ApocalipZe escrita por Sr Devaneio


Capítulo 2
UN. 1 - Capítulo 1 - Antes dos Mortos parte 1


Notas iniciais do capítulo

Aqui estamos no nosso Capítulo de estreia!
Por favor, mantenham seus membros superiores e inferiores dentro do barco. A aventura vai começar.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/572464/chapter/2

Um dia antes do Fim.

Apenas mais um dia normal.

De manhã, cursinhos. À tarde, escola.

Nada de muito novo. Nada de muito especial. Nada de quebra de rotinas...

Como em todas as 14h45 de segunda à sexta, eu estava na sala de aula, esperando o sinal tocar para o intervalo. Ainda mais num dia como esse, uma quinta-feira como essa. Todas as quintas, minha turma tinha aula de química no primeiro horário e Eu. Detesto. Química. Sem contar o fato de o professor sempre fugir da matéria com seus assuntos desnecessários.

— Química é tão legal, pena que esse professor estraga! – cochichou Verônica enquanto o professor não estava vendo.

Fiz uma cara de repulsa. Nesse dia, o professor estava comentando sobre a falta de água no mundo. Pelo menos, estava até eu parar de prestar atenção.

— Só se for pra você. – respondo, mantendo minha expressão de nojo.

— Prefiro física! – disse Nathália, entrando na conversa.

Fiz outra cara de repulsa.

— Detesto química, detesto física, detesto Exatas! – falei.

— Eu também... – disse Matheus, entrando na conversa de cochichos.

— Vocês são loucos. Matemática é vida! – disse Verônica.

O professor se calou. Um segundo antes de olhar para nós, disfarçamos:

Verônica rapidamente se afastou e começou a fingir que estava checando o visual no espelho portátil que havia colocado sobre a mesa. Matheus e Nathália encostaram-se à parede e fitaram qualquer coisa que não fosse a cara entediante do professor.

Calei-me e apenas fiquei encarando o homem, que, após um tempinho nos observando, recomeçou o que quer que estivesse dizendo; algo que não tinha absolutamente nada a ver com o que deveríamos aprender.

Como eu disse, ele adorava desviar do assunto principal.

Emi olhou rapidamente para meu grupo. Tentei sorrir, mas ela já havia virado o rosto.

Esperava que ninguém tivesse visto aquele “vácuo”.

No intervalo, Vítor e Thiago, o pequeno e o gordo, se juntaram ao grupo, no banquinho perto da “Árvore do Intervalo”. Thiago, como sempre, trazia um salgado recém-comprado consigo.

— Gosto dessa árvore. – Disse Vítor, se aproximando.

— Todos gostamos. É por isso que ficamos aqui; é por isso que esse é o nosso cantinho. – falei.

— É... verdade.

— Como foi a aula? – perguntou Verônica, mais para Thiago que para Vítor.

— Ah... boa. – respondeu o gordinho.

— Foi como sempre é: normal. Não sei por que você pergunta. – Vítor entrou na conversa.

— Pode ser que surja alguma novidade. – respondeu a morena, tirando os óculos para limpar.

Emi surgiu em meu campo de visão. Sempre ocupada, cheia de amiguinhas, estava sentada em um dos muitos bancos da Área Verde da escola. Conversava e ria, sempre muito linda.

— Huuuum! – disse Nathália para mim, em tom de provocação.

— O quê? – perguntei, confuso.

— Nada... – respondeu passando as mãos nos cabelos cinicamente.

— Tchunarunaru! – disse Matheus, logo em seguida, com um olhar malicioso.

— O quê? Ah, calem a boca! – respondi fingindo indignação.

Todos riram.

— Por que você não fala com ela? – perguntou Nathália.

Fiquei com vergonha só em pensar.

— Nem!

— Por quê? Que problema tem nisso?

— Não quero!

— Aham... – ela fez uma expressão descrente.

— É sério!

— Sei...

— Ela não vai te morder, cara. – acrescentou Matheus.

— Eu sei. Só... não quero! – já estava ficando vermelho – Parem com isso! Que besteira.

O bom de não ser branco é que as pessoas não irão notar sua vergonha logo de cara.

Nathália riu.

— Está vermelhinho! Que fofo!

Revirei os olhos. Droga, mesmo pardo eles conseguem ver!

— Um dia você vai ter que falar com ela. – disse Matheus, enquanto me afastava.

Fui para perto dos outros.

— Então, como andam as coisas por aqui?

— Ah, resolveu deixar o casal 16 sozinho, é? – perguntou Verônica ao me ver chegar.

— Eles se merecem! – respondi, fingindo chateação.

A volta para casa foi ainda mais normal. Sempre a mesma van, o mesmo motorista, as mesmas crianças barulhentas que perturbavam quem passou uma manhã suando no curso de dança antes de ir para a escola. O motorista ouvindo a rádio, que informava sobre o problema da falta de água em vários países, novamente.

Nada de quebra de rotinas. Nada de novo.

Passávamos pela Ponte JK quando peguei meus fones de ouvido e conectei-os ao celular.

Por sorte, meu gosto musical era muito bom.

— A gente podia sair... – sugeri já em casa, sentado à mesa da cozinha enquanto minha mãe preparava o jantar.

Ela vestia uma roupa casual, o que era bem difícil, e mantinha o cabelo castanho e curto preso num coque enquanto mexia com a comida.

Sempre asseada. Sempre organizada. “Mal de trabalho”.

— Para onde? – minha mãe perguntou de frente para o fogão, sem se virar.

— Qualquer lugar estaria bom.

— Seu pai ainda não chegou. E não vai chegar tão cedo.

— Plantão hoje?

— Sim.

— Afe! – resmunguei baixinho.

Meus pais trabalhavam muito. Ambos eram militares. Saíam num dia e provavelmente só voltariam no seguinte.

Eu detestava isso. Detestava o fato de não terem tempo para mim, não terem tempo para eles, não terem tempo para nós.

Pouco depois, meu pai ligou avisando que não ia voltar no mesmo dia, que ia dormir no trabalho. Não fiquei surpreso.

Antes de dormir, assisti a um filme de terror que estava passando na tevê. Era sobre pessoas que morreram com pendências ou de forma muito cruel e depois se transformavam em mortos-vivos, saindo do túmulo numa determinada sexta-feira treze do mês para fazer os vivos pagarem pelo que lhes tinham feito. Bem idiota. Bem sem-noção. Bem irreal.

Dormi pensando em como aquele filme era ruim e tive um péssimo sonho e uma péssima noite de sono.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!