Everything's Better With You escrita por Maremaid


Capítulo 16
15 - Um sábado diferente de qualquer outro


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Voltei!

Apenas relembrando que neste capítulo, Stef e Kendall estão na detenção. E, por favor, não queiram me matar por causa de algumas cenas rsrs.

Enfim, não vou enrolar muito. Boa leitura!



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Prós e contras de estar da detenção

PRÓS:

1- Meu histórico continuará intacto.

2- Finalmente saberei como é uma detenção. Sempre fui curiosa para saber como era, só não queria entrar nela e arruinar minhas chances de ir para uma boa universidade (Vulgo Yale), mas como não corro esse risco...

CONTRAS:

1- Os filmes mentem. Sério, esqueça tudo que você viu sobre detenção em qualquer filme colegial. É pior e bem mais tedioso.

2- Se você está na detenção, significa que fez algo de errado. E eu não gosto de ser uma bad girl, simplesmente não combina comigo.

3- Ok, eu gosto de estudar, mas passar o sábado inteiro na escola já é um pouco demais para mim. Principalmente quando você está trancafiada em uma sala com mais meia dúzia de “delinquentes” te olhando torto.

4- Estar na detenção simplesmente arruinou o meu “sábado perfeito”. No qual eu iria dormir até mais tarde, ler um bom livro, fazer a maratona de alguma série e comer muita besteira.

5- Kendall também está aqui. Quer motivo pior para isso ser um pesadelo?

***

Confesso que não sabia muito bem como me preparar para ir à detenção. Afinal, nunca havia ido antes. Então, fiz a melhor coisa que consegui imaginar: assisti filmes que focavam nisso. Escolhi “O clube dos cinco”, que eu já tinha visto, mas achei melhor rever. E após prestar muita atenção, percebi que eu não me encaixava em nenhuma das duas garotas do filme. Eu não era a patricinha (essa seria mais o caso de Avery) e também não era uma garota estranha que adorava mentir. E como eu claramente não era o bad boy, nem o esportista, só me restava ser o garoto nerd do grupo. Por mais que eu não me ache nerd, sou só estudiosa, o que é totalmente diferente.

O outro filme que assisti foi “Pânico na escola” que, como o próprio nome já diz, tem uma dose de pânico, só que misturado com comédia. O que não ajudou muito, pois fiquei um pouco neurótica de pensar que algum assassino estaria me perseguindo pelos corredores querendo me matar. Sem falar que o protagonista era a cara do Gabe! Só de aparência mesmo, porque eles tinham personalidades totalmente diferentes.

Mas quando cheguei à escola, na manhã de sábado, percebi que toda a minha “preparação” foi em vão. A detenção não tinha nada a ver como o que filmes mostravam. Na verdade, nada é. Tudo nos filmes é fácil, divertido, exagerado, improvável. Sem falar que as pessoas não saem por aí cantando nos corredores e todo mundo sabe a coreografia e a musica de cor, como nos musicais.

A detenção começava às 8 horas, que era o horário normal da aula. Eu cheguei uns 10 minutos antes, porque Avery me deu uma carona e ela nunca se atrasava para nada. Eu fui a primeira a chegar, e fiquei um tempão, sozinha na biblioteca, esperando alguma outra alma viva aparecer. Estava começando a achar que eu havia entendido errado o lugar que deveríamos ficar, quando os outros alunos começaram a chegar. Atrasados. E isso incluía Kendall Knight.

O sr. Reynolds, que era o vice-diretor da escola, esperou todos chegarem antes de começar o seu discurso sobre “as consequências da detenção” e de como “iriamos nos tornar delinquentes no futuro”. Ele era o responsável por fazer a ronda pelos corredores e pegar algum aluno fora da sala da aula, mas também cuidava da detenção. Ele era um sujeito engraçado de aparência. Baixinho, um pouco barrigudo, calvo, tinha um nariz de batata, usava um óculos grande e suspensório combinando com a gravata. Resumindo: ele parecia ter saído dentro de um desenho animado. Só que ele não era engraçado, e muito menos legal. Era autoritário, resmungão e vivia brigando com os alunos. Bem diferente do diretor Simmons que era muito legal e gentil.

