ApocalipZe escrita por Sr Devaneio


Capítulo 20
Capital dos Mortos 02


Notas iniciais do capítulo

E aí, gente!
Eis a continuação da nossa história. Espero que tenha ficado melhor que o primeiro e que vocês se divirtam. Tem (muito mais) ação nesse.
Não esqueçam de comentar. Os comentários nos motivam a escrever ;)
Sem mais delongas, aproveitem!



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Atravessamos o gramado, nos distanciando da W3. Eu tinha a impressão de que não a veria mais tão cedo.

Mais à frente, quando as coisas começaram a ficar mais concentradas no meio, passamos para o lado direito. Emi e Vanessa estavam dando conta do recado muito bem, nós (outros, inúteis, vocês escolhem) só precisávamos acertar algum deles quando um ou outro vinham pelo lado, atraídos pelo som de nossa corrida.

Dez minutos depois e eu já podia ver o enorme amontoado comercial que era o CONIC. Um monte de lojas, uma sobre a outra, feitas num local planejado e adequado para aquilo – embora a aparência do prédio dissesse o contrário.

Era uma espécie de shopping, mas em vez de lojas caras de roupa de marca, havia de tudo um pouco: eletrônicos, artes, quadrinhos, alguns escritórios e outros lugares e coisas um pouco mais peculiares (que, por sinal, só funcionavam à noite e em locais bem escondidos. Detalhe: todos proibidos para menores de 18).

Também se podia ver a rodoviária. A fileira de carros que a atravessava roncava, mantendo os motores ligados. Pensei em quanto tempo levaria para que as baterias se cansassem de nutrir energia inutilmente antes de se apagarem.

Era uma vista tão diferente. Uma vista tão... estranha. Carros ligados, mas vazios. Quase todos com as portas abertas. Tudo aquilo era um cenário de filme de catástrofe e eu nunca poderia imaginar que viveria algo do tipo. Era absurdamente estranho em todos os aspectos e sentidos.

Quando chegamos ao declive que dava para o estacionamento, o atravessamos na diagonal tentando manter o equilíbrio. À nossa frente, atrás do estacionamento, estava o primeiro corredor, onde o comércio era especializado em balas, doces e salgadinhos. Alguns “ex-vigias” de carros cambaleavam por ali, alheios a tudo.

A escada que dava para a rampa de acesso ao comércio superior (e mais variado) já podia ser vista.

Subimos a escada em silêncio até chegarmos ao topo – um minianfiteatro, com bancos de concreto construídos de forma a formar um círculo com um bom espaço no meio.

Seguimos direto para a saída lateral – a rampa. Entraríamos no covil em poucos segundos. Eu até chamaria de colmeia, mas acho que ficaria estranho, já que zumbis e abelhas são seres completamente diferentes...

Que se danassem as nomenclaturas! Era uma colmeia de zumbis mesmo. A loja de armas seria nosso glorioso favo de mel.

Emi não precisou nos pedir silêncio. O instinto de sobrevivência passou a falar mais alto; diminuímos o ritmo e controlamos nossas respirações aceleradas assim que pusemos os pés dentro do edifício.

Agora, o silêncio era o máximo possível.

A primeira “lojinha” que vimos foi uma lanchonete vermelha.

Muitos deles estavam ali. Duas mulheres dentro da lanchonete exibiam cortes em seus aventais outrora brancos. Os outros vestiam roupas de trabalhadores comuns, com uniformes variados.

Nossos tênis eram as únicas coisas que faziam algum tipo de barulho: aquele som emborrachado, cada vez que dávamos um novo passo. As cabeças de peles cinzentas viraram-se devagar, os olhos vermelhos, embora estrábicos, pareciam nos acompanhar. Dos que estavam mais perto para os que estavam mais longe, eles começaram a se aproximar devagar.

Dei uma risadinha discreta e boba ao perceber que havia rimado mentalmente.

Rapidamente, viramos a esquina seguindo para a direita. Emi ia à frente com Vanessa logo atrás, ambas superconcentradas. Nossas roupas quase arrastavam nos mostruários de vidro das lojas, de tão perto que estávamos das mesmas. Levei um susto quando uma “mulher” colocou a cabeça para fora da porta de uma loja de calçados um segundo depois que eu atravessei. Felizmente, não gritei.

Eles estavam cada vez mais próximos. Começamos a acelerar. Um deles surgiu na frente da nossa fila e rapidamente levou um chute aqueles de Emi. O cara foi de encontro aos que se aproximavam, derrubando-os.

