Boa Sorte, Katniss escrita por Hanna Martins


Capítulo 32
Sorte é uma questão de perspectiva


Notas iniciais do capítulo

E aqui estamos com o capítulo final... Chega de papo, sei que vocês querem é ler rsrsrsrs



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Não consigo respirar direito, nem ver, já que uma torrente de lágrimas desce por meu rosto.

— Peeta... — chamo. — Peeta...

— Katniss... — essa voz...

Levanto os meus olhos e enxugo apressadamente as lágrimas para conseguir ver algo.

— Por que você está chorando desse jeito, o que aconteceu?

Pulo em seus braços e escondo minha cabeça em seu peito.

— O que foi? — ele me abraça.

— Peeta... eu pensei que você tinha... morrido — desato a chorar a novamente.

Meu Deus, por que estou chorando assim? Eu não consigo controlar minhas lágrimas, elas simplesmente saem de meus olhos.

— O quê? Eu, morto? — ele continua a me abraçar. — Como? Por quê? Katniss...

Continuo a chorar como uma criancinha.

— Katniss...? Mas, eu estou bem! Olha para mim.

Me desprendo de seus braços e o analiso por alguns segundos. Sim, ele está bem, exceto por alguns cortes no braço direito e a mão enfaixada.

— Viu? — limpa as minhas lágrimas. — Inteirinho! — sorri de um modo que só ele consegue sorrir.

— Seu louro oxigenado, sabe o quanto eu sofri, pensando que algo tinha acontecido com você? Se alguma coisa tivesse acontecido, eu... — as malditas lágrimas finalmente param de sair.

— Você o quê? — indaga. — O que você faria se eu tivesse morrido? — percebo em seu tom certa diversão. E isso me causa uma pontinha de raiva, como ele pode brincar com isso?

— Seu... louro oxigenado — começo a dar pequenos socos em seu peito. — Não brinque com isso! Você não sabe o que eu passei por sua causa!

— Katniss? Você está no hospital... — me olha admirado.

Começo a me acalmar e me dou conta do lugar em que estou. No hospital. O lugar que mais detesto no mundo. Eu que sempre evitei ficar doente para não ir em um hospital, estou em um agora.

— Você veio até aqui por minha causa... — sorri. — Katniss? Você?

Bufo, limpando os vestígios de lágrimas do meu rosto.

— É, louro oxigenado, por sua culpa eu vim parar em um hospital. Por sua culpa, eu tive uma crise de choro. Por sua culpa, pensei que meu coração iria explodir. Por sua culpa, meu coração... não irá bater por nenhum outro... a não ser por você... E por sua culpa, estou fazendo declarações vergonhosas...

Os lábios de Peeta imediatamente capturam os meus. Ele me enlaça com delicadeza. Seus lábios exploram os meus. Eles procuram os meus lábios com ânsia, como se não quisessem mais se separarem.

— Katniss — ele tem um imenso sorri nos lábios. Um dos sorrisos mais belos que já vi. — Você voltou para mim.

Sua mão acaricia meu rosto. Puxo-o para outro beijo. Os lábios de Peeta são melhores do que qualquer calmante.

— O que aconteceu? — pergunto, já bem mais calma e instalada nos braços de Peeta.

Nós dois estamos deitados na maca.

— Isso? — mostra sua mão enfaixada. — Tive um pequeno acidente de carro. Não foi nada...

— E por que você não avisou? Eu quase tive um infarto, quando ligaram do hospital! Eu tentei ligar para você... mas eu não consegui.

— Meu celular quebrou — se justifica. — Eles não deveriam ter te assustado... — acaricia meu cabelo.

Me aconchego ainda mais em seu peito. Quero sentir cada centímetro de Peeta, me certificar que ele está mesmo aqui.

Ficamos em silêncio por um longo tempo. É bom ficar aqui, nos braços de Peeta. Parece até que só nós dois existimos, e tudo mais não tem importância nesse momento.

— Hum... Delly estava te procurando...

— Ela...

— Ela foi lá no apartamento...

— Ah...

— Ela me contou que seu ator preferido é o Johnny Depp, que sabe todas as falas de Bonequinha de Luxo e... que vocês decidiriam terminar com o noivado.

Ele fica calado.

— Quando exatamente... você resolveu isso?

— Quando eu reencontrei você, eu decidi que estava na hora de ter coragem o suficiente para enfrentar minha família.

— E como vai ser?