Ele falou por cerca de dez minutos, que mais pareceram horas, e alguns alunos quase cochilaram. Quando ele finalmente acabou, recolheu todos os celulares e colocou em um baldinho de plástico, estilo aqueles que levávamos para a praia para brincar quando éramos pequenos. Fiquei imaginando se ele havia “apreendido” isso de alguma criança no parquinho. Depois disso, ele disse que só podíamos sair da biblioteca se fosse para ir ao banheiro, que era logo em frente. Ele saiu da biblioteca reclamando da vida e que gostaria de apenas um sábado em que ninguém ficasse na detenção para ele não precisar sair de casa.

Os alunos estavam distribuídos em cinco mesas redondas que havia na biblioteca. Como a maioria deles pareciam já ser companheiros de detenção há um tempo, sentaram juntos. Eu fiquei sozinha em uma mesa mais ao fundo, tentando ignorar o olhar dos outros alunos que cochichavam sobre mim. Ou como eles se referiram: “carne nova no pedaço”.

— Oi, Howard — Kendall praticamente se jogou na cadeira ao meu lado.

Revirei os olhos.

— Por que você não vai sentar com outra pessoa? — sugeri.

— Nossa, como você é mal-agradecida! — ele se fez de ofendido. — Eu te vi aqui sozinha e pensei em te fazer companhia. Só isso.

— A sua companhia eu dispenso — cruzei os braços e olhei para o outro lado, ignorando a sua presença.

— Ok, já entendi: você ainda está brava comigo. E eu entendo perfeitamente. Mas será que você poderia relaxar só um pouquinho e aproveitar?

Virei-me para ele, incrédula com suas palavras.

— Aproveitar? — forcei uma risada. — Você só pode estar brincando! Eu estou na detenção! Não tem como isso ser divertido.

— É aí que você se engana, Howard ­ — ele piscou.

Revirei os olhos e bufei em resposta.

— Ah! Antes que eu me esqueça — ele retirou algumas folhas da mochila e estendeu na minha direção. — É o conteúdo que a srta. Gilmore passou na quinta-feira. Pensei que você gostaria de copiar.

— Como você conseguiu isso? — perguntei, pegando as folhas.

— Falei com um dos garotos do time que Hóquei que faz essa matéria conosco e tirei cópia do caderno dele. A propósito, pode ficar com as folhas, eu já copiei tudo.

Dei uma rápida analisada nas folhas.

— Cruzes! Que letra feia! Vou ter que decifrar antes de copiar alguma coisa.

— Mas como você é reclamona! Um “Obrigada, Kendall, você é muito gentil” já estava de bom tamanho.

— Obrigada, Kendall — forcei um sorriso, sem concluir a frase como ele queria.

— É, dá para o gasto — deu de ombros.

Abri minha mochila, retirando o meu caderno e o estojo.

— O que você vai fazer? — perguntou, erguendo uma sobrancelha.

— Hm... Copiar o que você acabou de me passar? — sugeri.

— Mas agora? Não pode fazer isso outra hora?

— Sim, agora. Que eu saiba, tenho tempo de sobra. Graças a um idiota que me fez chegar atrasada na aula e parar na detenção. Conhece ele? Ah, espera... É você!

— Ok, acho que mereci essa — ele pegou sua mochila e se levantou. — Vou deixar você em paz.

Vi ele se afastar e sentar em outra mesa, onde havia dois garotos fazendo aviõezinhos de papel e jogando-nos outros alunos.

Como não havia ninguém me incomodando, copiei tudo rapidamente. Por sorte, o conteúdo novo que a srta. Gilmore havia passado não era muito complicado e eu consegui entender sozinha.

Olhei em volta e vi que Kendall ainda estava na mesma mesa de antes, mas agora eles estavam conversando entre si. Enfiei o caderno e o estojo dentro da mochila, sem tirar os olhos deles. Vi duas garotas, em outra mesa, cochilando e olhando para os três. Oferecidas. Kendall percebeu e deu uma piscadinha e acenou para as garotas, que deram uma risadinha de volta.

Não estava a fim de ficar ali olhando para aquilo, então resolvi dar uma volta pela biblioteca. Andei por vários corredores, procurando algum livro interessante. Acabei encontrando “Madame Bovary” que o professor de Inglês havia comentado na aula e peguei para passar o tempo, já que não poderia levar para casa, pois a bibliotecária não estava.

Voltei para a minha mesa e tive a impressão que alguém havia mexido na minha mochila, pois não me lembrava de tê-la deixada aberta. Foi então que olhei em volta e percebi que Kendall não estava mais na mesa com os garotos. Na verdade, ele não estava em nenhuma mesa.

