Boa Sorte, Katniss escrita por Hanna Martins


Capítulo 31
O pior de todos os arrependimentos


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado as lindas da Paulinha e da Sunny Munroe que presentearam a fic com recomendações maravilhosas. Obrigada!!!
Desculpem pela demora, mas é que finais são tão difíceis...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/573636/chapter/31

— Por que temos que trabalhar no sábado? — reclama Finnick, fazendo beicinho. — Eu poderia estar... sei lá, aproveitando minha juventude em outro lugar... mas aqui estou eu. Fazendo o quê? Trabalhando. O que eu fiz em minha vida passada?

— Cala a boca, Finnick! — Annie interrompe as lamurias de Finnick. — Já são quase sete horas da noite, e se você continuar reclamando não vamos terminar isso nunca.

Ele lhe lança um olhar reprovador.

— Tcs, tcs, você já foi mais legal, Annie.

Annie bufa e resmunga algo.

Estamos fazendo os últimos preparativos para o lançamento do pão Dente-de-leão. Por isso, precisamos trabalhar durante o final de semana para desespero de Finnick.

Johanna até o momento gastou todo seu repertório de palavrões, tanto que teve inventar mais alguns.

— E nem aquele gato do Peeta para vir aqui ajudar — lamenta Annie. — Seria um ótimo descanso para os olhos...

— Ei, assim você me ofende! — protesta Finnick. — E eu?

Annie lhe lança um olhar, analisando cada centímetro dele.

— Já estou acostumada... Preciso de novas paisagens. Katniss, me diga — ela se aproxima de mim. — Ainda sobrou algum daqueles sanduíches estragados? Quem sabe, eu poderia passar mal e o Peeta Mellark vir me socorrer...

O pessoal do trabalho não cansa de me lembrar sobre meu incidente com os sanduíches. Pronto, virei a piada da empresa.

— Ei, eu posso te socorrer! — se prontifica o bom e desinteressado Finnick.

Acho que em breve teremos um romance no trabalho.

— Vocês dois aí! — grita Johanna com a mesma delicadeza de sempre. — Parem com o namorico e vão trabalhar!

— Namorico? Eu, com esse aí? — debocha Annie.

Finnick apenas lança um olhar aborrecido para Annie. O que acabei de prever sobre o futuro romance?

Mas eu realmente não estou nenhum um pouco me importando com o fato de trabalhar no final de semana. Assim... as coisas ficam mais fáceis para mim. Depois do que Peeta me contou, estou precisando colocar algumas coisas no lugar.

Não vi Peeta hoje. Aliás, a última vez que vi Peeta, foi ontem, depois dele me trazer do hotel. Ele está trabalhando na confeitaria, resolvendo alguns assuntos.

Já passa das nove da noite, quando terminamos nosso trabalho. Todo mundo está quase morto. Parecemos zumbis.

Pego minhas coisas e me arrasto até o elevador. Ótimo, o elevador está em sei lá que andar, e eu não consigo descer um degrau de qualquer escada sequer.

— Katniss — me viro automaticamente.

— Ah... Ren...

Não, eu não me esqueci daquela mensagem de Ren e... seja lá o que ele está querendo conversar comigo.

— Você estava me esperando?

Ren assente.

— Desculpe, com tudo isso do lançamento do pão Dente-de-leão... as coisas estavam agitadas hoje.

— Não se preocupe. Hum... você deve estar cansada. Mas será que poderemos comer alguma coisa?

— Tubo bem — concordo.

Finalmente, o elevador chega. Noto que Ren está ausente. Trocamos poucas palavras, durante a nossa viagem no elevador e menos ainda, enquanto caminhamos até um pequeno restaurante que fica perto da Sinsajo.

Peço uma coisa qualquer para comer. E ficamos por um longo tempo em silêncio.

— Katniss... — começa Ren após longos minutos silenciosos. Ele me olha. — É... eu não sei como começar isso... — seus olhos se desviam de mim, mas em seguida, ele se força a olhar para mim. — Você é uma pessoa muito especial para mim, Katniss. As minhas lembranças da faculdade mais queridas são com você e Rue...

Sorrio ao lembrar dos tempos da faculdade. Aqueles foram ótimos momentos.

— Você é minha melhor amiga, Katniss... e eu sinto algo muito especial por você... mas não sei se podemos continuar com o que começamos.

