Boa Sorte, Katniss escrita por Hanna Martins


Capítulo 29
Perto do sol


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado à NanyHutcher que fez uma recomendação incrível para a fic. Obrigada, sua linda!
Desculpem pela demora, eu queria ter postado antes, mas dessa vez o bloqueio criativo me pegou de jeito! E leiam as notas finais, tenho algo para falar...



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— Ela ficará bem — garante o médico a Peeta. — Só precisa descansar e tomar esses remédios — o médico estende uma receita a Peeta.

Ele ouve atentamente as instruções do médico. Peeta é um exagerado. Enquanto me trazia para o apartamento, foi longo chamando um médico e tudo.

Peeta acompanha o médico até a porta, mas logo volta para meu quarto.

Por uns longos segundos, ele me avalia.

— Não é como se eu estivesse morrendo! — o repreendo. Não gosto nenhum um pouco de ter o olhar dele por tanto tempo sobre mim.

— Eu não vou responder você, Katniss! Você sabe muito bem que comer comida estragada é muito grave!

— Mas, eu estou bem!

Peeta suspira, enfadado.

— Katniss, você precisa ter cuidado com o que irá comer!

Não o respondo.

— Descanse, vou comprar os remédios que o médico pediu, mas logo eu volto!

Fecho os meus olhos. Estou ainda bem mau.

Durmo por um longo tempo.

Algo quente e macio toca meu rosto. Gosto desse toque. Ele me aquece e traz uma sensação de tranquilidade. Não sei se isso é um sonho ou pertence ao mundo da realidade. Mas eu não quero que o toque termine, por isso levo minha mão ao rosto e tento reter o toque.

Então, acordo e me dou conta que estou segurando a mão de Peeta. Rapidamente, retiro minha mão da dele.

— Desculpa... — pede, retirando sua mão de meu rosto. — Você ainda está com um pouco de febre... Está se sentindo melhor?

— Um pouco... Pelo menos não quero mais vomitar...

— Isso é bom! Não quero que outra camiseta minha fique encharcada de vomito — fala em um tom brincalhão. — Tome seu remédio...

Ele apresenta para mim um copo de água e um comprimido. Tomo tudo sem reclamar.

— Volte a dormir — diz, pegando o copo de minhas mãos.

Eu realmente quero voltar a dormir, é isso que faço.

Acordo com um cheiro delicioso de sopa. A penumbra invade meu quarto. Devo ter passado a tarde inteira dormindo. Mas, estou bem melhor.

— Finalmente, você acordou, dorminhoca! — fala Peeta, entrando no quarto e ascendendo as luzes.

Noto que Peeta tem uma tigela de verdura nas mãos. Ele se aproxima da gaiola de Cenourinha, com um tanto de cautela é verdade, mas acaba a abrindo e coloca as verduras no pote de meu coelho. Será que ainda estou com febre? Peeta acabou de dar comida para um coelho? Ou será que é Peeta que está doente? Acho que não fui a única a comer comida estragada.

— Ei, não me olhe assim! Você me mataria se esse coelho passasse fome!

A cena é um tanto hilária. Peeta fica o mais distante possível da gaiola de Cenourinha, enquanto coloca comida em seu pote. Acabo rindo da cena.

— Você não deveria rir do seu salvador! — rebate, o que só aumenta minha gargalhada.

Peeta me lança um olhar de “muito engraçado, Katniss, agora para de rir, antes que me arrependa de ter salvado você de ir ao hospital”.

— Ok, senhor os coelhos são meus inimigos número um! — falo, tentando conter minha risada.

Começo a me levantar da cama, mas sou apanhada por uma vertigem.

— Você está bem? — indaga Peeta, após eu cair de bunda na cama.

— Estou... é só uma vertigem, vai passar.

— Eu preparei uma sopa... quer comer?

— Sim... eu estou com um pouco de fome.

Ele sai do quarto e logo volta com um prato de sopa de legumes em uma bandeja.

— Obrigada — pego a bandeja e a apoio em meu colo.

Peeta se senta na cama e fica encarando Cenourinha, como se estivesse tentando o estudar. Cenourinha também o encara. Os dois se analisam mutuamente.

— Ele não vai te matar, sabia?

— Não se pode confiar em coelhos. Eles têm uma aparência fofinha, mas são terríveis!

— Não culpe todos os coelhos só porque um te mordeu.

— Você diz isso porque nunca foi mordida por um coelho — fala sem desviar os olhos de Cenourinha.

— O que aconteceu para o coelho te morder? — pergunto em um tom divertido.

Peeta volta seus olhos para mim.

