Everything's Better With You escrita por Maremaid


Capítulo 4
03 - A vida é um jogo muito, muito imprevisível


Notas iniciais do capítulo

Waaaazzaaa!

Tudo bem com vocês? Eu vou bem, obrigada por perguntarem u.u

Bem, não tenho nada para falar agora. Então, apenas curtam o capítulo.

Boa leitura!



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Prós e contra de ser a garota nova na escola

PRÓS:

1- Eu não sou obrigada a cumprimentar as pessoas no corredor, afinal, não conheço ninguém mesmo.

2- Se eu chegar atrasada na aula, posso dizer que não estava achando a sala.

3- As pessoas não sabem nada sobre mim. Ou seja, nada de perguntas constrangedoras relacionadas com a minha vida pessoal e/ou amorosa.

4- A oportunidade de tentar passar despercebida no meu último ano escolar.

CONTRAS:

1- As pessoas te encaram como se você fosse um ser de outro planeta. (Que foi, nunca viram uma aluna nova antes?)

2- Dificilmente, alguém acerta o meu nome de primeira. Não sou Stephanie, nem Stefany e muito menos Stephany! É Stefanie. S-T-E-F-A-N-I-E!

3- E quando não sabem meu nome, sou conhecida como “loira”. Céus, odeio que me chamem assim!

4- Eu não faço a mínima ideia do que servem no refeitório. Vai que a comida é pior do que da minha antiga escola? Eca!

5- Tenho que procurar matérias optativas que me interessem, pois sou obrigada a fazê-las. Sim, o nome é “optativa”, mas você não tem a opção de não fazer.

6- Não tenho um carro, então dependo de Avery para me dar carona. Argh!

***

Bocejei pela quinta vez desde que havia sentado à mesa para comer. Apoiei minha cabeça com a mão esquerda, enquanto que com a direita, eu enfiava mais uma colherada de cereal na boca.

Estava me concentrando ao máximo para não dormir em cima da tigela e derramar todo o meu Froot Loops e o leite na mesa. Apenas por três motivos: 1) Eu teria que limpar a sujeira depois; 2) Ficaria toda molhada e grudenta; 3) Me atrasaria para o primeiro dia de aula.

Jill havia deixado um bilhete pregado na geladeira, avisando que teve que sair mais cedo para resolver umas coisas na escola. Não, não era a mesma escola que eu iria frequentar. Ela dava aula de Estudos Sociais para alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental na Singleton Elementary School.

Ela devia ter muitas coisas para fazer, pois nem havia deixado nada pronto para comermos. E essa era a razão de eu estar comendo cereal. Droga, ela estava fazendo uma falta agora!

Eu tinha que admitir: ela cozinhava muito bem. Os waffles dela eram simplesmente de outro mundo.

Outra pessoa que caiu da cama foi Avery. Quando eu saí do meu quarto, ainda de pijama, coçando os olhos para afastar o sono, ela já estava saindo do banheiro, de roupão e com os cabelos castanhos perfeitamente arrumados. Eu não entendia como ela demorava tanto para arrumar aquele cabelo que já era liso.

Meu pai também não estava mais em casa quando eu acordei, mas isso não me surpreendeu. Era a mesma coisa quando eu era criança. Ele saia quando eu e Savannah ainda estávamos dormindo e só chegava na hora do jantar. Sinceramente, não sei o que ele tanto faz naquele consultório odontológico. Ele não deveria ser um dentista tão requisitado assim para tem uma agenda tão lotada, não é? Não que eu me importasse com isso. Quanto menos eu o visse este ano, melhor.

Avery estava sentada no outro lado da bancada, terminando de comer a sua salada de frutas.

Sabe aquele tipo de garota que diz que tudo engorda e fica contando calorias? Então, essa é Avery Lancaster. Aparentemente, ela se esforçava bastante para manter o seu corpo de vareta.