Senti um calafrio. Imediatamente, agarrei minha mochila e comecei a procurar.

— Não! Não! Não! Não! — tirei tudo de dentro, mas não estava lá.

— Perdeu alguma coisa, Howard?

Olhei para trás e vi o idiota, encostado em uma das prateleiras, com um sorrisinho perverso nos lábios. E com um caderno pequeno na mão. O meu caderno de “prós e contras”.

Por sorte, não havia nada sobre Will, Kendy ou a doença da minha mãe naquele caderno. Quando eu descobri que havia sido traída, acabei fazendo muitas listas de “contras” — muitas mesmo — sobre isso e enchi o caderninho. Comecei a usar este um pouco antes de vir para Minnesota. Meus problemas do passado poderiam estar a salvo, porém eu tinha outros mais recentes.

Senti vontade de pular em cima dele, mas me controlei.

— Devolve — rosnei. — Agora.

— Não sabia que você tinha um diário, Howard — ele pareceu não se importar com a minha ameaça e folheou o caderno para me provocar.

— Não é um diário! — exclamei, não muito alto, para não chamar a atenção dos outros alunos. Me levantei e andei devagar em sua direção.

— Sério? Você fala de acontecimentos da sua vida e xinga muito. Pode chamar do que quiser, mas para mim ainda é um diário.

— Eu já disse que... — me interrompi. Respirei fundo para não perder o restinho da paciência que ainda me restava. — Quer saber? Vamos fingir que isso não aconteceu. Você devolve o meu caderno e eu prometo não bater em você.

— Hm... — ele pareceu pensar na proposta. — Não. Acho que vou correr o risco — sorriu e voltou a folhear o caderno.

Naquele momento, minha paciência se esgotou e eu fui para cima dele e tentei arrancar o meu caderno a qualquer preço Mas havia um problema: ele era mais alto que eu. Uns 10 centímetros. Bastou ele levantar o braço que estava segurando o caderno para eu não conseguir alcançar e ficar pulando igual uma retardada em volta dele.

­— Eu te odeio — cruzei os baços, me sentindo derrotada.

— Eu sei disso — ele sorriu, como se eu tivesse acabado de dizer um elogio.

— Sabia que mexer na mochila do outros sem permissão é errado? — comentei, para ver se ele ficava com peso na consciência e me devolvia.

— Tecnicamente, eu não mexi. Ela estava aberta e esse caderninho — ele bateu na capa. — estava metade para fora. Eu só iria colocá-lo para dentro e fechá-la, mas percebi que era o mesmo caderninho que te vi na mão, na quinta-feira. E a minha curiosidade acabou falando mais alto... — ele não precisou terminar a frase, eu já tinha entendido tudo.

Não tentei fazer mais nada. Apenas voltei para a minha mesa e encostei a cabeça na madeira fria. Alguns segundos depois, ouvi o som de algo sendo colocada em cima da mesa. Dei uma espiada e vi que era o meu caderninho. Olhei para Kendall, que estava me encarando, em pé, ao lado da mesa.

— Pode ficar com ele. Só queria te incomodar — explicou.

— Você... Não leu nada? — perguntei, com medo da resposta.

— Sim, li. Mas não sei o porquê de você ter ficado tão brava comigo, não achei nada de interessante aí. Só tem um monte de listas bobas sobre coisas que acontecem na sua vida.

Suspirei aliviada. Ok, então ele não chegou nas listas que fiz sobre ele. Isso é bom.

— Está perdoado — disse. — Agora saí da minha frente, antes que eu mude de ideia.

— Sim, senhorita — ele bateu continência e voltou para a mesa onde estavam os dois garotos, que agora jogavam bolinhas de papel com cuspe em um outro aluno da mesa da frente.

Dei uma folheada rápida no caderninho para ver se não estava faltando nenhuma folha. Não, tudo certo.

Coloquei dentro da mochila e me certifiquei de fechá-la dessa vez.

***

Fiquei um bom tempo lendo que até perdi a noção do tempo. Só parei quando o meu estômago começou a roncar. Olhei para o relógio, que ficava bem em cima da porta de entrada, e vi que já era 11 e pouco da manhã. Foi então que percebi que estavam faltando alguns alunos. E Kendall era um deles.

