ApocalipZe escrita por Sr Devaneio


Capítulo 5
Rebeca


Notas iniciais do capítulo

Aqui estamos nós em mais um "PoV"... xD
Espero que continuem gostando :)



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Uma noite antes do Fim.

– Então está combinado. Amanhã, assim que o zoológico abrir...

– Menina, sai desse telefone! Preciso fazer uma ligação. – sua mãe gritou da sala.

Ela suspirou, exasperada.

– Ai, tenho que ir. Minha mãe quer usar o telefone...

– Vai lá. Até amanhã...

Após escutar as últimas frases de Lisa, uma de suas melhores amiga, ela desligou.

Levantou da cama e foi até a sala, cantarolando algum rock internacional que tinha escutado em algum momento durante o dia.

– Então, é amanhã mesmo? – sua mãe perguntou, pegando o telefone.

– Sim. Assim que o zoológico abrir, por volta das 07:30, 07:40.

– Meu Deus, menina! É muito cedo! – disse, discando.

– É, mas queremos aproveitar bastante antes da nossa última prova... É meio que nosso último dia juntos.

– Mas vocês não irão se encontrar nas férias?! – sua mãe parou de discar e voltou-se para ela levantando uma das sobrancelhas.

– Ai, mãe. Não estraga o momento! Até lá vai demorar!

– Claro que vai... – retrucou a mãe, dando de ombros e voltando a atenção ao telefone – De qualquer forma, não vá dormir muito tarde, hein. Senão você não acorda. – Colocou o aparelho sobre o ouvido.

– Já estou indo. Só vou arrumar umas coisas aqui... – respondeu a menina, voltando ao quarto enquanto a mãe saudava uma amiga qualquer animadamente.

Menina popular que era, deslizou a mão no touchpad de seu notebook, que ligou a tela como se estivesse despertando, para acessar novamente suas redes sociais.

Centenas de notificações sobre fotos, comentários e coisas do tipo inundaram a janela de cada site aberto.

– Ei, era minha vez de usar o computador! – reclama sua irmã recém-saída do banho.

Ela vira rapidamente para trás, olha a menina de cima a baixo e se volta para a tela do notebook:

– Se veste primeiro. Depois a gente com... Ai, meu Deus! Ele curtiu minha foto! – disse toda animada assim que viu a notificação do garoto “mais gato” da escola.

A irmã deu de ombros. Cinco minutos depois, voltava do banheiro penteando os cabelos ainda meio molhados.

– Pronto, agora é minha vez.

– Ah, Letícia! Use o seu celular! – respondeu com um tom de impaciência sem se virar para a menina magrinha atrás de si.

– O quê? Você disse! – respondeu Letícia, indignada.

– Seu celular é bom! Você pode muito bem usar ele!

– O seu também...!

– Mas eu sou a mais velha! – Rebeca respondeu, de forma cantada, e provocou-a balançando o pescoço numa espécie de “dancinha-de-quem-ganha-a-discussão-com-a-irmã-dois-anos-mais-nova”.

– Argh! Ô mãe... – Letícia saiu do quarto usando aquele tom de criança chata que conta tudo pros adultos.

Alguns segundos depois, sua mãe respondeu com um tom quem estava ocupada demais com a amiga ao telefone para cuidar de besteirinhas de suas filhas adolescentes:

– Rebeca! Deixe sua irmã usar o computador agora!

Rebeca revirou os olhos. A dancinha do pescoço acabara.

– Você ouviu! – Disse Letícia assim que entrou no quarto novamente.

– Ai... Você parece uma criança! – respondeu Rebeca, finalmente virando-se para a irmã e lançando-a um olhar venenoso.

Letícia deu de ombros e fez uma cara de quem pouco se importava.

– Afe! Pega, bebezinha. – Respondeu Rebeca, saindo de todas as suas redes sociais.

Ela se jogou no amontoado de cobertores e travesseiros que chamava de cama e tirou o celular de algum lugar dali. Cinco minutos depois, ela estava online em todas as Redes novamente.

