ApocalipZe escrita por Sr Devaneio


Capítulo 4
Capítulo 1 - Antes dos Mortos parte 2


Notas iniciais do capítulo

Como está indo? Gostando?
Espero que sim... Bom, chega de falar, apresento-lhes o final do Capítulo 2!



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Aquele poderia ser um dia como qualquer outro. Claro que podia.

Eu me levantei pronto para mais um dia. Mais um dia nessa rotininha sem-graça, sem emoção nenhuma.

De manhã, os mesmos noticiários chatos e comuns sobre falta de água em várias partes do mundo; os países ameaçando-se com possíveis declarações de guerra... Inclusive os países vizinhos ao meu Brasil.

Verifico minha mochila e sinto que falta alguma coisa. Olhando ao redor, vejo minha câmera sobre a escrivaninha. Coloco-a na capinha antes de guardar na mochila e me despedir de minha mãe, de volta a essa minha vida de cursos. Curso de inglês, curso de música, curso de culinária... E é claro, o tal curso de dança.

Minha avó dizia que o homem que aprende a cozinhar e a dançar conquista qualquer mulher.

Para gente tímida como eu, parecia ser até um bom reforço. Hoje era o curso de música.

Sim, aquele dia tinha tudo para ser só mais um dia normal.

O telefone tocou.

– Mãe, tô saindo! – Avisei ao pegar o case preto do violino.

– Cadê meu beijo de despedida? – Ela responde, tapando a parte inferior do telefone, para que quem quer que esteja na linha não ouvir seu grito.

Volto. Minha van havia chegado há uns dois minutos e Marcelo, o motorista, buzina por causa de minha demora.

– Te amo, tchau! – Digo.

– Também te amo. Está levando tudo?

– Sim.

– Não está se esquecendo de nada mesmo?

– Não! – Digo, já do lado de fora.

– Alô... – Ela responde, mas já não se dirige mais a mim.

Quando a van começa a se movimentar, vejo o carro de meu pai voltando em casa. “E como sempre, depois de uma longa noite...” – pensei.

Mas em seguida, outros dois carros pretos surgiram seguindo o de meu pai. A van fez a curva no momento em que os três pararam na frente da minha casa.

Estranho. Pela cor, modelo e marca dos carros, são pessoas do trabalho deles e ninguém do trabalho deles nos visita.

Estranho...

Enfim, é melhor eu cuidar da minha vida. Então lembro de que estou atrasado para a aula de dança.

Caramba! Estou ferrado!

Assim que cheguei à famosa e prestigiada “Academia de Dança Profissional da Srta. Bardot”, pronto para terminar de perder as juntas das minhas pernas. A dona era uma mulher rígida, finamente educada e muito correta. Do tipo que frequenta festas luxuosas só para mostrar aos outros seus “talentos” (era como ela chamava seus alunos prodígio) em apresentações de danças teatrais escandalosas. Ela tinha um sotaque que eu nunca descobri de onde é... Só sei que arranha o ”r” em todas as “palavras” que diz.

Era do tipo de pessoa que trabalhava, dormia e respirava para seu único e imutável sonho: vencer o então estimado Torneio Mundial de Dança Teatral, realizado em Moscou, e colocar sua escola entre as 10 melhores da “Lista Cendrillon”; a lista das cem melhores escolas de dança do mundo.

“O mundo precisa de música, dança e talento, e nós temos habilidade em todos os três!” era o que sempre dizia a nós, alunos da Academia.

– Ela vai ficar uma fera, com certeza. – pensei, assim que ponho os pés dentro do recinto imaculado (além de tudo, a srta. Bardot tinha mania de limpeza).

Entrei preparado para tudo.

– Ela se atrasou hoje?! – perguntei, inutilmente.

Embora eu soubesse da resposta, desejei imensamente que o carro tivesse furado um pneu, ou que a Srta. Bardot tivesse se esquecido de uma de suas chaves em casa no meio do caminho para o trabalho e voltado em casa para buscá-las. Ou até mesmo que tenha passado em um supermercado para comprar alguma besteirinha.

– Ela nunca se atrasa. – Disse a recepcionista bem vestida olhando para a tela do computador. Roberta já era recepcionista daquele lugar fazia muito tempo... Porém todos os dias, estava com aquela cara de tédio infinito.

– Droga, ela vai descontar nas minhas pernas! – eu disse num suspiro.

– Com certeza vai. – Roberta diz, sem olhar para mim e sem mudar um músculo de sua tediosa expressão.

Era tão tediosa que contagiava. Era melhor sair logo dali.

Então saio correndo até a porta branca do Ginásio 1.

Enfim... O que você precisa saber, é: Meu nome é Enzo, tenho 15 anos e estou cursando o 1º ano do Ensino Médio na “Escola Superior de Ensino Militar – Souza e Silva”.

Sim, eu sei, é um péssimo nome para uma escola, mas o sistema de ensino é um dos melhores do estado.

O diretor era um militar aposentado por invalidez depois de ferir gravemente o joelho em um treinamento. Era do tipo de pessoa que não conseguia ficar sem trabalhar, então, assim que foi “dispensado”, investiu o dinheiro da aposentadoria e do bônus que recebeu em uma escola. E é aí que eu estudo.

Nem preciso falar o quanto era cara. Nela só estudavam filhos de pessoas ricas e importantes – ou de militares, claro.

A parte boa, era que como o diretor ainda amava as Forças Armadas, dava uns bons descontos para filhos de militares. Filhos como eu.

Deparei-me com a grande porta impecavelmente branca me encarando (na verdade, com exceção do teto, das maçanetas das portas e alguns detalhes no piso, tudo ali era muito branco). A plaquinha negra com a inscrição “Ginásio 1” parecia me mandar um ultimato: “Então, você tem duas opções: Ou você entra, ou você entra!” era o que me ‘dizia’.

Fiquei ali, parado encarando a porta de volta por uns cinco segundos, quando reuni coragem e girei a fria maçaneta prateada.


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