Boa Sorte, Katniss escrita por Hanna Martins


Capítulo 22
Maldito Mulphy


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicados às lindas da Ferjv e Lua, que presentearam a fic com recomendações de tirar o folego. Obrigada, suas lindas!
Queria me desculpar pela demora e por não ter respondido os comentários ainda (isso me deixa bem triste). Estava sem tempo e aconteceram algumas coisas bem chatinhas em minha vida, que me deixaram com o ânimo lá embaixo... por isso, não consegui escrever muita coisa nesses últimos dias... Mas, bola para frente, a vida segue.



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Quando você começa a faculdade, imagina que quando sair sua vida estará uma maravilha, terá um emprego perfeito, com um salário tão bom que nem precisará olhar todo o mês o seu saldo; irá morar em uma casa grande e linda; terá um carro retirado da concessionária há poucos meses. Então, a realidade bate em sua porta. Não, você não tem um emprego maravilhoso que paga super bem, muito menos uma casa ou um carro. A realidade bate em sua porta como uma segunda-feira pós feriado.

Olha só minha vida. Tenho vinte e quatro anos. Quando estava no primeiro ano da faculdade, imaginava que quando saísse iria estar rica, quando estava no último ano me contentava em ter um trabalho.

Depois que saí da faculdade fiquei vários meses procurando um trabalho. Somente depois de quase um ano, consegui um emprego. E aqui estou eu acordando as 5:25 da manhã, porque preciso pegar dois ônibus para ir até a empresa onde trabalho, a Sinsajo.

O despertador me avisa que está na hora de sair de minha confortável cama e encarar a vida. Desligo o despertando irritante com um tapa. Ainda nem acordei direito.

Tento me despertar com um banho. O chuveiro intercala jatos de água fria com de água quente. Deveria ter trocado de chuveiro no mês passado, mas a grana estava bem curta.

Tomo um rápido café, na verdade, é apenas uma água com uma cor negra, já que o pó de café acabou. Preciso passar no supermercado, hoje a tarde, anoto mentalmente, mesmo sabendo que acabarei esquecendo. Rue sempre cuidava dessas coisas, quando estava aqui.

Rue faz muita falta. Não que eu não esteja feliz por ela. Afinal, Rue conseguiu uma bolsa de estudos na Alemanha para fazer sua pós-graduação.

Foi Rue que me indicou para trabalhar na Sinsajo. A empresa fica a cinco horas da cidade onde eu morava com minha mãe e Haymitch. Ainda bem que Rue ofereceu seu apartamento para eu ficar.

Eis mais um problema, com Rue mudando-se para a Alemanha, fiquei sem colega de quarto. Sem colega de quarto não consigo pagar o aluguel do apartamento. Além disso, a dona do apartamento pediu-o de volta. Resultado, preciso me mudar. No entanto, meu salário na Sinsajo é muito pouco. Estou desesperada para conseguir um lugar para viver. Daqui a pouco me mudarei para a pracinha da rua.

Engulo minha água negra (café não é o nome que essa substância merece). Pego minhas coisas e desço correndo pelas escadas. O elevador sempre está quebrado por aqui, ficar esperando por ele é perda de tempo, como eu aprendi logo na primeira semana que me mudei para cá.

Os dois ônibus estão lotados. Fico tão exprimida que daqui a pouco teremos suco de Katniss Everdeen.

Quando avisto o enorme prédio da Sinsajo, já estou cansada. Entro no prédio com passos rápidos. Essa é apenas mais uma das filiais da Sinsajo. A sede da empresa fica em Madri.

Corro até um dos elevadores.

— Espera! — grito.

Alguém, muito solidário, detém o elevador. Entro ofegante.

— Sempre atrasada, Katniss!

— Não tenho culpa se todo o ônibus que eu pego resolve andar mais lento que uma lesma!

Ren me lança um sorrisinho divertido. Ele estende a mão em minha direção e retira um pequeno galho que se prendeu em meus cabelos.

— Ei! — falo contrariada, tentando tirar o galho da mão dele, enquanto ele apenas sorri divertido.