— Eu nunca tive uma relação boa com meu avô, mesmo quando eu era um pequeno fedelho de quatro anos... Eu estava na casa de meu avô... Odiava aquele lugar com todas as minhas forças, era frio e deprimente. Mas meu pai, parecia não se importar com minha aversão por aquele lugar... Então, ele me deixou lá por um mês. Eu só queria ir embora de lá... Passava meus dias chorando e pedindo para voltar para a casa, meu avô simplesmente me ignorava e meu pai não dava sinal de vida. Até que um dia, encontrei um viveiro, em um local afastado da casa. Fiquei encantando, quando vi que alguns coelhos viviam lá, queria brincar com eles. Entrei no viveiro e fui atrás dos coelhos. Não percebi que a porta foi fechada pelo vento, me trancando lá. Comecei a correr atrás dos coelhos, até que encontrei uma ninhada, peguei um deles. Um belo coelho branco e fofinho. Ele me mordeu. Uma mordida tão forte que me fez gritar. De repente, os coelhos começaram a correr atrás de mim, eu corri até a porta, mas ela estava trancada...

Ele olha para Cenourinha.

— Passei um momento terrível fugindo daqueles coelhos e com meu dedo sangrando... só foram me encontrar no dia seguinte... Ninguém havia se dado conta de meu desaparecimento. O jardineiro me encontrou por acaso, porque havia ido alimentar os coelhos... por isso, eu tenho fobia de coelhos — explica.

Nesse momento, ele me parece tão vulnerável. Peeta não é alguém que costuma deixar que outros vejam seu lado frágil. Quando eu o conheci, pensei que ele não tinha um lado assim, mas ele tem, mesmo que nunca o demonstre.

— É uma velha história, Katniss... — sorri.

Talvez, Peeta não tenha medo de coelhos especificamente, mas do que eles representam, a solidão. Assim como eu não tenho de hospitais, porém de seu significado para mim, a dor, a tristeza, a opressão, a morte lenta de meu pai de câncer.

Institivamente, levo minha mão até a de Peeta e a cubro com a minha. Ele solta um suspiro.

— Não tenha pena de mim, Katniss. Eu não suporto que ninguém tenha pena de mim.

— Eu não tenho — afirmo.

Ele apanha uma mecha de cabelo que cai sobre minha testa e a ajeita.

— Eu não sou mais aquele garotinho de quatro anos... aprendi muitas coisas.

— Peeta, você não gosta de ficar sozinho? — indago. — É por isso que quer estar sempre cercado por pessoas... — lembro dos grupinhos que Peeta pertenceu na adolescência, o grupo de adolescentes ricos com aparência de semideuses em Londres, o grupo de populares na escola.

— Talvez... mas no fundo, eu sou alguém solitário... e se alguém acaba se aproximando demais de mim... bom, acabo ferindo essa pessoa — ele me olha.

Pela primeira vez, em seis anos, sinto que estou tendo de fato uma conversa com Peeta.

— Talvez, eu seja como o sol daquele mito grego... como é mesmo o nome? Ah, Ícaro! Ele tentou se aproximar do sol e suas asas se derreteram... ele morreu.

Peeta sorri para mim. Sinto o seu polegar acariciar minha mão em círculos.

— Pode ser que você tenha razão, Peeta — respondo sem me mover um centímetro sequer, permitindo que o polegar de Peeta acaricie minha mão. — Você... me machucou, quando eu tentei me aproximar de você...

— Sim, eu sei... — ele solta um suspiro. — Eu não queria ser mais como esse sol que machuca as pessoas... eu realmente não queria...

Seu polegar subitamente para de acariciar minha mão e sua mão sai debaixo da minha.

— Tome sua sopa, ela vai esfriar — fala em um tom brincalhão.

O momento confissões passou, ou talvez, Peeta tenha ido longe demais atravessado aquela linha que ele estabelecesse para se aproximar de alguém.

Peeta se levanta da minha cama e vai até porta, seus passos são lentos. O observo até perdê-lo do meu campo de visão.

Tomo a sopa que ele fez. Está um tanto fria, mas mesmo assim continua deliciosa.

Ainda bem que Johanna me deu folga hoje, pois iria acordar surper atrasada para o trabalho. Estou me sentindo um pouco melhor. Pelo menos, sei que não irei encharcar nada com meu vomito.

— Preparei o café da manhã — fala Peeta, entrando no quarto. — Vou precisar ir até a confeitaria... Você irá ficar bem?

Assinto.

— Logo, eu volto, se precisar de algo me avise.

— Tudo bem...

Peeta me olha e depois sai em silêncio. Sei lá, mas parece que ele está... não sei, menos Peeta...

Vejo que em meu celular há várias mensagens:

“Katniss, melhoras! A chefe está querendo nos matar aqui. Mas eu e Finnick vamos sobreviver. Se cuida!

P.S. Também quero ser carregada por Peeta Mellark quando ficar doente”

Anne”

“Vem cá, Katniss, por que nosso colaborador levou você daqui? Será que ele investigou nossas vidas também... Oh... tenho que... fazer umas ligações... E não se esqueça de que na próxima semana faremos os últimos testes do pão “Dente-de-leão”.

Johanna”

Ai, ai, ai, Peeta só me traz dor de cabeça. E agora o que vou dizer para meus colegas? Ele tinha que ter me carregado nos braços?

Além da mensagem de meus colegas, também há outra:

“Se cuida, Katniss. Descanse bastante. Pensei em passar em seu apartamento, mas... não deu, desculpe. Estava pensando em sairmos nesse final de semana... Precisamos conversar...

