Boa Sorte, Katniss escrita por Hanna Martins


Capítulo 21
Amanhã será outro dia


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado à Gabi e à Luna, que me presentearam com recomendações maravilhosas e me deixaram cheia de ânimo para terminar o capítulo! Muito obrigada suas lindas!!!



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― Toma, Katniss ― Madge enche meu copo de vodca, depois serve uma boa dose para si mesma.

Quando Madge sugeriu que fizemos uma grande idiotice hoje, para comemorar nossa entrada na faculdade, “Katniss, amanhã seremos universitárias, precisamos fazer uma idiotice hoje!”, nunca pensei que ela se referia em me trazer a “Arena” e me embebedar. Madge sempre me surpreende.

Definitivamente, esse não é meu lugar favorito no mundo, mas até que fazer uma idiotice hoje é uma ideia bem tentadora.

― No três viramos o copo! ― instrue Madge, pegando seu copo de vodca. ― Um... dois... três!

Viramos os copos em nossas bocas. A bebida escorrega por minha garganta de forma sufocante, porém eu bebo toda a dose. Madge volta a encher nossos copos rapidamente.

― Um brinde a nossa vida universitária! ― diz, erguendo o copo de vodca.

Novamente, tomamos nossas bebidas de um só gole.

Engraçado como a vida é estranha. Há alguns meses, eu e Madge estávamos nesse mesmo lugar. Erámos estudante do ensino médio, estávamos fazendo um trabalho para o colégio (aliás, Cressida deu a nota máxima ao nosso vídeo), Madge não namorava Gale, até o considerava irritante. E, eu odiava Peeta... pensando bem, isso não mudou. Odeio aquele louro oxigenado estúpido com todas as minhas forças!

Peço para Madge encher novamente meu copo e o tomo em um único trago.

Um garoto idiota qualquer esbarra em mim, enquanto tenta pedir uma bebida no balcão. Ele sai sem pedir desculpas.

― Garotos são todos babacas! ― afirmo com raiva, vendo o garoto sair de perto de nós.

― Acredito que sua raiva em relação aos caras se deve a um em específico! ― afirma Madge, enchendo seu copo de vodca até a borda.

Madge sabe sobre tudo o que aconteceu em Londres. No entanto, depois de contar tudo a ela, preferi não tocar mais no assunto.

Dou os ombros, enquanto peço para Madge encher meu copo novamente.

Não quero me lembrar de Londres... Porém, há coisas que são inevitáveis.

Posso me recordar com clareza de todos os detalhes, e se eu fechar os olhos agora, tenho a impressão que posso voltar a certa fria biblioteca.

Namorada. Namorada. Namorada. Essa era a palavra que girava em minha mente, enquanto a garota loura abraçava Peeta.

― Não sentiu saudades de mim? ― insistiu.

― Delly, o que está fazendo aqui? ― disse Peeta, saindo dos braços dela e me olhando.

― Ora, vim visitar meu namorado! Já faz muitos meses que nós não nos vemos! ― tentou o abraçar novamente. No entanto, ele se esquivou.

Peeta continuava me olhando. Eu não sabia o que fazer. Sério. Parecia que meu cérebro havia parado de funcionar. Deveria gritar com Peeta? Dar um soco tão bem dado naquela carinha perfeita dele que o deixaria sem parte da sua beleza? Rir? Sair correndo? Apenas sentia um enorme buraco no meu estômago.

Minhas pernas pensaram por mim, comecei a andar em direção a porta.

― Katniss! ― Peeta me chamava. Eu o ignorei e continuei a andar.

― Quem é? ― ouvi Delly indagar em minhas costas.

― Uma amiga de Peeta... ― respondeu Emma.

― Ah!... Peeta... você não contou para ela?

Ele não respondeu. E eu continuei a andar. Saí da biblioteca.

― Katniss! ― Peeta veio atrás de mim.

Eu continuei ignorando seu chamado. Apressei o meu passo.

― Me escuta, Katniss!

Tudo o que eu desejava era chegar até meu quarto. Aquele lugar nunca me parecera tão imenso e vazio como naquele momento.

Senti os dedos de Peeta cercando meu pulso. Seus dedos estavam gélidos.

― Me solta! ― falei com repugnância sem olhar para ele.

Ele me olhou por um breve momento com uma expressão assustada.

― Me solta! ― insisti, tentando livrar meu pulso de suas mãos. Seu toque me causava um profundo ódio.

― Venha comigo! ― disse sem soltar meu pulso.

O encarei, pela primeira vez. Estava a ponto de gritar, mas não o fiz. Nem mesmo gritar, eu conseguia naquele momento.

Peeta, sem soltar meu pulso, me levou até seu quarto, que ficava bem próximo de onde estávamos.

Ele fechou a porta com impaciência. Aproveite para fugir de seus dedos.

― O que você quer, idiota? ― falei furiosa, enquanto reprimia a terrível vontade de quebrar aquele quarto decorado com muito esmero por algum decorador muito famoso.