— Seu cabelo é um imã para as coisas se alojarem! Ontem foi algumas folhas, sexta-feira uma joaninha... o que será da próxima vez?

Dou um leve soco nos ombros dele.

Ren também trabalha na Sinsajo, porém em outro setor. Durante a faculdade, eu, Rue e Ren fazíamos um trio inseparável.

— Como vai a mudança de apartamento?

— Não está indo... — respondo, fazendo uma careta.

— Você sabe que por mim, você poderia se mudar para meu apartamento. Mas... — passa a mão pelo cabelo.

— É claro, Ren, nós viveríamos muito felizes nos espremendo em uma lata de sardinha... seus colegas de apartamento iriam adorar, principalmente, Finnick.

Ren divide o apartamento com mais três pessoas.

Ele sorri, formando covinhas em sua bochecha. Ah, não! Eu não posso ficar pensando nisso! Ele é um dos meus melhores amigos! Deve me considerar como sua irmãzinha menor. Mas a verdade é ultimamente, estou tendo uma pequena quedinha por Ren.

Não sei exatamente como aconteceu, sempre vi Ren como um amigo. Um realmente especial. Ele é o tipo de pessoa que você sempre quer por perto, tem um ótimo papo, nunca nega ajuda, seja para estudar para uma prova mega difícil ou te fazer companhia no telefone, quando não consegue dormir, as três da manhã. Ren até me acompanhou no show da Mockingjay sem reclamar! E não é qualquer um que acompanharia uma fã louca, em um dia chuvoso, gritando e pulando.

Nós dois temos muita coisa em comum, fazemos o tipo caseiros, gostamos de ficar em casa nos finais de semana, assistindo um bom filme, escutando uma boa música, lendo um livro. Temos gostos realmente parecidos.

Mas eu não deveria estar com essa pequena quedinha por Ren. Tenho certeza que devo estar confundindo as coisas. Estou tentando agir normalmente, como nos velhos tempos, não quero estragar nossa amizade por algo como isso. Mas Ren não ajuda nenhum um pouco a minha resolução, sorrindo dessa maneira.

— Hum... essa não é aquela revista em que sua amiga trabalha? — ele aponta para a revista que tenho nas mãos.

— Ah?! — sou pega desprevenida. Isso que dá ficar admirando o sorriso dele. — É claro, Madge está escrevendo algumas matérias. Veja essa! — abro a revista e aponto orgulhosa para uma página em destaque.

Madge tornou-se jornalista. O sonho dela é ser correspondente internacional. Ela e Gale atualmente estão morando juntos. Gale está no último ano da faculdade de medicina. Ele quase soltou foguetes literalmente quando Madge anunciou que havia conseguido um emprego na cidade em que ele cursa a faculdade.

Ren aproxima-se de mim e apanha a revista. Droga, o perfume de Ren é maravilhoso, tem um toque cítrico. Katniss, Katniss, parece de agir feito uma garotinha perto do cara que ela gosta.

— Katniss?

— Ahã?

— Seu andar! — bate seu dedo indicador em minha testa. — Distraída!

— Ei! — dou um soquinho no ombro dele e saio rapidamente do elevador.

O caso é mais grave do que eu pensei. Trato de tirar Ren da cabeça e vou até a sala em que trabalho. É uma sala pequena, cheia de mesas, separadas por uma pequena divisão de papel. Minha mesa é a mais afastada de todas.

— Atrasada de novo! — fala Finnick, me olhando.

Tenho que esticar meu pescoço para poder encarar o belo Finnick Odair, o “muso” da Sinsajo. Pelo menos metade da empresa o considera assim (a outra metade é formada por homens). Ele também estudou na Universidade de Panem. No entanto, éramos de anos diferentes. Finnick era o queridinho de todos, até mesmo dos professores. Alguns diziam que eram por causa da sua beleza, outros diziam que eram devido a sua inteligência.

A verdade é que Finnick não se que encaixa naquela regra de belo rostinho, sem cérebro. Ele é muito inteligente.

