Boa Sorte, Katniss escrita por Hanna Martins


Capítulo 1
Garota sem sorte


Notas iniciais do capítulo

Sejam bem vindos a "Boa sorte, Katniss". Obrigada por darem uma chance para a fic! Espero que gostem ;)



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Se há uma coisa que tenho certeza nesta vida, é que sou a garota mais azarada da face da terra. Sabe a lei de Murphy que diz que se alguma coisa pode dar errado, dará? Pois é, ela se aplica a minha vida perfeitamente. Murphy adoraria me conhecer. Eu sou a comprovação viva de que sua teoria está correta.

Estou atrasada para o colégio. Bem atrasada. Desse jeito nem vão deixar eu entrar. Tudo culpa daquele ser! Por falar nele, o cretino já foi para o colégio. A cama de baixo do beliche está vazia.

― Peeta Mellark, você é um garoto morto! ― grito. ― Isso não vai ficar assim! Ah, não vai mesmo!

Minhas coisas estão espalhadas pelo quarto (diga-se caixa de fósforos). Ele é tão pequeno que mal consigo me mexer, sério, se dou dois passos dentro do quarto, já o atravessei inteiro, minto, se eu der um passo e meio já estou do outro lado quarto.

Agora me explica como duas pessoas vão dividir um lugar deste tamanho? Ainda mais se uma destas pessoas for Peeta Mellark, o senhor dono do espaço, que acredita que tudo ao seu redor lhe pertence por natureza. Peeta Mellark deve acreditar veementemente que pertence a realeza ou algo do tipo.

Visto rapidamente meu uniforme, e saio parecendo um saci do quarto, enquanto calço meu all star. Nem tomo meu café da manhã. Mesmo com meu estômago fazendo um protesto aos berros. Resolvo ignorar o protesto dele.

No ponto de ônibus, as pessoas me olham como se eu fosse uma doida que tivesse acabado de escapar de algum hospício. Não as culpo. Afinal, se eu visse uma garota toda descabelada, com o uniforme amarrotado, correndo pela rua como se estivesse correndo atrás da última coca-cola do deserto, eu também acreditaria que se tratava de uma louca que fugiu de algum hospício.

Pego o ônibus. No entanto, não há nenhum lugar vazio, o ônibus está lotado, até tenho inveja do espaço que as sardinhas têm em suas latas.

― Ei, garota! ― grita uma mulher com enormes sacolas. ― Você pisou no meu pé!

Olho de relance para a mulher, que está furiosa, pronta para me lançar facas, espero que ela não tenha nenhuma faca naquelas sacolas. Saio rapidamente, antes que eu passe de garota mais azarada da face da terra para garota azarada morta. Vou parar perto de uma garotinha loura que segura um enorme sanduíche cheio de ketchup. Meu estômago começa a roncar. Ontem, eu nem jantei! Perfeito, sou uma garota sem sorte e com fome.

O ônibus bruscamente freia e... o sanduíche vai parar bem em minha camiseta. Ótimo!

A menina nem para me pedir desculpa. A pirralha sai de perto de mim, como se nada houvesse acontecido. Tenho que segurar para não fazer picadinho da pirralha. Olho para minha camiseta com uma enorme mancha vermelha. Agora, além de louca, pareço alguém que acabou de cometer um assassinato.

Peeta, seu desgraçado!

Chego finalmente ao colégio. Estou fedendo (acabei de pisar em um cocô de cachorro, quando estava descendo do ônibus), suja, despenteada, suada... melhor eu parar por aqui.

Pelo menos cheguei a tempo. Quer dizer, se considerar que o sinal acabou de tocar, quando eu estava passando pelo portão... Corro como se minha vida dependesse disso (na verdade, ela depende sim). Se eu não chegar na sala a tempo, serei uma garota morta, fato. A professora Enobaria é conhecida pelo seu lema: “gosto de arrancar pedacinhos dos alunos com meus dentes”. Claro que isso é uma metáfora (espero). De qualquer maneira, não quero comprovar pessoalmente se isso é uma metáfora ou não.