Achei que o sr. Reynolds iria aparecer ao meio dia, mas isso não aconteceu. Sorte para os alunos que fugiram da biblioteca. Os outros alunos que ainda estavam lá, simplesmente começaram a abrir suas mochilas e retirar o almoço ou lanche que haviam levado. Por sorte, sabia que eles não iriam oferecer almoço e pedi para Jill preparar algo para mim. Ela havia feito dois sanduíches deliciosos, mas acabei me esquecendo de pegar o suco de caixinha na geladeira antes de sair. Resultado: matei minha fome, mas fiquei com sede.

Quando eu já tinha terminado, Kendall entrou na biblioteca, sozinho. Ele se sentou na mesa onde estava antes, vazia agora, pois os outros dois garotos também haviam sumido. Me levantei e fui até lá.

— Ah! Oi, Howard! — ele sorriu quando me viu. — O que devo a honra da sua visita na minha mesa?

— Sem gracinhas. Onde você estava? — perguntei, indo direto ao ponto.

— Deu para controlar os meus passos agora? Olha, eu não gosto de garota chiclete. — avisou. — Mas posso abrir uma exceção para você, loira. — deu uma piscadinha.

Fui obrigada a revirar os olhos.

— Por mim, você pode ir para onde quiser. De preferência, o mais longe possível de mim. — deixei claro. — Queria saber onde você e os outros garotos foram. O sr. Reynolds deixou bem claro que ninguém podia sair daqui, exceto para ir ao banheiro. A não ser que vocês estavam lá, fofocando igual garotinhas.

Ele riu, como se eu tivesse dito uma boa piada.

— Howard, Howard. Você precisa aprender muito sobre o mundo da detenção. Por sorte, você tem a mim para lhe ajudar.

— Não preciso da sua ajuda, sei me virar sozinha. — avisei.

— Claro que sabe — ele ironizou, parecendo não acreditar muito nisso. — Então, vai querer os meus serviços?

— Serviços? — foi a minha vez de rir.

— Claro. Ou você acha que é só sair daqui e passear pelos corredores sem ser vista? Tem os pontos proibidos onde você não pode passar, como a sala do sr. Reynolds. Por acaso, você sabe qual é?

— Não... Mas deve ter uma placa informando isso.

— Não tem! Viu, você já começou mal — ele riu. — Por falar nisso, por que você queria saber tanto onde eu estava?

— Nada. Só curiosidade — desconversei.

— Mentirosa! — exclamou, apontando o dedo para mim. — Só tem duas possibilidades para você perguntar isso. Primeiro: você quer sair daqui e não sabe como. Segundo: está querendo controlar os meus passos porque está muito a fim de mim.

Revirei os olhos novamente.

— Admito: quero sair daqui.

— Tem certeza que não é a segunda opção? Pode mudar de ideia, eu deixo.

Fingi uma ânsia de vomito.

— Cruzes! Claro que não! Eu prefiro ficar sozinha, morando com dez gatos.

— Iria virar uma solteirona bem chata, igual a srta. Gilmore — ele riu. — Enfim, onde você quer ir?

— Estou com sede. Me esqueci de trazer algo para beber.

— Sei um caminho até a máquina de bebidas. — ele levantou-se da mesa. — Siga-me.

— Tem certeza que é seguro? — perguntei, enquanto o seguia até a porta de entrada.

— Não se preocupe, Howard. — ele olhou por cima do ombro e deu uma piscadinha. — Eu garanto que é 100% seguro. Afinal, estou arriscando a minha pele também.

— Ok... — respondi, um pouco incerta se isso era uma boa ideia mesmo. Mas mesmo assim o segui para fora da biblioteca.

Kendall ficou sempre a frente, analisando os corredores e vendo se estava tudo limpo para podermos passar. Fomos em silêncio, em passos lentos. Eu não parava de olhar os lados, temendo um possível ataque de um maníaco com uma faca. Acho que ver “Pânico na escola” não foi uma boa ideia, estou ficando paranoica.

Conseguimos chegar facilmente até a máquina de bebidas. Estava com tanta sede que acabei pegando dois sucos de caixinha.

— Que gentileza, Howard, mas não precisava comprar um suco para mim — Kendall pareceu comovido pelo meu “ato”, e tentou pegar um dos sucos da minha mão. Mas eu não deixei.

— E quem disse que é para você? Eu vou tomar os dois!

­— Sua gulosa!

— Eu estou com sede! — me defendi, abrindo o primeiro suco e tomando quase tudo de uma vez só.

— Que seja — ele deu de ombros. — Eu nem queria um mesmo...