Bom, eu sou completamente o oposto. Eu não ligo se a comida é gordurosa, cheia de carboidratos ou calorias, se for gostosa eu vou comer e fim. Claro que eu tenho uma vantagem: eu como — absolutamente — de tudo e não engordo uma grama. Meu pai é igualzinho, puxei isso dele, felizmente uma coisa boa que ele me passou, já que os olhos claros não foram possíveis.

— Come mais rápido, Stef! — Avery levantou do banquinho e se dirigiu a pia. — Vamos acabar nos atrasando para a aula.

Olhei de relance para o relógio quadrado que estava na parede, bem ao lado da geladeira.

— Fica tranquila, ainda é cedo — respondi, brincando com a colher.

— Mas hoje é o primeiro de aula! Você ainda precisa passar na secretaria e pegar suas coisas. Além disso, tenho que passar na casa da Kacey antes.

Por quê? — perguntei, com a boca cheia de cereal.

— Porque ela vai conosco, oras! — respondeu, como se aquilo fosse óbvio.

— Sei que vocês são amigas, mas não precisam fazer tudo juntas também.

— Não é isso, é que... Kacey não sabe dirigir.

— Então ela deveria aprender — aconselhei.

— Não é assim tão fácil — ela suspirou. — Olha, eu vou te contar algo, mas não diga nada para Kacey.

E por que eu iria falar algo para ela? Eu mal falo com a garota.

— Uhum.

— Ela estava fazendo autoescola nas férias. Durante o exame final, ela ficou nervosa e atropelou uma caixa de correio. Seus pais tiveram que pagar uma nova para os proprietários. Agora ela não quer tentar de novo.

Que drama. Foi só uma caixa de correio.

— Ela acha que na próxima vez pode acontecer algo pior.

— Diga para ela treinar no videogame. O máximo que vai acontecer é ela bater o carro ou atropelar alguns pedestres, mas garanto que ninguém vai sentir dor.

— É sério, Stef — ela cruzou os braços.

— E quem disse que estou brincando? — perguntei.

Ela revirou os olhos, mas disse nada a respeito.

— Eu vou pegar minha bolsa no quarto. Não demore — e sumiu da minha vista.

Terminei de comer o resto do cereal e lavei minha tigela. Depois, subi para escovar os dentes. Avery devia ter adivinhado que eu estava no banheiro, porque deu duas batidinhas na porta e disse que me esperaria na garagem. Dei uma batida em resposta, para dizer que havia entendido.

Desci as escadas correndo e peguei minha mochila em cima do sofá. Por sorte, eu já havia comprado o meu material escolar antes de saber que ia morar aqui, então não precisei comprar nada quando cheguei. Abri a mochila só para conferir se não havia esquecido nada. Suspirei, lembrando o que me aguardava.

Ir para uma escola nova no último ano escolar, era igual morrer na última fase do jogo e ter que começar tudo de novo. Claro que você já tem certa experiência e sabe como lidar com quase tudo, mas sempre aparece algo novo que pode te deixar confuso.

E, sinceramente, eu não estava nem um pouco a fim de jogar essa porcaria de jogo tudo de novo. Afinal, era a vida real, eu não podia simplesmente dar “pause” quando bem entendesse. Sem falar que se eu fizesse algo errado, não poderia começar tudo de novo.

Eu só tinha uma vida. Uma chance de fazer tudo certo desta vez.

E eu pretendia não falhar.

***

Antes de entrar no — nada chamativo — VW New Beetle amarelo de Avery, tive que escutar ela falando sobre as regras básicas do veículo. O que podia e o que não podia fazer dentro do carro.

Se eu realmente prestei atenção no que ela disse? Não. Se eu fingi que prestei e balancei a cabeça toda vez que ela olhava para mim? Sim.

Paramos na casa de Kacey, que já estava nos esperando na varanda. Ela ocupou o banco do carona e me cumprimentou com um sorriso. As duas começam a falar de como estavam ansiosas para o começo do ano letivo.

Sério, o que os moradores de Shakopee tomam no café da manhã para serem assim tão alegres a essa hora da manhã? Por favor, me diga o que é, porque eu não quero tomar.

