Boa Sorte, Katniss escrita por Hanna Martins


Capítulo 20
Os Mellark


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedica à Michelly Conche que fez uma linda recomendação e deixou meu final de semana muito melhor! Obrigada sua linda!!!



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Pela vigésima terceira vez a empregada entediada me explica onde está meu quarto. Não tenho culpa se esse lugar é tão grande que deve ter uns cem quartos... E, não é qualquer tipo de quarto. O meu quarto, por exemplo, é tão grande que caberia o apartamento inteiro, em que vivo, dentro dele.

A mulher com uma cara de poucos amigos me leva até o meu quarto. Tenho certeza que ainda vou acabar me perdendo dentro desse quarto.

Me jogo na imensa cama, coberta por lençóis egípcios (obviamente). Se eu estragar um desses lençóis, nem trabalhando minha vida inteira poderei pagá-los. Percorro meus olhos pelo quarto, a decoração me faz pensar que estou em daqueles filmes que retratam o século XIX.

Onde eu vim parar? Faz uma semana que estou aqui e ainda tenho a nítida impressão que isso não é lá muito real. Tudo aqui não se encaixa comigo. As coisas são grandes, luxuosas e caras demais para mim. Há empregados por todos os cantos, prontos a atender qualquer vontade sua. Se você deseja um copo com água, tem alguém para perguntar para você como deseja sua água... Fiquei seriamente impressionada em descobrir a imensa variedade de água.

Acabo de visitar a “humilde” biblioteca dos Mellark. Uma frase: “as bibliotecas que conheci antes teriam vergonha de serem consideradas bibliotecas”.

O reluzente relógio da parede sinaliza que está na hora do almoço. Suspiro. Espero, dessa vez, encontrar a sala de almoço (sim, existe uma sala de almoço, uma de café da manhã, de jantar, e até uma para o chá das cinco!). O que há de errado com essas pessoas que não gostam de usar o mesmo lugar mais de uma vez por dia?

Depois de uns 15 minutos, encontro a sala de almoço. Pelo menos, dessa vez, encontrei-a sozinha.

A mesa é imensa (novidade!). Sabe aqueles filmes em que vê você aquelas mesas compridas que não acabam nunca, e pensa que só poderia existir na ficção? Pois, então, estou diante de uma dessas mesas.

Uma dúzia de empregados, uniformizados, está no recinto, prontos para atender. Desse jeito até parece teremos um banquete por aqui! Qual é? Isso não é um tanto exagerado?

― Sente-se, Katniss! ― convida o senhor Mellark, apontado para uma cadeira perto de si.

O senhor Mellark é um homem alto e louro. Analisando-o, chego a conclusão que a genética Mellark é de fato muito boa. Ele é muito bonito e elegante. Embora seja extremamente educado, conserva certa severidade no semblante. Algo que lembra alguma coisa real. Aliás, os Mellark são uma família muito tradicional. Vários de seus antepassados pertenciam a nobreza.

Dá para acreditar que esses dias encontrei uma sala cheia de quadros com os antepassados dos Mellark? É, muita coisa estranha acontece por aqui.

― Obrigada... ― me sento na ponta da cadeira.

― Peeta está atrasado... ― observa, olhando para seu relógio.

Não sei o que dizer, por isso fico em silêncio. A presença do senhor Mellark me deixa um tanto desconfortável. Não que ele não seja educado ou gentil comigo, não é isso... Sabe aquelas pessoas que irradiam uma aura que você não sabe explicar, mas te deixa desconfortável? Então, é exatamente isso que acontece aqui. Além disso, o fato de estar cercada por empregados, não ajuda nenhum um pouco o meu desconforto passar.

Sorrio aliviada, quando Peeta aparece. Juro que para mim se passaram séculos.

― Você está atrasado... ― adverte o senhor Mellark com uma voz suave, porém severa.

Peeta apenas dá os ombros.

― Sente-se ― indica uma cadeira vazia em minha frente.

O senhor Mellark faz sinal para os empregados servirem os pratos. Durante o restante do almoço, me empenho em descobrir o que são os misteriosos pratos, que são colocados em minha frente. Comidas que nunca comi na vida. Além disso, fico toda atrapalhada em usar o talher certo. Nunca pensei que existisse tantos talheres diferentes. Comer se tornou algo muito complicado. Uma arte tão complexa que fico imaginando, se por acaso não há alguma escola especialista em ensinar as pessoas comerem corretamente.