― Conversar com você... ― tentou se aproximar de mim, me esquivei dele imediatamente lhe lançando uma expressão enojada. Ao ver meu rosto, ele recuou. ― Escuta, Katniss, eu não queria te magoar...

Nada falei, desviei meus olhos dele. Minha raiva aumentava a cada segundo que se passava.

― Desculpa, eu sei que deveria ter contado sobre Delly...

― Deveria, é? ― debochei. ― Por que deveria? Afinal, não somos nada! Ela que é sua namorada! ― meu tom aumentava a cada palavra. ― Ela que deveria saber que o namoradinho dela anda se agarrando com outra!

Peeta me encarava, devo ser honesta, um tanto perplexo, como se não soubesse o que fazer. Minha fúria só aumenta ao ver sua cara.

― Katniss, não é nada disso! ― falou.

Eu o encarava, contendo minha vontade de fazer um estrago em certo nariz perfeito.

― Não é nada disso! ― repetiu. ― Eu e Delly temos um relacionamento aberto ― explicou, tentando se aproximar de mim outra vez.

Relacionamento aberto? Era essa a explicação que ele tinha para me dar?

Dei um grande tapa em sua mão que tentava me tocar. Ele recuou um tanto surpreso. Será que ele estava esperando que eu corresse para seus braços e arrancasse suas roupas?

Agora eu compreendia a conversa que os amiguinhos dele tiveram na piscina naquela manhã. Eles estavam falando de Peeta. Fora ele que dormira com Cashmere e Emma, e sabe-se lá com quantas mais.

Naquele momento, não sabia com quem estava mais furiosa, se era comigo que fora tola o suficiente em se envolver com ele, embora existisse todos aqueles avisos, ou se era com ele. Eu nem sabia por que continuava naquele lugar, escutando aquelas coisas.

― Nossas famílias meio que têm um acordo ― continuou Peeta, após perceber que eu não iria falar. ― Desde pequenos, nós dois sabíamos que todos esperavam que quando adultos... Entende, nossas famílias são ricas e influentes. Seria a união ideal...

― Mas parece que vocês gostaram da ideia ― disse me referindo ao abraço que presenciei.

Peeta tentou captar meu olhar, porém eu não retribui. Ele suspirou.

― O que você queria que eu fizesse? ― sua voz tinha certa irritação. ― Nós dois íamos nos casar de qualquer modo! Não seria muito melhor para ambos ter um relacionamento aberto?

Nesse momento, toda minha fúria transbordou em uma estridente gargalhada. Peeta me olhou esperando uma explicação.

― Por que não me disse que tinha uma namorada? ― vociferei.

― E o que você faria? Será que isso teria mudado alguma coisa?

Aquilo apenas fez minha fúria aumentar, já nem fazia ideia do que estava mais falando.

― Não faria diferença?! ― debochei. ― Eu não sei o que seus amiguinhos e você pensam, mas eu não consigo estar com uma pessoa que tem outra!

Comecei a andar em direção a porta.

― Katniss, espera!

Me voltei com muito custo para Peeta, cruzando meus braços com aborrecimento.

― O que foi?

― Você sabe que o que tínhamos não foi bem um namoro... Eu nunca te prometi nada...

— Você mentiu para mim! — retruquei.

— Eu não menti... apenas ocultei algo... Você nunca me perguntou se eu tinha uma namorada...

Aquilo foi a gota de água para mim. Ele estava tentando me dar aquela explicação imbecil?

Meu punho foi parar em seu belo nariz. Toda minha raiva, fúria, magoa, estavam naquele soco.

Peeta gritou, enquanto segurava o nariz sangrando. Sem olhar para ele, saí pisando firme daquele quarto.

Não tivemos um namoro. Mas esperava que nosso relacionamento sem uma denominação tivesse significado alguma coisa para ele. O que fui para Peeta? Uma diversão que ele encontrou para matar o tempo.

Fiz minhas malas imediatamente. O senhor Mellark conseguiu passagens para mim no dia seguinte. Dei a ele uma desculpa qualquer sobre a universidade e minha inscrição. Precisei dar essa mesma explicação para minha mãe e Haymitch devido ao meu retorno repentino. Ainda bem que eles não sabiam do meu envolvimento com Peeta, se eles soubessem as coisas teriam ficado bem mais complicadas para mim.

Madge enche novamente meu copo.

― Aos professores que vão passar um milhão de trabalhos para nós e acabar com nossos finais de semana! ― Madge está visivelmente bêbada. E eu não posso negar o fato de que não estou em condições melhores.

― Aos caras idiotas! ― falo, erguendo com certa dificuldade meu copo. ― Aos caras idiotas que arrancam nossos corações!

Madge e eu tomamos tudo de um só trago. Ela me olha por um longo instante.

― Sabe... eu sei que você não está bem. Você vive dizendo que está tudo bem, que esqueceu o Peeta, que se encontrar com ele dará um grande chute naquele traseiro bonitinho, mas...