Continuamos em frente, virando mais esquinas, empurrando com o máximo de cautela os monstros que nos impediam de continuar. Felizmente ninguém caiu (nos filmes, alguém sempre cai nesses momentos de tensão. Acho isso clichê e ridículo, mas não sei porque estou pensando em algo assim agora. Deve ser o nervosismo).

Cerca de cinco minutos depois chegamos a uma área um pouco mais aberta. Era uma espécie de praça de concreto, sem bancos ou arbustos. No centro, uma construção em formato cilíndrico. O chão era todo de concreto nessa área, exceto abaixo do cilindro, onde placas de madeira pintadas de preto destacavam-se do resto do piso local. Uma vez ouvi dizer que debaixo dessa placa, todos os dias, aconteciam as festas rave mais pesadas da cidade. Disseram-me também que lá rolava de tudo: desde drogas totalmente ilícitas e ilegais a sexo livre e gratuito. Quando passamos correndo sobre a placa, que fez um barulho de algo solto se movendo, fiquei receoso de o negócio não nos aguentar e cair, levando todo mundo ao que quer que estivesse ali embaixo -.

Felizmente tudo se manteve em seu devido lugar.

Atrás de nós a multidão de mortos vinha, caminhando a passos largos. Eu nunca tinha me sentido tão preso como naquele ambiente.

– Estamos chegando, atenção com essa parte do caminho. – avisou e alertou Emi.

O último corredor que entramos parecia ainda mais cheio deles, fechado e mais escuro. Toda a luz que havia ali provinha única e exclusivamente das próprias luminárias das lojas. Usei o pedaço de pau para afastar os que se aproximavam muito de mim e Nathália – que estava indefesa bem ao meu lado.

– É logo ali. Vamos! – gritou Emi.

O corredor se estendia até uma espécie de esquina. O caminho se dividia em dois e bem no meio havia a entrada de uma loja preta com luzes neon azuis e amarelas. Estendia-se poucos metros à nossa frente. As vitrines, cheias de bonequinhos articulados, pelúcias, camisetas e outras coisas, eram super convidativas. A parede ao redor era toda desenhada com representações perfeitas dos slogans de vários jogos, desenhos animados e bandas. Na placa, lia-se “Senpai – Cultura Geek, Otaku e Nerd”.

Eu quase não vi quando finalmente meus pés tocaram o chão do local. Imediatamente, Emi se virou, apontou para cima e disse:

– Rápido, desçam as portas de aço. Vou pegar os cadeados.

Dito isto, ela disparou na direção do caixa da loja. Alguns deles estavam ali dentro e aquilo me deu medo.

– Pessoal... – falei, apontando para aquelas coisas de dentro (que por sinal já tinham notado nossa presença e vinham em nosso encalço).

– Eu vou. – disse Vanessa, agitando as facas em sua mão.

Eram duas portas de correr, daquelas de metal que fechavam para baixo. Verônica e Vítor já haviam tirado suas mochilas e se preparavam para fechar uma enquanto Nathália e Matheus se ocuparam da outra.

– Matheus, faz pezinho pra Nathália! – sugeriu Vítor, juntando as mãos para Verônica subir e com certo desespero na voz.

Matheus fez uma expressão de “boa ideia” e juntou as mãos para que Nathália também pudesse ter impulso.

Na primeira tentativa, ela não conseguiu. Verônica também não. As coisas do lado de fora estavam cada vez mais perto.

Na segunda tentativa, sua mão tocou o fecho, mas escorregou. A de Verônica segurou, mas Vítor não conseguiu segurar seu corpo por muito tempo e ela não conseguiu puxar com força suficiente. Tentei pensar rapidamente em algo que eu pudesse fazer.

Verônica encarou o exterior e fez uma expressão assombrada ao se dar conta de quão perto eles estavam da entrada da loja. Vítor alternou o olhar de Verônica para Nathália e de Nathália para o lado de fora, mantendo uma expressão apreensiva.

Eu estava paralisado. Minas pernas simplesmente não se moviam e eu, que havia parado um pouco mais atrás dos outros, podia ver toda a cena tanto de dentro quanto de fora da loja.

Ouvi o som da câmera capturando o momento e só então lembrei do disparo contínuo. O pequeno momento de distração relaxou-me o suficiente para eu conseguir voltar a me mexer.

– Vamos! – falei me aproximando de Verônica – Mais uma vez, Vítor. Agora!