— Será uma batalha difícil — suspira, suas mãos acariciam minhas costas. — Muito cansativa. Provavelmente, eu terei que me desfazer de minhas confeitarias... eu conheço meu avô, ele não vai perdoar uma afronta dessas. Meus empréstimos, os investidores... Isso será uma grande dor de cabeça... Ele já fez isso com meu pai, quando ele decidiu se casar com uma mulher que não fazia parte do mundo dele. Ele transformou a vida de meu pai em um verdadeiro inferno. Até hoje meu avô não perdoou meu pai plenamente... E eu... vou afrontá-lo pela segunda vez... Dessa vez, não vai ter perdão.

Olho para ele, preocupada.

— Peeta...

— Eu tenho certeza do que eu estou fazendo. Não, eu não vou me arrepender. Eu quero fazer isso por mim. Não quero mais ser um covarde. Quero seguir meu próprio caminho. O caminho que eu escolhi — sorri. — Encontrar você foi o que eu precisava para ter coragem.

Recebo um beijo na testa.

Alcanço os lábios de Peeta, e lhe dou um demorado beijo. Não há pressa.

Ele sorri de modo travesso.

— Katniss.

— Hum?

— Você não pode mais me escapar — afirma de modo convencido. Uma vez louro oxigenado, sempre louro oxigenado.

— E por que não?

— Vejamos... você está em um hospital, o lugar que mais odeia... e tudo por que? Porque eu estou aqui.

— Ei! — me levanto do seu peito. — Louro oxigenado, você é muito convencido. Lembre-se de que eu tenho Cenourinha! — rebato.

— Eu posso cuidar do coelho — diz de modo suspeito.

— Seja lá o que você está tramando, pode tirar isso da cabeça.

— Mas eu não estava planejando nada — fala como um garotinho inocente.

— Sei, louro oxigenado! Eu te conheço muito bem. Nem pense em fazer nada com meu coelho.

Peeta me puxa para seus braços.

— Veremos — e antes que eu consiga responder me beija.

E eu me perco em seus lábios. Seus lábios que me fazem derreter como um cubo de açúcar no café quente.

Peeta saiu do hospital no mesmo dia. Realmente, o acidente não foi nada de grave.

Porém, não pudemos passar muito tempo juntos. Ontem, Peeta viajou com Delly. Eles foram resolver o assunto do noivado.

— Bom dia, Katniss — me cumprimenta Ren no elevador.

— Bom dia — respondo, sorrindo.

As coisas voltaram a normalidade entre nós. Fico feliz que o término do nosso quase relacionamento não tenha afetado a nossa amizade. É bom ter Ren como amigo e eu não me perdoaria se tivesse perdido meu amigo.

— Você parece um tanto... cansado — observo.

— Ontem, Finnick me arrastou para um bar... fiquei até de madrugada ouvindo os lamentos dele...

— Ah, isso explica muita coisa.

— No final, precisei arrastar Finnick completamente bêbado para o apartamento e limpar o vômito dele na sala...

— Você merece o prêmio de amigo do ano — brinco.

Ren ri, enquanto tenta reprimir um bocejo.

Encontro Finnick cercado por vários copos de café e usando uns óculos escuros que cobrem a metade da sua cara.

— Ressaca? — digo com uma voz mais alta do que o normal.

— Não fale alto, Katniss. Minha cabeça está ao ponto de explodir — toma um gole de café.

— Annie te deu um fora?

Finnick retira os óculos escuros e me olha como se acabasse de ter anunciado que mundo acabaria amanhã.

— Como?

— Todo mundo já notou sua queda por Annie...

Parece que ele não tem muitas forças para negar o óbvio, pois solta um suspiro, derrotado. Ele toma outro gole de café.

— Annie não é igual as outras garotas, você terá que conquistá-la de outro modo — digo, dando um tapinha em suas costas.

Ele coloca os óculos escuros novamente. Ver Finnick derrotado desse jeito é um tanto estranho e ao mesmo tempo um tiquinho engraçado, sua expressão, uma mistura de incredibilidade junto com orgulho ferido é hilária. Até mesmo o todo poderoso “muso” da Sinsajo sofre por amor.

Ninguém está livre do sofrimento.

Johanna está feliz hoje e mais tranquila. Ela só deve ter soltado umas cinco palavras de baixo calão até o momento. Um milagre.

Tento me manter ocupada no trabalho. Mas é impossível impedir que minha mente vá até o outro continente. Me pego checando o celular a cada dez minutos (e olha que faço um esforço tremendo para não olhar meu celular mais vezes, tipo a cada meio segundo) para ver se há alguma mensagem ou ligação perdida. Fiz Peeta me prometer que me manteria informada sobre os acontecimentos.

Esse louro oxigenado só me faz ter preocupações, viu?

O dia passa e nenhum telefonema de Peeta. Maldito, louro oxigenado! Ele quer que eu roa todas as minhas unhas?