― Mas, eu estou bem! ― contesto, tentando sorrir. ― Aquele... Aquele... grande babaca!

― Katniss... ― Madge aponta meu rosto. Sinto um fio de lágrima escorrendo por meu rosto. Só então percebo que estou chorando.

Madge me abraça. Pela primeira vez, desde minha volta de Londres, eu choro.

― Eu realmente gostava daquele babaca... ― digo entre soluços. ― Aquele imbecil!

Choro por um grande tempo, até quando minhas lágrimas parecem se esgotar. Há uma coisa que estava tentando evitar, chorar. Pensei que se chorasse por Peeta, eu iria demonstrar o quanto ele significou para mim. E ele significou muito para mim, bem mais do que eu gostaria, mesmo não querendo admitir, mesmo odiando ele. Peeta significou o suficiente para eu desejar profundamente que ele não tivesse significado nada. Porém, depois de chorar, sinto um pequeno alívio.

Olho para a pista de dança. Uma música alta toca, daquelas que convidam todos os membros do seu corpo a se mexerem.

― Quer saber de uma coisa, Madge? ― falo, enquanto enxugo meus últimos vestígios de lágrimas. ― Eu sei dançar sozinha! Não preciso dançar com Peeta!

Vou em direção a pista de dança e deixou que a música tome conta de mim. Madge me acompanha. Ela também começa a dançar.

Embriaga pelo ritmo da música, pelos inúmeros copos de vodca, danço.

Não quero pensar mais em Peeta, nem no tamanho do buraco que ele deixou em meu coração. Amanhã, eu entrarei na universidade. Amanhã começarão as aulas. Amanhã. Amanhã será outro dia.

Mas não pensem que minha falta de sorte vai me abandonar na faculdade. Quando acordo super atrasada para a primeira aula, com uma dor de cabeça horrível, constato que a sorte sempre vai me sacanear.

Tomo um remédio para dor de cabeça. Porém, não surge muito efeito. Nada de bebidas para mim no futuro. Juro que não quero mais ressacas! Quem deseja ser pisoteado por uma manada de elefantes ao acordar?

Mas meus problemas não param na ressaca. Não. Só surgem mais e mais problemas. Primeiro, há um e-mail da universidade comunicando que minhas aulas foram transferida para um bloco que eu não faço a mínima ideia de onde fica. Segundo, o ônibus está tão lotado e barulhento, que minha dor de cabeça é ampliada (e olha que eu achei que isso era impossível).

Com certo esforço consigo chegar à universidade. Ela é um pouco longe de onde moro. Tenho que pegar dois ônibus para chegar até lá.

Eu e Madge fomos para áreas totalmente distintas. Nossos blocos nem estão pertos. Lamento que ela não esteja por perto, principalmente, depois de me tentar encontrar minha sala e me perder pela terceira vez, Madge é ótima em encontrar localizações.

Uma garota de cabelos encaracolados e cheia de energia, que parece estar com muita pressa, passa por mim, quase me derrubando.

― Ah, desculpa! ― pede a garota me olhando. ― Você sabe onde fica o G34?

― É para lá que estou indo! ― respondo.

― Aula de cálculo I?

― Sim!

― Somos colegas! ― fala a garota empolgada. ― Me chamo, Rue! E você? Minha nossa, você gosta da Mockingjay! ― exclama Rue após ver um chaveiro com o símbolo da banda em minha mochila. ― Eu adoro a Mockingjay! Eles são incríveis!

Rue e eu começamos a conversar sobre a banda. Imediatamente, simpatizo com ela, não só pelo fato dela gostar da Mockingjay, Rue realmente me parece uma pessoa legal.

― Olha só, é o Ren! Ele também vai ser da nossa turma! ― fala, apontando para um rapaz de cabelos negros, vestindo uma camiseta xadrez, calça jeans e All Star, que anda um pouco a frente de nós. ― Ren! Ei, Ren!

Ele para de caminhar e olha para trás. Constato que seu cabelo negro apenas destaca ainda mais a palidez de sua pele.

― Rue! ― fala, ajeitando seus óculos de grau.

― Você está indo para o G34?

― É, estamos quase atrasados para a primeira aula! ― diz Ren.

― Ah, esta é a Katniss! Ela também vai estudar conosco.

Ren aperta a minha mão e sorri. E, então vejo que sorrindo ele fica muito bonito, principalmente devido as covinhas em sua bochecha.

― Vem, vamos! ― diz Ren, começando a andar com certa pressa. ― Estamos perto do bloco.

Eu não estava errada sobre o amanhã. Agora início uma nova jornada. Preciso deixar muitas coisas para trás.

― Katniss! ― chamam Rue e Ren, sorrindo para mim.

― Estou indo!

Respiro fundo. O que será que me aguarda? Não sei. Mas eu irei trilhar esse estranho e inesperado caminho.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Esse capítulo encerra a primeira fase da fic... No próximo capítulo teremos uma passagem de tempo, personagens novos e personagens antigos estão de volta e um certo reencontro...