E quando eu achei que não podia piorar, adivinhem? É, piorou!

Avery e Kacey resolveram colocar um pen-drive no som do carro e começaram a cantar. E elas não seriam o tipo de fortes candidatas para o The Voice, The X Factor ou qualquer outro concurso que busca novos talentos musicais. Se é que vocês me entendem...

Certo, será que se eu me jogar pela janela do carro, vou me machucar muito?

Ok, possibilidades: A) Talvez eu quebre um braço ou uma perna, ou B) se eu tiver mais azar ainda, acabo sendo atropelada por um carro que está vindo atrás.

É, acho que prefiro aturar essa tortura, ficar viva e ­— principalmente — inteira.

Isso é tudo culpa do meu pai. Sim, dele mesmo!

Se ele tivesse me deixado pegar o ônibus escolar, como eu sugeri, não teria ter que ouvir a “Desafinada I e II” cantando. Mas, não, Gregory Howard tinha que tentar bancar o bom pai e dizer: “Não vou deixar você andar sozinha por uma cidade que mal conhece”. Qual é, até parece que eu ia me perder! Afinal, GPS serve para que mesmo? Ah, espera... Para não se perder!

Sem falar que eu estou em uma cidade pequena. Não tem como eu me perder aqui nem se eu tentasse.

Após alguns minutos torturantes ao som de Taylor Swift falando de suas desilusões amorosas, finalmente avistei a escola. Cheguei a ficar feliz, e isso que eu nem estava animada para ir à escola hoje.

O prédio principal tinha um estilo simples, mas bonito, feita de tijolos marrons. Era de três andares, com janelas retangulares grandes e uma ampla área verde à frente. Ao lado dos degraus, que levavam ao local, havia uma estátua de pedra, que não consegui identificar de quem era.

Avery passou pelo prédio, entrando em uma área que tinha uma placa vermelha escrita “Bem vindos ao Masterson High School” e estacionou o carro na frente de uma árvore grande. Ainda era bem cedo, pois o estacionamento estava praticamente vazio.

Saí do carro, tomando cuidando para não bater a porta com força. Avery devia ter falado algo sobre isso, mas como eu não havia prestado atenção nela, não tinha certeza.

— Hm, estou indo. Vejo vocês depois — respondi, ajeitando a alça da mochila nas costas.

— Quer que nós vamos com você? — perguntou Avery, dando uma de prestativa.

— Não precisa.

— Tudo bem — ela parecia estar desapontada. — Certo, nos encontre aqui dez minutos depois da aula terminar para irmos embora.

— Ok.

— Boa aula! Espero que você goste daqui — Kacey sorriu.

— Obrigada — respondi — Tchau.

— Tchau! — as duas disseram juntas e acenaram como se tivessem combinado.

***

Assim que cheguei ao prédio principal, logo achei a secretaria, já que era a primeira porta à direita. Quando entrei, dei de cara com um escritório pequeno, com paredes em um tom de amarelo claro. A salinha de espera tinha cadeiras vermelhas de plástico, daquelas que ficam três grudadas umas nas outras. No intervalo de cadeiras, tinha um pequeno vaso de planta. E logo acima, um grande quadro cheio de avisos. A sala era dividida no meio por um balcão, comprido, de mogno e havia uma garota de cabelos lisos, compridos, da cor vermelho-fogo, na sua frente. Ela usava um vestido florido e botas de cano alto, conversava com a moça que ocupava uma das duas mesas do outro lado.

As duas pareciam tão concentradas na conversa que nem olharam quando eu cheguei. Resolvi sentar em uma das cadeiras para esperar.

­— Por favor! — a garota de cabelos vermelhos pediu, ficando na ponta dos pés e debruçou-se sob a mesa.

A moça demorou a responder, mas como ela estava do outro lado do balcão, não consegui saber por quê.

