ApocalipZe escrita por Sr Devaneio


Capítulo 3
Eduardo e Amanda


Notas iniciais do capítulo

Nosso primeiro PoV...
Vamos lá!



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Cerca de 01 semana para o Fim.

Até que era um bom homem.

Todos os dias quando acordava, lembrava-se do quanto era sortudo. Boa-pinta, tinha um bom emprego, bons amigos e uma boa vida.

Era uma pessoa incrivelmente feliz, satisfeita consigo mesma e suas realizações pessoais. A única coisa que o faltava, porém, era alguém que estivesse disposto a passar o resto de sua vida ao seu lado.

Ele só precisava de uma companheira.

Não que ele já não tivesse conhecido várias mulheres exuberantes, só não tinha achado ainda a “pessoa certa”.

Letrado e culto que era, buscava alguém que combinasse com seus interesses refinados, sua paixão pela leitura, pela música clássica e pelas viagens cujas finalidades eram conhecer as diferentes culturas do mundo.

Funcionário público do Senado Federal, já tinha viajado o mundo; conhecido vários países, culturas e línguas diferentes, mergulhado com tubarões, arraias gigantes e atravessado de bicicleta quinze quilômetros inteiros da Grande Muralha da China.

Aos 23 anos, tinha um futuro completamente promissor pela frente. A vida que muitos iriam querer.

Como em todos os dias comuns, tomou seu café calmamente e se arrumou para o trabalho.

Quando enfim tinha dado sua hora, desceu até o estacionamento de seu prédio e apertou o alarme do carro.

Assim que sentiu o couro macio do banco, uma dorzinha chata lhe bateu no peito.

Após uma pausa para respirar, a dor passou. Com a testa franzida, ele decidiu que aquilo podia esperar. Pelo menos, até o fim de seu expediente.

Para evitar esquecimento, ligou para seu médico antes de sair.

O dia no trabalho foi como qualquer outro: sentado diante do computador, digitando, recebendo e enviando e-mails de diversos assuntos, tipos e contextos profissionais, antes de outra reunião.

Se alguém lhe pedisse para falar uma coisa que ele não gostava no trabalho, mesmo que não fosse algo grande, ele com certeza apontaria seu chefe. Não que o chefe em si fosse o culpado, mas toda vez que Eduardo o via, ele dava aquele sorrisinho. O sorrisinho pré-reunião-de-trabalho antecedia as famosas e entediantes reuniões com os chefes de seu setor.

Fora isso, sem dúvidas, ele achava seu emprego ótimo. Deveras, havia estudado durante dois anos para chegar até ali...

Na hora do almoço, Amanda, sua colega de trabalho, o chamou para irem juntos a um restaurante próximo. Ele aceitou sem pensar duas vezes.

Ela era sempre gentil e amistosa. Sabia contar uma boa piada e sempre dizia a coisa certa nas horas certas. Eduardo desconfiava que ela mantivesse uma leve queda por si, mas nunca tivera a chance de perguntar – embora fizesse algum tempo que ambos se conheciam, a relação com Amanda era completamente profissional.

A única coisa “íntima” de que tinha noção em relação à Amanda era o fato de ela estar solteira. Eduardo também descobrira (por uma fofoca que acabou escapando) que outros colegas de trabalho achavam que ambos “formavam um casal fofo”.

O restaurante não era muito longe, de sorte que era possível ir a pé.

Enquanto comiam, ele reparou em como ela era inteligente. Geralmente, as pessoas associavam loiras com burrice, mas Eduardo sabia que, pelo menos aquela loira era completamente o oposto. Inteligente, esperta, sagaz, engraçada...

E sempre que reparava nisso, ele sentia algo diferente, um leve calor no meio do peito.

Havia um tempo, ele vinha pensando que ela tinha grandes chances de ser sua mulher ideal.

A única coisa que o faltava para ter a confirmação era tempo e intimidade para aprofundar mais a amizade e evoluí-la em algo maior.

E ele pensava nisso quando ela o lançou um olhar diferente.

Só havia percebido depois, pois estava imerso demais em suas reflexões para notar de primeira. Mas ele notou. Ah, se notou...

Não era grande coisa, mas ele havia captado.

Para ter certeza, ele lançou-a um sinal parecido, e ela retribuiu.

Bingo! Ela estava mesmo na sua! Quem sabe se ele convidasse agora...