Sinto o olhar de Ren em mim. Talvez... esperando uma negação. E eu queria negar, dizer que ele está errado que podemos continuar isso. Mas... também sei que essa é a verdade.

— Você e Peeta tem um relacionamento especial...

— Como?

— Katniss, há algo entre você e Peeta.

— Ren, não é... — mas eu não consigo negar no final das contas.

— Vocês dois são mais do que amigos, bem mais... vocês têm uma história juntos, não têm?

Assinto.

— Uma história inacabada — acrescenta Ren.

— Como... você...

— Basta olhar vocês juntos — responde. — O jeito que ele te olha, quando você não está olhando, e os olhares que você lança a ele.

— Eu não...

— Talvez, você nem tenha notado — interrompe. — Mas, você olha para ele... de uma forma...

Desvio meus olhos de Ren, de certa forma envergonhada.

— Eu e Peeta... tivemos um relacionamento — confesso. — Nós estávamos ainda no colégio, foi na época em que ele foi viver em nosso apartamento — explico.

Ren me olha como já esperasse por essa confissão.

— Nossa história é complicada. Nós dois somos pessoas complicadas.

— E você não o superou, não é mesmo?

Suspiro.

— Eu pensei que o tinha deixado no passado — digo, mexendo no copo de suco. — Pensei que se o visse algum dia, não sentiria nada por ele. Mas... então, ele apareceu e em menos de uma semana transformou minha vida em um caos, como só ele consegue fazer.

Ren me escuta atentamente.

— Estranho, não é? Como alguém pode mexer tanto assim com os sentimentos de uma pessoa? Eu... realmente detesto isso.

— Não, Katniss, não é estranho — contesta ele.

Ficamos por um instante em silêncio.

— Katniss — ele sorri tristemente. — Acredito que enquanto Peeta fizer parte da sua vida, nenhum outro cara poderá entrar em seu coração de fato.

Olho para Ren.

— Ren, não pense...

— Me escuta, Katniss. Eu gosto muito de você e realmente queria que nosso relacionamento desse certo. Mas existe a sombra de Peeta entre nós.

Ele pega a minha mão e acaricia delicadamente.

— Não quero ser egoísta. Não quero impedir alguém de ficar no lugar onde está seu coração.

— Eu não...

— Katniss, não negue, está bem? Melhor paramos por aqui, enquanto nenhum de nós se machucou ainda, não é verdade? — ele para de acariciar minha mão e retira a sua da minha.

Assinto.

— Você tem razão, Ren.

Ele me olha profundamente, por um instante vejo certa tristeza, mas depois ele sorri.

— Isso foi... inusitado, nunca pensei em terminar um relacionamento que não tinha começado.

Nossos olhares se cruzam, e repentinamente uma estridente gargalhada sai de nossos lábios.

É, eu levei um fora, antes mesmo de começar um relacionamento.

— Amigos? — pergunta, me estendendo a mão.

— Sempre — respondo. — Você não irá se livrar de mim tão facilmente assim — aperto sua mão fortemente.

— Claro — ele ri. —Tenho que ir — diz, se levantando.

Ren deposita um beijo em minha bochecha.

— Nós vemos, na segunda, na Sinsajo.

— Até segunda!

Observo Ren indo embora. E assim termina meu futuro relacionamento. Eu sou realmente uma pessoa sem sorte, nem tenho um relacionamento e levo um fora.

Demoro mais tempo do que o habitual em minha caminhada até o apartamento.

Peeta ainda não chegou. Acho que não irei vê-lo hoje, assim como ontem. Talvez, seja melhor assim... talvez.

Como estou um verdadeiro caco, vou dormir. Desmaio na cama e só acordo, quando já passou das nove da manhã.

Peeta não está aqui, constato ao não encontrar nenhum sinal de vida no apartamento.

O que se fazer em um domingo de manhã? Resolver questões internas, ora. Resolver certos dilemas. Falando assim até parece fácil. Como seria ótimo, se bastasse pensar em uma questão e ela fosse magicamente resolvida.

Minhas divagações são interrompidas pelo toque da campainha.

Esta certamente é uma daquelas surpresas que você nunca pensa em encontrar na sua porta em pleno domingo de manhã, concluo, ao abrir a porta e me deparar com Delly. Nada mais nada menos que ela.