— Srta. Lewis — começou e o tom de sua voz demonstrava tédio —, eu já disse que está proibido colar anúncios no mural que não tenham qualquer vínculo com os eventos da escola.

— Quem criou essa regra idiota? Ano passado todo mundo colocava o que bem entendia naquele mural! E olha que tinha muita besteira lá!

— Justamente por causa de disso, que o conselho de professores resolveu proibir que os alunos pregassem anúncios pessoais.

— Ok, eu entendo — a garota suspirou. — Mas isso é injusto com os demais alunos que não fizeram nada de errado. Vocês poderiam, pelo menos, analisar os anúncios antes.

— Parece que algum professor propôs isso, mas o diretor não aprovou. Ela disse que não tinha tempo a perder com isso.

— Se fosse algo relacionado com o show de talentos, ele arrumava um tempo — ela comentou.

— Sinto muito, mas não posso fazer nada a respeito.

— Tudo bem, sei que a culpa não é sua — a garota colocou o seu tal anúncio, que estava em cima do balcão, de volta na bolsa. — Obrigada mesmo assim.

— De nada. Tenha um ótimo dia na Masterson High School!

— Para você também — a garota murmurou. Ela olhou de relance para mim, antes de sair da sala.

Fui até o balcão e a moça olhou para mim.

— Posso ajudá-la?

Ela não deveria ter mais de vinte e cinco anos. Tinha cabelos negros e longos que contrastavam com a sua pele muito branca. Um piercing na sobrancelha direita e a orelha cheia de brincos. A expressão no seu rosto mostrava que ela preferia estar em qualquer outro lugar a trancafiada em uma secretaria de escola. Não posso culpá-la, isso parecia mesmo ser um tédio.

— Hm, sim — respondi. — Meu nome é Stefanie Howard. Acabei de me transferir e...

— Só um segundo — ela me interrompeu e começou a digitar algo no computador. Inclinou-se mais para frente e analisou algo na tela. — Califórnia, é? Um pouquinho longe.

— Longa história — murmurei.

— Sempre é.

Em seguida, levantou-se e foi até a impressora, que ficava nos fundos da sala. Ela pegou as folhas e analisou a primeira, e parou na frente da estante metálica que ficava quase do lado da impressora. Pegou alguns livros grossos e os colocou em cima do balcão.

Ela espalhou as folhas impressas pelo balcão.

— Certo, essa é a sua folha de transferência, apresente aos professores quando chegar nas aulas — ela foi apontando para as folhas. — Seu horário. O número do seu armário e o código. O que mais? — ele colocou a mão no queixo, pensando. — Ah!

Ela pegou um livreto pequeno, que estavam em uma pilha em cima de sua mesa e me entregou.

— Esse é o guia para os alunos novos, tem as regras da escola, perguntas frequentes, uma lista com as matérias optativas oferecidas, etc. Na última página, tem o mapa da escola, mas não acho que você vá precisar — ela ergueu a sobrancelha sem o piercing.

— Ok.

— Alguma dúvida?

— Não.

Ela sorriu, parecendo satisfeita. Colocou as folhas e o panfleto em cima dos livros e empurrou na minha direção.

— Tenha um ótimo dia na Masterson High School — ela forçou um sorriso, como se fosse obrigada a dizer isso para todos os alunos. E pelo jeito era mesmo.

— Hm, valeu — respondi. Ela voltou para a sua mesa e colocou fones no ouvido.

Memorizei o número do meu armário e o código, antes de pegar os livros.

Quando sai da secretaria, havia várias pessoas passando pelo corredor. Virei uma esquina e me deparei com outro corredor repleto de armários compridos na cor vermelha. Ele estava abarrotado de alunos. Uns conversavam, outros mexiam nos seus armários. Alguns olharam para mim, quando eu passei; outros nem se deram o trabalho de parar a sua conversa para fazer isso.

Demorei um pouco para achar o armário 257, já que havia pessoas que insistiam em ficar conversando na frente dos armários dos outros. Finalmente o encontrei e enfiei todos os meus livros dentro. Resolvi guardar as folhas na mochila, afinal, nunca se sabe quando que eu vou precisar delas.

