ApocalipZe escrita por Sr Devaneio


Capítulo 18
Sub Capítulo 5 - Primeira Noite na Cidade dos Mortos!


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Como vão?
Esse capítulo foi um pouco mais light que os outros, mas estranhamente me inspirou imensamente a continuar do ponto onde parei, então espero que esteja bom pra vocês também!
Queria agradecer aos três compartilhamentos que a história tem, ainda mais o mais recente pela PoppyMaun. Obrigado Poppy, Lybruma e Luana! Você são muito queridas para mim e me motivam demais! Um grande beijo pra todas!
Sem mas,
Boa leitura!



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Um tempão depois eu estava com mais fome ainda e meu humor estava terrível por conta disso; eu já havia conversado (sem muito ânimo) com praticamente todo mundo ali, estava de saco cheio, cansado e tínhamos acabado de chegar às primeiras quadras da W3 – havíamos descido uma “W” (avenida). E a melhor parte: não estávamos nem perto da metade do caminho. Aliás, agora que estávamos chegando perto das últimas quadras.

Os postes haviam se acendido, iluminando nosso caminho com aquela típica luz amarelada e enjoativa.

Torcia para que ninguém viesse encher o saco de novo com conversa mole de que tudo ia ficar bem (acho que nunca tinha ouvido tanto “tudo vai acabar bem” em toda na minha vida...), que iríamos conseguir manter contato com nossos pais e coisas do tipo. Já bastava toda a caminhada que estávamos tendo.

Aparentemente, eu não era o único irritado da vez. Já fazia um tempinho que todos tinham parado de conversar (exceto Vanessa, que não conversou com ninguém, exceto com Emi na hora de tirar algum deles do caminho) e focado cada um em seus próprios pensamentos. Apenas o som dos nossos passos, de nossas respirações e aquele fundo levemente caótico podia ser ouvido.

Thiago foi o único a não pronunciar palavra alguma durante o trajeto. Pensei em ver se ele estava bem, mas como meu humor estava negro demais preferi ficar quieto. Quando eu ficava assim era melhor ficar na minha em todos os sentidos.

Prestávamos atenção apenas quando era hora de Vanessa, Emi ou ambas agirem.

– Vamos ter de achar um lugar para ficarmos esta noite. Que tal aqui mesmo, nessa quadra? – sugeriu a Senhorita-Representante-Autodeclarada-Responsável-de-Todos-Emi.

Cada um de nós suspirou de alívio. Sem saber por que, paramos.

– Mas não temos ninguém que more por aqui. – disse Vítor, colocando empecilhos no nosso descanso.

Era óbvio que ele, assim como todo mundo, estava doido pra parar de andar. E também era óbvio de que não precisávamos necessariamente de alguém que morasse por ali.

– Não precisamos de alguém que more por aqui. Precisamos de uma casa vazia. – disse Verônica, lendo meus pensamentos e os verbalizando em voz alta.

– O quê? – espantou-se ele, como se esperasse outra coisa.

– Pra mim está ótimo! Qual casa será grande o suficiente para todos nós? – perguntei, com o cansaço transparente na voz.

Vítor me olhou como se eu tivesse acabado de lhe dar um soco no estômago:

– Até você?! Não acredito que está concordando em invadir a casa dos outros!

Aquilo me aborreceu mais. Contei até cinco e repliquei tentando manter um tom baixo:

– Você tem ideia melhor? Sabe de algum lugar onde possamos passar a noite, porque, se ainda não percebeu, nós não vamos chegar na casa da Vanessa hoje.

Acho que um pouco de grosseria conseguiu escapar, mas grosseria era a última coisa com que eu iria me importar no momento.

Vítor apenas me encarou calado.

– Vítor, olhe ao nosso redor. Olhe o que está acontecendo. Provavelmente os donos dessas casas estão todos mortos agora. – falei, e só depois notei como aquilo tinha sido horrível.

Assustei-me com o tom frio que eu tinha acabado de usar e me arrependi instantaneamente.

Depois disso, ele franziu as sobrancelhas numa expressão triste e depois abaixou a cabeça, em sinal de rendição.

– Gente... O que acham daquela ali? Parece grande o suficiente. – perguntou Matheus, mudando de assunto e mostrando uma casa poucos metros à nossa frente.

Era uma casa verde clara e estava bem visível do ponto onde estávamos.

– Não vejo carro na garagem. – completou Verônica.

– Ótimo. Vamos ver mais de perto. – disse Vanessa, pela primeira vez em muito tempo.

