O dia amanheceu e Soluço levantou da cama, mas não com as duas pernas como costumava, e sim com uma perna e uma prótese que Norte Noel providenciou para ele. O garoto arrumou seu malão e desceu para se juntar aos outros alunos que aguardavam, no saguão de entrada lotado, as carruagem que deviam levá-los a estação de Hogmeade.

– Soluço!

Ele olhou. Uma garota veio correndo até ele segurando uma pena.

– Ei, Soluço - disse a garota sorrindo. - Você não se importa de me dá um autógrafo né ?

Soluço sorriu. Desde que ganhara a taça tribruxo ninguém o tratava mais como o perdedor da escola. Mas o que mais gostava não era que tinha se tornado popular e famoso em Hogwarts, o que gostava mais é que a casa Lufa-Lufa foi tratada com respeito e não como uma casa cheia de perdedores.

– Claro que não - disse Soluço pegando a pena. - Hã... Cadê o pergaminho ?
A menina riu como se ele tivesse feito a piada mais engraçada do mundo.

– Não precisa de pergaminho, seu bobo. Você pode assinar bem aqui na minha camiseta. - disse ela apontando para o próprio peito.

Soluço engoliu em seco e então alguém atrás dele pigarreou.

– Escuta aqui, garota. Ou você deve ser muito idiota, ou não sabe quem é a namorada desse garoto para ter acabado de dar em cima dele na minha frente. Vou te dar duas opções ou você sai daqui agora e eu finjo que eu não escutei nada que você disse, ou você continua aqui dando em cima do Soluço e eu garanto que nunca mais você vai ter esse rostinho lindo que você tem. - disse Astrid sorrindo com uma calma surpreendente.

A garota arregalou os olhos e saiu correndo dali.

– Caramba, até eu fiquei assustado. - disse Soluço se virando para Astrid.
– Você não sabe o que é assustado Soluço...- disse a garota olhando para o chão - Assustada fiquei eu quando você voltou daquele maldito labirinto sem uma das pernas...

– Ei, já falei que estou bem. - disse o garoto levantando a cabeça de Astrid e sorrindo. - E isso graças a você.

– Como assim graças a mim ? Eu não fiz nada a não ser ficar naquela arquibancada cada vez mais preocupada com você, me sentindo uma inútil por não fazer nada...

– Olha só, Astrid Hofferson se achando inútil. Essa é nova. - disse ele e ela cruzou os braços o olhando de cara feia. - Astrid, você pode ser qualquer coisa menos inútil. Foi você que me fez ter coragem a enfrentar tudo que enfrentei até agora. Você foi a única que me deu esperanças de realmente ganhar esse torneio aquele dia na sala do espelho, se esqueceu ? Depois daquele dia eu me apaixonei ainda mais por você...

– Ai, caramba. Como você faz isso ? - disse ela corando.

– Isso o que ?

– Me deixar sem palavras. Ninguém no mundo antes conseguiu fazer isso...

Soluço sorriu.

– Você fica fofa, assim. - disse ele e a puxou para um beijo. Não um beijo agressivo como eles tinham dado antes, mas um beijo doce e suave.

– Uou! - exclamou Astrid sorrindo após o beijo.

– Ei campeão! - chamou Kristoff correndo por entre a multidão.

–Ei cara, tá tudo bem ? - disse Soluço preocupado com o rapaz que tinha parado ao lado deles respirando alto como se tivesse corrido uma maratona.

– Sim, eu só... vocês viram a Anna em algum lugar ?

– Acho que ela está lá atrás com a Elsa. Mas...

– Te vejo por aí, então - disse ele voltando a correr entre a multidão antes que Soluço terminasse a frase.

O rapaz correu o máximo possível à procura de uma ruiva baixinha, desejando bem no fundo que ela já não tivesse ido embora. Estava quase perdendo a esperança de encontrá-la até que a avistou no final da fila para entrar na carruagem das Beauxbatons.

– Anna! - chamou o rapaz.