Só foi eu achar a sala de Álgebra, que o sinal tocou. Fiquei feliz por o professor não me chamar lá na frente para me apresentar, mas isso não impediu que eu recebesse algumas encaradas dos outros alunos. A aula foi tranquila, basicamente ele ficou falando o que aprenderíamos este ano, e não tinha nada que parecia ser muito difícil.

O resto da manhã foi quase do mesmo jeito, exceto por dois professores que me fizeram parar diante da turma e me apresentar. Eu não era envergonhada, mas acabei gaguejando algumas vezes, devido aqueles vários pares de olhos que me encaravam com tamanha curiosidade. Eu odiava ser o centro das atenções.

Finalmente, chegou a hora do almoço. Eu caminhei por vários corredores, tentando encontrar o refeitório e estava quase pegando o mapa, quando o encontrei. A fila estava enorme e eu presumi que era devido ao meu atraso, não porque o comida era maravilhosa.

Peguei uma bandeja e esperei a minha vez. A mulher do refeitório, uma senhora gorda com uma touca na cabeça e uma cara de mal-humorada, praticamente jogou o arroz no meu prato. Calma aí, “tia” da comida!

Encarei a minha bandeja depois de pronta e fiz uma careta.

— Não se preocupe, o gosto é melhor do que parece.

Olhei para trás e avistei uma garota de cabelo vermelho-fogo, um pouco mais baixa do que eu, sorrindo amigavelmente para mim. Acabei a reconhecendo devido ao seu vestido florido e as botas de cano alto. Era a tal garota que estava na secretaria mais cedo.

Acho que a minha expressão acabou acusando que eu era nova na escola.

— Nossa, que bom! Porque eu realmente já estava pensando em abandonar minha bandeja e sair discretamente — respondi. Ela deixou escapar um sorrisinho.

Nós entramos em outra fila, mas essa era para pagar o almoço. Aqui custava U$1,50. Era 50 centavos mais barato que a minha antiga escola e o gosto parecia ser melhor. Nada mal.

— Ei, era você que estava na secretaria de manhã, não é? — perguntou, de repente.

— Sim, eu mesma.

Ela corou, como se tivesse sido pega no flagra.

— Eu só percebi que tinha mais alguém na sala, quando fui sair. Acho que fiquei um pouco nervosa e descontei na Erika.

Então, Erika o nome da garota entediada da secretaria. Não sei o porquê, mas esse nome combinava bem com ela.

— Que nada, fica tranquila — garanti. — Afinal, o que você queria tanto colocar no mural?

O que foi? Eu sei que mal conheço a garota, mas eu sou curiosa!

— Era um cartaz sobre os meus serviços de babá. Falando nisso, você não teria um irmãozinho mais novo que precise de cuidados?

— Sinto muito, sou a mais nova.

— Ok — ela concordou um pouco decepcionada. — De qualquer forma, se você conhecer alguém que precise, poderia me indicar?

— Sim, garota que eu nem sei o nome.

— Ah! Desculpe, eu nem me apresentei. Sou Madison Lewis, prazer, mas pode me chamar só de Maddie — ela estendeu a mão livre para mim. Equilibrei a bandeja apenas com a esquerda e a cumprimentei.

— Stefanie Howard, mas pode me chamar de Stefanie mesmo — me apresentei.

— Ok, Stefanie — ela riu.

Pelo jeito, a minha vinda para Shakopee não tinha chegado aos ouvidos de Maddie. Já estava achando que Avery havia anunciado, com um megafone e tudo mais, sobre mim na tal “festa de boas vindas”. O que não me surpreenderia.

Talvez Maddie nem tenha ido à festa. Poderia estar sendo babá de alguma criança por aí.

Assim que pagamos o almoçou, parei, tentando encontrar alguma mesa vazia para sentar. Mas, aparentemente, não havia.