— Ok, obrigada pela ajuda. — eu disse antes que ele reclamasse, de novo, que eu era mal-agradecida. — Mas acho melhor voltarmos logo, não quero que o sr. Reynolds nos pegue aqui.

Kendall deixou escapar uma risadinha.

— O que foi? Não tem medo do sr. Reynolds? Porque eu tenho!

— Tenho, mas só se eu for pego... O que não vai acontecer — ele disse isso com muita confiança, o que eu achei estranho.

— Como você tem tanta certeza disso?

— Olha, Howard, eu vou te contar uma coisinha que você não sabe: Não precisa se preocupar com o sr. Reynolds. Ele só vai aparecer na biblioteca no final do dia para nos dispensar. Você pode andar pela escola toda e ele nem vai sonhar com isso. Ele fica o tempo todo trancado na sala, comendo pipoca de micro-ondas e assistindo filmes antigos no computador.

— Como você sabe?

— O pessoal ficou curioso para saber o que ele ficava fazendo lá e resolvemos espiar — deu de ombros, como se não fosse nada de mais.

— Então quer dizer que você me enganou? Não acredito! Eu poderia ter vindo sozinha!

— Por isso mesmo que eu não disse nada antes — ele deu um sorrisinho de lado.

— Seu... Seu... Argh! — não consegui nem achar um xingamento decente para dizer.

Eu deveria ter desconfiado, ele estava muito confiante que não ia ser pego em flagrante. Respirei fundo. Não valia a pena me estressar por causa dele. Afinal, ele sempre fazia as coisas de propósito, só para me irritar.

Eu precisava me acalmar Tirei o canudinho que estava grudado no fundo da segunda caixinha de suco e furei. Era de maracujá. Dizem que é bom para acalmar os nervos, não é?

— Me dá um golinho, Howard? — ele pediu, com a maior cara de cínico. Dá para acreditar nisso?!

Eu estava quase dizendo em alto e bom som um “Claro que não, seu idiota!”, quando me lembrei de algo. Eu queria me vingar dele. Muito. E já tive várias ideias de como fazer isso, mas uma em especial pareceu boa para o momento.

— Claro — sorri.

Dei um gole primeiro, depois virei o canudinho estrategicamente na direção dele e, quando ele foi pegar a caixinha da minha mão, apertei a embalagem com força. O liquido espirrou nele.

Ops! — eu disse, fazendo cara de inocente.

Ele olhou para a sua camisa xadrez que agora estava molhada. E voltou a olhar para mim.

— Você fez de propósito, não foi?

— É claro que sim — sorri satisfeita.

Bem, parece que eu posso riscar esse item da minha lista de vingança contra o Kendall. Só foi uma pena não ser suco de uva, pois deixaria uma bela mancha.

— Ok, deixa para lá. Eu mereci essa — respondeu e começou a andar. Fui atrás dele.

— Aonde você vai? — joguei a embalagem vazia no primeiro lixeiro que encontrei.

— Ao meu armário.

O armário dele ficava no mesmo corredor que o meu, só que do outro lado, perto de uma coluna. Isso explicava como ele sempre aparecia do nada perto de mim.

Kendall procurou algo lá dentro e retirou uma camiseta cinza. Depois, começou a desabotoar a camisa xadrez que usava.

— Ei! Ei! — exclamei. — O que você pensa que está fazendo?

— Hm, tirando essa camisa que está molhada e grudenta? — sugeriu.

— Isso eu percebi. Mas por que aqui?

— Qual é, Howard! Você nunca viu um cara sem camisa antes? Pensei que os californianos gostassem de praia.

Ele havia terminado de desabotoar e agora estava sem camisa. Bem na minha frente!

— Go-go-gostamos! — confirmei, tentando não olhar muito para ele. — Mas lá não tem... hm, caras magros e branquelos como você!

— Quem sabe um dia você me leva até alguma praia na Califórnia — ele piscou. — Daí eu resolvo isso.

Dei uma risada debochada.

— Quando terminar o ano letivo, espero nunca mais ter que olhar para essa sua cara de novo. Vou querer distância de você!

— Você só fala isso da boca para fora — ele sorriu, se aproximando mais de mim. Dei um passo para trás, mas bati com as costas nos armários. — Admita: às vezes você gosta da minha companhia.

— Talvez... — ponderei. — Quando você não está agindo igual um idiota.

— Idiota? — ele riu. — Isso já virou um elogio vindo de você.