Sinto até a musiquinha daquelas corridas transmitidas pela televisão, tocando ao fundo, quando finalmente avisto minha sala. É isso, aí, Katniss Everdeen, você conseguiu. Entro na sala, só faltam os aplausos para a cena de corrida ficar completa. Entretanto, não recebo nenhum aplauso, em vez disso, sou saldada por um olhar sarcástico daquele traste do Peeta Mellark, que arqueia as sobrancelhas e esboça um sorrisinho debochado ao ver meu estado.

Ele está cercado pelo grupinho dos populares (por que minha sorte é tanta que a primeira aula de segunda-feira é justamente junto com o grupinho dos populares, e o pior, com Peeta Mellark?). Dá para acreditar que nem faz uma semana que ele entrou no colégio e já se transformou em um dos populares?Nunca me importei com os populares, para mim, eles sempre foram indiferentes. Tipo, eu fico em meu canto e eles no canto deles. No entanto, com eles se juntando com aquele idiota, é um pouco impossível ignorá-los.

Em volta de Peeta, há um grupo de meninas. Acredita que aquele traste tem até fã-clube?! O que aquelas garotas veem nele? Deixe-me ver... não há nada de especial em Peeta...

Começo a ir em sua direção. Pronta para fazer aquele nariz perfeito sagrar como já fiz seis anos atrás.

― Katniss! ― uma mão me puxa.

― Me deixa, Madge, tenho que partir a cara de um idiota! ― protesto.

― A professora chegou! ― avisa, indicando a porta.

Acho que vou ter que deixar minha sessão “quebrar narizes de idiotas” para mais tarde (o que é uma pena)

Dou um longo suspiro e me sento ao lado de Madge, que neste momento me analisa com um olhar intrigado.

― Não pergunte, Madge! Tudo culpa daquele idiota!

― Katniss, o que é isso na sua camiseta? ― aponta para a mancha vermelha.

― É ketchup, eu não cometi nenhum assassinato esta manhã... ainda!

Madge parece um pouco incrédula sobre a última parte. Mas, resolve voltar sua atenção para a professora Enobaria que acabou de entrar na sala. A matemática se tornou uma disciplina um tanto perigosa depois que ela passou a ser nossa professora. Você precisa sempre estar atento a aula, se quiser sobreviver ao colégio.

Madge começa a anotar o que a professora escreve na lousa. Ela é uma das poucas amigas que tenho. Na verdade, minha única amiga. Não sou uma garota muito popular... ok, não sou uma garota nenhum pouco popular. Deve ser porque estou mais preocupada com outros assuntos do que com o vestido da última estação, ou a maquiagem do último momento. Meus interesses por estes assuntos são igual a zero abaixo de zero.

Também começo a anotar o que a professora passa e tento não prestar atenção no meu estômago, que praticamente grita de fome, ou em minha raiva e vontade de bater em certo Mellark.

Ok, você deve estar se perguntando, que raios este tal Peeta Mellark fez de errado para mim. Para começar, ele existe. Nunca pensei que chegaria ao cúmulo de odiar a simples existência de alguém. Tudo naquele cara me incomoda. Tudo.

Minha inimizade com ele começou no dia em que eu o conheci. Foi no casamento de minha mãe com Haymitch, há seis anos. Aquele dia deveria ser feliz, tirando o fato de que estava usando um vestido rosa cheio de lacinhos (que minha mãe, Effie, praticamente me obrigou a vestir). Eu iria comer muito, minha mãe estava feliz. Haymitch parecia ser um cara legal. De todos os namorados que minha mãe tivera, ele era o único que não implicara com meu jeito de ser. Isso rendia bons pontos para ele. Além disso, sempre que ele ia em casa, levava uma caixa de chocolate para mim. Haymitch, com certeza, tinha minha total permissão para se casar com minha mãe. O que eu não sabia, é que no pacote Haymitch estava incluso o seu sobrinho, Peeta Mellark. Conheci a peste naquele dia fático.