— Você pode se sentar comigo. Se quiser, é claro — Maddie apareceu do meu lado.

— Pode ser — respondi.

Eu realmente não fazia a mínima ideia de onde iria sentar. Então, ela acabou me salvando de sentar em alguma mesa que, certamente, não seria bem recebida.

Enquanto seguia Maddie por entre as mesas, avistei Avery. Ela estava sentada entre Kacey e seu namorado, Hunter. Havia mais alguns garotos e garotas juntos com eles. Eles pareciam estar se divertindo, enquanto comiam e colocam a conversa em dia.

Desviei o olhar e vi Maddie apontando para uma mesa bem afastada das demais, na qual, havia apenas um garoto. Ele tinha o cabelo castanho, olhos em um tom de mel e a pele bem branca.

Acho que todo mundo nessa cidade é quase albino. Afinal, eles não vão à praia! E nem daria, já que aqui deve ser frio o ano inteiro.

— Ei — Maddie disse. Ele sorriu ao vê-la.

— Você demorou — o garoto deslizou para o lado, dando espaço para Maddie sentar ao seu lado.

­— Desculpe, o Sr. Mosby se empolgou falando das suas incríveis férias ao Havaí — ela revirou os olhos.

Permaneci em pé, segurando minha bandeja firme em mãos. Finalmente o garoto olhou para cima e me viu.

— Hm, Maddie? — ele a chamou. Ela olhou para ele, um pouco desligada. — Tem uma garota parada ao lado da nossa mesa.

— Ah, claro! — ela bateu na própria testa. — Essa é a Stefanie, ela é nova na escola.

— Entendi. Oi, Stefanie. Sou o Gabe — ele respondeu, dando um sorriso gentil. Só depois de vê-lo assim descontraído, que percebi como ele era bem bonitinho.

Sorri de volta.

Presumi que seu nome verdadeiro era Gabriel, afinal, esse é o nome de todos os “Gabes” que eu já conheci. Ou talvez seja um nome muito estranho, no qual ele se envergonhava. Era uma hipótese também. Mas eu acho que era Gabriel mesmo.

Maddie fez sinal para que eu sentasse. Sentei no outro banco, ficando de frente para eles.

— Então, como você veio parar em Minnesota? ­ — Gabe perguntou.

— Um avião me trouxe — respondi.

Os dois começaram a rir, mas eu permaneci séria.

— Você é engraçada — ele disse.

Aham, muito.

— Então, de que lugar você é? — Maddie perguntou.

— Califórnia — respondi.

— Sério? Eu também! — Gabe parecia surpreso de achar outro conterrâneo. — Qual cidade?

— San Diego.

— Ah, sou de Los Angeles.

— Legal. Já encontrou muitos famosos por Hollywood? — perguntei.

— Alguns — deu de ombros, como se não fosse ninguém muito importante a ponto de falar. — Você está gostando daqui?

— Sinceramente? Não muito. Ainda não me acostumei com o lugar.

Estávamos no outono. Não sei quantos graus fazia no momento, mas para uma garota californiana, era bem frio. Não queria nem imaginar como seria o inverno. E o meu nariz, menos ainda.

— Dá para perceber — Maddie riu, apontando para a minha jaqueta.

Foi então que eu percebi que eu era a única que estava com frio. Maddie estava com um vestido de alça, e Gabe de camiseta. E isso se aplicava para todos os outros no refeitório também.

— Mas você é da Califórnia! — apontei para Gabe. — Deveria estar com frio também!

— Confesso que no começo foi um pouco estranho, mas logo me acostumei. Eu adoro frio.

— Você diz isso porque não deve ter rinite — murmurei.

— Não tenho.

— Foi o que eu suspeitei.

— Não se preocupe. Já, já, você se acostuma. Comigo foi rápido.

— Quanto tempo você mora aqui? — perguntei.

— Seis — sorriu.

Seis anos?!

