Boa Sorte, Katniss escrita por Hanna Martins


Capítulo 3
Tom e Jerry


Notas iniciais do capítulo

E as peripécias de Katniss continuam... quando será que ela terá um pouquinho de sorte?



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― Katniss, posso bater naquele cara? ― pergunta Madge, após eu contar sobre o que aquela peste do Peeta me obrigou a fazer.

― Vai ter que entrar na fila, Madge!

― O que você está planejando? ― acho que Madge me conhece até demais.

― Hum... Pensei que poderia descobrir qual é o ponto fraco dele... Ele deve ter um ponto fraco, não? Se eu descobrisse poderia usar isso contra ele.

Ela me olha um tanto duvidosa.

― Pelo menos, eu não vou precisar decorar o colégio sozinha... Gale irá me ajudar.

― Gale?

― Aquele cara da minha aula de arte... sabe, um alto, moreno... que as garotas vivem correndo atrás...

― Ah, aquele cara!

Gale, você está mal! Creio que se aproximar de Madge vai ser um tanto difícil.

― Ele parece legal... se ofereceu para me ajudar e tudo mais... ― preciso verificar o terreno.

― Não sei... Quando nos estudávamos juntos, ele era um verdadeiro pestinha...

― Quando foi isso?

― Na primeira série... Espero que ele tenha crescido, colar chicletes nos cabelos de uma garota, com certeza, não é nada bom...

― Espera, ele colou chiclete no seu cabelo?

― Foi... precisei até cortá-lo! Eu tinha um cabelo enorme! Foi uma verdadeira batalha para me livrar de todo aquele chiclete. Depois disso peguei trauma de cabelos longos...

Olho para os belos cabelos dourados de Madge, cortados em estilo chanel, curtinho e repicado. Agora entendo porque ela nunca deixa o cabelo crescer.

Ai, ai, ai, ajudar Gale é quase impossível. Ele tinha que ter começado com o pé esquerdo? Gale não poderia ter sido menos babaca em sua infância?

Me despeço de Madge e vou para a casa.

Peeta ainda não chegou. Isso é ótimo. Finalmente, algumas horas de paz.

Preparo um sanduíche para mim. Coloco para tocar uma música da minha banda predileta, Mockingjay. Josh, o vocalista da banda, inicia a canção. A voz dele é perfeita.

Agora sim, com comida na barriga, a música da minha banda preferida como pano de fundo, posso pensar em um plano.

Vejamos... será que ele tem algum medo? Se ele tivesse seria perfeito.

Nossa, agora, estou parecendo aquelas vilãs de novelas mexicanas! Paola Bracho que se cuide, posso até tomar o lugar dela se continuar assim. Ah, aquele Mellark, me faz cada coisa! Até mesmo faz meu lado maquiavélico vir à tona. Mas quem mandou mexer comigo? Agora vai ver só!

Preciso de um plano o mais rápido possível. O problema é que nenhum plano que me passa pela cabeça parece bom o suficiente.

Nisso gasto boa parte da minha tarde. Quando dou por mim, minha mãe e Haymitch já chegaram e eu ainda não tenho nenhuma ideia.

― Como foi o colégio, querida? ― pergunta minha mãe.

― Mãe, você quer a resposta curta ou a resposta detalhada?

― É claro que ela quer a resposta curta, docinho! ― fala Haymitch.

― O de sempre! E fiquei responsável pela decoração do colégio!

― Que maravilha, querida! Eu sabia que você, um dia, iria se envolver nas atividades do colégio! ― fala toda empolgada.

Esta é minha mãe sempre vendo o lado positivo de tudo.

― Tente não espantar as pessoas com a decoração.

Este Haymitch com sua gentileza natural.

― Mas este é o objetivo!

― Esta é a docinho, que eu conheço! ― diz rindo. ― Onde está Peeta?

― Não sei ― respondo dando os ombros.

No entanto, como se tudo já estivesse combinado, neste exato momento, Peeta abre a porta. Ele parece um tanto suado e sujo (mesmo assim, seu rosto não perdeu a aparência de um modelo de comercial. Droga, algumas pessoas tem sorte demais nesta vida!).

― Estava jogando bola com Cato e o time do colégio ― explica ao notar os olhares interrogativos que recebeu.

― Isso é fantástico, querido! É ótimo que esteja fazendo amigos em seu novo colégio!

― Preciso tomar um banho! ― fala.

Eu e Haymitch nos esticamos no sofá para assistir ao nosso programa favorito, “Desenhos em casa”. Minha mãe vai para a cozinha ver o que irá preparar para o jantar.

Nada melhor do que assistir desenhos animados para aliviar o stress! Haymitch também é adapto desta técnica milenar. Bem que minha vida está parecendo um desenho animado, em que eu sou o gato azarado Tom e Peeta, o Jerry, que quase sempre se dá bem. Mas veremos até quando ele continuará com esta sorte toda. O que é seu está guardado, louro oxigenado (não sei a onde, mas eu vou descobrir).

― Katniss! ― minha mãe me chama.

― Sim?

― Preciso que você vá ao supermercado para mim!

― Agora?