Acessando um aplicativo de fotos, fez um biquinho e tirou uma para enviar aos amigos que estivessem online.

A foto saiu ótima. Seus longos cabelos castanho-escuros espalhados sobre os cobertores e pescoço realçaram de alguma forma seus olhos escuros, deram um contraste ótimo para o rosto, diminuindo a brancura e magreza.

Ela decidiu que aquela não precisaria de efeitos. Adicionou uma legenda do tipo que garotas adolescentes adicionam e selecionou quem poderia vê-la.

Mal apertou o local da tela onde a setinha de enviar se encontrava, algo estranho começou a crescer dentro de seu corpo. Dentro de seu peito, ao lado de seu coração.

Uma espécie de misto entre ansiedade e adrenalina, que parecia dizê-la para ela se apressar e fazer algo especial. Ou incrível. Ou especial e incrível. Algo memorável aquela noite.

As coisas que ela sempre quisera, mas nunca havia feito.

Que havia deixado para o dia seguinte, até serem esquecidas. Até voltarem. Num turbilhão de pensamentos e desejo.

E diziam, também, para fazê-las. Não deixar para o dia seguinte, mas fazê-las o mais depressa possível.

Ela levou a mão ao peito, sem estar totalmente ciente do que fazia. Estava imersa demais em seus pensamentos e na sensação que nem notou o gesto.

Ela não sabia por que, nem como, mas a sensação estava lá. E gritava dentro de seu peito, dizia para ir e fazer.

Ir e fazer. Ir e fazer. Ir e fazer...

Ela olhou o relógio digital de seu celular. 19h03. Ainda tinha muito tempo.

Então se levantou, quase de um sobressalto, assustando sua irmã.

– Rebeca? – Letícia chamou ao ver a irmã em pé, parada ao seu lado com os olhos vidrados e arregalados olhando para o nada.

Rebeca não respondeu. Simplesmente saiu pela porta chamando pela mãe naturalmente.

– Esquisita... – disse Letícia, baixinho, ao voltar a atenção para o monitor.

– E como anda Claudinha, mulher!? – sua mãe ainda conversava animadamente com a amiga.

– Ahn... Mãe?

– Não! – respondeu a mãe, com a expressão de quem fofocava – Mentira! Menina do céu...

Depois, gargalhou.

– Er... Mãe?

– Quem diria... Claudinha numa situação dessas... Ainda não acredito.

– Mãe! – chamou mais alto desta vez.

Sua mãe virou o rosto, pediu um segundo ao telefone e disse, com um leve tom de impaciência:

– O que é, Rebeca? Não está vendo que eu estou ocupada, não?!

– Ah, sim, é que...

– É que o quê?

– Bem... Vamos ao parque?

– O quê?

A mãe, de repente, ficou bem atenta.

– Ao parque.

– Agora!?

– Sim.

Por um segundo, sua mãe a olhou de forma confusa. Ela realmente não esperava por aquilo.

– Menina, você sabe que horas são?

– Sete e três.

A mãe estreitou os olhos e, após uma pausa rápida, acrescentou:

– O que você está aprontando, garotinha?

Rebeca respondeu num tom ofendido:

– Nada, mãe. Só queria passar um tempo com a senhora e a chata da Letícia... Só isso.

E agora que tinha dito em voz alta, finalmente entendera a urgência que se revolvia em seu coração. Ir e fazer, ir e fazer...

Ir a algum lugar especial e fazer algo inesquecível.

Ela só não sabia muito bem o por que.

Talvez, fizesse bem para todo mundo se todas passassem um tempo em família. Quanto tinha sido a última vez em que as três foram a algum lugar tranquilo? Algum lugar que, somente pelo fato de ter sido o ponto de ajuntamento, se tornara especial.

Sua mãe estreitou os olhos e ficou encarando-a por algum tempo. Algo que a menina fez, talvez seu olhar sincero, fez sua mãe respirar fundo antes de dizer:

– Vá chamar a sua irmã e fiquem prontas. Vou terminar aqui – levantou a mão que segurava o telefone – e saímos logo depois.