— Você é...? — indaga, me analisando.

— Katniss — respondo, enquanto ela entra no apartamento sem nenhuma cerimônia. Esses amiguinhos de Peeta são mesmo amigos de Peeta.

Seus cabelos já não são mais longos, são curtinhos, mas ainda continuam louros. O corte de cabelo combina com ela, a deixa ainda mais bela. Delly parece uma daquelas modelos de catálogos de revistas, alta, magra, andar elegante, de uma beleza clássica. Ela se veste casualmente, usa uma calça jeans e uma camiseta que cai perfeitamente sobre seu corpo. Ela consegue até mesmo deixar uma roupa comum, elegante.

— Peeta não está? — pergunta, percorrendo os olhos pelo apartamento.

— Não... ele deve estar na confeitaria.

— Ah... — responde, sentando-se no sofá. — Entendo.

Delly mexe em sua bolsa e apanha uma carteira de cigarro.

— Se importa? Estou tentando parar de fumar, mas eu não consigo. Eu nem sei como eu comecei a fumar, andar com esse pessoal da moda deve ter feito isso — diz, acendendo o cigarro. — Você fuma, Katniss? Não fume, quando você começa a fumar, nunca mais para, eu sou a prova disso. Isso se torna um vício.

Uau, a garota fala como uma verdadeira metralhadora de palavras. Isso é... um tanto diferente da imagem que eu tinha dela. Quer dizer, eu a vi apenas uma vez. E, bem, aquela, com certeza, não era a melhor das ocasiões.

Delly finalmente se cala, por um segundo, enquanto dá uma tragada em seu cigarro.

— Então, esse é o apartamento de Peeta — fala, enquanto solta uma baforada de fumaça. — Eu nunca havia vindo aqui antes. É um belo apartamento, sabe? Até que é melhor do que o apartamento que nós dividimos em Paris.

— Vocês moram juntos? — aquele louro oxigenado estava omitindo informações, é?

— Não, moramos um tempo juntos. Mas isso foi há bastante tempo. Foi quando eu e Peeta estávamos tentando reconquistar nossas famílias — ela solta uma estridente gargalhada. — Peeta não foi nenhum um pouco divertido naquele tempo. Ele só pensava em estudar gastronomia noite e dia, dia e noite. Mas eu também não fui divertida, só pensava em estudar moda. Eu tenho uma loja em Paris. Quando for à Paris, passe por lá.

Ela fala como se ir à Paris fosse igual ir até a esquina. Tinha que ser amiga do louro oxigenado.

— Eu desenho ótimas roupas. Talvez, nesse outono, eu faça um desfile. Está aí, uma boa ideia — diz, enquanto pega o celular e anota alguma coisa.

Delly coloca as cinzas do cigarro em um copo que estava em cima da mesa.

— Oh, um coelho! — exclama, ao avistar a gaiola de Cenourinha.

E, ela não perde tempo e vai logo tratando de pegar meu coelho.

— Sempre quis ter um desses, sabia? São tão fofos — acaricia Cenourinha. — Tão fofo!

Delly fala tanto que nem dá tempo para eu falar qualquer coisa. Em menos de meia hora, sei quase tudo da vida dela, seus lugares preferidos, seus atores de cinema mais queridos, qual vai ser o próximo sapato que ela irá comprar. Ela não para de falar nem por um segundo. Será que eu devo oferecer uma água? Porque ela já deve estar com a boca seca de tanto gastar saliva.

— Será que Peeta irá demorar muito? — pergunta subitamente. — Tenho um almoço daqui a pouco.

— Não sei, vou ligar para ele.

Pego meu celular e vou para a cozinha. Finalmente, um momento de silêncio.

Peeta não atende ao celular. Também não consigo ligar para a confeitaria.

— Sinto muito, Delly, mas não consegui falar com Peeta.

— Que pena, precisamos resolver alguns assuntos... — fala decepcionada. — Eu viajei até aqui só para resolver esse assunto. Nossas famílias vão surtar quando souberem...

— Souberem do que?

— De nosso rompimento.

Peeta e Delly vão romper o noivado? Eu escutei direito?

— Vocês vão acabar com o noivado?