Aproximamo-nos. De fato, a casa era grande: dois andares com varandas no que pareciam ser os quartos, um jardinzinho com figuras de porcelana para decoração do lado de fora e nenhum carro na garagem. As janelas eram grandes também e tinham grades – provavelmente pelo fato de o muro ser muito baixo e o ferro fácil de escalar.

Apenas uma grade de ferro, sobre um pequeno muro, nos separava daquele oásis.

– Será que está mesmo vazia? – perguntou Vítor, ainda receoso.

– Só tem um jeito de descobrir. – disse Emi, se aproximando mais.

Nunca pensei que ela fosse dizer algo do tipo... Parece que o Fim do Mundo nos revela um pouco mais sobre as coisas, as pessoas e nós mesmos.

– Eu e Vanessa vamos entrar. Vocês esperam aqui. – continuou – Alguém pode nos ajudar a pular essa grade?

Matheus e Vítor se voluntariaram.

– Você consegue aguentar meu peso? – perguntou Vanessa com uma expressão desconfiada para Vítor.

– Sim.

Mas ele não aguentou. Assim que a menina pôs os pés em suas mãos fechadas numa concha, ele não conseguiu elevá-la o suficiente.

– Sai, Vítor. – falei, entrando em seu lugar.

Vítor lançou um olhar de desculpas à menina e se afastou.

Fechei as mãos em concha e Vanessa colocou um dos pés. Olhamos um nos olhos do outro, concordando com o momento certo de dar o impulso que a ergueu o suficiente para alcançar o topo. Emi tinha acabado de pular no gramado do quintal quando Vanessa se equilibrou na grade.

– Qualquer problema, vamos gritar. – falou Emi, empunhando novamente sua espada.

Vanessa pulou ao seu lado e tirou as facas que tinha posto no cós de seu short-saia para pular.

As duas se aproximaram em silêncio da porta de entrada. Nós, como bons inúteis que éramos, ficamos observando também em silêncio enquanto as duas iam em direção ao desconhecido.

Era incrível a ausência que o trânsito e o som da humanidade faziam. O silêncio no lugar era fantasticamente sombrio apesar de o som do vento, do cair das folhas, dos insetos zumbindo, de tudo parecer infinitamente mais audível... Talvez porque eu nunca ouvira a cidade tão parada antes.

A sensação era parecida com aquela de “ouvidos recém-limpos”, quando acabamos de retirar o excesso de sujeira e parece que somos capazes de ouvir duas vezes mais, só que mais intensamente agora. Até mesmo o crepitar das chamas que ainda consumiam prédios ou casas longe de nós era audível naquele sempre presente leve fundo caótico.

Emi e Vanessa descobriram que a porta estava trancada. Elas então foram em direção às janelas. Por sorte, uma delas estava entreaberta. Vanessa passou a cabeça por debaixo do ferro e espiou a casa rapidamente pela frestinha que havia antes de abrir mais e entrar com certa dificuldade. Emi fez o mesmo.

Fiquei tenso e me preparei para escutar som de batidas, passadas rápidas ou o costumeiro arfar de batalha que ambas soltavam involuntariamente ao lutar contra aquelas coisas.

Dois minutos se passaram após elas terem entrado na casa e eu já estava bastante incomodado:

– Não é justo que elas tenham de fazer tudo e nós ficarmos aqui só olhando...

Verônica arqueou a sobrancelha:

– Não temos ação do mesmo jeito que elas. Não sabemos agir como elas. Logo, se fôssemos tentar ajudar, sem dúvida só iríamos atrapalhá-las. Melhor ficarmos aqui mesmo.

– Enquanto elas correm risco de vida...

– Enzo, entenda: não há nada que possamos fazer para ajudar! – ela começou a se irritar.

– É verdade. Mas concordo com o Enzo. – disse Vítor.

– Não comecem com essas idiotices de vocês!

Vítor olhou ao redor. Correu e pegou um pedaço de pau que estava jogado por ali.

– Enzo, me levanta? – perguntou.

– Ouviu o que eu disse? – disse Verônica, brava.

– Vítor... tem certeza disso?

– Sim.

– Ah, vocês que sabem. Quem vai se ferrar depois não sou eu!

Ignoramos Verônica mais uma vez.

– Certo... – falei, fechando as mãos em concha – tenha cuidado!

Eu e minha boca grande...

– Pode deixar! – respondeu ele, colocando um dos pés em minhas mãos novamente fechadas em concha.