Anna se virou sorridente e foi até ele.

– Kristoff!

– Eu... eu não te vi desde o dia do labirinto. Como você está ? fiquei tão preocupado com você. Se eu soubesse... que você estava dentro do labirinto eu teria entrado lá sem pensar duas vezes. - disse o rapaz sem jeito.

Anna sorriu.

– Eu acredito em você...

Kristoff tirou um pergaminho do bolso.

– Aqui está meu endereço. Promete que vai me escrever ?

Anna pegou o pergaminho velho e balançou a cabeça afirmando.

–C-claro. - disse a garota envergonhada.

Os dois se encararam por um bom tempo e então Anna tirou seu colar do pescoço e entregou a Kristoff.

– Estamos quites! - disse sorrindo. - Eu tenho seu cachecol para lembrar de você e agora você tem meu colar.

Kristoff deu um meio sorriso.

– Eu nunca iria me esquecer de você.

Anna deu um sorriso e beijou a bochecha dele. Kristoff sorriu e tomou coragem puxando ela para um beijo doce e demorado.

Enquanto isso, Elsa caminhava pelos corredores à procura de Anna quando, de repente, viu Jack Frost a encarando.

– Perdeu alguma coisa, Frost ? - perguntou a garota arqueando a sombrancelha.

– Olha, sobre aquela nossa briga... - começou ele.

– Esquece isso. Tá tudo bem...

– Não está tudo bem. - retrucou Jack. - Você tinha razão. A Merida confessou gostar de mim...

Elsa arregalou os olhos.

– E o que você fez ?

– Nada... eu não sabia o que fazer. - Jack balançou a cabeça confuso.

– Uau - disse Elsa sorrindo do mau jeito dele. - Pela primeira vez Jack Frost não sabe o que fazer em relação a uma garota.

Jack fechou a cara para ela.

– Hahaha, muito engraçado... - disse ele revirando os olhos. - Olha Elsa, eu não quero que fique esse clima entre a gente. Você é a única que me entende e eu...

– Eu sou a única que te entende. Mas não sou a certa para você - interrompeu-o a garota.

– Oque ? - perguntou ele surpreso.

– Jack. Vamos, para de fingir tá ? - disse Elsa. - Eu sei que você gosta da Merida e isso me incomodou por um tempo. Mas como eu disse antes, tá tudo bem.
Jack ficou envergonhado e a encarou por um tempo confuso.

– Agora vai lá falar com ela. - disse Elsa apontando para Merida que estava olhando para os dois com uma cara amarrada.

– Mas, Elsa eu...

– Não me faça te arrastar até lá. - disse ela com um sorriso brincalhão. - Já falei que está tudo bem entre a gente. Não vou deixar de ser sua amiga, apesar de tudo você me salvou e eu vou sempre te agradecer por isso...

Jack sorriu e a abraçou forte, quando soltou ela estava sem ar.

Mas... o que foi.. isso ? - perguntou a garota tentando recuperar o fôlego.

– Valeu! Rainha do gelo - disse Jack piscando para ela e entregando um pergaminho com seu endereço. - Espero te ver de novo.

E então o garoto desapareceu na multidão atrás de Merida. Uma mão tapou os olhos de Elsa que sorriu.

– Advinha quem é ? - perguntou Anna, lembrando-se de quando as duas viviam fazendo isso quando eram pequenas.

As duas riram e Anna a abraçou com força.

– Olha quem está alegre! - disse Elsa.

– Eu mal posso esperar para visitar Hogwarts de novo, mana.

– Só para ver Kristoff outra vez, não é ?

– Kristoff ? Quem disse ? Tem muitos outros motivos para eu voltar aqui além de garotos. - disse Anna e então viu a cara de desconfiança de Elsa. - Tá, talvez Kristoff tenha um pouco a ver com isso...

– Só um pouco ? - perguntou Elsa com um sorriso brincalhão e então lembrou-se de algo e seu sorriso se desfez. - Me desculpa por ter sido grossa com você. Se não fosse por isso nada disso teria acontecido...