As refeições em geral são silenciosas. O senhor Mellark come pausadamente, como se executasse um ato mecânico, sem apreciar o sabor da comida. Não posso evitar em pensar em Haymitch. Os dois eram grandes amigos. Como será que duas pessoas tão opostas se tornaram amigos?

Finalmente, o almoço termina.

― Você não comeu muita coisa... ― fala Peeta, enquanto andamos por um dos inúmeros corredores.

― Com aquela quantidade absurda de talheres e etiquetas na mesa... tenho a impressão que estou diante de um tribunal julgando o modo que eu como...

Peeta sorri.

― Se quiser, hoje podemos dar outro passeio em Londres... ― sugere.

Aceito imediatamente. Ontem, passamos praticamente todo o dia em Londres. Peeta com certeza é um ótimo guia. Ele me levou em lugares fantásticos. Além disso, visitar Londres é muito melhor do que ficar aqui.

Peeta dispensa o motorista e ele mesmo dirige um dos inúmeros carros que está na garagem dos Mellark. Aliás, se algum desavisado entrar lá, poderá acreditar que acabou de entrar em uma concessionária. Em que planeta eu vim parar? Agora, entendo um pouquinho o louro oxigenado quando caiu de paraquedas em nosso apartamento.

― O que foi? ― pergunta, enquanto tomamos um chá em um lugar tão luxuoso, que chego a pensar que estou tomando ouro em vez de chá.

― Nada... ― dou os ombros.

― Sei... tampinha, você não me engana... há alguma coisa te incomodando... ― diz Peeta, mexendo em sua xícara de chá.

― É que... nossos mundos são tão diferentes, distantes...

Ele me olha por um segundo, porém não diz nada.

― Há um parque muito bonito aqui perto... quer ir lá?

Assinto rapidamente. Lugares como este, realmente não me deixam confortável.

— Eu não entendo uma coisa... — falo, enquanto damos uma volta pelo parque.

— O quê? — indaga distraído, olhando para um lugar qualquer.

— Sua mãe... ela não era rica, não era de uma família influente ou algo do tipo... como ela conheceu seu pai?

— Meu pai estudou dois semestres na Universidade de Panem, terminando sua pós-graduação... Minha mãe estava no primeiro ano da faculdade... — explica de um modo vago. Não sei se é porque ele não deseja falar sobre o assunto ou porque não sabe muita coisa. — Os dois se conheceram... começaram a namorar... e depois se casaram...

— Mas...

Peeta olha para mim.

— Meu avô não gostou nenhum um pouco do casamento de meu pai. Ele deveria ter se casado com uma herdeira dos Cartwright... Por alguns anos o velho não morou aqui. Só quando minha mãe morreu, ele voltou a morar em Londres... — seus olhos fogem de mim. — Casamentos arranjados são muito comum entre nós, embora todo mundo acredite que essa prática acabou, isso não é verdade...

Peeta fica em silêncio durante bastante tempo depois disso. Acredito que falar sobre a família dele não é uma de suas coisas favoritas no mundo.

Só voltamos para a “humilde” residência dos Mellark, quando o sol já está quase se pondo. Por mim, eu ficaria mais um pouco em Londres. Porém, Peeta tem que fazer uma ligação e como ele esqueceu o celular, precisa voltar para a casa.

― Pode ir entrando, Katniss ― fala Peeta, desligando o carro. ― Preciso falar com o Darius sobre o carro, parece que ele está com algum problema...

― Ok ― digo, andando sem nenhuma pressa.

Espero que dessa vez possa encontrar meu quarto, sozinha. Há tantas salas, corredores, que penso seriamente, se encontrar meu quarto não se tornou algo como uma caça ao tesouro. A diferença é que as pessoas, que participam de um evento assim, têm mapas, o que me cairia muito bem agora.

Finalmente, encontro uma sala que leva até o corredor, o qual conduz até meu quarto.

No entanto, não sinto a alegria que pensei que sentiria ao abrir a porta da sala. Me deparo com um grupo de quatro pessoas que conversam, mas não são quaisquer pessoas. Como se nessa casa existisse algo que fosse comum... Eles parecem ter saídos de capas de revistas. Uma garota de longos cabelos louros, alta e magra (enfim, uma daquelas modelos que você encontraria em algum anuncio) está sentada de um modo elegante em uma poltrona, enquanto conversa com um garoto também louro, alto e com um belo corpo, sinalizando que academia deve ser um dos seus lugares preferidos. Os dois têm vários traços em comum. Acredito que são irmãos.

Há também uma garota de cabelos ruivos que passeia pela sala. A garota ruiva é extremamente bela. Seu rosto tem uma boa quantidade de sardas, o que só lhe deixa ainda mais encantadora.

