Acordei de súbito quando Aoi abriu a porta do carro. Ele olhou pra mim com gentileza e estendeu a mão para me ajudar a sair. Eu aceitei agradecida e sai do carro, olhando em seguida para minha mochila no banco traseiro.

"Entre e descanse Ojou-sama. Levarei suas coisas para dentro em seguida." - sorri para ele com um misto de gratidão e constrangimento. Não estava acostumada à forma que os criados me tratavam. Era difícil para uma pessoa comum de um dia para outro ser tratada por Ojou-sama ou Hime ou Rin-sama. Às vezes acho que eles me provocam de propósito.

Ando em direção à entrada já despida de minha gravata com meu primeiro botão da camisa aberto. Apesar das férias de verão já terem acabado, o calor ainda estava insuportável, ainda mais de dia. Ou talvez eu sentisse isso apenas por ter me tornado mais um membro do clã da noite.

Yuui disse que a maioria dos vampiros quase não se atrevia a sair no sol, quem dirá passar quase o dia inteiro na rua.

Nós havíamos saído juntos pelo sol várias vezes durante o tempo em que eu tentava convence-lo de que eu deveria voltar para a escola.

"Você só se mantém em pé por pura teimosia" - ele disse enquanto tocava meu rosto por baixo dos grandes óculos escuros que eu estava usando, assim como a sombrinha cheia de babados que segurava com a mão esquerda. Ichigo, a garota que havia sido designada como minha criada pessoal fez questão de me entregar ambos todas as vezes que saí de casa. Aquele dia nós dois caminhávamos pelo parque da cidade e me segurava o máximo que podia para não demonstrar fraqueza. Yuui era extremamente super protetor comigo.

Joguei minhas lembranças para um canto da mente quando a porta da mansão foi aberta para que eu entrasse.

"Hime, você deve estar exausta!" - Ichigo olhou para mim com preocupação nos olhos. Ela era extremamente pequena - ainda mais do que eu. - tinha os cabelos castanhos bem claros, cacheados e curtos, terminando logo abaixo de suas orelhas. Seus olhos eram de um impressionante tom violeta. Ela me disse que às vezes ao entrar no clã da noite, a cor que seus olhos tinham quando humana se mesclava com o vermelho que adquirimos ao sermos transformados. Como meus olhos eram cinzentos, imagino que o processo comigo aconteceu como em uma imagem para colorir: meus olhos ficaram com um tom rubi quase tão profundo quando os de Yuui.

Assim como eu, Ichigo era humana até ser transformada, no caso pela mãe de Yuui. Mas ao contrário de mim, ainda era uma serva.

Descobri que isso só significava que ela não poderia trair ou fazer qualquer mal a um membro da família Mugetsu, não poderia desobedecer a ordens nem mentir em qualquer grau. Mais uma vez fico feliz por Yuui ter me liberado disso.

"Vou preparar seu banho em um instante. Gostaria de comer alguma coisa antes?"

"Yuui já chegou? Queria apenas falar com ele." - Yuui havia saído ainda mais cedo que eu para uma reunião e mal tinha conseguido falar com ele. Tudo o que eu queria era ver seu rosto e beijar seus lábios.

"Sim, ele está no escritório. Mas..." - não deixei Ichigo terminar e me dirigi para o aposento abrindo a porta sem bater.

"Yuui, por que você ainda não subi..." - eu me calei ao perceber que alguém tapava minha visão.

O homem em minha frente era alto, então meu nariz quase bateu no meio de seu peito. Subi meu olhar e encarei seu rosto que era pálido como o comum de nossa raça e extremamente sério. Tinha os cabelos negros compridos amarrados de forma elegante num rabo de cavalo baixo. Seus olhos eram de um vermelho tão escuro que pareciam pretos e eram extremamente expressivos. Eu tinha alguma experiência em observar pessoas para saber que ele estava angustiado e o clima da sala estava sério e pesado.

"Sinto muito não sabia que estavam em reunião." - ele olhou em meus olhos, se curvou pra mim e disse.

"Descanse sua mente minha dama, já estou de saída." - retribuí seu cumprimento e ele se dirigiu a saída.

Eu entrei na sala e andei até a mesa de Yuui que estava perdido em pensamentos.

"Um doce pelos seus pensamentos." - disse me sentando em sua mesa e tocando seu rosto. Ele olhou pra mim é me deu um sorriso vazio.

"Olha, tem uma colegial fofa em cima da minha mesa." - ele tocou meu joelho e me puxou para um beijo suave. Eu retribuo com carinho.

"Você precisa descansar.” - boa parte do animo que sempre havia em seu rosto havia se esvaído. "E se alimentar."

"Eu vou." - ele me puxa para perto e abraça minha cintura. Yuui era tão alto e eu tão baixa que quando eu estava em pé e ele sentado seu rosto alcançava a parte mais baixa de minha clavícula. Ele me deu um beijo em minha pele exposta pela camisa aberta. - "Pra falar a verdade, agora eu só queria te abraçar e dormir sentindo seu cheiro. Hoje foi realmente um dia muito longo."

Eu beijei o topo de sua cabeça.

"Vou te deixar por um momento para tomar banho. Te encontro em sua cama?"

"Isso é um convite?" - ele sorriu pra mim, mas ainda o senti distante.

"Claro." - beijo levemente seus lábios. - "Espero que você me conte o que está te incomodando." - ele apenas sorri.

"Estou só cansado."

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Quando chego ao seu quarto quase meia hora depois o encontro sentado em sua cama com sua usual calça de pijama e uma toalha em seu cabelo que escorria levemente ainda molhado, as gotas de água deslizando pelas suas costas nuas. Eu ando até ele e paro em sua frente. Quando seguro sua toalha ele levanta seu rosto e olha pra mim. Sorrio para ele e seco seu cabelo gentilmente. Quando termino eu coloco a toalha de lado e penteei o seu cabelo. Ele ficou em silêncio enquanto eu cuidava dele. Sentei ao seu lado e o fiz se deitar em meu colo.

"Vai me contar o que há de errado?" - eu digo enquanto acaricio seus cabelos lisos. Ele pega a ponta de meus cabelos como costuma fazer.

"Não é nada demais. Apenas recebi algumas notícias perturbadoras." - ele se sentou e ficou frente a frente comigo. Me puxou e nós dois deitamos com ele me abraçando bem forte e olhando em meus olhos. - "A pessoa que estava em reunião comigo me informou de algo terrível que aconteceu com alguém importante para ele. Não pude deixar de pensar no que faria se tivesse acontecido comigo." - ele me beijou profundamente. - "Claro que não vou deixar nada disso acontecer contigo."

Eu o abraço o beijo novamente.

"Não pense nisso agora. Vamos descansar. Foi um dia longo. À noite a gente conversa corretamente." - ele me abraça mais perto e entrelaça suas pernas nas minhas. Esconde seu rosto em meu pescoço e sussurra levemente.

"Você me mima demais." - ele beija meu pescoço - "Quando acordarmos eu provavelmente não vou querer conversar."

"Não me importo em fazer o que você quiser então." - digo e o sinto sorrir. - "Eu amo você."

"Eu sei disso. Eu te amo mais, Rin." - eu o sinto sorrir e adormecer quase imediatamente em meus braços. A noite provavelmente traria assuntos difíceis, mas com ele não teria problema nenhum. Me sentia bem por poder retribuir ao menos um pouco todas as vezes que ele cuidou de mim.

Escondo meu rosto em seus cabelos e espero ser levada para o mundo dos sonhos.