ― grito de raiva e frustação, enquanto puxo meu cabelo.

― Tampinha, eu sabia que você era maluca, só não sabia que teríamos que te internar tão cedo! ― fala Peeta, entrando no apartamento.

Por quê? Por que minha sorte é tão má?

Ele olha para o computador.

― O que aconteceu com esta lata velha?

Ei, ninguém xinga minhas coisas. É velho, mas é meu. Resmungo.

― Louro oxigenado, vai cuidar das suas coisas!

― Acho melhor você jogar esta sucata fora.

É agora que eu bato neste cara.

― E eu deveria jogar você fora! ― respondo, enquanto tento fazer o computador reviver.

Não tem jeito. Preciso levar até ao conserto. Perto daqui há uma loja que conserta computadores. E o melhor de tudo, o preço não é alto. O problema é que não consigo levar o computador sozinha. O CPU é muito pesado. Não conseguiria descer todas aquelas escadas com ele.

Analiso a situação... Só tem uma solução.

― Louro oxigenado, me ajude aqui! Vamos levar o computador para consertar.

― O quê? Você acha que vou levar isso? Além disso, esta coisa precisa ir para o lixo.

É cada coisa que preciso aturar! Suportar os chiliques de Peeta não é minha coisa favorita.

― Vamos, logo! ― tento ignorar sua birra, igual uma mãe faz com uma criança pentelha. ― A loja já vai fechar! Coloque estes músculos para trabalhar! Estou achando que estes músculos são de plásticos! ― provoco, se Peeta é irritante, posso ser ainda mais.

― Vai sonhando!

― Ah, é! ― você me provocou, Peeta, pediu por isso. ― Louro oxigenado não é de nada, não é de nada ― começo a cantar com minha voz mais irritante, mais afetada que consigo, enquanto pulo ao seu redor.

Tá, eu sei que isso é muito (extremamente) infantil. Mas em minha defesa, argumento que preciso utilizar as mesmas armas que ele. Se ele é infantil, posso ser mais.

― Ok, ok, para de cantar que eu te ajudo.

― Mesmo? Não vai ter volta atrás, promete?

Ele me olha furioso.

― Promete? ― como vejo que ele hesita começo a cantar novamente. ― Louro oxigenado não é de nada.

― Tá, tá! Eu prometo! ― diz de mau humor. ― Agora, nunca mais faça isso, tampinha. Você é terrível cantando. Meus pobres ouvidos não merecem isso.

Uma vitória para Katniss Everdeen! A sorte pode estar mudando.

Dou os ombros.

O caminho é marcado pelos resmungos de Peeta e minhas ameaças de começar a cantar na rua (sei que é um mico bem grande, mas fazer Peeta passar vergonha não tem preço).

― Qual é a sua idade mental? Cinco anos de idade?

― Se eu tenho cinco anos, você é um bebê chorão! Porque sua idade mental é menor do que a minha ― respondo.

― Ah, deve ser por isso que as garotas correm atrás de mim! Meninas adoram acalmar um bebê chorão.

― As garotas que correm atrás de você devem ter sérios problemas.

― Eu chamo isso de bom gosto.

Este garoto não existe! Quem fica se gabando por aí?

― Pufff ― solto uma gargalhada, não posso me conter diante de tamanha idiotice. ― Vê se te enxerga, Mellark! Você não é tudo isso, não!

― Olha só para mim. Quem iria resistir a este rosto? Sou frequentemente confundido com um ator de Hollywood. Aposto que faria muito sucesso se fosse um.

― Ah, isso eu não posso discordar ― debocho. ― Você mente muito bem. Engana a todos com esta cara de bom moço. Você é mais falso que produtos falsificados da China.

― Não é o que dizem ― rebate.

― Chegamos ― falo apontando para a loja.

Não é uma loja digamos que... especialista em coisas de informática. No entanto, com o dinheiro que tenho, é tudo o que posso pagar.

Demora vários minutos até que o técnico me diga o que há.

― Posso consertar.

Respiro aliviada. Só de pensar que poderia perder todo meu trabalho.

― Mas só vai ficar pronto na próxima semana...

Alegria de pobre dura tão pouco quanto roupa em dia de liquidação.

― E os arquivos?

― Infelizmente, não dá para recuperar.

Quase choro ao ouvir esta notícia.