Vítor sacudiu a cabeça bem rapidamente e Verônica recuou um pouco:

– Não consigo puxar! É pesado demais!

Nesse momento, Nathália finalmente conseguira segurar o fecho e puxá-lo. A segunda porta desceu com estrondo.

O som dos gemidos já estava audível o suficiente. O número deles parecia ter triplicado. Eram centenas! Cercando-nos, deixando-nos sem saída e cada vez mais apavorados.

Atrás de mim, pude ouvir Vanessa arfar e soltar alguns gritos de guerra automaticamente enquanto matava os que estavam dentro da loja.

– Verônica, não dá pra não conseguir! A vida de todo mundo aqui depende disso e você consegue, sim! – encorajei-a, mais pelo egoísmo de manter-me vivo e a salvo.

Cada segundo era precioso. Eles estavam a pouco mais de cinco metros da entrada.

– Mas...

– Verônica! – Vítor repreendeu-a, de forma firme.

Verônica não funcionava bem sobre pressão. Eu sabia disso e me mobilizei antes que ela desse uma pirada básica.

– Achei! – era a voz de Emi, em algum lugar da loja.

– Verônica, você consegue. E eu vou te ajudar. – falei.

Agora, as coisas estavam a poucos passos de nós. Verônica, mais movida pela pressão que qualquer outra coisa, pôs um dos pés nas mãos de Vítor, que estavam juntas e formavam “uma concha”. Coloquei as minhas duas em sua cintura e Vítor deu o impulso. Ela pareceu se surpreender por um rápido instante, mas seguiu com o plano. Ouvi os passos rápidos de alguém por perto e minha visão periférica captou o movimento de alguém bem na beirada da segunda porta.

Quando cerca de cinco passos nos separavam das coisas, Verônica tocou o fecho. O som da porta descendo foi inesquecível. Alto, mas reconfortante.

Emi terminara de trancar o cadeado da segunda porta exatamente no momento em que as coisas finalmente chocaram-se contra a primeira, que sacudiu energeticamente. Rapidamente, soltei a cintura de Verônica (que já estava no chão) e me abaixei com o fim de segurar o fecho. Vítor me ajudou e Emi não demorou a fechar o segundo cadeado.

Todo o barulho nas portas, todos os gemidos terríveis e toda a tensão e pressão do momento pareceram congelar junto com o tempo no momento em que o cadeado soltou aquele clique de travamento.

Então todos ficaram quietos. Até os barulhos que Vanessa fazia ao lutar haviam cessado. Cada um ali só queria respirar sabendo que estava finalmente em segurança. As portas tremiam a cada batida das coisas nelas. Os gemidos ecoavam para dentro da loja com força, mas nem mesmo Emi, Vítor ou Verônica ligavam mais.

Toda a tensão, a adrenalina e a pressão iam fluindo devagar para fora de meu corpo. Senti minhas pernas fraquejarem e fui me abaixando, lentamente, até sentar no chão.

Apesar de algo em minha mente gritar, lá no fundo, que as portas poderiam ceder, eu não me importava. Se cedessem, todos com exceção de Vanessa seríamos esmagados. Eu não iria querer ficar sozinho no mundo nem que me pagassem, então que pelo menos eu aproveitasse aquele último momento me sentindo seguro.

Mais alguns instantes em silêncio e ouvi Verônica fungar.

Ela chorava, mas com um sorriso discreto nos lábios:

– Eu consegui... – falou, ainda como se não acreditasse – Eu... salvei todo mundo.

Vítor se voltou para ela e disse de modo gentil:

– Sim, você conseguiu. Estamos salvos agora.

Era isso. Olhei para trás, para ver como Vanessa estava. Ela havia se escorado em uma das bancadas de camisetas, sua cabeça estava levantada e seus olhos fechados. Apesar do sangue em sua roupa, ela transmitia um tipo diferente de tranquilidade ao inspirar pelo nariz e expirar pela boca calmamente.

Mais tarde, Emi dissera que, pelo fato de o prédio em si ser bastante perigoso já que era movimentado à noite por todo o tipo de gente, que ia em direção festas subterrâneas, as portas eram reforçadas.


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Notas finais do capítulo

E então?
Estamos agitando as coisas por aqui. Espero que tenha ficado aceitável e queria aproveitar pra dizer que a parte boa está chegando.
No próximo capítulo, o que todos estavam esperando: Armas. E Mortos. E Mortos mortos.
Enfim, até logo!
Fiquem com Deus e um abraço.



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