— Ah, é? — perguntei, respirando com dificuldade. Ele estava muito perto de mim agora. E ainda por cima sem camisa. — Eu... Eu posso pensar em outros “elogios” então.

— Ok... — ele sorriu de lado e segurou uma das minhas mãos. — Por que você está tremendo, Howard? Eu te deixo nervosa?

Será que dava para ele parar de sorrir desse jeito? Não estava ajudando!

— Claro que não! Eu... Só estou com frio. É isso! — a essa altura, nem eu acreditava mais nas minhas próprias palavras.

— Se o problema for esse, eu posso resolver — ele respondeu, com a sua boca a poucos centímetros da minha.

Eu poderia simplesmente dar um chute nele e sair correndo. Mas as minhas pernas não queriam sair do lugar. Talvez, eu não quisesse sair. Eu simplesmente fechei os olhos e esperei.

Só que nada aconteceu.

Abri os olhos e Kendall estava me encarando, com os olhos arregalados, mas sem me soltar.

— Você ouviu isso? — ele perguntou.

— Ouvi o quê? — eu ainda estava um pouco atônita.

Mas ele não precisou dizer nada. Em seguida, eu ouvi também: um assobio e passos pelo corredor, se aproximando cada vez mais. E eu sabia muito bem quem era.

— Sr. Reynolds! — me desesperei.

— Vamos sair daqui! — ele me largou e jogou a sua camisa molhada dentro do armário e o fechou. Segurou a camiseta cinza com a mão esquerda e me pegou pelo braço com a direita. Se ele não tivesse feito isso, acho que não teria conseguido sair do lugar de tão nervosa que fiquei.

Ele abriu uma porta e entrou, me puxando junto. Estava escuro, mas ele ligou a luz logo depois. Foi então que percebi que estávamos na salinha de limpeza.

— Você disse que ele não saia da sala para nada! — reclamei, querendo bater nele.

Shh! — ele colocou a mão na minha boca, me fazendo ficar quieta. — Ele está vindo. — sussurrou.

Conseguimos ouvir quando ele passou por onde estávamos, assobiando uma canção que eu não conhecia. Provavelmente era de algum filme.

Quando os passos diminuíram, Kendall soltou um suspiro de alivio e destampou minha boca. Ele abriu um pouco a porta e espiou.

— Ele tinha ido até a máquina. Estava com um salgadinho na mão. Mas agora já foi em direção à sala novamente — informou, após fechar a porta novamente.

— Será que ele pode voltar? — perguntei.

— Não sei... Acho melhor ficarmos mais um tempo aqui. Só para garantir.

Assenti. Resolvi sentar no chão, já que não tinha nenhum banco ali. Como a salinha era pequena, Kendall sentou encostado na outra parede, mas suas pernas ficaram ao lado da minha.

Agora que a adrenalina tinha passado, comecei a me incomodar de novo por ele estar daquele jeito na minha frente.

— Hm... Será que você poderia colocar a camiseta agora? — sugeri.

— Você não parecia incomodada com ela há cinco minutos atrás... — sorriu.

Revirei os olhos.

— Ok! Ok! — ele não discutiu comigo e colocou a camiseta. — Satisfeita?

— Sim. Obrigada — forcei um sorriso.

Ficamos algum tempo em silêncio. Eu não sabia o que falar. Na verdade, só queria sair daqui o mais rápido possível. Ficar trancada em uma salinha tão pequena com Kendall não me agradava muito. Principalmente por causa do histórico que já tínhamos de lugares apertados. (Vulgo o carro dele).

— Então — ele puxou assunto, — sobre o que você quer falar?

— Nada — respondi.

— Qual é, Howard! Vamos lá! É para passar o tempo. Eu deixo você perguntar o que quiser.

— Qualquer coisa? — questionei. Ele fez que sim. — Ok. Você parece entender muito sobre detenção. Já veio parar aqui quantas vezes?

Eu sei, eu sei... Eu poderia perguntar qualquer coisa. Mas eu estava curiosa!

— Não muitas. Essa foi a terceira vez — deu de ombros. — Este ano — completou.

— Não estou surpresa.

— O meu histórico pode não ser tão perfeitinho como o seu, mas eu sou um bom aluno. Quer dizer, nunca reprovei.

— Menos mal. Mas o seu histórico é importante. Como você quer ir para uma boa faculdade? — questionei.