–Elsa, se a gente ficar pensando de quem foi a culpa a gente não vive. A culpa foi minha por não ter te ouvido, a culpa foi de Gothel por ter feito esse torneio, a culpa foi de Pitch por manipular Gothel...

– A culpa foi minha por ser tão burro e acreditar que Anastasia depois desse tempo todo estaria viva... - disse Hans entrando na conversa.

– A questão é. - continuou Anna ignorando o rapaz. - Todos tem uma parcela de culpa. Mas não importa, tudo está bem agora, não adianta se culpar.

Elsa sorriu.

– Quem diria. Minha irmã mais nova, que ainda ama fazer bonecos de neve, me dando conselhos...

– Se acostume com isso! - disse Anna sorrindo e foi se despedir de uma amiga que a chamou, deixando Elsa sozinha com Hans.

– Você a ouviu né ? Porque não aguento mais você dizer que a culpa foi sua de Soluço ter perdido a perna. - provocou-a Hans.

– Não me faça me arrepender de ter te perdoado. - disse Elsa cruzando os braços.

– Meus irmãos estavam certos. - disse Hans olhando para baixo. - Amor é uma fraqueza e Gothel se aproveitou de nossa fraqueza. Mas está decidido, nunca mais vou amar alguém outra vez.

Elsa riu.

– Qual é graça ? - perguntou Hans constrangido.

– É que eu costumava pensar assim. Ficava me isolando, longe de tudo e de todos, tentando não me apegar a ninguém. Mas era horrível, ninguém pode viver sem amor Hans.

Hans olhou para ela e sorriu.

– Você tem razão. Mas no momento vou me preocupar em sair de casa, para bem longe dos meu pais e meus irmãos. Muito Obrigado Elsa.

Hans sorriu e Elsa sorriu de volta, feliz pelo rapaz ter feito a escolha certa. A garota havia lido em um livro que um dos trechos dizia: "Não são nossas habilidades que revelam quem realmente somos, são nossas escolhas".

– E para onde você vai ?

– Não sei mamãe– disse ele sorrindo ironicamente. - Eu já sou crescido Elsa, eu me viro.

Elsa suspirou, pegou um pergaminho e uma caneta e escreveu o endereço dela. Anna iria "matá-la" se descobrisse, mas sabia que era o certo a se fazer.

– Qualquer coisa me procure - disse ela entregando o pergaminho para ele. Mas se apressou logo em dizer quando viu o sorriso dele. - Não pense em segundas intenções, eu só... posso te ajudar como uma boa amiga faria.

– Tudo bem amiga– disse ele a beijando no rosto. - A gente se vê.

***

– Merida! - chamou Jack cansando de correr atrás da garota. - Será que dá pra você parar de fugir de mim ? Eu já estou sem fôlego e saiba que não é correndo que eu costumo ficar assim... - disse com um sorriso malicioso.

Merida parou e se virou irritada.

– Tudo bem. Eu desisto! Pode me zoar agora, eu não ligo...

– Te zoar ? Do que você está falando ? - Perguntou Jack confuso.

A garota riu com escárnio.

– Ah, por favor Jack não se faça de santo! - A garota vendo a cara dele de confusão continuou - Primeiro me dá uma loucura e revelo que tenho uma queda por você, depois você fica sem me responder e agora te vejo trocando bilhetinhos com a Elsa. Quer saber ? Eu estava maluca quando disse aquilo. A verdade é que eu te odeio!

Jack andou até Merida e de repente a surpreende com um beijo. Não um beijo qualquer, mas o beijo mais intenso e com paixão que o garoto já deu em toda sua vida, que acabou deixando os dois sem fôlego.

– Também te odeio, princesa. - disse Jack sorrindo ao ver a cara de confusão de Merida.

– Caramba! Se vocês se odeiam e estão assim, imagina se amassem. - disse Soluço assustando os dois que pensavam que estavam sozinhos.