Sentado no chão com as penas cruzadas, um garoto de cabelos escuros, que lembra um protagonista de uma série que vi recentemente por sua beleza, folheia uma revista, com uma expressão entediada.

Por um momento, fico parada na porta sem saber o que fazer. Acho que sem querer fui parar no monte Olimpo. Eles parecem não terem notado minha presença, até que a garota ruiva me olha.

― Hum... quem é você? ― ela indaga. Os outros três olham para mim.

― É... Katniss... ― quase gaguejo, totalmente atrapalhada. ― É... eu vou para... meu quarto...

Os quatros se entreolham com uma expressão esquisita, que prefiro não saber o significado.

― O que está fazendo aqui? ― pergunta a garota loura com um arzinho arrogante, jogando os perfeitos cabelos para trás.

― Eu...

― Peeta! ― a garota ruiva, joga-se nos braços dele, quando ele abre a porta.

A garota loura parece ter me esquecido com a chegada de Peeta e retira seus olhos de mim. Respiro aliviada. Aqueles olhos azuis dela produzem escalafrios em mim.

― O que vocês estão fazendo aqui? ― noto certo desagrado no tom de Peeta.

― Resolvemos fazer uma surpresinha, primo ― fala o garoto louro, indo na direção de Peeta.

Então, esses dois são primos. Bem que eu havia notado algo familiar nele.

― Por que não me avisaram?

― Qual é o significado da palavra “surpresa”? ― fala a garota loura de um modo sarcástico.

― Pensei que ficaria feliz em nós ver... ― diz o garoto que está sentado, largando a revista no chão.

― Ei, você não está feliz em nós ver? Foi minha ideia! ― diz ruiva fazendo uma espécie de biquinho.

― Não é isso, Emma... Vocês apenas poderiam tipo... ter avisado...

― Você era mais divertido, primo ― fala a loura. ― Estou achando que seu pai conseguiu o que queria... Ficamos alguns meses sem nós ver... e você parece um cara de trinta anos!

O que eu faço agora? Finjo que não estive aqui e saio por aquela tentadora porta que me levará ao corredor, e dentro de alguns instantes estarei em meu quarto; ou continuo aqui e espero alguém se lembrar de minha existência? Sinceramente, a primeira opção é muito sedutora.

Porém, é tarde demais. Os olhos da loura se voltam para mim. Peeta segue os olhos dela e se dá conta da minha presença.

― Ah, esta é Katniss...

Os outros olham para mim, um tanto intrigados.

― Katniss, esses são meus amigos Emma, Tom e meus primos, Cashmere e Gloss ― aponta para cada um deles, enquanto me apresenta.

Emma me dá um pequeno sorriso, Cashmere se limita a me analisar, Tom e Gloss não são mais simpáticos, apenas acenam com a cabeça para mim.

― Então... tenho que ir para meu quarto ― falo me encaminhando rapidamente para a porta, desejando ter o poder de ser invisível.

Praticamente, começo a correr em direção ao meu quarto. Nem mesmo os populares do colégio me causaram uma sensação assim. Eles são... são assustadores!

Há muitas diferenças entre eu e Peeta. Olha só os amigos dele!

Essa casa, os amigos de Peeta... tudo isso faz meu estômago ficar embrulhado. A sensação de que não me encaixo nesse lugar só aumenta. Aumenta tanto, que sinto que estou preste a sufocar. Odeio me sentir assim. Queria falar com Madge, com minha mãe, Haymitch...

Me jogo na cama. Pego um livro e tento ler. Obviamente, não obtenho muitos resultados.

Quando um dos empregados me avisa que o jantar está servido, ainda não sai da página, aliás, não sai do primeiro parágrafo. Dou uma desculpa qualquer e não desço para o jantar.

Eu não sei usar aqueles malditos talheres direito, e sei que aqueles quatro me analisando, não vai melhorar nenhum um pouco minhas habilidades com os talheres.

No entanto, começo a me arrepender da minha decisão, ao sentir meu estômago reclamando.

Alguém bate na porta.

― Entra! ― berro da minha cama, porque tenho a impressão que o quarto é muito grande para eu falar com minha voz normal.

Peeta abre a porta, enquanto equilibra em sua mão uma bandeja com um prato de comida e uma jarra de suco.

― Você está bem? ― pergunta, depositando a bandeja na cama.

― Estou... não foi nada, apenas estava cansada... ― falo evasivamente, torcendo para que o louro oxigenado não resolva fazer um inquérito.

― Trouxe comida para você ― indica a bandeja.