Dois minutos depois e ele já estava no gramado aproximando-se sorrateiramente da janela. Vítor repetiu o processo de Vanessa e Emi antes de desaparecer dentro da casa.

Outros dois longos minutos se arrastaram diante de nós. Nathália esbanjava preocupação, Matheus demonstrava estar apreensivo e Verônica, apesar de tentar esconder, também demonstrava certa preocupação. Eu estava agora mais tenso, ansioso e preocupado que antes, apesar de não poder negar que o fato de estarmos invadindo uma casa qualquer assim não deixava de trazer uma sensação excitante e diferente, algo novo que eu jamais sentira até então. E o pior é que a sensação era até boa...

Finalmente, um grito agudo, seguido imediatamente de outro um pouco mais grave, foi ouvido. O ar brevemente monótono e apreensivo foi levado.

– Essa não! – disse Nathália com os olhos arregalados.

– Eu avisei a eles! – repreendeu Verônica, não mais se importando em esconder a preocupação.

Em seguida ela me lançou um olhar severo.

Droga! Se algo tivesse acontecido, a culpa era minha.

– Vou entrar. Matheus me ajude aqui! – falei, não conseguindo mais me conter.

– Nem pensar! Agora é que o senhor vai esperar aqui! – falou Nathália com a expressão de quem que acabara de ouvir algo absurdo.

– Eles podem estar com problemas. Podem estar precisando de ajuda! – rebati.

– Psiu! Falem mais baixo! – advertiu Matheus.

Por um segundo, esqueci de que não estávamos completamente sozinhos do lado de fora. Alguns deles estavam pelas redondezas e começavam a virar o rosto em nossa direção.

– Droga! – cochichei.

– Xiu! Não falamos alto o suficiente. Se ficarmos calados eles vão esquecer logo, logo! – disse Verônica, cochichando também.

– Espero. – respondeu Nathália, soando medrosa. – Mas você vai ficar aqui, Enzo! – essa segunda frase não deixou espaço para discussão. Ela estava falando seríssimo.

O engraçado era que eu também não era o mais corajoso dali. Para falar a verdade, ainda estava tentando entender o que havia acontecido com Dona Mônica na cozinha.

Talvez eu funcione bem sobre pressão...

– Fiquem calmos. Eles ainda estão longe o bastante. – falou Matheus.

Era óbvio que também estava com medo. Todos estavam. Afinal, nossas duas protetoras estavam ausentes e ninguém ali tinha sequer um pedaço de pau para se defender, já que Vítor levara o único que havia nas redondezas.

Nesse momento, ouvimos o som de algo sendo destrancado. A porta de madeira se abriu, revelando um Vítor aparentemente assustado e envergonhado.

Ele correu até o portão de ferro e o destrancou com o molho de chaves que trazia na mão. Não precisou pedir que entrássemos. O portão foi fechado da mesma forma como fora aberto: rápida e de uma vez, mas sem muito barulho.

Por dentro, a casa era tudo o que parecia vista de fora: espaçosa e grande. Bem decorada com tapetes e pinturas, os móveis eram bonitos e novos, com um aspecto meio rústico. A escada que levava aos andares superiores era talhada com pedras de granito. Quem morava ali tinha muito bom gosto.

– Três quartos, quatro banheiros. – disse Emi, descendo as escadas assim que Vítor fechou a porta. – Absolutamente ninguém dentro. A casa é segura e confortável.

Em seguida ela fez uma pausa, analisando nossas expressões antes de acrescentar:

– Já podem se sentir à vontade, eu acho.

Finalmente!

Tirei minha mochila das costas, colocando-a nos pés do sofá mais próximo e fui explorar o lugar.

Não acredito que tínhamos realmente feito isso!

A cozinha era bem equipada e cheia de apetrechos que exalavam praticidade. Chequei os armários e minha decepção não foi maior porque ainda tinham alguns pacotes de macarrão e molho espalhados de forma aleatória pelo espaço.

Pelo menos, havia algo para comer.

Na despensa, as únicas coisas que se viam eram alguns pacotes de farinha, temperos e dois de biscoito recheado.

Os quartos eram mais aconchegantes ainda e sugeriam privacidade. Dois eram claramente de solteiro – com duas camas cada - e um de casal. A pintura decente e a ótima decoração se repetiam nos mesmos.

Cada quarto tinha um banheiro e, pelo que eu havia contado no andar de baixo, somavam-se quatro no total.

