Sasuke

O escuro da noite predominava a sala de estar deixando tenebrosa misturado ao ar gélido da temperatura. As garrafas de bebidas alcoólicas estavam jogadas sobre o carpete do chão, enquanto eu me encontrava caído sobre o sofá bêbado e desalentado.

Não sei ao certo, mas pelas minhas contas já se faziam uns dez dias que eu não os via, e exatamente quatro dias que eu cheguei de viagem. Quando entrei em casa e encontrei a casa vazia eu queria estar enganado dizendo a mim mesmo que tudo não passava de um pesadelo.

Ledo engano!

Larguei as minhas malas no chão e subi de dois em dois degraus pela escada até chegar rapidamente ao meu quarto, onde eu avistei o guarda-roupa aberto e o lado da Sakura vazio. Os cabides largados sobre o colchão. No quarto dos meus filhos a mesma coisa. Sakura me abandonou e cumpriu com o que disse.

Mas como eu poderia recriminá-la, sendo que, ela tinha todo o direito do mundo de agir dessa forma após as palavras que dirigi a ela.

Eu sou um tolo!

O telefone começou a tocar, porém meu corpo não se movia para ir atender, além de que eu tinha a certeza de que não era ela.

Ignorei!

Sakura não me ligaria para saber como eu cheguei de viagem, dizendo que foi apenas passar uns dias fora, enquanto eu viajava e que já estava voltando para casa com os nossos filhos. Tolice pensar que ela voltará.

No entanto a pessoa que estava ligando era persistente e não desistia, já se passaram uns três minutos e o telefone continuava a tocar.

Me levantei bufando irritado, mas apenas para pegar outra garrafa de uísque.

O telefone que se foda!

Passou-se uns dez minutos até que a campainha começou a tocar também.

Caralho! Não posso ficar em paz, degustando da minha solidão, sem que ninguém me interrompa?

Caminhei furioso para atender quem quer que fosse com o meu mal humor. Apesar da minha fúria me surpreendi ao ver uma cabeleira loira, com malas na minha porta e ao seu lado estava sua esposa. Mas o que ele estaria fazendo aqui?

— Sasuke estou tentando falar com você tem mais de meia hora. Porque não atendeu o telefone? – Naruto me questionou visivelmente irritado, se eu me importei? Nem um pouco.

Abracei a mim mesmo, pois o vento gelado da rua estava me congelando. Sair para atender alguém em sua porta em tempo de neve, sem roupa adequada não é uma boa escolha.

— Entra logo dobe, está frio aqui fora. – entrei e dei as costas a eles, sem respondê-los.

— Onde está a Sakura e as crianças? – Hinata perguntou, quando os dois já estavam na sala. Eu estava deitado novamente no sofá, virando no gargalo o meu uísque.

— Sasuke o que está acontecendo aqui? Sua casa está imunda, o chão cheio de garrafas de bebidas alcoólicas, você não atende o telefone, as crianças e nem a Sakura parece estar em casa.

Bela avaliação meu amigo.

Fiquei em silêncio sem responder a nenhum dos dois, estava a fitar um ponto fixo no teto me relembrando do porquê da Sakura ter me deixado.

Fui um estúpido com ela, disse coisas que não se deve dizer em voz alta, ainda assim o que eu poderia fazer?

Meu medo de me aproximar das pessoas e amá-las para depois perdê-las é muito grande, porém, a questão é que eu sinto a falta deles.

O Sato me pedindo para brincar com ele, tentando de alguma forma chamar a minha atenção, sendo sempre o melhor da classe onde estudava. Assim, como eu era com o meu pai, que sempre se dedicava exclusivamente ao Itachi. Eu tentava a todo custo chamar a sua atenção.

Sarada sempre bagunçava a casa inteira e onde eu passava tinha um brinquedo dela. Aquilo me irritava, mas hoje andando por estes corredores me sinto um completo idiota por ter recriminado tanto minha pequena que apenas se divertia, enquanto o pai desnaturado passava o dia todo confinado em um escritório.

Sakura! Como me faz falta. Chegar em casa e encontrá-la me esperando, não existia coisa melhor no mundo, mas apenas percebi tarde demais o quão importante ela é na minha vida.

Joguei a garrafa de uísque no chão, pousei meu braço em cima dos meus olhos e sem olhar para nenhum deles respondi a sua inquisição, sem nenhum traço de humor na face.

— Ela foi embora… E levou as crianças.

Silêncio… Nenhum dos dois se atreveu a dizer nada.

— Mas… Porque? – Naruto questionou depois de um tempo.