Resmungo algo. Finnick estende um copo de café para mim.

— Sorte sua a chefe ainda não ter chegado...

Uma imensa quantidade de palavrões vindo do corredor, anuncia a chegada da minha querida chefe. Olho para o lado e não há qualquer vestígio de Finnick. Aquele cara sempre deixa as furadas para mim.

— Katniss, cadê os relatórios? — pergunta Johanna, minha chefe, entrando na sala.

— Já vou imprimi-los!

— Quero esses relatórios em cinco minutos!

— Certo! — falo, praticamente, correndo até minha mesa para ligar o computador e mandar os relatórios para serem impressos.

— E como vai nosso projeto com a confeitaria? Você sabe que todas as empresas incendiariam o quintal das outras empresas por trabalhar com um dos pâtissier mais bem sucedido da atualidade!

É, eu sei... Sei também que fazer parte desse projeto é um ponto enorme em meu currículo, embora exista um pequeno problema...

— Peeta Mellark é quase um deus dos bolos e doces!

Sim, o tal pâtissier bem sucedido, quase deus dos bolos e doces, é Peeta Mellark, exatamente ele, o louro oxigenado.

Ele se tornou uma espécie de estrela da culinária, vive aparecendo em revistas e programas de TV. O problema é que não posso ignorar isso. Afinal, eu também trabalho no ramo alimentício. E eu que cheguei acreditar que nunca mais nossos caminhos iriam se cruzar.

— Foi muita sorte, ele ter aceitado fazer uma parceria com nossa empresa. O pão “Dente-de-leão” será um sucesso!

— É, foi muita sorte — assinto contrariada.

— Hoje, você precisa ir até a confeitaria para fazer novos testes com o pão...

— Mas...

— Nem precisa argumentar, Katniss, você irá sim! — ordena Johanna, com aquele jeito persuasivo dela. Minha chefe é uma flor delicada de pessoa (ironia aqui).

— Ok — concordo, entregando os relatórios que acabei de imprimir.

— Agora! — Johanna não é mesmo uma pessoa delicada.

Pego minhas coisas um tanto mal-humorada.

— Bom dia, Katniss! — cumprimenta minha colega Annie, saindo do elevador.

— Bom dia! Trabalho a fazer — digo, entrando no elevador.

— Boa sorte, Katniss!

— Vou precisar! — grito, enquanto as portas do elevador se fecham.

A confeitaria Mellark (é claro que ele precisava colocar o nome dele no estabelecimento) não fica muita longe da Sinsajo. Na verdade, ela é apenas uma das uma confeitarias Mellark que estão espalhadas pelo mundo. Não, não se preocupem, eu não corro o risco de esbarrar com Peeta. Ele deve estar agora em algum lugar do mundo, bem longe daqui.

Peeta não costuma visitar suas confeitarias. Ele manda as receitas, aprova os chefs que trabalham em seus estabelecimentos, tudo sem precisar pisar uma vez sequer no lugar.

A confeitaria se localiza em um dos lugares mais caros da cidade. Quando você entra, tem a nítida impressão que foi parar em uma espécie de paraíso. O cheiro de pão quente, bolos e doces impregna o ar. Como sempre o local está cheio de pessoas que conversam nas mesas, enquanto devoram tortas e doces apetitosos. Só de olhar para essas guloseimas você sente fome. Talvez, eu deva comprar algumas tortas e doces para a viagem... penso, enquanto analiso um tentador petit gateu sendo devorado por um garotinho.

— Katniss, estávamos esperando! — uma moça sorridente vem me atender.

— Lavinia, trouxe os pães... — indico a grande caixa que tenho nas mãos. — Fizemos as modificações que você sugeriu para a distribuição do pão “Dente-de-Leão.

— Ótimo, vamos experimentar na cozinha...

Lavinia é a responsável pela confeitaria.

Levo a caixa com os pães para a cozinha da confeitaria.