Depois do meu tour, chequei as torneiras. Havia água encanada. Fiquei mais satisfeito e meu humor melhorou perceptivelmente.

Pelo menos, não iríamos dormir suados e imundos. Isto é, a não ser que não houvesse roupas ali.

Imediatamente, fui em direção até o guarda-roupa e o abri: Vazio. Corri ao outro quarto. Vazio também.

Achei melhor deixar o de casal quieto – em respeito aos antigos moradores -.

Em seguida, procurei por roupas de cama nas gavetas, havia algumas. Nesse momento, Verônica entrou no quarto:

– Há água encanada e alguns lençóis. – falei ao vê-la.

– Ótimo. Só resta saber se tem algo limpo e decente para usarmos em lugar destes uniformes imundos.

– Já procurei. Não achei nada.

– Nadinha?

– Todos os guarda-roupas vazios.

Ela bufou.

– Estava bom demais para ser verdade. Enfim, os outros estão chamando lá embaixo.

Assim que descemos, os outros já estavam sentados nos sofás. Havia três deles, organizados de forma que pareciam formar um quadrado incompleto. Matheus e Nathália estavam sentados no da direita, Vítor no do meio e Thiago e Vanessa no da esquerda (Vanessa em uma ponta e Tiago na outra oposta). À frente dos três, uma grande janela que nos dava uma boa visão da rua. Emi pediu para que nós sentássemos também e esperou, em pé, no centro dos sofás.

Algo me dizia que era hora de discutirmos nossa situação atual. Sentei ao lado de Verônica, no sofá do meio junto com Vítor.

– Primeiramente: boa noite a todos! É realmente um alívio estar aqui e agora junto com vocês. Não tenho palavras para dizer como é bom vê-los bem e seguros, vê-los aqui comigo... – ela fez uma pausa rápida e continuou - Como sabemos, estamos indo em direção à casa de Vanessa. Coisa que eu agradeço imensamente. De verdade, muito obrigada por abrir sua casa a nós Vanessa! – Emi agradeceu-a e ela pareceu ruborizar de leve - Segundo meus cálculos, se amanhã formos sem parar demais, talvez ao anoitecer já estaremos bem perto. Mas para chegarmos inteiros e sem ter deixado ninguém para trás, precisaremos nos equipar.

Matheus levantou a mão.

– Sim?

– A parte das armas, na sua lista?

– Exatamente.

– Então. Estou mesmo com essa dúvida desde a tarde: as armas a que você se refere, são armas de fogo? – prosseguiu ele.

– Sim.

– E aonde vamos achar algo assim?

– É aí que eu queria chegar. Conheço, melhor dizendo, minha família conhece um lugar... É onde compramos as espadas de treino.

Foi a vez de Vítor levantar a mão:

– Como você aprendeu a usá-las?

– Meu pai insistiu que aprendêssemos a cultura de nossos descendentes.

– Então você é japonesa? – perguntou Vítor novamente.

– Mais ou menos. Nasci no Japão, e me mudei para cá quando tinha sete anos.

– Então é.

– Não necessariamente. Como minha mãe é brasileira, e eles não aceitam misturas, eu e meus irmãos não somos japoneses propriamente ditos.

Toda aquela história era bem interessante, mas como esperado de uma popular, não havia ninguém na escola que não soubesse disso. Francamente Vítor...

– E foi lá que você aprendeu a usar suas espadas? – perguntou Nathália.

– Bem, sim. Foi onde comecei a estudar o Ninjútsu.

– Você é ninja?! Que doido! – falou Vítor animado.

– Ainda não. Mas estou no caminho.

– Demora quanto tempo?

– Não há um “tempo” determinado. Conforme o aprendiz treina arduamente tudo o que aprende com seu mestre, ele evolui e adquire a experiência necessária para aprender as próximas lições...

– Ah... Legal!

Emi balançou a cabeça rapidamente.

– Voltando ao assunto, minha família conhece um lugar ótimo. Não fica muito longe daqui e iria garantir um pouco mais nossa segurança.

Ela é incrível demais!

– Vamos perder tempo... – disse Nathália, ponderando.

– Sim. Mas como eu falei nos dará mais chances de chegarmos vivos. E me desculpem a sinceridade, mas eu sinceramente não creio que chegaremos lá bem do jeito que pretendemos despreparados como estamos agora.

– E esse lugar é aonde? – perguntei.

Emi olhou para mim:

– Também tem mais esse porém. Embora a loja fique meio escondida, o lugar em si é bastante movimentado. Ou seja, muito provavelmente haverá muitos deles.