Agradeço mentalmente o fato de Peeta apenas ter trazido um singelo garfo e faca. Verifico o quanto a comida daqui é saborosa.

Acabo devorando toda comida em instantes. Peeta fica em silêncio, enquanto eu como.

― Katniss... você... não gostou de meus amigos? ― pergunta de supetão, quando eu termino de ingerir a última garfada. ― Eles são legais.

Legais? O louro oxigenado está precisando de uns bons óculos.

Não respondo, tomo um grande gole de suco.

― Eles... foram embora? ― pergunto após um instante.

― Não, eles vão ficar alguns dias aqui... ― responde, me analisando.

Tenho que reprimir um grito de horror. Tomo outro grande gole de suco.

― Eu não sabia que eles iriam vir... Pensei que iriam passar as férias de verão na Itália... Eles realmente são legais. Você irá gostar deles.

Eu, gostar deles? Será que ele está com febre?

― Katniss, tem certeza que você está bem?

― Tenho... só estou um pouco cansada! ― olho para ele. ― Juro... e também com um pouco de saudades de minha casa, é a primeira vez que fico tanto tempo longe da minha família...

Não revelo para ele, que ficar aqui está me deixando extremamente desconfortável.

― Emma organizou um jogo... não quer descer para jogar com a gente?

― Não... quero dormir.

― Certo ― me analisa.

Peeta acaricia minha bochecha suavemente e me dá um leve beijo na testa. Ele pega a bandeja e sai do quarto.

Me deito na cama. Parece que assim como Alice no País das Maravilhas, estou perdida em um mundo totalmente estranho.

Demora um pouco para eu dormir, mas por fim caio em um sono sem sonhos. Quando acordo, constato que já passou das nove da manhã há muito tempo.

Mesmo sem muita vontade de descer para o café da manhã, decido que ficar trancada no quarto não vai ajudar em nada minha situação. Me preparo para a pequena guerra que terei. Afinal, eu já enfrentei o louro oxigenado, isso deve me dar alguns créditos. Não quero que eles pensem que eu tenho medo deles. Após uma boa noite de sono, sinto que a coragem que me faltou ontem, está voltando.

Quando chego a sala de café da manhã, não encontro nada. Normalmente, eles colocam as comidas em uma espécie de buffet na parede e nós mesmos nos servimos. Essa é a refeição que mais gosto aqui, pois posso pegar minha própria comida. Além disso, o senhor Mellark não toma o café da manhã conosco. Isso com certeza me deixa bem mais confortável. O café da manhã fica posto até às dez e meia da manhã.

Um empregado me avisa que hoje o café da manhã foi transferido para a piscina. Suspiro e resolvo ir pegar a minha comida.

A piscina fica em uma ala separada do resto da casa.

Normalmente, a visão de todos aqueles tipos de pães, bolos, sucos, chás, cafés, frutas, biscoitos, me deixa extremamente feliz. No entanto, isso não ocorre hoje.

Emma está sentada na borda da piscina, enquanto Cashmere se estica em uma cadeira. Tom e Gloss nadam.

― Venha, Cashmere! ― diz Tom.

― Não, quero ficar aqui ― fala de um modo preguiçoso.

― Ah, Cashmere! Mas nem um mergulho? ― insiste Tom.

― Deixe-a! ― intervém Emma, pulando na piscina. — Ela não quer estragar o cabelo!

Decidida a enfrentam valentemente os amiguinhos de Peeta, pego um prato e começo a me servir. Pego um pão, uma fatia de bolo, alguns biscoitos, morangos e um copo de suco e me sento em uma mesa afastada deles.

Começo a saborear a comida e me esqueço por alguns instantes da presença dos amiguinhos do louro oxigenado. Porém, eles logo se dão conta da minha presença.

Cashmere lança um olhar analítico para meu prato. Tento suprimir minha vontade assassina.

― Sabe, Emma, não entendo essas garotas conseguem comer tanto! ― fala com uma voz enjoativa.

Emma para de nadar e olha para Cashmere.

― Você já começou sua dieta?

― É claro, gosto de me cuidar. Você não gosta de uma garota que se cuida? ― pergunta para Tom.

― São meu tipo de garotas predileto ― fala, dando uma boa olhada no corpo de Cashmere (nem preciso mencionar o fato do corpo dela ser igual de uma modelo, que não come há dias e vive a base de luz solar).

Cashmere deitada na cadeira de praia com seus enormes peitos, sua cintura fina, suas pernas grandes, lembra uma Barbie.

― E o seu, Gloss? ― pergunta Emma.