Assim que entro na cozinha, meu olha imediatamente vai parar em um rapaz alto e louro que está de costas para mim, confeitando um bolo. Meu coração começa a querer saltar pela boca. Não. Isso não é real.

— Os pães “Dente-de-leão” chegaram — anuncia Lavinia.

— Chegaram?

Lentamente, ele se vira. Seus cabelos dourados caem em desalinho por sua testa. Ele já não é o mais o adolescente de dezoito anos, porém, seu rosto não mudou quase nada, apenas adquiriu uma expressão mais adulta, o tornando ainda mais belo. Seus olhos azuis encontraram os meus. Ele me olha surpreso.

A última vez que eu o vi, ele estava gritando e com o nariz sangrando.

— Katniss?

Preciso dizer que estou em choque? Tenho quase certeza que todos aqui conseguem ouvir as batidas agitadas do meu coração.

— É... vocês se conhecem? — indaga Lavinia.

A voz de Lavinia me traz a realidade.

— Digamos que sim... — responde Peeta evasivo. — Eu não sabia que você trabalhava para a Sinsajo... — seus olhos pousam em mim com suavidade e um sentimento que não consigo distinguir. Ler Peeta Mellark sempre foi um desafio para mim, não seria agora que as coisas ficariam mais fáceis para minha pessoa.

— É — consigo falar, friamente.

O que está acontecendo comigo? Droga, estou me sentindo como se voltasse a ter dezoito anos! “Seja profissional, aqui”, grita uma vozinha no fundo da minha mente.

— Vim trazer os pães para vocês experimentarem... — olho para a caixa de pão que tenho nas mãos. Isso serve para me acalmar um pouco do choque.

Ei, não me recriminem, ele é alguém que eu pensei que nunca mais encontraria na vida.

Levo a caixa até a mesa.

— Tentamos fazer que ficasse como você pediu — olho para Lavinia, tentando ignorar a presença de Peeta.

Ele pega um dos pães, corta uma fatia e experimenta. E eu olho para todas as direções, menos a que ele está. Tudo o que quero é sair daqui.

— Não está bom — seu tom tem algo de arrogância, o que me remete a certo garoto que soquei certa vez, quando eu tinha 11 anos.

— Não está? — falo com minha sobrancelha levantada o analisando.

— Não, falta algo — me encara com aquele olhar petulante que tanto odiei certa vez.

— Ah, é mesmo? Então, devo refazer... alguma sugestão? — pergunto secamente.

Peeta me analisa, até Lavinia parece um tanto surpresa com a minha reação.

Maldito louro oxigenado, até me faz esquecer de ser profissional. Detesto essa sensação de voltar a ter 18 anos.

A situação é tão irreal que ainda não caiu totalmente a ficha que Peeta está diante de mim. Tudo parece uma ilusão ótica. Uma ilusão muito loura, diga-se.

— Lavinia já deve ter passado as sugestões para você... mas estou a disposição, Katniss. Que tal uma reunião amanhã para discutir o assunto?

O quê? Eu, cheia de esperanças, pensei que depois daqui, não veria mais ele.

— Tem certeza? Você deve ser uma pessoa muito ocupada... — falo com um leve toque de sarcasmo na voz.

— Tenho — me encara. Tenho a leve impressão que sua voz soou como um desafio. — Sempre tenho tempo para cuidar de assuntos que me interessam.

— Ótimo, amanhã...

— Às oito da manhã aqui — completa por mim.

Segundo a lei de Murphy quando alguma coisa pode dar errado, dará. Maldito Murphy! E maldito louro oxigenado que resolveu cair de paraquedas em minha vida novamente. Espero que isso seja apenas por pouco tempo. Vou começar a contar os dias para me livrar dele.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? E dos novos personagens? E desse reencontro de Katniss e Peeta? Quem diria que o Peeta seria um chef? E Katniss trabalharia em uma empresa alimentícia? Ah, antes que eu me esqueça, a Katniss fez faculdade de engenharia de alimentos. E agora, Katniss tem um pequena quedinha pelo Ren. Parece que Peeta tem concorrência, né?