– O que... vocês... vocês sabiam ? - perguntou Jack olhando incrédulo para Soluço e para Rapuzel que não parava de sorrir.

– Achei que estava maluco por desconfiar de vocês. Porque vamos lá é mais fácil imaginar que a Merida está planejando sua morte do que ela gostar de você.

Rapunzel viu Merida vermelha mas não soube distinguir se era de raiva ou constrangimento.

– Desculpa interromper esse momento lindo, mas temos que correr a última carruagem para Hogsmeade está saindo.

Os três correram e minutos depois estavam no expresso de Hogwarts, sentados na última cabine exatamente como fizeram 6 anos atrás quando se conheceram.

– Quem diria que depois de 6 anos continuamos amigos ? mesmo depois de termos mudado tanto... - disse Rapunzel olhando para os amigos. Ela havia mudado o cabelo, Soluço possuía apenas uma das duas perna e Jack e Merida ao invés de estarem se matando estavam de mãos dadas.

– E você esperava outra coisa Punzie ? - perguntou Merida. - Nós somos o "The big four" nunca vamos deixar de ser amigos.

– Caramba, essa foi a coisa mais fofa que você já disse Merida. - disse Jack - Se eu soubesse que ficando com você te deixaria menos agressiva eu teria feito isso há muito...

Merida deu um soco no braço dele o interrompendo.

– Ai!

– Não é só porque eu sou sua namorada que eu vou pegar leve com você! Se acostume com isso. - disse Merida.

– Caramba vão para um motel - provocou Soluço.

– Quer ser o próximo, Soluço ? - disse Merida o fuzilando com os olhos.

– Namorada ? - perguntou Jack sorrindo. Nunca achou que de fato ia ter uma namorada, claro que ele já ficou com muitas garotas, mas nunca de fato chegara a namorar sério uma.

– Hã... O que de fato aconteceu com o banguela, Soluço ? Você não nos contou - disse Merida procurando mudar de assunto.

– Conversei com o diretor sobre tudo que o banguela fez, salvando a gente e ele convenceu ao ministério da magia a não sacrificá-lo. O Banguela e todos os dragões não vão ser mais usados em torneios, nem acorrentados. - Soluço sorriu - Vão levar os dragões para Berk onde vão criar uma reserva natural de dragões. Infelizmente eu não vou poder ser um instrutor de dragões porque ainda preciso me formar, mas me autorizaram a visistar o Banguela sempre que eu puder!

Os três encararam Soluço por um minuto absorvendo a notícia, surpresos demais. Rapunzel foi a primeira a se manifestar abraçando o amigo.

– Isso é incrível! - exclamou sorrindo.

– Caramba. Por que você não contou isso antes ? - disse Jack dando um tapa na cabeça do garoto e sorrindo.

– Eu acho que pelo mesmo motivo que eu não contei que o Flynn vai se mudar para minha cidade... - disse Rapunzel.

– O que ? Isso é ótimo Punzie! - exclamou Merida feliz pela amiga.

– Eu sei mas é que... depois de tudo que aconteceu é difícil acreditar que tantas coisas boas estão acontecendo com a gente, depois de todos nós quase morremos...

– Credo, cadê aquela Punzie alegre que eu conheço ? - perguntou Jack. - Nada irá acontecer com a gente e se mais pessoas tentarem nos matar a gente acaba com elas da mesma forma que fizemos com o Pitch e a Gothel! Aliás somos o "the big four" - disse piscando para Merida.

E assim, os quatro seguiram a viagem para suas casas, rindo e esquecendo de qualquer coisa ruim que poderia acontecer com eles. Jack e Merida tinha razão eles eram os "the big four". Foi a força dessa amizade que destruiu um dos maiores vilões do mundo bruxo. Foi o fato de cada um dos herdeiros dos fundadores de hogwarts terem se juntado seis anos atrás, neste mesmo lugar, e desde então nada ter abalado essa amizade. Talvez forças do mal pretendessem destruí-los, mas quando tentassem eles estariam prontos para enfrentá-las.