E eu não posso ligar para Peeta, já que ele está com o celular desligado.

Peeta, o que você está fazendo?

Limpo o apartamento. Vejo meu celular. Preparo meu jantar, comida enlatada (quando Peeta irá voltar?). Nenhuma ligação ou mensagem recebida. Tento assistir uma série na TV, mas acabo desistindo, porque depois de cinco minutos, constato que não levantei os olhos da tela do celular.

Finalmente, meu celular toca. É Peeta. Atendo ao primeiro toque.

— Peeta, por que você não me ligou antes? — pergunto imediatamente.

— Desculpe, Katniss — sua voz está um tanto cansada. — O dia foi bem longo... já é de madrugada aqui... — se justifica. — Eu só consegui ligar agora. Meu avô...

— E ele?

— Não gostou nada da notícia.

— Peeta...

— Ei, não se preocupe. Eu e Delly já sabíamos que isso iria acontecer — embora ele tente passar certa tranquilidade, sei que ele não está tão bem quanto tenta aparentar. — Foi até melhor do que eu pensei que seria — sua voz tenta parecer animada.

— Peeta... não precisa fingir que está tudo bem, quando as coisas não estão.

Ele suspira e fica por alguns segundos em silêncio.

— Gostaria que as coisas fossem mais fáceis... mas, elas não são...

— Eu queria estar aí, perto de você...

— Eu também queria que você estivesse aqui — novamente fica em silêncio. Dessa vez, a pausa é maior do que a anterior. — Eu tenho que enfrentar isso... Eu não vou mais fugir — sua voz soa animada. Verdadeiramente entusiasmada. — Como foi seu dia? — pergunta.

— O de sempre... nada especial.

— O que você estava fazendo?

— Esperando você ligar. Roí todas as minhas unhas, louro oxigenado, por sua causa! — reclamo.

Peeta ri.

— Preciso me redimir... — fala de modo divertido. — O que você quer?

— Hum... que tal ir comigo ao show da Mockingjay no próximo mês?

— Ai, sempre essa banda! — resmunga. — Me diz, o que aquele vocalista baixinho tem de tão especial? Eu sou muito mais bonito que ele!

— Ah, nem comece a falar mal do Josh! Por que você sempre fala mal dele, hein?

— Preciso responder? Eu só não entendo sua paixão por essa banda, tampinha. O que eles têm?

— Acho que isso é inveja!

— Eu, com inveja daquele cara? — zomba. — Katniss, por favor, né? Eu sou Peeta Mellark!

— Falou o senhor convencido. E não fale mal da Mockingjay! — reclamo.

Peeta e eu começamos a discutir sobre minha banda predileta. Claro que no final eu ganho essa discussão.

— Tudo bem, vamos ver essa banda, no próximo mês — se rende.

— Ótimo!

— Mas se você for ao show com aquelas faixas...

Rio.

— Katniss, você não está pensando...

— Cenourinha adorou as camisetas que comprei da Mockingjay e Madge tem ótimas frases para colocar nas faixas...

— Katniss! — reclama.

Ficamos ainda por um bom tempo no celular. Nossa discussão, não tem fim. Eu e Peeta somos assim, afinal de contas. Certas coisas nunca vão mudar.

A semana passa rápido, mas não tão rápido como eu certamente gostaria.

Hoje é sexta-feira. Johanna está bastante animada. O pessoal vai sair para relaxar depois do expediente, mas eu dispenso a festinha. Tenho algo para fazer...

— Tem certeza, Katniss, que não quer ir com a gente? — pergunta Finnick. — Vamos ao um bar mexicano. Não quer dançar Macarena? Eu te ensino, sou um ótimo dançarino — e como prova começa a fazer uns passinhos de dança.

Rio.

— Finnick, você precisa melhorar suas habilidades — diz Ren.

— O quê? Eu sou um ótimo dançarino, não é mesmo, Annie?

Ela olha para ele e o analisa por alguns segundos.

— Hum... talvez... — responde com aquelas lacunas que ao mesmo tempo que podem significar muita coisa, também podem não significar nada.

— Eu sou ótimo, dançando Macarena — ele se empenha em demostrar suas habilidades. — Aposto que ninguém aí sabe dançar Macarena. Katniss, você conhece alguém que sabe dançar, hein?

— É... eu conheço alguém que também dança Macarena... — não posso evitar dar uma pequena gargalhada ao me lembrar de certa cena.

— Aposto que não dança melhor do que eu!

Finnick continua todo empolgado e se oferece para ensinar Macarena a quem quer que cruze seu caminho (na verdade, está mais para obrigar a pobre pessoa a dar uns passos de dança, mesmo que ela se recuse).

