ApocalipZe escrita por Sr Devaneio


Capítulo 23
Capital dos Mortos - 02 parte 2


Notas iniciais do capítulo

Ei galera!
Capítulo novo para vocês. Esse é a continuação do "Capital dos Mortos - 02". Tive que dividi-lo porque senão ia ficar enorme.
Sem mais delongas, boa leitura!



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[...]

Mais tarde Emi dissera que, pelo fato de o prédio em si ser bastante perigoso (já que era movimentado à noite por todo o tipo de gente, que ia em direção às raves subterrâneas) as portas eram reforçadas.

Quinze ou vinte minutos depois, Emi nos mostrou onde ficava o filtro e, só depois de beber água pude de fato observar o ambiente.

A loja em si era consideravelmente grande e organizada. As várias seções eram separadas pela cor e símbolos desenhados na parede, mas organizadas praticamente todas da mesma forma: parede decorada conforme a seção, balõezinhos pendendo do teto, amarradas a fios de náilon sobre as bancadas cheias de produtos (variavam de camisetas à action figures (Vítor explicou que eram a representação dos bonequinhos famosos de animes e outras mídias) e que mostravam desenhos ou imagens do que cada seção era.

A seção de mangás tinha a parede cheia de desenhos de personagens japoneses. Os balõezinhos mostravam desenhos de mais personagens de anime e nomes estranhos. A bancada era cheia de bonecos e camisetas estampadas.

A seção de bandas tinha o tema preto. Nomes e símbolos de várias bandas preenchiam os espaços, tornando a combinação de preto e slogans perfeita. A bancada dessa seção era especialmente de camisetas.

A seção de eletrônicos tinha as paredes decoradas com figuras de consoles de vídeo games, headphones e detalhes que conferiam um ar tecnológico. A bancada desta era cheia dos próprios headphones, camisetas decoradas, CDs e DVDs.

No balcão, bem abaixo da bancada onde o vendedor realizava todas as compras, prateleiras se dividiam atrás de uma divisória de vidro. Nas prateleiras, vários acessórios, itens que eu não sabia dizer o que eram e capas para celular estavam organizados com zelo.

Na ponta da bancada havia uma cesta grande. Dentro dela, um monte de buttoms com temas variados e diferentes podiam ser vistos. Vasculhei alguns para ver se achava um que me agradasse, acabei pegando três: um de uma banda que eu gostava, um de pokébola (o buttom era redondo e tinha um risco com uma bolinha no meio) e outro com o cogumelo do jogo “Super Mario Bros.”. Aquele cogumelo representava uma vida a mais, e vida era tudo o que eu tinha e iria fazer de tudo para zelar.

Nada mais apropriado!

Minhas costas estavam quentes e suadas quando tirei a mochila para prendê-los. Depois a deixei onde estava, largando-a no chão - e fui dar uma olhada nos outros produtos da loja, já que todos faziam o mesmo.

Emi tinha sumido de vista neste momento, mas logo reapareceu, chamando todo mundo.

Ela estava no canto mais afastado do estabelecimento, dentro de um dos cinco provadores. As cortinas estavam afastadas e quando todos nos aproximamos, vimos que faltava uma das grandes cerâmicas do chão. No lugar dela havia uma escada, que dava para um ambiente escuro.

Uma passagem secreta.

– Sigam-me, as armas estão lá dentro. – foi o que disse antes de descer para a escuridão.

Entreolhamo-nos e após um dar de ombros coletivo, um a um foi descendo as escadas. Fui o último.

Quando minha visão se acostumou à escuridão, pude enxergar as suaves luzes vermelhas, azuis e verdes. Tudo ali (desde o teto até o piso) era pintado de preto. As lâmpadas com cores incomuns estavam espalhadas em fileiras e havia um intervalo entre uma e outra. Tudo aquilo dava um ar sombrio e ao mesmo tempo convidativo ao local, que cheirava a metal, couro e algo que eu não sabia identificar ao certo. Era uma substância meio oleosa, talvez fosse o óleo lubrificante nas armas.