Eu sabia que Haymitch, embora não fosse rico, tinha parentes bem ricos, tipo milionários. A falecida irmã de meu padrasto havia se casado com um inglês muito rico. Desse casamento nasceu a cruz de meus pecados, Peeta Mellark.

O sobrinho de Haymitch vivia em Londres, juntamente com o pai (um dos melhores amigos de Haymitch). Como ele não pudera comparecer ao casamento, mandara seu filho.

Ele chegara já com o nariz empinado e com a expressão de poucos amigos. Eu e Madge apenas ficamos analisando a figura de longe. Resolvi não me incomodar com sua presença.

Havia chovido naquele dia. Minha mãe quase tivera uma parada cardíaca com aquilo, pois o casamento seria ao ar livre. Uma cerimônia simples, mas que minha mãe se empenhara ao máximo para que fosse bastante agradável (mesmo com os poucos recursos que tínhamos). O bolo fora feito por uma de minhas tias, que olha, não é por nada não, mas seus bolos são de lamber os beiços e todos os dedos da mão. O lugar fora emprestado por um dos amigos de Haymitch, uma simpática chácara. A decoração fora cortesia da empresa onde minha mãe trabalhava na época, um buffet. Tudo ficara bem simpático.

Lá estava eu, com o meu vestido rosa com lacinhos, correndo de um lado para o outro junto com Madge. Peeta estava emburrado em um canto. Porém, ele conseguia disfarçar sua irritação dos adultos com maestria. Todos o julgavam como um garotinho simpático e educado, um verdadeiro lorde inglês. Para você ver, desde cedo, este aí conseguia enganar as pessoas, é um mentiroso nato.

Os convidados já haviam chegado e esperavam pela entrada da minha mãe. Haymitch estava usando um terno bem bonito (nunca havia visto e nem vi mais ele de terno a não ser em esta ocasião) e esperava por minha mãe no local da cerimônia.

Eu estava indo chamar minha mãe, que se preparava em um dos quartos da casa da chácara, quando fui atingida por algo e cai em uma poça de lama. Tudo o que vi foi o sorrisinho debochado daquele imbecil do Peeta Mellark. Entendi imediatamente tudo, quando vi uma bola caída em minha frente. Aquele idiota havia me jogado uma bola, apenas para ver a trouxa aqui cair e ele rir da situação. O que aquele cretino não contava era com o soco que lhe dei a seguir.

Assim, quase tivemos uma verdadeira crise, eu com o vestido rosa com lacinhos todo sujo de lama, descabelada, enquanto o nariz perfeito de Peeta sangrava e ele gritava de dor (fazer aquele idiota chorar, é uma das coisas que mais me orgulho). Minha mãe quase enfartou. Haymitch ainda teve que abandonar o casamento para levar seu sobrinho ao médico.

Horas depois, o casamento se realizou, com os convidados quase morrendo de sono, eu com uma roupa nada bonita, um vestido cinza ― foi a única coisa que conseguiram para mim, era isso ou meu vestido rosa cheio de lacinhos sujo de lama ―, e Peeta Mellark com um enorme curativo no nariz.

Depois disso ainda levei uma bronca daquelas da minha mãe, o que me rendeu longos meses sem comprar meus amados livros, nem comer a sobremesa. Tenho ou não tenho motivos suficientes para odiar Peeta?

Pensei que nunca mais o veria na vida e estava muito feliz com isso, quando há um mês, depois de obviamente Haymitch e minha mãe terem batido com a cabeça, eles anunciaram com a cara mais normal do mundo que Peeta Mellark estava vindo morar um tempo conosco. Até mesmo o pai dele não suporta mais ele! O senhor Mellark deve ter achado que era uma ideia brilhante enviar o filho para morar conosco como punição. Só não entendo o porquê do senhor Mellark querer me punir. Eu sou uma garota boazinha!

Não adiantou eu protestar, fazer greve de fome (que durou exatamente três horas e meia). Minha mãe e Haymitch estavam decididos a acolher aquele idiota.