Rebeca sorriu triunfante.

Assim que chegaram ao parque, a brisa noturna de novembro estava agradável, do jeito que sempre está quando provavelmente vai chover à noite.

A primeira coisa que Rebeca fez foi respirar fundo aquele cheiro de natureza-pré-chuva.

– Então, chegamos. – disse a mãe fechando a porta do carro.

– Legal, já podemos voltar? – rebateu Letícia desanimadamente, antes mesmo de sair do carro.

Rebeca lançou-a um olhar duro. A menina respondeu dando de ombros. Letícia tirou o celular do bolso do casaco branco de marca e foi se sentar num dos muitos balanços.

O parque era bem-iluminado. Postes se erguiam aqui e ali, derramando sua luz amarelada sobre todas as crianças pululantes que brincavam alegremente nos brinquedos.

– Agora, me diga. – pediu a mãe tranquilamente enquanto as duas caminhavam em direção aos balanços mais próximos.

– O quê? – perguntou Rebeca.

– O motivo desta vontade louca de sair de casa.

– Eu já disse... – Rebeca sentou-se no balanço. Sua mãe sentou-se ao lado – só queria passar um tempo com vocês.

A mãe ergueu uma sobrancelha.

– Só? – perguntou cética.

– Sim. Quando foi a última vez que saímos juntas? Só nós três?

Sua mãe ficou um pouco distante.

– Faz um tempinho mesmo... mas ainda não entendi o motivo dessa sua vontade doida de sair comigo.

“Nem eu. Só queria ter um momento especial com você”, Rebeca pensou em dizer. Mas o que disse foi:

– Gosto de estar com a senhora. Assim, só nós duas... Só isso.

Agora, sua mãe pareceu ficar surpresa.

– O quê? É verdade! – afirmou Rebeca, ao notar a expressão completamente descrente de sua mãe.

– Bem... fica meio difícil de absorver. De uns tempos pra cá você tem se mantido tão distante... E agora que sua irmã está crescendo, está indo no mesmo caminho.

– Eu sei que me “afastei” e tal... Mas sempre gostei de estar com a senhora. É só que agora... bem, nós temos internet...

A mãe riu da brincadeira. Ela também.

– Aconteça o que acontecer, você sabe que sempre gostei de estar com vocês e, seja qual for a maluquice que você tenha tido hoje... saiba que eu as amo. Sempre.

– Eu sei. Também te amo.

Sua mãe sorriu sem mostrar os dentes.

– Duvido você balançar mais alto que eu. – desafiou.

– O quê? Será que pode?

A mãe já começara a tomar impulso.

– Só tem um jeito de descobrir... – respondeu, sorrindo, aumentando a velocidade aos poucos.

– Mas... será que vai aguentar? - Rebeca quase cochichou.

A mãe parou de repente e fitou com um olhar sério.

– Está me chamando de gorda, menina? – fingiu um olhar assassino.

Rebeca riu.

– Não, mas... sei lá. Acho que a idade pra isso já passou.

Sua mãe a olhou, divertida e ofendida ao mesmo tempo.

– Ah, é? Vamos ver quem é a velha aqui, então!

E recomeçou a pegar impulso.

Bem... o balanço tinha aço em sua composição. Além do mais, Rebeca já tinha visto, algumas vezes, um ou dois jovens apaixonados se divertindo ali. Não era possível que fosse quebrar justo agora e na vez delas.

De qualquer forma, Rebeca decidiu que, se eles podiam, elas também. E outra, elas não deveriam ser tão mais pesadas que eles...

Quando se deu conta, seus longos cabelos castanho-escuros esvoaçavam ao vento, acompanhando os de sua mãe, e as duas riam como crianças ao sentir a sensação de liberdade que só o vento no rosto, misturado com a adrenalina de uma boa balançada em um bom balanço de aço pintado com cores infantis, poderia proporcionar.

Em algum momento, houve uma sincronia entre os balanços:

– Isso é o mais rápido que você consegue? – provocou a mãe com um sorriso divertido.