Sim, havia muitas prateleiras e balcões de vidro (como os da loja de roupas) espalhados pelo recinto. Nos mostruários de cada um, armas de fogo de todos os tipos brilhavam sob as luzes coloridas das lâmpadas. O grupo se mantinha junto, provavelmente com receio de se aproximar demais de coisas tão perigosas.

Após dar uma volta no ambiente, Emi se aproximou de nós e disse:

– Está vazia. Sendo assim, podem olhar o que quiserem, mas, por favor, tomem muito cuidado. Provavelmente todas estão descarregadas, mas sempre é bom checar se as travas de segurança estão ativas. – Depois ela fez uma pausa rápida e acrescentou – Todos sabem checar travas de armas?

Com exceção de Vítor e Verônica, o resto do grupo – incluindo eu, obviamente - balançou a cabeça negativamente.

Emi então pegou uma pistola qualquer na prateleira mais próxima e nos mostrou o local da trava. Em seguida mostrou como a arma ficava travada e destravada:

– Quando pegarem numa arma, a primeira coisa que vocês têm de fazer é checar isso. Se não estiverem numa situação de grande e constante perigo, lembrem-se de travá-la logo após o uso. Isso pode garantir a vida de vocês. – Ela acrescentou essa última frase com um tom de bastante seriedade.

– E nós... vamos pegar numa dessas?! Tipo uma arma de verdade? – perguntou Vítor-Senhor-Óbvio.

– Mas é claro que sim, seu idiota. O que acha que estamos fazendo aqui? – respondeu Verônica, ajeitando os óculos de forma impaciente.

– Uau! Meu sonho se realizou! – ele acrescentou, ignorando a ofensa de Verônica. Logo em seguida, sumiu rumo ao mostruário mais próximo.

– Bem, por hora é isso. Fiquem à vontade e tomem cuidado! – disse Emi.

Então o grupo se dispersou, cada um indo para uma prateleira ou balcão diferente, analisando as diversas peças da loja.

Emi seguiu adiante, foi até uma parede um pouco afastada e colocou a mão sobre algo. Só então eu percebi que havia uma maçaneta secreta na parede, e que aquele pedaço era uma porta da cor do revestimento geral da sala.

A porta se abriu e Emi sumiu dentro daquela salinha secreta. Achei que seria melhor ficar quieto no meu canto, então deixei meu corpo me levar até uma estante qualquer.

Era de fato impressionante o tanto de armas de fogo que existiam ali. A variedade e diversidade eram tantas que eu não podia conter a admiração, pois acima de tudo, elas exalavam certa elegância ao brilhar lustrosas sobre as luzes vermelhas e verdes daquela seção.

Elegantes e perigosas, bonitas e mortais. Que contrastes!

O vidro do mostruário embaçou com minha respiração e só então eu notei meu reflexo. Apesar do vislumbre momentâneo que eu estava tendo, apreensão, medo e tensão sobressaíam-se a qualquer outro sentimento e isso era visível.

Nunca pensei que era possível se preocupar tanto com apenas 15 anos.

Então eu lembrei que fazia um tempinho eu não invocava o meu Deus. Fechei os olhos, respirei fundo e, ao soltar o ar, falei baixinho:

– Ó Senhor Jesus!

Era impressionante como aquilo sempre funcionava. Imediatamente senti um pouco da tensão se esvair e meu corpo relaxar um pouquinho. Uma sensação de alívio se misturou às outras, deixando meu emocional um pouco mais confortável.

E então algo chamou minha atenção do outro lado do vidro.

Eu estava, aparentemente, na seção de estilingues. Estavam todos arrumados numa fileira horizontal, e um deles em especial me atraiu: era preto com detalhes verdes. Deslizei a divisória de vidro e o peguei. Era incrível! Ao que tudo indicava, o corpo era feito de aço inoxidável e as tiras de um tipo de látex natural. Parecia ser bem resistente.

Pensei um pouco e decidi levar comigo. Carregamento fácil e rápido, pois era possível usar até pedras, leve, resistente e pequeno. Eu não poderia desejar arma melhor!