— Não me importo tanto com isso. Se eu ganhar uma bolsa de estudos por causa do Hóquei já me contento.

— Se uma faculdade ruim te chamasse você iria então?

— Talvez. — deu de ombros. — Se eles tiverem um bom time de Hóquei.

— Inacreditável! Será que você só pensa nisso? Você tem que ter uma profissão de verdade!

— E quem disse que ser jogador de Hóquei não é uma profissão? — questionou. — Dá dinheiro!

— Mas não dá um diploma! — rebati.

Parecíamos dois malucos discutindo sobre faculdade dentro de uma salinha de limpeza, não é? Eu sei.

— Ok, srta. Sabe-Tudo, o que você planeja para o seu futuro então?

— Eu... — não sabia se deveria contar isso para ele, era algo meio pessoal. Mas pensei que não haveria problemas. — Eu quero ir para uma boa faculdade, Yale de preferência, e fazer jornalismo. É o meu sonho.

— Interessante... Mas por que Yale?

— Por causa da minha irmã.

— Avery quer ir para lá? Não fazia ideia — ele disse. Quase revirei os olhos, mas percebi que ele não havia dito aquilo por mal.

— Não, minha irmã de verdade. Savannah — expliquei. — Ela estuda lá.

— Oh! — ele parecia surpreso. — Não sabia que você tinha uma irmã.

— Você nunca perguntou — sorri, lembrando-me do dia que a situação havia acontecido ao contrário. Ele acabou rindo, possivelmente lembrando-se disso também.

— Ok. Próxima pergunta.

Pensei em mais alguma coisa que havia me deixado curiosa.

— A srta. Gilmore disse que você estava “desvirtuando outro aluno exemplar”. Quem foi o primeiro?

— Logan — ele riu. — Ele fazia Biologia comigo ano passado. Acabei colocando ele em um probleminha... Nada de mais — deu de ombros.

— Aham, sei... — eu disse, sabendo que o probleminha não devia ter sido tão simples assim.

— Ok. Por que você implica tanto comigo? E não vem me dizer que é coisa da minha cabeça ou por causa que eu jogo Hóquei, porque você trata super bem os meus amigos.

— Ei! Quem disse que você estava autorizado a fazer perguntas para mim? — questionei, tentando não falar sobre esse assunto.

— Você acha mesmo que eu iria revelar cosias? — debochou. — Pode começar a falar!

— Eu não quero falar sobre isso — abaixei a cabeça, evitando fazer contato visual com ele.

— Não tente me enrolar! — ele ficou batendo o seu pé na minha perna, para incomodar. — Estou falando com você... Howard! Howard! Howard! How...

— Ok! ­ — levantei a cabeça e olhei bem para ele. — Quer saber mesmo? Eu não quero mais idiotas na minha vida! Eu cansei de ser enganada, traída, humilhada. E por pessoas que eu realmente confiava! Eu não quero mais sofrer! — disparei tudo de uma vez.

Mas assim que eu terminei de falar, me arrependi. Coloquei a mão na boca, tentando impedir que eu falasse mais alguma coisa que não devia.

Kendall ficou olhando para mim por uns segundos, sem esboçar nenhuma reação. Parecia em choque.

— O que... O que você quer dizer com isso? — perguntou. Não respondi. — Stefanie, quem é esse cara?

— Po-por que você acha que é um cara? ­— perguntei, começando a tremer. Ele estava chegando tão perto de descobrir. — Além disso, eu disse “pessoas”. No plural.

— Ok, pode ser mais de uma pessoa. Mas uma delas é um cara. Porque essa é a única razão para você ter ficado com todo esse ódio: coração partido. — ele disse. Queria que ele estivesse errado, mas não estava. — Por favor, me conte, eu quero te ajudar...

— Não! — me levantei rapidamente. — Você não vai conseguir entender!

Fui em direção à porta. Eu só queria sair dali e ficar sozinha. Mas Kendall segurou o meu braço de leve antes que eu alcançasse a maçaneta.

— Acredite — ele me encarou. Seus olhos pareciam mais escuros agora. — Eu entendo perfeitamente isso.

— Duvido! — respondi, me soltando dele.

Abri a porta e sair a passos largos pelo corredor. Comecei a correr, sentindo as primeiras lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Eu deveria voltar para a biblioteca, mas não queria que ninguém me visse assim. Então entrei no banheiro que ficava logo em frente. Assim que eu me tranquei em uma das cabines, me derramei em lágrimas. Tudo pareceu passar pela minha cabeça em um flashback. Coisas que eu estava evitando pensar, pois eu sabia que só me fariam mal.