– Sabe, estive pensando no tempo em que nos conhecemos... – ele começou.

– Uhum... – ela respondeu com um olhar inocente.

– Acho que nunca saímos juntos para descontrair... – continuou.

Ela tomou um gole de seu suco, antes de concordar, sorrindo.

– Você gosta de filmes? – perguntou ele.

Ela fez uma pausa e respondeu, brincando, com certa malícia:

– Depende do tipo...

Ele arqueou levemente as sobrancelhas, surpreso e divertido. Ela sorriu.

– E você? – rebateu apoiando a cabeça sobre o cotovelo, apoiado na ponta da mesa na mesa, demonstrando interesse.

– Depende do tipo... – ele respondeu com um ar divertido, entrando na brincadeira.

Ela mordeu o lábio inferior, com uma risadinha, e prosseguiu no mesmo ritmo:

– Fiquei sabendo que vai estrear um ótimo agora...

– Depois do trabalho? – ele perguntou, agora sem rodeios.

– Hoje? – ela perguntou ligeiramente surpresa.

– Já te algum compromisso? – ele estava tranquilo.

– Na verdade, tenho... Que tal na sexta? – ela sugeriu com um brilho nos olhos.

– Está ótimo! – ele respondeu.

Então ele sorriu.

E ela sorriu de volta.

– Que pena que hoje já não é sexta! – ela acrescentou, mordendo novamente o lábio inferior.

– Verdade! – ele a fitou, pensando em todos os sentidos e significados que aquela frase poderia conter antes de acrescentar: - Então, o que mais você faz para se divertir?

Enquanto ela respondia, ele sorriu de novo, ansioso para a tarde chegar.

Eles voltaram juntos ao trabalho. Rindo e conversando.

Eduardo mal viu o tempo passar, pois descobrira que, além de livros, Amanda era apaixonada por música clássica.

A semana passou rápido. E eles ficavam mais próximos a cada dia. De dia, se esbarrando nos corredores do edifício onde trabalhavam; à noite, trocavam mensagens via celular.

Quando a tão aguardada sexta-feira finalmente chegou, eles saíram juntos.

Por coincidência, Eduardo (com algumas segundas intenções) tentou argumentar num terror, mas Amanda acabou convencendo-o a pegarem um romance.

O filme era meio tosco, previsível demais (um cara que gostava de uma mulher, mas não sabia se ela estava a fim dele por que não conhecia seus gostos), mas criava um ótimo clima para o que ambos pretendiam.

Lá para o meio do filme, quando os protagonistas finalmente saíram juntos, a parte interessante chegou.

Ele se virou para ela quando o protagonista finalmente se declara para a amiga:

“Pensei muito a respeito disso, e acho que está na hora de te contar uma coisa...”

Nesse instante, ela se virou para ele. Ao pegá-lo observando-a ela riu discretamente.

“Também tenho algo a dizer. Fale primeiro” – a amiga responde.

Após a fala, ela ficou séria, encarando-o de volta, como se estivesse interpretando o filme.

“Faz muito tempo que nos conhecemos. Muito tempo que venho reparando em sua personalidade, beleza e inteligência de longe...”

Era estranho, mas Eduardo sentiu como se tivesse dito as mesmas palavras apenas com o olhar.

Amanda pareceu sentir também, pois suspirou.

“... e não consigo mais guardar algo assim para mim mesmo, pois quanto mais penso nisso, mais angustiado fico por não tê-la declarado antes. É como se eu fosse corroído por dentro cada vez que a vejo, mas não me aproximo o suficiente. Pelo menos, não como eu queria...”

Por sua visão periférica, ele viu a mão de Amanda sobre o encosto da poltrona. Gentilmente, envolveu-a com a sua.

Eduardo inspirou fundo, ouvindo o protagonista fazer o mesmo.

“Pode não dar certo, mas eu queria que soubesse de qualquer forma: Amélia, sempre achei que, se tivesse um bom emprego, uma boa vida e condições para fazer tudo o que me desse vontade, eu teria tudo o que sempre quis...”

Amanda olhava fundo nos olhos dele.

A mulher do filme, Amélia, deixou um “Oh” surpreso escapar.

“E eu fui atrás. Corri em busca disso, achando que seria feliz se tivesse tudo. Mas então te conheci... E vi que, a única coisa de que eu precisava para ser feliz era você. Você é tudo o que eu sempre quis!”