― Também é meu tipo de garota predileto... ― lança um olhar sugestivo para o belo corpo de Emma.

Que papinho mais idiota!

― Realmente, quem não cuida de si mesma e fica comendo um monte de coisa sem se cuidar, é uma garota sem classe ― afirma Cashmere com uma voz debochada.

Já mencionei o fato de que às vezes não consigo me controlar?

― Sabe ― digo em alto e bom som. ― Eu adoro comer, agradar rapazes não é o objetivo da minha vida ― afirmo cheia de desdém.

Os quatro me olham como se eu fosse um ser estranho. Ignoro seus olhares e continuo a comer calmamente.

Cashmere se levanta e vai até a piscina, cochicha alguma coisa para Emma e os dois rapazes. Eles começam a rir. No entanto, eu engulo minha comida bravamente, contendo meu impulso de socar aqueles narizinhos perfeitos (acredito que foram obtidos na maca de um bom cirurgião).

― Será que ela vem hoje? ― fala Emma.

― Acho que sim ― diz Gloss. ― Espero que ela venha logo, sem ela isso aqui fica uma chatice!

― Céus, Gloss! Você e ela? ― fala Cashmere, o empurrando. ― Ela vai ser sua prima.

― E daí? Como ser primo de alguém impedisse algo ― olha sugestivamente para Cashmere.

― Ei, eu já disse, foi uma vez só e estávamos bêbados! ― fala em um tom alto, enfatizando cada palavra.

― Uma vez só? ― desdenha Tom. ― É claro... vou me esquecer das vezes que fraguei você saindo daquele quarto...

― Por que vocês não atormentam a Emma? O ano passado ela não saia daquele quarto!

Definitivamente, ficar aqui escutando as aventuras sexuais desses amiguinhos do louro oxigenado não é meu programa favorito. Termino rapidamente de comer e vou procurar algo para fazer.

Resolvo ir para a biblioteca. Passo parte do dia lá. Somente saio da biblioteca, quando está na hora do almoço. Os empregados me informam que os amiguinhos de Peeta somente pediram algo leve para comer na piscina. Olha só, eles comem! Pensei que vivessem de luz solar!

O senhor Mellark já está na mesa. Como sempre, educadamente, ele me indica a cadeira para que eu me sente. Fico me perguntando se Peeta irá se juntar a nós para almoçar. A resposta logo vem, quando o senhor Mellark pede para os empregados nos servirem.

― Pensei que iria comer com os outros na piscina...

― Não gosto muito de piscina... ― falo com certa rispidez. ― Gosto mais dos livros... ― tento me corrigir, percebendo o que acabei de fazer.

Ele me analisa e depois sorri.

― Meu filho deveria aprender uma coisinha ou outra com você, Katniss.

Começamos a comer em silêncio. Me sinto um tiquinho mais confortável.

Depois do almoço, novamente, me refugio na biblioteca. Pelo visto, Peeta passará o dia inteiro com seus amiguinhos. Ótimo, assim posso ler alguns livros.

Perco a noção do tempo. Me dou conta que já se passou muitas horas, quando começa a ficar escuro.

― Não vai acender as luzes? ― indaga Peeta, na porta acendendo as luzes da biblioteca. ― Normalmente, as luzes se acendem sozinhas nos outros lugares, mas as luzes da biblioteca precisam ser acessas manualmente.

Olho para ele e viro a página do livro que tenho nas mãos calmamente.

― Te procurei o dia inteiro... ― me olha.

― Se divertiu muito com seus amiguinhos?

― O que foi, Katniss?

― Nada ― fecho o livro.

― Katniss? ― me analisa.

― Vou para meu quarto.

Ele para em minha frente, impedindo que eu saia. Cruzo meus braços e o encaro.

― Não vai sair da minha frente?

― Não!

Bufo.

― Katniss... ― ele começa a falar, porém é interrompido pela porta que se abre com um grande barulho.

― Advinha quem está aqui? ― diz uma empolgada Emma.

Peeta a olha, uma expressão estranha passa por seu rosto.

― Eu!

Uma garota de longos cachos dourados que caem em cascatas por suas costas entra na sala. Ela é muito linda. Alta e elegante. Seu andar tem algo de etéreo, como se flutuasse em vez de andar.

Ela abraça Peeta de um modo bem apertado.

― Então, querido, espero que não tenha sentido saudades de sua namorada!

Namorada. Namorada. Namorada. As palavras parecem ter perdido o significado.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Eu já fiz minhas malas aqui e estou indo para um lugar seguro (antes que eu seja assassinada)... Se eu sobreviver, volto com outro capítulo ;)