— Vamos. E isso será uma chatice. Estou até vendo meus pais me empurrando para um nobre velho e chato qualquer. Não sei por que minha família tem mania em tentar me casar. Eu já disse a eles umas mil vezes que não estou interessada em casamento. Mas aqueles velhos não entendem. Chatos! — fala de um modo desdenhoso. — Sei que está na hora de eu e Peeta enfrentamos nossa família e deixarmos de ser dois covardes — sorri. — Ele estava muito determinado na última vez que falei com ele.

— E quando foi isso?

— Semana passada. Foi por isso que Peeta voltou para cá. Ele disse que precisava resolver um assunto inacabado e urgente, antes de iniciar a batalha que teremos com nossas famílias.

Foi por isso que Peeta voltou? O que ele precisava resolver era nosso relacionamento?

Delly me olha.

— Ele nunca te esqueceu. Nem por um segundo — diz com seriedade. — Você talvez nunca soube o quanto ele sofreu por te perder. Para Peeta, te perder foi o maior erro da vida dele.

Delly dá uma última baforada em seu cigarro.

— Eu poderia ficar contando horas e horas sobre o sofrimento dele, mas acho que isso não vale a pena agora.

Ela me entrega Cenourinha.

— Cuide dele — sorri, enquanto acaricia Cenourinha. — Tenho que ir agora. E, Katniss, não viva com arrependimentos... eu vive com uma pessoa cheia de arrependimentos e não foi nada divertido — seu tom subitamente tornar-se alegre novamente. — E quando for à Paris, não se esqueça de ir a minha loja, hein?

E assim Delly vai embora. O que acabou de acontecer aqui?

No entanto, o que ela me contou sobre Peeta...

Meus pensamentos são interrompidos pelo toque do meu celular. O número é desconhecido.

— Você é Katniss Everdeen? — pergunta uma voz calma e simpática.

— Sim, sou eu.

— Estou ligando do hospital. Katniss, esse número foi deixado como número de emergência por um de nossos pacientes.

Sinto um suor frio escorrendo por minhas costas.

— Estou ligando para a informar que Peeta Mellark sofreu um acidente.

Não escuto mais nenhuma palavra, quando dou por mim, estou correndo pelos corredores do hospital, completamente desesperada.

Todos os momentos que vivi com Peeta passam pela minha mente. Principalmente o último.

Ele estava sorrindo para mim, quando eu acordei.

— Bom dia — disse suavemente, retirando uma mecha de cabelo do meu rosto.

— Bom dia — respondi.

— Temos que ir — disse, enquanto se levantava da cama, seus cabelos molhados indicavam que acabara de tomar um banho.

Como sempre, nosso café da manhã havia aparecido misteriosamente.

Nosso café da manhã foi silencioso. Assim como nosso regresso. Apenas o som da música no carro. Trocamos breves palavras, mas nada significativo. O silêncio era mais significativo.

— Você não vai... entrar? — perguntei ao observar que ele permanecia no carro, quando já havia saído.

Peeta sem me responder, calmamente, saiu do carro. Ele parou em minha frente. E me observou por um longo minuto.

— Tenho que resolver alguns assuntos... Se cuida — sua mão deslizou por minha bochecha. — Vejo você mais tarde.

Se inclinou e depositou um beijo demorado em minha bochecha. Seus lábios estavam quentes e a sensação do toque dos seus lábios em minha pele permaneceria por um longo tempo.

Peeta sorriu para mim e eu, sem dizer uma só palavra, me afastei dele.

Peeta. Peeta. Peeta. Meu coração parece que está ao ponto de explodir, há tantas coisas que eu gostaria de ter falado para ele. Tantas. O pior arrependimento é o das coisas não feitas. O pior arrependimento é o das palavras não ditas, dos gestos não trocados. O pior arrependimento é de nunca ter tentado.

Corro. Mas eu não vejo nada que está ao meu redor. Não sei como cheguei ao hospital, não sei como fui parar nesse corredor. Não sei. Tudo que sinto é meu coração batendo tão forte, que não ouço mais nada.

— Peeta... — chamo como um pássaro desesperado. — Peeta...

Quando chego ao quarto dele, me questiono como meu coração ainda está batendo. Abro a porta, e...

O quarto está vazio.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Depois disso, só tenho uma coisa a declarar, nos vemos no capítulo final...