Eu não sabia como iria sobreviver apenas um ano aqui e o garoto vem me dizer que mora aqui há seis anos e ainda por cima gosta de frio! E ele parecia bem feliz ao dizer isso.

Quem, em sã consciência, ia preferir esse lugar congelante a morar na ensolarada Califórnia, quem?!

Eu que não.

***

Passamos o intervalo todo conversando. Descobri que Maddie teria aula de Literatura comigo e Gabe, de História. Bom, pelo menos eu teria com quem sentar nessas aulas.

Enquanto conversávamos, eu fiquei reparando no jeito que Gabe olhava para Maddie. Tive a impressão que ele gostava dela. Eu sabia que os dois não eram namorados e nem nada do tipo, porque Maddie deixou escapar que ele era quase um irmão. E percebi a cara que ele fez quando ela disse isso, ele não ficou muito feliz. Pelo contrário, parecia um pouco decepcionado, como se esperasse mais da “relação” deles.

Bom, pode ter sido só impressão minha também. Afinal, quem sou eu para ser uma expert em relacionamentos quando o meu próprio não deu certo? Pois é.

O sinal bateu. Minha próxima aula seria Biologia, a minha matéria favorita. Os dois me acompanharam até a minha sala. Gabe me avisou que a srta. Gilmore, a professora de Biologia, odiava atrasos. Agradeci com um sorriso pelo conselho e ele abaixou a cabeça, constrangido.

Pelo pouco que eu conversei com Gabe, já pude perceber que ele era tímido. Tipo, muito tímido mesmo. Talvez esse fosse o motivo dele não dizer que gostava de Maddie. Claro, se ele realmente gostasse dela. Eu poderia estar enganada também.

Os dois se despediram de mim, me desejando “boa aula” e seguiram pelo corredor.

Entrei na sala e deduzi que quase todos os alunos já deviam estar ali, devido ao horário. Fui até a mesa da professora e lhe entreguei o papel da minha transferência.

Confesso que quando Gabe a chamou de “senhorita” pensei que a professora fosse nova. Mas eu me enganei, ela aparentava ter por volta de quarenta e poucos anos. Quer dizer, não que ela seja velha com essa idade, mas normalmente pessoas nessa idade já são casadas e tem até filhos. Bom, talvez ela tenha percebido que os homens não prestam e resolveu ficar sozinha. Se for essa a razão, tenho que admitir que ela fez a escolha certa. Melhor sozinha, do que mal acompanhada.

— Então — ela deu uma olhada rápida no papel para conferir meu sobrenome. —, srta. Howard. Seja bem vinda.

— Obrigada ­— respondi, pegando a folha de volta. — Onde eu me sento?

— Onde a senhorita quiser, desde que seja dentro desta sala — ela riu, como se aquilo tivesse sido uma ótima piada.

Já percebi que ela não tem um bom senso de humor. Eu teria revirado os olhos e feito um comentário irônico, se não tivesse o risco de ser expulsa da sala antes mesmo da aula começar.

— Certo — respondi. Olhei para a sala e avistei alguns lugares vazios ao fundo.

Sentei na penúltima carteira, longe dos outros alunos, mas conseguindo ter uma vista ampla da sala e enxergar bem o quadro. Pelo menos, sentando aqui, ninguém iria ficar me olhando. E isto já bastava para mim.

A srta. Gilmore fez a chamada e quando chegou ao meu nome, me perguntou de onde eu era, já que sou aluna nova. E quando falei Califórnia, ela me olhou como se quisesse entender porque eu estava aqui. Se ela realmente me perguntasse, diria que é tudo culpa do meu pai, mas ela só acenou positivamente e chamou o próximo nome.

— Para quem não me conhece, sou a srta. Gilmore e serei a professora de Biologia de vocês este ano — ela começou a falar. — Pretendo ensinar tudo que precisam saber para conseguirem entrar em uma ótima faculdade e serem excelentes profis....

Toc. Toc.

A professora parou de falar no mesmo instante e trincou os dentes. Bom, parece que Gabe não estava brincando quando disse que ela detestava atrasos.