Rebeca respondeu com uma expressão travessa, e acelerou, rindo.

As duas riram enquanto os balanços começavam a dessincronizar.

Depois, as duas foram até ao banco quadrado do playground, já que não poderiam brincar nos outros brinquedos de madeira, e se deitaram cada uma em uma ponta do banco, de modo que formaram um L com seus corpos.

Letícia disfarçou uma risadinha enquanto as duas se estendiam no banco de concreto frio e cinzento.

Rebeca e sua mãe riram das expressões que as crianças faziam ao se surpreenderem e divertirem nas próprias brincadeiras. Elas ainda conversaram sobre as estrelas, sobre a noite, depois sobre garotos. Até Letícia acabou se empolgando e entrou na onda.

Então, o celular de sua mãe tocou e ela teve de se levantar para atender.

– Olha isso! – disse Letícia para Rebeca, mostrando a foto que tirara com seu celular.

Na tela, Rebeca e sua mãe sorriam divertidas ao balançar. Os cabelos castanhos de ambas estavam livres e movimentados na imagem congelada e a luz amarelada do poste de alguma forma os deixou mais brilhantes.

Elas estavam tão lindas. A foto estava tão linda...

– Me envia essa foto? – perguntou Rebeca.

– Sim... – então um toque vindo do celular – mas depois que eu responder essa mensagem aqui...

Rebeca sabia que ia demorar. Então, uma vontade de ligar para seus amigos surgiu de repente e ela puxou seu celular do bolso.

Enquanto falava, ela se deitou novamente no banco e ficou bestificada ao finalmente notar o maravilhoso céu estrelado que se estendia sobre si. A lua brilhava singelamente no céu, e alguns aviões desfilavam na imensidão negra repleta de pequenos diamantes cintilantes, brilhantes com suas luzes artificiais, mas naturais o suficiente para lembrarem estrelas se movimentando na escuridão infinita da noite.

Aquilo a fez lembrar-se do trecho de uma música que ouvira durante o dia:

“Podemos fingir que os aviões na escuridão da noite são como estrelas cadentes. Seria muito bom um pedido agora, um pedido agora, um pedido agora...”

Desde pequena, ela sempre gostara das estrelas. Mas agora, ocupada demais com as amizades e a tecnologia cada vez mais surpreendente, ela percebera que fazia um tempo desde que apreciara o céu noturno pela última vez.

Valera a pena passar tanto tempo fechada construindo seu próprio mundo sem sair uma única vez? Quantas noites tão lindas como aquela era perdera nesse tempo? Estava tão reflexiva que por um segundo esquecera-se do telefone.

– Rebeca? – chamou uma de suas amigas. A última da lista mental que Rebeca tinha em mente para ligar –.

– Sim...

– Está tudo bem?

– Sim, só... me distraí por um momento. Desculpe...

– Tudo bem, isso acontece muito, não é mesmo?

– Sim. – ela pode ouvir o suspiro risonho da amiga – Enfim... liguei para agradecer...

– Hã? O quê? – perguntou a amiga confusa.

– Sei lá...

– Como assim? – ela pôde sentir o sorriso divertido e confuso de sua amiga.

– Acho que... sei lá, por sermos amigas.

– Bem, então agradeça a você. Não estaríamos nos falando agora se você não tivesse se sentado ao meu lado na aula de ciências da quinta série...

– É verdade... Enfim, obrigada por tudo. Você foi uma grande amiga.

– Eu que agradeço... Pera, como assim? Você está falando como se fosse morrer amanhã... – a amiga deu uma única risada – O que houve? Está tudo bem mesmo? – agora seu tom soou um pouquinho preocupado.

– Sim, está... É que... Já teve uma sensação esquisita? Como se você precisasse fazer em uma única noite tudo aquilo que você não conseguiu em toda a sua vida?

– Ai, credo! Isso está me soando muito mórbido... Mas não.

– É tipo, uma sensação meio ruim, mas boa... Não sei explicar.

– Você tem certeza de que não tem nada de errado acontecendo com... ai, meu Deus! Não me diga que você está se cortando! – seu tom era sério, mas Rebeca percebeu que ela estava brincando.