Em seguida procurei em volta algo que pudesse ser usado como munição para ele. Em outra seção ali perto, achei cartuchos e mais cartuchos cheios de esferas de aço que variavam de tamanho, indo de 8 a 20 milímetros de circunferência. Coloquei o máximo que podia em meus bolsos e permaneci decidido a voltar ali com a mochila antes de irmos embora.

Acabei encontrando uma “seção de couro”, cheia de alforjes, luvas e acessórios do mesmo material. Pequei dois alforjes e os enchi com as esferas de aço. Preferi pegar uma quantidade maior das três esferas de tamanhos menores (8mm, 10mm e 12mm).

Era isso! Eu me sentia preparado.

Mas será que... Não! Melhor não crescer o olho. Senão eu sairia que nem um maluco pegando coisas que não conseguiria carregar depois. Ganância sempre gera problemas.

Resolvi ir buscar a mochila para enchê-la com o maior número de esferas possível e acabei encontrando Matheus perto da escada. Ele segurava uma enorme besta prateada.

– O que acha? – ele perguntou.

– Acho que você vai custar pra usar isso. – fui sincero, sem parar de caminhar em direção à escada.

– Mas por quê? – ele insistiu.

– Fala sério? – Virei-me para encará-lo – dá pra ver o esforço que você faz só pra segurar esse troço!

E dava mesmo. O esforço dele para tentar esconder era meio que inútil.

Não vi direito sua reação, mas acho que ele deu de ombros.

Tanto fazia, de qualquer forma. Não era eu que teria de arrastar aquela coisa pra todo o canto.

Quando finalmente voltei à seção das esferas com minha mochila e havia conseguido enchê-la com um número considerável delas, Emi surgiu do fundo preto trazendo duas espadas embainhadas em belas bainhas. Uma com detalhes reluzentes, outra cheia de linhas prateadas que brilhavam sob as luzes coloridas da sala, adquirindo um ar quase mágico. Ambas estavam presas pelas tiras em sua cintura; cada uma de um lado.

Ela também trazia consigo duas katanas (pareciam katanas) pequenas presas às costas e um pequeno alforje preso em sua cintura.

Pensei que era isso. Mas assim que ela deu outro passo, percebi mais duas pequenas bainhas, presas em suas coxas (uma em cada) por tiras de couro.

Meu Deus! Acho que nunca vira ninguém tão armado com espadas em toda a minha vida. Emi parecia uma meio-ninja, pois ainda usava o uniforme escolar. A combinação chegava a ser surreal e engraçada, totalmente desconexa uma da outra.

Será que todo aquele aço não pesava? Ela caminhava como se não carregasse mais que o peso habitual de sua mochila nas costas...

Percebi que ela me encarava por eu estar encarando-a. Virei o rosto, tentando disfarçar (fui um fiasco, mas o que vale é a intenção).

Acho que escutei um risinho discreto antes de me afastar discretamente.

Instantes depois, escutei sua voz:

– Galera, assim que terminarem de escolher, me avisem. Vou fechar tudo e sairemos logo depois pra não perder tempo.

Sair. Essa era a questão. E o pior é que eu não tinha me dado conta disso até ela falar.

Como que lendo os meus pensamentos, ouvi uma voz mais suave perguntar:

– Mas como sairemos se as portas estão trancadas? – era Nathália.

– Pelos fundos. – Emi respondeu com naturalidade.

Os fundos. Como não tinha pensado nisso antes? É claro que uma loja de roupas otaku que possui uma loja secreta de armas no subsolo teria uma saída extra.

Com esse pensamento, me permiti relaxar um pouco e pude terminar de guardar e organizar minhas coisas. E então reparei em meu uniforme.

Embora lavado na noite anterior, algumas muitas manchas haviam permanecido. Minha blusa estava bastante amassada e a calça, reta em umas partes e um pouquinho dura também por causa do sabão em pó que um de nós exagerou na hora de colocar.

Eu tinha que arrumar outras peças, visto que as minhas reservas estavam sujas. Então eu lembrei onde estávamos.