– Claro que é... – disse Vanessa baixo, manifestando-se pela primeira vez desde que entramos na casa.

Emi a encarou rapidamente antes de dizer:

– Fica no Setor de Diversões Sul...

O quê?! Quase engasguei nessa hora.

– O CONIC?! – disse Vítor, quase levando um susto.

– Sim...

– Caramba... É ao lado da rodoviária!

– Sim...

– Nossa... É muito, muito arriscado. Quase o mesmo que andar num shopping.

– Por isso precisaremos fazer uma votação... Garanto que, se formos, não irão se arrepender.

Emi nos deu um tempo para pensarmos sobre o assunto. Realmente, seria uma loucura. Mas, se chegássemos a essa loja e o local fosse tudo o que Emi prometera...

– Tem certeza de que vamos encontrar tudo o que precisamos para sobreviver mais um pouco? – perguntei, olhando fixamente os fiapos felpudos do tapete.

– E mais um pouco.

– Então eu topo. – o que eu estava fazendo?!

– Eu vou também. – se juntou Vítor.

– Não estou fazendo nada mais importante mesmo... – acrescentou Vanessa, olhando pela janela distraidamente.

– Gente... é arriscado demais! – Nathália mantinha uma expressão preocupada.

– Sim. Por isso, peço que pense bem antes de tomar qualquer decisão. – respondeu Emi, um pouco tranquila demais.

– Bem... Você tem certeza de que vamos mesmo encontrar as coisas? As coisas todas!? – perguntou Matheus.

– Absoluta.

– Então... eu também vou.

– Matheus! – exclamou Nathália, como se ele estivesse prestes a fazer uma loucura inimaginável.

Mas não era exatamente isso que essa situação toda era?

– Isso aumenta nossas chances consideravelmente! – respondeu com um tom de obviedade.

– Ai... Então vamos... – Nathália rendeu-se.

– Thiago? – perguntou Emi.

Thiago mantinha a cabeça baixa. Levantou lentamente para responder:

Não sei. Depois de tudo aquilo hoje mais cedo... Depois de todo aquele barulho terrível...

– Sei que é difícil. Mas quando formos não iremos voltar, e não podemos te deixar pra trás!

Ele a olhou com uma expressão triste.

– Não se preocupe. Estaremos todos juntos. Vamos proteger uns aos outros! – garantiu Emi.

Após mais um momento ponderando, Thiago finalmente concordou.

– Obrigada pelo voto de confiança. – disse Emi, antes de voltar a falar com todos – Então, está decidido: Amanhã partiremos às sete e meia.

– Tão cedo?! – perguntou Matheus.

– Quanto mais cedo formos, mais cedo vamos acabar com isso.

– É... Certo, então.

Emi sorriu.

– Então vamos nos preparar para amanhã. Tem alguém com fome?

Todos assentiram. Isso era meio óbvio.

– Será que tem comida na casa?

– Achei uns pacotes de macarrão no armário da cozinha. Também tem alguns temperos na despensa. – falei, sem olhar para Emi.

– Sabe mais ou menos quantos? – ela perguntou.

Eu sabia que sua atenção estava em mim. Encontrei seus olhos e falei rápido antes de desviar o olhar:

– Mais ou menos... uns cinco.

– Vai dar pro gasto.

– Posso prepará-los... – falou Thiago.

– Se não for muito incômodo... – respondeu Emi.

Thiago se levantou.

– Não. Tudo bem. Chega de você fazer tudo sozinha, quero e vou ajudar.

Emi sorriu de um jeito agradecido.

– Obrigada.

– Em dez, quinze minutos, estará pronto. – ele disse antes de sair.

– Certo... alguém tem mais algum assunto que queira tratar agora? – perguntou Emi, se sentando no lugar que Thiago ocupava instantes antes, claramente respeitando a opção de manter distância que Vanessa optara por fazer.

Todos balançaram a cabeça negativamente.

– Tá... Achei uma pilha de roupas limpas na lavanderia. Tem alguns uns shorts e umas camisas. Quem quiser lavar o uniforme... – sugeriu dando de ombros.

Roupas limpas?! Ótimo! Eu quero!

Todos se entreolharam com o mesmo brilho ambicioso no olhar. Levantei o mais discreta e rapidamente que pude antes que Matheus, Verônica e Vítor se levantassem junto.

O caminho até a lavanderia – que ficava nos fundos da casa - foi quase uma corrida.

E foi divertido, pois deu pra descontrair um pouco!