― É, agora!

― Mas está passando desenho na TV! ― protesto.

― Katniss!

Haymitch me olha.

― Acho melhor você ir logo ― sussurra. ― Não queremos que o lado, Effie, a furiosa, seja despertado.

Bufo. Mas sei que Haymitch tem razão, nada de despertar a fúria de minha mãe.

― Ok! ― digo resignada.

Minha mãe me dá uma lista de coisas para comprar. Uma lista enorme! Isso vai levar bastante tempo. Desse jeito quando eu voltar meus desenhos animados já terão acabado.

Peeta sai do banheiro. Se eu preciso carregar todas aquelas coisas... alguém também precisa passar pelo o que eu passo..

Coloco meu melhor sorriso. Está na hora deste idiota ser um pouco útil para mim.

― Peeta, vamos ao supermercado?

Ele me olha como se eu estivesse falando grego, mandarim e uma língua usada pelos ETs. No entanto, como minha mãe e Haymitch estão por perto, ele não demonstra sua verdadeira face.

― Claro, Katniss! ― responde sorrindo. Sei que ele está querendo me matar por trás deste sorriso.

― Compre tudo direitinho, Katniss! ― adverte minha mãe.

― Pode deixar! ― falo, enquanto saio do apartamento.

Peeta já está me esperando, segurando o elevador (extraordinariamente hoje não está quebrado). Ele está com uma cara daquelas. Atormentar Peeta ― cai entre nós ― é divertido.

― Então, esta é a sua vingança, tampinha, me fazer ir ao supermercado? ― pergunta assim que as portas do elevador se fecham.

Lanço meu olhar: “está com vontade de apanhar, hoje?”. Mas é melhor que ele pense que esta é minha vingança. Assim as coisas ficam ainda mais interessantes.

― Pensei que fosse mais criativa...

― Louro oxigenado, sempre um doce de pessoa! ― digo de maneira irônica. ― Você deveria ser chamado de docinho, sabia?

― É, talvez, eu deva ser chamado de docinho, já que todas as garotas me querem.

Pode isso? Sério, que ele acabou de se fazer um autoelogio?

― Pena que este doce está estragado ― lanço um olhar bem sugestivo em sua direção.

― E você deve adorar coisas estragadas, já que caiu só hoje duas vezes aos meus pés! Será que vai cair uma terceira vez?

Bufo. Este cara está passando dos limites!

― Só em seus sonhos!

O elevador se abre e, imediatamente, eu saio. No entanto, eu não seria Katniss Everdeen, se não tivesse acabado de bater meu nariz bem nas costas da vizinha do quinto andar, que me olha feio. Noto a razão de sua zanga ao olhar para seus lábios. Ela estava aplicando uma camada de batom (justamente um daqueles vermelhos sangue), quando eu bati nela. Resultado: um belo borrão e o cosplay do Coringa do Batman de brinde. A mulher vai me bater! Morri. Avisem minha mãe que eu a amo muito! Madge pode ficar com minhas coisas, até mesmo com aquele pôster da Mockingjay que ela estava de olho, que eu sei.

Peeta passa por mim, tentando conter uma gargalhada. Dá para ver pela cara do pilantra que devo estar em um estado bastante cômico.

― Desculpa! ― praticamente gaguejo.

Eu não quero que o Coringa me bata, digo a vizinha me bata.

― Peeta! ― grito para ele. ― Ei, espera!

O porte atlético de Peeta pode deixar as pessoas com medo, não? Se ela me ver com ele, pode desistir de me bater. Posso usar o corpo dele como escudo, não? É isso, se ela tentar me bater eu me escondo atrás de Peeta.

Ele para e me encara.

A vizinha ao ver Peeta muda instantaneamente de expressão. De “garota, se prepare para seu enterro”, ela vai para: “meu corpo, minha alma é tudo de você”. Por acaso, Peeta tem algum tipo de poder? De qualquer forma preciso agir rapidamente, antes que a vizinha volte da hipnose em que ele a colocou. Corro em direção a ele.

― É uma pena eu ter perdido uma tampinha sendo quebrada ao meio! ― exclama. ― Eu realmente sou uma pessoa muito boa, até coloquei a pobre a mulher em transe para te salvar! ― diz com aquela arrogância de sempre.

― É claro! O que seria da minha vida sem você? ― falo de maneira debochada, enquanto começo a caminhar em sua frente.

O supermercado fica apenas a cinco minutos do prédio. Fazemos o trajeto em silêncio, comigo caminhando na frente, enquanto Peeta vem atrás. É possível saber até quando uma mulher passa por nós, basta escutar alguém parando de respirar, se isso acontecer, é batata, trata-se de uma mulher.

Peeta parece um tanto perdido quando chegamos ao supermercado.

― Pegue isso! ― falo, colocando um carrinho em sua mão.

Ele me olha interrogativo.

― Não vai me dizer que nunca foi ao supermercado antes?

― Eu sempre tive pessoas que fizeram isso por mim ― diz dando os ombros.

― Que pena ― falo ironicamente. ― Pobre garoto rico! Mas aqui as coisas são um tanto diferentes.