Nada respondi, permaneci em silêncio, absorvendo a sua pergunta, me questionando mentalmente o porquê de ter proferido tais palavras a pessoa que me ama.

— E onde ela está? – Hinata me perguntou. Ainda sem olhá-los, respondi.

— Não sei…

— Como não sabe? – Naruto levantou a voz para mim. —Você não foi atrás dela?

— Não. – disse simplesmente.

— Você é um idiota Sasuke. Vou ligar para ela. – o vi andando de um lado para o outro da sala, com o celular na orelha, tentando inutilmente falar com a Sakura. — Droga! Está desligado. O que você aprontou teme?

Certas perguntas eu me recuso a responder.

— Você deve ter feito algo muito grave para ela ir embora dessa forma. E ainda por cima não vai atrás dela?

— Eu acho que sei onde ela está. – Hinata se pronunciou, desviei a minha atenção a ela.

— E onde seria esse lugar? – indaguei, tentando não demonstrar o meu interesse em sua resposta.

— Sakura e eu fomos amigas na infância. Quando os pais dela faleceram deixaram a casa do campo para ela. Sakura não gostava de ir até lá, pois a lembrança dos pais era muito forte, porém quando ela se sentia muito sozinha era para lá que ela ia.

Fiquei abismado por eu ser o seu marido e não saber disso. Mas eu sabia a resposta para isso também. Sou seu esposo, mas nunca me interessei realmente na vida dela. Apenas usei o amor dela por mim para cumprir o meu dever com o meu pai.

— Você sabe onde é a casa Hina? – Naruto a perguntou.

— Sim, podemos ir lá agora mesmo se quiserem.

— Sim, iremos, mas antes o Sasuke vai tomar um banho e se trocar. Você não pode chegar lá nessas condições perante os seus filhos. Você está cheirando a uísque, Sakura ficaria arrasada. — Naruto me recriminou.

Eu iria questioná-lo, mas pela primeira vez em toda a minha vida ouvi o seu conselho e subi as escadas. Terminado o banho vesti uma roupa de inverno, pois estava muito frio lá fora e guardei algumas mudas de roupa em uma mala.

Lá na sala o loiro e sua esposa me esperavam para me levar até ela. A mulher que roubou o meu coração.

Sakura

Aquela tarde estava muito gélida, ainda que nessa casa de campo tenha uma lareira eu e meus filhos colocamos um colchão em frente a ela e estamos nos aquecendo com o fogo.

Essa casa de campo é bem afastada da cidade, no interior, pouco mais de duas horas de viagem de Tóquio. Estar nesse lugar onde os meus pais passaram seus últimos momentos vivos me remeti a muitas lembranças. Apesar disso seria o único lugar onde o Sasuke não nos encontraria. Não que eu não quisesse vê-lo, mas suas palavras ainda invadem a minha mente.

Eu sempre estive ao seu lado em todos os momentos, sempre apoiando ele nas suas atitudes, mas não dessa vez. Já relevei muita coisa ao seu lado, porém dessa vez foi diferente. Ele praticamente confessou que me queria longe da vida dele.

O fogo dançava de um lado para o outro em um ritmo sincronizado. Meus pequenos estavam deitados com a cabeça apoiada nas minhas pernas, cobertos por um edredom. Já os meus pensamentos voavam para longe e para perto ao mesmo tempo.

Mesmo que eu me lembrasse de Sasuke a forte presença dos meus pais naquela casa me deixava melancólica, a única coisa que me trazia de volta a realidade era meus pequenos que dormiam tranquilos no meu colo.

Desde que viemos para cá não compramos os enfeites de natal. Prometi a eles que amanhã iríamos. Eles me questionaram o porquê de estarmos aqui nessa casa e longe do papai. Fiz o que mais odiava na vida, menti. Disse a eles que Sasuke viajou e assim que voltasse viria para cá conosco para passarmos o natal juntos.

Me ajeitei no chão com Sato e Sarada para debaixo das cobertas e deixei finas lágrimas percorrerem a minha face, pois eu sentia muito a falta dele, mas sua frieza me distanciava cada vez mais de si.

Quando estava quase pegando no sono a campainha toca. Estranhei, pois ninguém sabia onde eu estava.

Antes que meus filhos acordassem fui ver rapidamente quem era. Ao abrir a porta não contive a minha surpresa.

— O que faz aqui Sasuke? – perguntei apreensiva e irritada por ele ter me encontrado.

— Sei que não tenho esse direito, mas vim te pedir uma segunda chance. – ele me respondeu tranquilamente com um olhar misterioso. — Uma segunda chance para nós, Sakura. – a cada dia me surpreendo mais com suas atitudes.