Tornei a subir as escadas e fui direto à seção de blusas. Não era muito o meu estilo, mas uma blusa preta com uma estampa do cogumelo verde do Mario era melhor que um uniforme manchado de sangue. Daí, lembrei que preto esquenta demais e provavelmente teríamos um longo dia pela frente debaixo do sol, então substituí a preta por uma branca, mas com estampa igual, e guardei a primeira onde tinha achado.

Então eu me sentia pronto.

Como os outros ainda estavam ocupados, resolvi dar uma passada pelas outras seções. Quem sabe eu achasse algo bacana.

Acabei pegando uma capinha nova pro meu celular e um carregador portátil. Logo depois, descobri que a loja também fazia recargas para a minha operadora, logo aproveitei pra colocar R$30,00 de crédito (pesquisei no computador da própria loja como o processo poderia ser feito). Assim eu poderia, além de tentar ligar, mandar mensagens para os meus pais. E era o que eu estava fazendo quando Nathália apareceu:

– Conseguiu falar com alguém? – ela veio rapidamente em minha direção quando viu que eu estava teclando.

– Na verdade, vou tentar agora...

– Ah. Não consigo contatar ninguém nem pelas redes sociais... – ela suspirou de uma forma triste – Não tem absolutamente ninguém online em lugar nenhum.

– Você tem créditos?! Que milagre é esse? – eu realmente estava surpreso.

Ela riu da expressão que eu devo ter feito e respondeu com simplicidade:

– Não. Só estou usando o wi-fi aqui da loja.

– Espera... tem wi-fi aqui?! – levantei o tom de voz sem querer.

Ela arregalou os olhos por um instante e respondeu novamente, como se fosse óbvio:

– Sim... E liberado.

Me senti meio ultrapassado por não ter pensado nisso antes. Imediatamente, acessei as configurações de rede do celular. Uma lista enorme de redes apareceu:

Claudette_Modas

CalcadosMariaLuxxo

Restaurante.Betel

LojaSenpai-livre

Musicista-Bloqueado

CasadaMUSICA

LivrariaPandora

LivrariaOsTextos

Cafe.com

Viagens:Malibur

ApocalipZCOMICS

E ainda vinha acompanhado da palavra “livre”. Quase chorei de emoção. Pela internet seria muito mais fácil contatar alguém da família.

Acessei o aplicativo do Facebook no meu celular. Instantes depois, Nathália exclamou:

– Olha! Tem alguém onli...! Ah, é só você mesmo. – a frustração dela foi imediata e totalmente clara.

– Nossa, muito obrigado! – brinquei.

– Desculpa. É que eu tinha tanta esperança de que fosse alguém de fora... – ela respondeu com o tom de voz um pouco triste.

Suspirei. Meu celular vibrou com todas as notificações de aplicativos que deviam ter chegado de uma só vez.

– Sem problemas.

Focando no meu objetivo, tratei de mandar uma mensagem no chat da minha mãe, mesmo sabendo que as chances de ela responder eram bem poucas.

Como tanto a última postagem quanto o informador de login dos meus contatos eram de dois dias atrás, resolvi deixar um recado geral na minha linha do tempo antes de verificar quais aplicativos teriam atualizado e mandado notificações.

Após um tempo, Nathália falou:

– Sabe do que nós precisamos?

– De um sorvete?

Pela visão periférica, vi que ela deu uma risadinha antes de responder:

– Não, Mensageiros Instantâneos. Mas um sorvete até que seria bom.

Olhei para ela nesse momento.

– Será que aqui tem? MI’s, quero dizer...

– Acho que não. De qualquer forma, já que não estamos fazendo nada mesmo, podíamos procurar...

– Vamos lá então. – falei, guardando o celular no bolso.

– A propósito: blusa legal! – ela acrescentou, antes de se virar novamente.

– Obrigado. – sorri.

– Mudança rápida de planos. Ants dos MI’s, vamos pegar uma dessas para mim também! – ela falou.

Sorri e completei:

– #Partiu!


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Deixe sua opinião, ela é importantíssima! :)
Valeu gente, nos vemos no próximo.



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