As roupas não estavam passadas, mas dava para ver que estavam bem limpas. Uma pilha de camisetas e algumas calças/saias sociais masculinas e femininas. Felizmente, fui o primeiro a chegar, então tranquei a porta para me trocar.

Verônica sugeriu que colocássemos todos os uniformes para serem lavados juntos, economizaria tempo e água. Concordamos, então tive que esperar todos se trocarem para lavar tudo de uma vez.

Na hora em que as roupas iriam finalmente ser lavadas, Vítor perguntou “será que tem toalha limpa aqui?” e todos lembraram que seria ótimo tomar um banho.

Não havia toalhas, então cada um teve de se secar com seu próprio uniforme (ou pelo menos tentar). Felizmente de novo, eu tinha outra peça de roupa – que levara para o curso de música pela manhã – então não precisei usar as roupas da casa.

O banho foi rápido e não me limpou por completo (também não havia sabonetes embalados na casa, foi um banho só com água mesmo). Tive de usar o uniforme como bucha, torcendo para que pelo menos o suor fosse removido. Depois, usei a roupa “limpa” que tinha na mochila. Assim que a tirei de dentro, tive uma surpresa:

– Então, é aí que você se meteu todo esse tempo!? – falei para mim mesmo, pegando minha Kodak D5000.

Logo me lembrei de que passei o dia atirando a mochila de um lado pro outro e fiquei preocupado. Após uma rápida vistoria, vi que estava tudo bem com a câmera, que a dita-cuja estava funcionando normalmente e – para melhorar – eu havia trago o carregador e o cabo.

O engraçado era que eu não me lembrava de tê-la colocado na mochila antes de dormir.

No final das contas, acabou que precisamos (acabei ficando responsável por lavar as roupas. Felizmente Verônica e Vítor me ajudaram) fazer duas lavagens, pois eram calças, saias e short-saias molhados demais para a máquina.

Dentro de três horas e quarenta minutos desde que havíamos chegado ali, eu estava de “banho” tomado, havia comido o macarrão especial do Thiago – que por sinal, era realmente bom – e havia ido deitar nos dois colchões que espalhamos pelo “quarto dos meninos” (divididos os dois de solteiro).

Nunca havia dormido com outras três pessoas no mesmo quarto; ainda mais num espaço mínimo de dois colchões de solteiro esticados na horizontal, um acima do outro.

Foi, em todos os aspectos, inquietante e nada confortável. Vítor dormiu ao meu lado, no meio (após reclamar bastante por isso) e Thiago na outra ponta. Descobrimos que ele roncava.

A noite demorou a passar. Não consegui fechar os olhos, pensando em tudo o que acontecera. Onde estariam os meus pais e coisas do tipo... Então percebi que Vítor também estava acordado. Uma dúvida me veio à cabeça:

– Ei, Vítor! – cochichei.

Ele abriu os olhos imediatamente e olhou pra mim.

– O que foi? – ele cochichou de volta. Seu hálito fedia a macarrão.

Segurei-me pra não fazer uma careta antes de continuar:

– Quando chegamos aqui e você entrou depois das meninas... quem gritou?

Ele parou um tempo, tentando se lembrar e ruborizou antes de falar:

– Eu e Vanessa...

– Por quê?

– Bem... eu acabei dando um susto nela. – ele respondeu brevemente.

– Ah... certo. Obrigado.

Depois disso, ele se despediu, virou pro outro lado e sua respiração ficou regular após uns dez minutos. Eu estava sozinho. Os pensamentos preocupados voltaram.

Lá pelas quatro da manhã, finalmente consegui fechar os olhos por uns instantes, a claridade do dia seguinte me despertou quase imediatamente.

Por um breve momento, vi as cores familiares das paredes de meu quarto. Pensei ter ouvido minha mãe me chamar uma vez. Na segunda, escutei um som grotesco. Minha visão focalizou, e vi Vítor dormindo com uma expressão completamente engraçada. Thiago roncava atrás dele. Me segurei para não rir e com cuidado, me levantei, peguei a câmera e tirei uma foto daquilo.

Olho o relógio de meu celular. Eram sete horas.

Hora de levantar.

Então me permiti gargalhar baixinho até que os olhos dos dois se abriram.


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Notas finais do capítulo

Bem, acho que não tem outro aviso... exceto que em breve será o próximo Talk-Z (provavelmente no próximo capítulo, então ainda dá tempo de enviarem suas perguntas)!
Até lá!



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