― Nada?

― Nada ― responde o técnico me olhando. ― Seria até melhor se você trocasse de computador.

Noto um sorrisinho debochado surgindo nos lábios daquele pilantra do Peeta, que me lança o olhar: “eu te avisei”.

Negocio por um bom tempo o preço do conserto. Até que o técnico (cansado de minha insistência) deixa por um preço razoável.

― Eu não te falei para jogar aquela sucata fora? ― fala Peeta, enquanto caminhamos de volta para o apartamento. ― E por que você ficou aquele tempo todo negociando por um desconto? Aquilo foi um desperdício de tempo. Seria bem fácil ter pagado o preço que ele pediu no início.

― Olha só, nem todo mundo tem dinheiro para ficar desperdiçando por aí. Você realmente não vive no mundo real!

Ele apenas dá os ombros e resmunga algo.

Como lidar com criancinhas birrentas? Acredito que posso fazer um livro sobre isso após conviver com Peeta, eu ganharia muito dinheiro, ficaria rica. Resolvo ignorar seus resmungos e olhar para o pet-shop pelo qual estamos passando. Me detenho ao avistar um filhotinho de cachorro. Ele é tão bonitinho, todo peludo.

― Ei, não temos o dia todo! ― resmunga Peeta, quando paro para ver o animal.

Nem dou atenção para ele e continuo olhando o filhotinho, que até abana a cauda para mim. É uma pena morarmos em um apartamento tão pequeno. Eu sempre quis ter um cachorro. No entanto, nunca pude ter um.

― Vamos!

― Qual é o seu problema?

― Vamos logo! ― ele pega em meu braço.

Imediatamente me livro de suas mãos.

― O que você pensa que está fazendo? ― falo, o encarando.

Noto que seu olhar não está em mim. Ele está com uma expressão estranha no rosto. Sigo seu olhar. Ele está olhando um coelho?

Um coelho? Peeta está olhando para um fofinho coelhinho branco? Mas o que há com esta expressão? Espera... não vá me dizer que ele...

― Você tem medo de coelhos? ― falo incrédula.

Ele desvia o olhar do coelho e começa a andar em minha frente.

― Ei, Peeta, você tem medo de coelhos? ― insisto indo atrás dele. ― Responde.

Não recebo nenhuma resposta. E como diz aquelas sábias palavras, quem cala consente.

― É verdade, não é? Você tem medo de coelhos.

Fala sério, há tantos animais para se ter medo como tigres, tubarão, cobras... e ele foi logo ter medo de coelho. Isso só pode ser piada.

― Sim, você tem medo de coelhos! ― falo igual a uma pentelha irritante. ― Eu descobri seu medo!

― Não, eu não tenho medo de coelhos! ― diz todo arrogante.

― E como você chama aquilo no planeta do qual você veio? ― provoco.

― Eu já disse que não tenho medo de coelhos ― noto sua irritação.

― Mesmo? ― cruzo os braços e me coloco diante dele, o impedindo de continuar a andar.

― Claro ― o encaro. ― Imagina eu, Peeta Mellark, com medo de coelhos? ― continuo o encarando. ― O que tenho é uma espécie de fobia... Todos pensam que coelhos são tão inocentes, bonitinhos, fofinhos, mas ninguém conhece a verdadeira identidade deles. Quando eu tinha quatro anos, eu me aproximei de um belo e inocente coelhinho, e o que recebi em troca? Uma mordida no dedo! O desgraçado tinha uma mordida tão forte que quase arrancou meu dedo fora! Coelhos são do mal ― fala mostrando o dedo indicador para mim.

Começo a rir. Não posso me controlar ao imaginar Peeta sendo mordido por um coelho.

Ele bufa e atravessa a rua, me deixando para trás.

Peeta Mellark tem medo de coelhos! Esqueçam qualquer descoberta deste século, esta é a descoberta do século! Dá para acreditar um cara todo grandalhão como Peeta, que se acha a última bolacha do pacote (ele só não sabe que a última bolacha do pacote sempre vem quebrada), tem medo de coelhos? De coelhos.

Uma luzinha se acende. Eu acabei de descobrir um ponto fraco de Peeta.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? Quem diria que o ponto fraco de Peeta seria logo esse! Agora que Katniss descobriu isso, o que será que vem por aí?