Ren”

“Precisamos conversar”? Esse é tipo um código universal para “vem coisa por aí”, e não é nada bom. Ótimo, eu nem comecei um relacionamento com Ren e já estamos em um estágio ruim de relacionamento. Tudo culpa daquele louro oxigenado!

— Cenourinha, não me olhe assim! Isso não é minha culpa! Não é!

Mas Cenourinha continua a me olhar.

— Cenourinha! Nem adianta defender aquele louro oxigenado só porque ele te deu comida ontem!

Meu diálogo com Cenourinha é interrompido pelo som da campainha. Será que Peeta esqueceu a chave?

Levanto da cama e vou até a sala. O som da campainha persiste.

— Já vou! — grito para a pessoa insistente.

Quando abro a porta, meu queixo quase vai ao chão.

— Madge?

— Não, é minha gêmea malvada! É claro que sou, sua boba!

Madge sorri. Nos abraçamos.

Já passou tanto tempo desde que eu vi Madge pela última vez.

— Mas você disse que só iria vir no final de semana!

— Liguei ontem para cá e Peeta me disse que você estava doente. Katniss, peguei o primeiro avião que consegui quase morro de preocupação! Como você vai comer comida estragada?

— Ei, Madge, não exagera, eu não morri! Você e Peeta são dois exagerados!

Pelo menos, ficar doente serviu para algo. Já que agora tenho minha melhor amiga comigo.

— E que cheiro é esse? — indaga Madge, indo em direção cozinha.

O cheiro é do pão que Peeta fez para o café da manhã.

— Uau, esse apartamento é demais! — exclama, observando o apartamento.

— Só não fale isso na presença do Peeta. Ele só vai ficar ainda mais convencido!

Madge ri.

— Vocês dois ainda continuam iguais!

— O que você quer dizer com isso?

— Nada... — mas seu sorriso não indica que ela não quer dizer nada. — O Peeta que fez esse café da manhã? — aponta para mesa com pãezinhos, torradas, panquecas e suco.

— É...

— Katniss, você é uma sortuda! Quem preparou seu café da manhã foi um dos pâtissier mais conhecidos da atualidade! — fala, dando uma dentada em uma pãozinho. — Isso está uma delícia!

Bufo. Peeta e seus incríveis dotes culinários! Ele sempre precisa fazer tudo com extrema perfeição?

Eu e Madge começamos a conversar. Madge tem várias novidades para contar sobre seu trabalho, parece que ela vai ganhar uma promoção no próximo mês. E eu também tenho as minhas.

— Então, quer dizer que você e o Ren estão saindo?

— Mais ou menos, Madge... nós só trocamos dois beijos... — e eles foram interrompidos por Peeta! Sempre aquele louro oxigenado. — E parece que meu relacionamento nem começou e já tem problemas... — suspiro.

— Katniss, você sabe que para começar algo novo precisa acabar com o antigo.

— Madge, o que você está insinuando? Eu e Peeta já acabamos o que... seja lá o tivemos... há seis anos!

Madge sorri.

— Eu não disse nada... você é que está falando...

Nossa conversa é interrompida pela chegada de Peeta. Madge, como uma boa jornalista, vai direto ao ponto e pede uma entrevista com Peeta. Ele acaba aceitando dar a entrevista.

Os dois gastam boa parte da manhã na entrevista. Já está quase na hora do almoço, quando Peeta e Madge acabam a entrevista.

— Katniss... — Madge me olha de um jeito... um tanto perturbador. Eu realmente não gostei desse olhar! Que isso fique registrado. — Hum... então, o Peeta me deu a entrevista em troca de um favor...

— Eu sabia que aquele louro oxigenado não iria fazer nada de graça! O que ele pediu para você?

— Você.

— Madge, para de brincadeira — rio. — O que aquele oxigenado pediu?

— Eu já disse... — ela me olha. — Você.

— O quê?

— Na verdade, ele pediu um encontro com você!

Olho perplexa para Madge. Minha melhor amiga acaba de me vender.

— Não!

— Qual é, Katniss? Foi o único jeito de conseguir uma entrevista com o Peeta...

— Mas é claro que eu não vou aceitar isso!

Madge me encara.

— Você me empurrou para o Gale, mesmo sabendo que eu não suportava ele, você concordou em ajudar ele.

— É... — poxa, Madge tinha bater justo nessa tecla. — Mas você até gostou, não? Vocês dois estão até morando juntos agora...

— Não fuja do assunto, espertinha! Você e o Peeta vão ter um encontro sim!

Eu olho para Madge com meu olhar “nem morta”.

Depois de meia hora, me encontro com Peeta no carro, me levando sabe-se lá para onde. Aquela traíra da Madge! Onde já se viu, vender a própria amiga? Quem precisa de inimigos?


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Como será esse encontro?
Algumas pessoas já devem estar sabendo disso... eu já falei disso lá grupo do face... A verdade é que estamos entrando na reta final da fic. Eu não sei quantos capítulos serão... mas a fic já está em sua reta final.