Nesse momento, Eduardo viu sua chance. Apoiou delicadamente a mão que estava livre na bochecha de Amanda e se aproximou.

“Oh... Marcelo! Eu sinto o mesmo!” – exclamou Amélia.

E tudo o que Eduardo viu foram os olhos brilhantes de Amanda por alguns segundos, antes de ambos se fecharem ao mesmo tempo que os seus.

E, naquele momento, Eduardo teve a certeza de tudo o que vinha se perguntando em relação aos sentimentos de Amanda e até mesmo aos seus próprios sentimentos.

Naquele momento, Eduardo perdera suas dúvidas. Ele teve a confirmação de que tinha achado a pessoa certa.

O beijo foi longo. Ambos queriam aproveitar cada instante, cada segundo daquele momento.

Era previsível que as personagens do filme estivessem fazendo o mesmo, pois tudo o que se ouvia era a respiração de um ou outro em pequenos intervalos de tempo.

Assim que aqueles instantes maravilhosos chegaram ao fim, Eduardo, ainda afagando o rosto de Amanda, olhou profundamente em seus olhos, se preparando para dizer...

Mas o protagonista do filme foi mais rápido e declarou à sua amada algumas das palavras mais fortes e intensas que existem:

“Eu te amo.”

Eduardo sabia que Amanda havia captado sua mensagem, mas mesmo assim decidiu complementar:

– Estive esperando por você. Só por você. E agora eu vejo que valeu muito a pena!

Coincidência ou não, o momento fora perfeito.

Depois do filme, Eduardo acompanhou Amanda até sua casa e acabou subindo para “um cafezinho”.

Mas não teve cafezinho nenhum, pois assim que chegaram ao estacionamento do prédio onde Amanda morava e Eduardo abriu a porta do carro para Amanda, ela lhe deu um beijo daqueles. E os dois foram assim, juntinhos, até o elevador.

Assim que chegou ao seu apartamento, Amanda já foi tirando seu blazer e jogando no chão. Eduardo ia fazendo o mesmo com seu paletó, quando parou e ficou encarando alguma coisa.

Amanda seguiu o olhar até a mochila de sua sobrinha, deixada sobre a mesa de jantar antes de a garota sair.

Amanda riu, antes de explicar:

– Está tudo bem. É da minha sobrinha, que foi dormir na casa de uma amiga hoje. Ela só volta amanhã. Estamos seguros.

Eduardo relaxou visivelmente. Amanda lançou lhe um sorriso malicioso.

– Mesmo assim, prefiro tirar quando chegarmos em seu quarto. – ele avisou sério, mais por respeito que por qualquer outra coisa.

– Tudo bem ent...

Ele a beijou antes de ela terminar e ambos foram assim até o quarto de Amanda.

Finalmente, Eduardo tirou o paletó e o jogou no chão. Amanda tirou a blusa e abriu o zíper da saia quando Eduardo se aproximou e disse:

– Deixe comigo.

Com movimentos precisos e em poucos instantes, a saia de Amanda estava no chão e ela estava deitada sobre a cama, apreciando o tronco definido e os braços fortes de Eduardo.

Ela sorriu.

Ele sorriu. E se aproximou.

Cobrindo-a de beijos, ela quase se esqueceu de uma coisa importante:

– Espera! Você trouxe...?

Eduardo arregalou os olhos, alarmado.

– Droga! – disse ele, contrariado. E ela teve sua resposta.

– Estava bom demais para ser verdade... – ele acrescentou, antes de começar a se levantar.

– Desculpe, é muito arriscado! – ela disse igualmente frustrada.

– Não. Você tem razão. Desculpe-me você, por ter vacilado...

Amanda fez um cálculo rápido e seu rosto se iluminou.

Estava no 17º dia. As chances eram menores.

Antes que ele pudesse se afastar por completo, ela o interrompeu, segurando em seu bíceps.

– Não tinha como sabermos... – ela respondeu, sorrindo maliciosamente.

Ele a encarou confuso. Depois, ficou sério.

– Não.

– Está tudo bem. – ela tranquilizou-o.

– Tem certeza? – ele perguntou, de maneira cética.

– Absoluta. – ela respondeu.

Depois o beijou novamente.


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Notas finais do capítulo

Espero que não tenham gostado dos personagens.