E advinha só? Nosso apartamento é tão pequeno que me deixa com inveja das sardinhas (sim, eu morro de inveja das sardinhas). Tem apenas dois quartos, que são muito pequenos, uma sala, uma cozinha e um banheiro. Minha mãe achou que a sala seria terrível para Peeta Mellark dormir, já que o sofá torna a coluna da pessoa mais saudável na coluna de alguém de cem anos. Eu não me importo com o conforto daquela peste nenhum um pouco. Porém, minha mãe não pensa assim. Deste modo, minha cama foi substituída por um beliche, já que nem com magia cabe duas camas em meu quarto.

Eu estava tentando pegar uma doença contagiosa ou algo do tipo para impedir Peeta de ficar em nosso apartamento. No entanto, como minha sorte é muito grande, não consegui pegar nem resfriado. E, aquele trágico dia chegou.

Precisei acompanhar Haymitch e minha mãe até o aeroporto para dar boas vindas para aquele idiota. Não adiantou eu ter ameaçado furar o pneu do velho carro de Haymitch, nem ter dito que iria pular do carro em movimento. Depois de meu fracasso com a greve de fome, ninguém mais acreditava em mim. Tudo culpa daqueles chocolates! Malditos chocolates! Quem mandou serem tão gostosos?

E lá estava eu no aeroporto, tentando me teletransportar para alguma outra dimensão, quando Haymitch disse todo entusiasmado que o voo de Peeta havia acabado de chegar. Ficamos esperando quase meia hora ― meia hora de minha vida desperdiçada! ― e nada daquele inútil aparecer. Até que avistei um rapaz louro, magro, parecia mais uma vareta ambulante, com uma cara repleta de espinhas. Ora, não pude deixar de sorrir. Aquele deveria ser Peeta.

― Aquele não é o Peeta? ― perguntei para Haymitch, apontando para o garoto.

― É, ele! ― confirmou Haymitch entusiasmado.

Finalmente, a sorte havia batido em minha porta. Me sentia como um prisioneiro que vê a luz do sol depois de anos de confinamento. Aquele idiota tinha se transformado em um cara nada atraente. Era o exterior refletindo o interior. Queria ver aquele sorrisinho arrogante!

Já estava até preparando meu sorrisinho para sacanear aquele panaca, quando o garoto louro passou por nós e não parou. Estava tão focada nele, que não vi o outro garoto que vinha logo atrás. Mas, então eu o vi.

Cabelos louros que parecem ter saído de um comercial de shampoo, olhos azuis, com uma tonalidade que lembra o céu em dias de primavera... Um rosto que faria qualquer modelo morrer de inveja, um porte de atleta.

Não, aquele não podia ser Peeta Mellark. Ele sorriu e caminhou em nossa direção. Ele podia ter se enganado, não podia? Sim, era isso!

― Peeta! ― esse foi Haymitch acabando com minhas esperanças.

― Haymitch! ― disse ele sorrindo.

Aquele idiota não me enganava, podia enganar todo mundo, mas a mim não!

― Como foi a viagem? ― indagou Haymitch, enquanto ajudava aquele chato com as malas.

― Ótima! ― falou de modo malicioso, quando uma ruiva, que parecia mais uma modelo com dois metros só de pernas passou por nós.

A ruiva deu um tchauzinho para Peeta e sorriu de modo bem provocante. Céus, alguém precisava arranjar um quarto para aqueles dois!

Haymitch riu, piscando um dos olhos para Peeta.

― Lembra-se de Effie, minha esposa?

― É, claro! Nunca me esqueço de uma bela mulher ― falou de maneira galante.

Minha mãe praticamente se derramou com aquele elogio.

― E de Katniss? ― Haymitch apontou para mim.

Peeta me lançou um rápido olhar.

― Não.

Mas eu lembrava, como lembrava! E tinha certeza que ele também lembrava, pelo menos o nariz dele lembrava.