Eu poderia ter deixado a Califórnia, mas a Califórnia não havia me deixado. Todas as memórias daquele lugar permaneciam intactas na minha mente. Eu queria manter só as boas e esquecer totalmente as ruins. Mas sabia que isso era impossível.

Era tudo ou nada. Não tinha meio termo.

Não sei quanto tempo eu fiquei lá chorando, mas quando sai da cabine já estava me sentindo um pouco melhor. Encarei o meu reflexo no espelho. Meu rosto estava um pouco inchado e vermelho. Lavei-o e respirei fundo.

Saí do banheiro devagar e entrei na biblioteca de cabeça baixa. Sentei-me na mesa onde estava antes. Cruzei os braços sobre ela e apoiei a cabeça. Fechei os olhos e tentei dormir, mas não consegui.

Alguém tocou o meu braço.

— Você está bem? — ele perguntou.

— Vai embora — murmurei, sem levantar a cabeça.

­— Só me diga se você está bem. Fiquei preocupado com o jeito que você saiu de lá — insistiu.

— Eu já disse para você ir embora, Kendall! — olhei para ele rapidamente. — Quero ficar sozinha aqui. Por favor.

— Mas... — ele iria argumentar, mas parou de falar de repente.

— Ok, alunos! — disse o sr. Reynolds entrando na biblioteca com o seu baldinho. — Vocês estão dispensados. Peguem o seu celular e sumam da minha frente. E espero não ver o rosto de nenhum de vocês no sábado que vem!

Os alunos começaram a sair. Eu peguei as minhas coisas e fui em direção à saída. Peguei o meu celular e o liguei, mas não havia nenhuma mensagem. Pensei que Kendall iria vir atrás de mim, querendo saber como eu estava. Mas ele se limitou em me analisar só de longe, o que eu agradeci, porque não estava com a mínima vontade de bater boca com ele agora.

Passei pelo portão da escola e avistei o carro de Avery no outro lado da rua.

— Oi, Stef! Como foi a detenção? — ela perguntou tão alegre, que só faltou dizer “Você se divertiu?”.

— Oi. Foi... Legal. — respondi, entrando no banco do carona.

— Legal? — questionou. — Sua cara diz o contrário. O que houve?

— Não quero falar sobre isso agora, ok? Só vamos embora — eu não via a hora de chegar em casa e me trancar no meu quarto para poder ficar finalmente sozinha.

— Tudo bem — Avery girou a chave. — Mas se você precisar de algo, saiba que pode contar comigo, ok?

— Eu sei disso — dei um pequeno sorriso.

Sabia que Avery estava sendo sincera, ela só queria me ajudar. Assim como eu a ajudei quando ela precisou.

Ela deu partida no carro sem falar mais nada. Não ligou o som. Não cantou. Não tentou puxar papo. Ela apenas soube respeitar o espaço que eu precisava. E eu aprecie muito isso nela. No fim das contas, Avery era uma boa amiga. E nesse momento o que eu mais precisava eram de amizades verdadeiras.

Enquanto eu apreciava a vista, com a cabeça encostada na janela do carro, pensei como seria encontrar Kendall novamente. Só esperava que ele não insistisse mais naquele assunto, pois eu não queria correr o risco de começar a chorar novamente.

E o pior era que eu iria vê-lo amanhã. Era domingo e teríamos ensaio da banda. E eu não poderia evitá-lo, mesmo se quisesse.


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Notas finais do capítulo

Oi, de novo! Haha. Espero que tenham gostado do capítulo.

Sei que impedi um beijo #Stendall, mas fiquem tranquilos, ocorrerá outros. E para valer! #EmBreve

~SPOILER ALERT~ No próximo capítulo, Stef encontrará os meninos para mais um ensaio da banda e as coisas entre ela e Kendall podem ficar um pouquinho complicadas devido a uma visita inesperada. Já na escola, Kacey vai convidar o tal garoto que gosta para o baile e Stef tem um novo plano para juntar Maddie e Gabe.

Ei, que tal deixar um comentário dizendo o que você achou do capítulo? Me deixaria muito feliz :D

Ok, gente, era isso. Até mais!

Xoxo.

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P.S.: Ah! Leitores fantasmas: apareçam! Eu não mordo :P



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