— Por quê? — se questiona Ren. — Finnick vai me dar uma dor de cabeça...

— Não se preocupe, aposto que ele vai chegar lá... começar a beber e começar a querer contar todos os segredos...

— Se ele somente contasse os deles... — Ren bate a mão no rosto, desconsolado com a perspectiva de enfrentar um Finnick bêbado.

Observo Finnick todo animadinho, querendo ensinar alguns passos de dança a Annie. Pelo visto, ele está mesmo determinado a conquistá-la.

Me despeço do pessoal do trabalho e vou para o apartamento. As horas hoje estão levando uma eternidade para passar. Peeta está de volta. Vou apanhá-lo no aeroporto.

Tomo um banho super rápido e engulo alguma coisa.

O tempo é algo estranho, quando queremos que ele passe lentamente, ele corre feito um garotinho de seis anos muito espoleta, se queremos que ele ande depressa, então ele anda mais devagar que um velhinho de cem anos.

Como o tempo não quer colaborar comigo, decido ir mais cedo para o aeroporto. Talvez, estando lá, a ansiedade diminua.

Mas quem disse que minha ansiedade diminui? Óbvio que não. Quando chego ao aeroporto, começo olhar impaciente para o relógio.

Há alguns anos, eu também estava em um aeroporto. Estava impaciente e me perguntando por que a sorte nunca estava ao meu favor. Por que de todas as pessoas no mundo, eu tinha que ficar no mesmo quarto que Peeta Mellark? Um garoto que eu detestava. Por que ele iria morar no mesmo lugar que eu?

A vida é um tanto piadista, não é?

Vou para o portão em que Peeta deve desembarcar. Quando as pessoas começam a sair e nada daquele louro oxigenado começo olhar impaciente para todos os cantos. Onde está aquele louro oxigenado?

Então, ele com seus passos rápidos e cheio de confiança, seu sorriso avassalador, aparece. Seu aspecto é de alguém que está muito cansado, tem até olheiras.

— Esperou muito por mim? — diz maliciosamente. — Eu esperei muito por você... — sorri.

Ele me puxa para seus braços e nós dois ficamos por um longo tempo abraçados, despertando olhares curiosos nas pessoas. Porém, não nos importamos com isso. Não nos importamos com nada.

Quando chegamos ao apartamento, Peeta desaba em cima do sofá.

— Não tenho forças nem para erguer um dedo... — fala com os olhos semicerrados.

— Você está bem? — começo a ficar preocupada com seu aspecto cansado.

— Não... estou muito doente... seriamente doente — porém, um leve sorriso no canto dos seus lábios desmente a afirmação.

— E o que eu posso fazer para curar essa doença? — digo, me sentando no sofá, junto a ele.

Peeta abre os olhos e me fita... esse olhar que tem o poder de persuadir tudo.

— Não sei... — o tom de sua voz diz o contrário.

Seus dedos sobem lentamente por meu braço, em uma carícia doce e prazerosa. Enquanto seus olhos me observam. Mesmo com seu aspecto cansado, ele continua incrivelmente atraente. Seus lábios estão entreabertos, seus lábios vermelhos e macios. Seus apetitosos lábios...

Ah, louro oxigenado, pare de ser tão provocante!

Ele continua a me acariciar... seus lábios saborosos continuam entreabertos, como um convite. Um convite que não recuso de forma alguma.

Meus lábios se aproximam dos deles, os arrebatando. Nossas línguas se entrelaçam, movendo-se em nossas bocas sem pressa. Sua mão desliza por minhas costas.

Nos beijamos por um longo tempo. Nossas carícias se intensificam. E nossos corpos se exigem, somos acometidos de uma urgência, de uma necessidade, insaciáveis.

Depois há o silêncio. O único som que se ouve é o de nossas respirações, que aos poucos começam a voltar ao normal. Eu e Peeta ficamos nos olhando e sorrindo. Parecemos dois bobalhões. Me aconchego no peito de Peeta, e faço pequenos círculos com os dedos em seu peito, ele brinca com uma mecha do meu cabelo.

Uma calma e uma tranquilidade se apossa de mim, sinto um calor bom dentro de mim. Sou uma garota de sorte.

Será que a sorte existe? Talvez sim, talvez não. Mas realmente não importa se a sorte existe ou não. O que importa é o que você faz com ela.

Olho para Peeta, que sorri para mim.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Não vou me despedir agora, porque ainda tem o epílogo ;).
E ainda não consegui responder os comentários porque a semana foi difícil. Me desculpem, mas eu li todos e amei cada palavra e vou respondê-los.