Foi preciso muito esforço para fazer a bagagem de Peeta caber no velho carro de Haymitch. Queria só ver onde ele colocaria tudo aquilo em nosso minúsculo apartamento. Durante todo trajeto até nosso apartamento, Peeta conversou com minha mãe e Haymitch. Enquanto eu fazia um esforço supremo para dizer a mim mesma que tudo iria acabar um dia.

Depois de um tempo interminável, finalmente chegamos no prédio em que moramos. O prédio é pequeno e velho. Possui apenas sete andares. Moramos no sexto. Moro lá desde que me conheço por gente. Quase sempre o elevador está quebrado, por isso virei uma especialista em subir escadas. Porém, Peeta Mellark estava longe de ser um especialista nesta arte, foi bem divertido vê-lo carregando aquelas malas enormes, enquanto fazia verdadeiros malabarismos para subir os degraus.

― Aqui estamos! ― falou Haymitch, enquanto abria a porta do apartamento.

Por um segundo vi a cara de pavor de Peeta. Deveria ser apavorante para alguém que morava em uma mansão, repentinamente vir parar em uma caixa de fósforos. No entanto, ele conseguiu disfarçar rapidamente sua expressão, ninguém notou além de mim. É assustador o modo que ele pode mudar de expressão em questão de segundos. Ele seria um ótimo ator. Aposto que até ganharia um Oscar por sua atuação.

Peeta entrou no apartamento calmamente, como se fosse o dono do lugar.

― Onde coloco minhas coisas?

― Ali! ― minha mãe apontou para meu quarto. O quarto que eu dividiria com Peeta. ― Você pode escolher com qual cama do beliche vai ficar ― disse sorrindo.

Nem mesmo ele foi capaz de esconder uma careta de estranheza.

― Você vai dividir o quarto com Katniss ― explicou minha mãe ainda com o sorriso no rosto.

Peeta imediatamente me olhou. Dava para ver na cara dele que não gostou nada, nadinha da novidade. Com certeza, ele precisou fazer um esforço tremendo para não começar a protestar.

― Espero que goste de seu quarto, Peeta. Katniss, mostre o quarto a ele ― pediu minha mãe.

Concordei. Seria divertido ver a máscara de bom moço de Peeta cair.

― Aqui está! ― disse, abrindo a porta do quarto.

Ele deu uma boa olhada antes de entrar, minha mãe ainda estava o observando (Haymitch havia ido a cozinha), por isso ele não podia demonstrar seus sentimentos verdadeiros.

― Você deve estar morrendo de fome, Peeta! Vou fazer um lanchinho para você ― disse ela, indo para a cozinha.

Ele entrou no quarto. Entrei atrás, não queria perder isso. Peeta continuou sua inspeção silenciosa. Cada centímetro de meu quarto foi avaliado por seus olhos.

― A coisa é pior do que eu pensei... ― disse em voz baixa, mas alta o suficiente para que eu ouvisse.

― Está reclamando do quê? ― digamos que ouvir calada não está nas listas de minhas virtudes.

― Ei, tampinha, eu não estou falando com você!

Tampinha? Tampinha? Ok, eu não sou a pessoa mais alta do mundo... na verdade, sou bem baixinha... digamos que cresci pouca coisa depois dos meus doze anos. Mas detesto que fiquem falando da minha altura.

― Louro oxigenado, este quarto é meu! Não vem falar mal dele, não!

― Tampinha, saiba que sua mãe me disse que este quarto também é meu! ― retrucou de uma maneira arrogante. Controlei minha vontade de arrebentar seu nariz, como eu fiz quando tínhamos onze anos. Minha mãe teria um treco, se eu acabasse com o perfeito nariz daquele idiota.

― Louro oxigenado, este quarto antes de ser seu, é meu! ― disse o encarando. ― Você que é o intruso aqui! ― falei de um modo ameaçador. Às vezes, temos que demarcar o território. ― E eu fico com a cama de baixo.

Para que eu falei aquilo? Peeta imediatamente se sentou na cama.

― Não, eu fico! Você fica com a de cima.