Ela foi até a porta e girou a maçaneta.

— Ah, tinha que ser! — ela parecia não estar surpresa ao ver a pessoa que estava na porta. Seja ela quem for, já que não consigo ver de onde eu estou sentada. — Sempre atrasado!

— Me perdoe, srta. Gilmore, é que eu me perdi. Sabe, a escola é tão grande.

Consegui identificar pela voz que era um garoto. Na verdade, sua voz me parecia familiar, só não sabia dizer de onde.

— Sem gracinhas, o senhor estuda aqui há anos — ela respondeu, revirando os olhos como se estivesse entediada. — Que fique claro que só vou permitir sua entrada hoje porque é o primeiro dia de aula.

— Muito obrigado, a senhorita é sempre tão gentil — ele respondeu, e os demais alunos soltaram uma risadinha.

O garoto finalmente colocou o pé dentro da sala e eu pude descobrir quem era o dono daquela voz. E para falar a verdade, teria sido melhor se eu não tivesse descoberto quem era.

Porque o tal garoto atrasadinho era, simplesmente, o mesmo que quase me atropelou de skate no sábado. Aquele garoto mal-educado, o sr. Olhos Verdes — que era muito gatinho —, mas que tinha nome de garota. E de uma garota que eu odiava, ainda por cima.

E lá estava ele: parado, belo e formoso, bem na porta da sala. Sério, o que eu fiz para merecer isso? O quê?

— Sente-se logo, sr. Knight, eu quero continuar a minha aula — A srta. Gilmore disse impaciente.

E, agora, também conhecido por Knight. Mas uma forma para chamá-lo, já que pelo primeiro nome não me agradava muito. Sabe, só não quero ficar me lembrando de uma certa ruiva traidora, toda vez que disser o nome dele. De qualquer forma, Knight combinava mais com ele.

— Ok, ok — ele respondeu, jogando as mãos para cima como se estivesse se rendendo e começou a andar entre as carteiras.

Mas, claro, havia um pequeno probleminha: só tinha lugares vazios no final da sala. Que era onde eu estava sentada.

Abaixei a cabeça e fingi estar lendo o livro de Biologia. Vi seus sapatos passando diretamente ao lado da minha carteira. Havia cinco lugares vazios — eu disse cinco! — na sala e justo em qual ele resolveu se sentar?

Exato, bem na carteira atrás de mim.


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Notas finais do capítulo

* Lembrando que o ano letivo nos EUA é diferente do Brasil. Lá, as aulas começam depois do verão, que seria por volta de agosto, setembro.
* As aulas nos EUA são em período integral. Normalmente começando entre 08h00 e 08h30. O intervalo (hora do almoço) é das 12h00 às 14h00. E as aulas costumam terminar entre 15h00 e 15h30.
* Nos EUA, o Ensino Médio dura 4 anos, diferente do Brasil que é 3. Eles começam no 9º e vão até o 12º ano. Deixando a escola aos 18 anos.
* Os alunos também podem escolher as matérias que gostariam de fazer. Apenas Inglês, Matemática e História são obrigatórias. Durante os 4 anos de EM, cada aluno deverá ter cursado 26 matérias (no total) para poder se formar.
P.S: As informações mencionadas anteriormente, foram retiradas da internet. Se tiver algo errado, me perdoem.

Então, o que acharam?

Ah, se vocês quiserem saber mais sobre a Maddie e o Gabe, é só dá uma passadinha lá no blog. Tem um post só falando sobre os personagens, inclusive, dos que ainda vão aparecer.

*Spoiler* No próximo capítulo, teremos a continuação da aula. Será que o Kendall vai lembrar da Stef? Será que eles vão discutir (De novo)? Bem, só posso dizer que, depois disso, a Stef não vai mais amar Biologia tanto assim haha.

Espero vocês nos comentários, hein! Não custa nada! Sem falar que deixa a Tia Mari bem mais animada para escrever ;)

Até a próxima! õ/

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