– Não! Você sabe que não faço isso. Enfim, é como se algo tivesse aberto seus olhos do nada e você sente uma gratidão só por estar viva e como a vida é bonita, e isso te faz querer fazer as coisas mais loucas e emocionantes que você tem em mente...

Houve um segundo de silêncio.

– Você está indo na igreja, é!?

– Eu sempre vou. Sou uma menina de Jesus, ué... Mas por quê?

A amiga deu uma risada irônica.

– Claro que é... Sei lá. Esse papo de agradecer aí parece coisa de igreja...

Rebeca riu.

– Pior que é verdade...

– Sim. Enfim, de nada por ser uma pessoa especial, companheira, amiga, alguém com quem você pode contar sempre, linda e tudo isso aí...

– Hã? Quem é essa pessoa? Me apresenta? – Rebeca brincou.

– Desculpa, eu sei que sou demais... – Bianca brincou de volta.

– Claro que é... – Rebeca revirou os olhos ao imaginar a amiga jogando o cabelo para trás com uma das mãos como sempre fazia ao brincar sobre sua autoimagem.

– Ou, inclusive, você ligou pra Lisa mais cedo e nada de me ligar, né!? – Bianca deu um sermão.

– Não liguei agora?

– Agora é mais tarde. Poxa, depois de tudo que passamos juntas... – fingiu um tom magoado.

– Está com ciúmes? – perguntou Rebeca, num tom provocativo.

– De você? Há!

– Amiga, desculpa, mas vou desligar aqui. Sabe como é né, zoológico amanhã assim que abrir e tals...

– Sim, é verdade. Boa noite. - despediu-se Rebeca.

– Até amanhã, Menina de Jesus.

– Ei, eu também sou de Jesus! – ela ouviu a voz de Lisa no fundo.

– Até, Menina Demais... Dê um oi pra Lisa aí por mim.

– Claro que é – sua voz soou mais distante enquanto falava com Lisa - E, Lisa, ela está mandando um oi... – Uma rápida pausa e Bianca voltou - Ela mandou um tchau. De novo.

– Sério? Desta vez, não a ouvi...

– Ela só balançou a mão. Nem olhou pra mim... Tá vendo a ingratidão da pessoa?

– Oxe, quem manda aqui sou eu! – brincou Lisa.

– Tchau, meninas. Beijo – despediu-se Rebeca.

– Beijo. – respondeu Bianca, antes de se voltar para Lisa – Oxe, quem diss...?

A chamada fora encerrada.

– E então, satisfeita? Podemos ir agora?

Rebeca levantou a cabeça enquanto sua mãe retornava de onde quer que tenha ido para falar ao telefone.

– Sim. Vamos, Letícia. – respondeu Rebeca se levantando.

Naquela noite, Rebeca dormiu virada para a janela. A menina abrira a cortina para poder ver o esplendoroso firmamento noturno antes de se lembrar de que agradecera à todos os seus amigos exceto um.

Fez uma oração mental, distraindo-se umas duas vezes com a vista celeste e depois, enquanto o sono não vinha, continuou pensando em como era tudo tão minuciosamente perfeito.

Cada detalhe, cada cor, cada ângulo e grau... Tudo exatamente como deveria ser para que fosse possível aquele momento de apreciação, a existência daquela menina.

E então, um brilho faiscante raspou no céu. No começo, ela achou que fosse mais um avião. Depois, rapidamente conseguiu distinguir a cauda faiscante entre tons de azul e branco. Um cometa.

Era quase mágico o tanto que era belo e passageiro, a visão sequer durara três segundos.

E então, ela se lembrou de sua infância, quando tudo o que via raspar o céu eram estrelas cadentes e ela podia fazer um pedido. O trecho da música voltou a tocar em sua mente:

“Seria muito bom um pedido agora, um pedido agora, um pedido agora...”

Mesmo sabendo que era bobagem, mesmo não acreditando, ela fechou os olhos.

Seu pedido foi quase feito inconscientemente.


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