Aquilo era demais! Minha mãe que me perdoasse, mas já havia passado da hora de eu dar um jeito naquele louro oxigenado. Me preparei para dar um soco nele, quando a porta se abriu. Era minha mãe com uma bandeja contendo sanduíches e suco de laranja.

― Ah, vejo que já acertaram sobre a cama. Fico muito feliz que fizeram isso de maneira civilizada!

― É, claro, Effie! ― falou Peeta, sorrindo. O sorriso mais inocente e simpático possível.

E assim, eu tive que me contentar com a outra cama. Não queria despertar o lado Effie, a furiosa. Minha mãe pode ser bem assustadora, quando está zangada. Não se engane com sua maneira simpática e sorridente, em seus momentos de raiva até mesmo Haymitch corre como se não houvesse amanhã.

Minha sorte só está indo de mal a pior, deste que aquele idiota se instalou em nosso apartamento.

Hoje, aquele idiota deve ter desligado o despertador me fazendo acordar super tarde. Mas, amanhã eu vou me vingar dele... Ele que espere! Quem mandou mexer com Katniss Everdeen?

Estou tão envolvida em meus planos de vingança, que Madge precisa me cutucar para me trazer de volta a realidade.

― Ei, Katniss!

― O que foi?

― A aula já terminou...

― Aham...

Vejo Peeta saindo tranquilamente da sala, acompanhado de sua gangue. Estava disposta a lhe dar um soco, mas o plano que tenho em mente é muito melhor. Deixo escapar um sorrisinho.

― Katniss, você está me assustando!

― Quem precisa ficar assustado é Peeta...

― O quê?

― Nada, não. Tenho que ir para a próxima aula.

Pego minhas coisas e vou para minha aula de história medieval. Passo o resto do dia arquitetando meu plano. Além, é claro, de ficar recebendo olhares estranhos devido ao meu estado. Até me perguntaram, se eu tinha cometido algum assassinato, vê se pode!

Peeta chega em casa tarde da noite. Sei lá onde ele estava. Deveria estar com um dos seus novos amiguinhos.

Vou para o quarto primeiro, enquanto ele fica na sala assistindo televisão com Haymitch e minha mãe. Não sei quando Peeta foi para o quarto, já que acabei dormindo primeiro.

Acordo bem mais cedo que ele. Preciso preparar tudo. Com as coisas prontas, volto para o quarto, ele ainda dorme. Perfeito. Minha mãe e Haymitch já foram trabalhar.

Sem dó, nem um pingo de piedade, jogo o balde com água e gelo nele.

A cara de Peeta é impagável. Eu deveria ter filmado tudo e jogado no YouTube. Com certeza, até lucraria algum dinheiro com isso.

― Sua louca! ― grita.

― Vai acordar os vizinhos ― falo sarcasticamente, sem esconder meu sorriso de vitória.

― O que foi que eu te fiz? ― diz ele tremendo, não sei se de raiva ou de frio.

― Existir para começar! E ontem, você desligou o despertador e me fez chegar quase atrasada no colégio! Você nem tem ideia pelo que eu passei! Se fizer algo parecido novamente, faço pior!

Ele dá os ombros.

― Aquilo foi apenas um presentinho por você roncar durante o sono e nem me deixar dormir!

― O quê, seu louro oxigenado? Eu não ronco!

Ele ri.

― Isso vai ter volta! ― diz, enquanto passa a mão pelos cabelos molhados.

Dou os ombros e começo a sair do quarto. No entanto, não completo a ação. Havia me esquecido da ridícula poça da água no chão. No entanto, ela não se esqueceu de mim. É o que constato ao cair de cara no chão.

Peeta apenas lança seu risinho sarcástico em direção a mim, levanta-se da cama e vai para o banheiro trocar de roupa, enquanto eu fico toda molhada deitada no chão.

Eu odeio a minha sorte. Odeio!


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Notas finais do capítulo

O que acharam da fic? Devo continuar? Deixem um comentário dizendo o que acharam.