Ele resmunga algo e começa a empurrar o carrinho.

― Ei, me espera! ― falo correndo atrás dele. ― Precisamos passar primeiro no setor de limpeza!

― Onde fica isso?

― Ali! ― aponto para a direita.

Ele empurra o carrinho até lá.

― Me deixa ver aqui... ― olho para a lista. ― Precisamos de sabão em pó e detergente...

Ele pega um pacote de sabão qualquer e coloca no carrinho.

― Esse não! E você nem viu o preço! Primeiro você precisa conferir o preço e depois comprar ― explico, enquanto pego outra caixa de sabão, que está na prateleira de baixo. ― Eles sempre colocam as coisas mais baratas em baixo.

Peeta me olha como se eu estivesse falando em outra língua.

― Ah, esquece! Por um segundo esqueci que você não é deste planeta de pobres mortais!

Pego o detergente.

― Vamos comprar, agora, algumas frutas.

Ele olha tudo com bastante curiosidade. Estou começando a acreditar que realmente ele nunca foi a um supermercado. De que planeta Peeta veio?

Pego o resto das coisas da lista que minha mãe fez. Compramos muitas coisas.

― Como vamos levar tudo isso? ― indaga olhando para as enormes sacolas.

― Mãos!

Ele me olha incrédulo. Tenho que conter uma gargalhada, já que a expressão em sua face é muito divertida, é um misto de dúvida, hesitação e “de que planeta esta garota é?”. Como percebo que ele está ainda tentando ligar os pontos, pego as sacolas e as coloco em suas mãos.

― Assim!

― Tampinha, você não está me enganando por acaso?

― Não, louro oxigenado! Neste planeta nós carregamos nossas compras!

Noto seu olhar ainda incrédulo. Sério, estou começando a pensar que ele realmente não é deste planeta.

― Vem, vamos! ― falo, enquanto pego as sacolas restantes.

Peeta vem resmungando atrás de mim. E quase tem um verdadeiro ataque ao descobrir que precisamos subir as escadas com todas estas sacolas, já que o elevador entrou em manutenção. Você deve estar se perguntando como isso foi acontecer em menos de uma hora, eu já até estou acostumada com isso.

― Tampinha, o que você fez com o elevador?

― Nada... Dessa vez, não foi minha culpa, mas seja lá quem foi que estragou o elevador, eu sou grata a esta pessoa.

― Tenho certeza que você deve ter dado um jeito de estragar este elevador ― diz arqueando uma das sobrancelhas.

Começamos a subir as escadas, apesar dos protestos de Peeta. Esse aí é pior do que criança birrenta.

― Vamos logo, louro oxigenado! Uma lesma doente é mais rápida que você! Quero saber como você fez para adquirir este porte atlético se mal consegue subir as escadas direito ― zombo.

― Tampinha, fica de bico calado! E eu sabia que você estava reparando em mim! E depois ainda nega que não está caidinha por mim!

― Mas é claro que estou apaixonada por você ― falo de maneira sarcástica. ― Assim como sou apaixonada por lesmas! E, louro oxigenado, para de reclamar, que é melhor para você! ― ameaço.

Ele bufa. Mas continua a andar.

É uma subida bem cansativa até nosso apartamento. Peeta está quase querendo me assassinar com o olhar.

Já disse que sou um completo desastre ambulante, que as pessoas devem se manter o máximo possível distante de mim? Pois é, se quiserem manter suas vidas a salvo basta ficar bem longe de mim.

Não sei como, não me pergunte. Apenas sei que sou uma especialista em fazer estas coisas. Tropeço em algum degrau e caio em cima de Peeta. Nos dois caímos no chão, Peeta cai de bunda, enquanto eu caio em cima de seu colo. As sacolas se espalham pela escada.

― Sério, tampinha, que você caiu em cima de mim? ― fala irritado.

― Ei, não foi minha culpa!

― Sei que você tem uma grande queda por mim, mas não precisa ficar demonstrando! É a terceira vez hoje, que você cai! E ainda por cima, olha onde você caiu!

É hoje que faço churrasquinho de louro oxigenado. Quem quer?

Trato de sair de cima de Peeta o mais rápido que posso. Estou em uma posição bem constrangedora, sentada em seu colo, não quero ficar assim mais nenhum segundo.

Pego algumas sacolas que estão espalhadas na escada e deixo que Peeta se vire com o resto. Minha cota diária de louro oxigenado já foi ultrapassada há muito tempo.

― O quê? Você vai me deixar aqui?

― Se vire! Você já está bem grandinho! ― começo a subir rapidamente a escada.

Mas que droga, passei um bom tempo com Peeta e não consegui ver se ele tem algum ponto fraco. E ainda por cima não tenho nenhuma ideia para me vingar dele... Ideias onde vocês estão quando eu preciso? Mas eu não desistirei, me vingar de Peeta se tornou minha meta da semana.


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Notas finais do capítulo

Odiaram? Gostaram? Katniss vai conseguir descobrir algum ponto fraco de Peeta? Será que ela vai ter sua vingança? E Gale? Será que ele conseguirá de aproximar de Madge?