Hunter escrita por Jiinga


Capítulo 7
Decisão




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Estávamos na última semana de férias, mais precisamente no penúltimo dia e o aniversário de Mia seria no dia seguinte. Depois da conversa com Tristan no dia em que encontrei Rique, ele ficou mais fofo e legal que nunca: passávamos todas as madrugadas conversando pelo computador, fazendo perguntas estranhas um pro outro, ouvindo músicas, ele tocando para mim na webcam, e, quando eu não podia entrar, ele me ligava.

Mas... De algum jeito misterioso, eu sentia que sairia dessa zona de conforto assim que as aulas voltassem.

Abri meu notebook e lá estava ele.

Tristan Reed:

*Oi gatinha!

Emilia Forstensi:

*Oi gatinho!

*Vai à festa da Mia amanhã?

Tristan Reed:

*Ah, é, ela me chamou...

*Acho que sim. É que eu volto pra São Paulo amanhã e não sei que hora chego.

Emilia Forstensi:

*Ah, vai sim! Por mim :*

Tristan Reed:

*Ok, vou pensar. Hum... Posso te perguntar uma coisa?

Emilia Forstensi:

*Claro.

Tristan Reed:

*Tá... Hum... Você ainda tá a fim do Rique?

Por que aquela pergunta de repente? É claro que vínhamos fazendo todo o tipo de pergunta um pro outro nos últimos dias, mas... Não esse tipo de pergunta. Aquilo foi no mínimo suspeito.

Emilia Forstensi:

*Não. Sei lá, depois de toda aquela história com a Vitória... Acho que eu não conseguiria gostar dele de novo.

Tristan Reed:

Então como está seu coração?

Emilia Forstensi:

*Batendo :)

Desviei belamente da pergunta, mas é claro que ele voltou a insistir.

Tristan Reed:

*Não, sério.

*E o que você acha de mim?

Ele sabia. Era óbvio. Não sei como ele havia descoberto, porque acho que não dei tantas pistas assim, mas ele sabia. O que eu faria agora?

Emilia Forstensi:

*Ah, eu te acho fofo, legal, engraçado e um dos meus melhores amigos.

Tristan Reed:

*Hum... Interessante...

*Bom, tenho que ir.

*Beijos.

*Amo você.

Emilia Forstensi:

*Beijos.

*Também amo você.

Antes que eu pudesse pensar o que significava aquilo tudo, meu pai bateu na porta do quarto.

– Emilia, encontramos um espectro. Vá rápido. Saímos em cinco minutos.

Aquilo foi completamente inesperado. Eu estava descabelada e com um pijama de flanela. Coloquei um jeans, uma jaqueta de couro e botas de couro, penteei meu cabelo e corri até a porta. Meu pai jogou a pistola para mim e eu a peguei por puro reflexo.

– Onde?

– Perto da sua escola.

Perto da minha escola? Tristan morava perto da minha escola, apesar de estar viajando. Olhei pela janela. Lua cheia.

– Vamos logo.

Fomos de carro e em pouco segundos estávamos lá. Avistei dois corpos ao longe. Um caído no chão, outro curvado sobre ele.

– Pare o carro! – exclamei para minha tia.

Ela freou bruscamente. Abri a porta e saltei, correndo na direção do espectro com a arma na mão. Ao me ouvir, ele se levantou e me encarou. Não era o mesmo da última caçada. Esse usava um moletom com o capuz na cabeça e óculos escuros, sem luvas.

E me encarava.

Por um instante, hesitei. O espectro também. O que estava acontecendo comigo nas caçadas ultimamente? Eu sou Emilia Forstensi. Eu não hesito.

Apontei a arma para o espectro e atirei. Ele desviou facilmente e correu. Foi embora. Isso não era normal. Espectros não fogem em plena lua cheia, não antes de serem feridos ou encurralados.

Olhei para o corpo embaixo de mim. Um garoto ruivo e sardento, desconhecido. Seus olhos estavam completamente vazios e não se mexia. Ajoelhei e tomei o pulso dele.

– Está morto. – anunciei para minha família e dei meia volta – E o espectro fugiu.

– Na lua cheia? – assustou minha tia.

– Pois é.

– Isso fica cada vez mais estranho. – comentou meu avô.

– Vamos embora. – resmunguei, entrando no carro. Odeio quando perco a alma das pessoas para aqueles espectros nojentos.

No dia seguinte, era a festa de Mia. Separei uma roupa legal e lá pras quatro horas já estava pronta. Decidi ir a pé para refrescar minha mente e planejar minhas ações. A casa de Mia não era tão longe da minha.

Eu havia decidido contar a Tristan como eu me sentia antes que alguém da escola descobrisse e fizesse isso. Eu iria aproveitar um momento em que estivéssemos a sós e contar a Tristan o que sentia. Ou ia contar com as meninas por perto, para me sentir mais segura. Não, definitivamente a sós: a reação dele poderia me envergonhar muito.

Cheguei à casa de Mia mais ou menos umas quatro e meia. Ela me recebeu toda feliz, eu era a primeira a chegar. Entramos no salão de festa, todo decorado de roxo. “O Tristan vai gostar”, pensei, já que era a cor favorita dele.

Enquanto os convidados não chegavam, nós nos divertimos: jogamos balões de água pra cima, tiramos fotos nas motos potentes dos vizinhos dela, passamos um tempo no terraço e assistimos o final de um filme da Dakota Fanning.

A primeira convidada a chegar foi Bel, um pouco depois das cinco e meia. Depois, chegaram uma série de amigas de Mia que eu não conhecia. Thaís e Yuji e não iriam, cada um por um motivo diferente.

Durante muito tempo, dançamos, comemos, rimos e nos divertimos, mas nem um sinal de Tristan. Foi quando Bel me puxou num canto.

– Temos que conversar. – ela estava séria. Me perguntei o que poderia ter acontecido. Odeio quando me dizem isso porque surgem todas as possibilidades possíveis de eu ter feito alguma coisa errada.

– Beleza, vamos lá fora.

Sentamos numa muretinha do jardim na frente do prédio.

– Emi... Não sei como te dizer isso. Bem... Minhas notas caíram drasticamente nesse bimestre. Eu preciso recuperá-las.

– E? – isso não era exatamente novidade. Eu era basicamente a única dos meus amigos que não estava com o menor risco de pegar recuperação no fim do ano.

– Bom, acho que quando estamos todas juntas, nós não conseguimos nos concentrar.

– O que você quer dizer com isso, Bel?

– Eu preciso me afastar de vocês. Fazer novas amizades.

Meu estômago revirou. Bel estava me dizendo que não queria mais ser minha amiga, depois de todos esses anos. Talvez ela ainda quisesse, mas achava melhor não ser. Que droga! Eu queria gritar, jogar as coisas pro alto, bater em alguém. As lágrimas começaram a se formar, mas eu as segurei. Não importava o que eu sentia. Bel era minha melhor amiga e, se ela achava que era o melhor pra ela, tudo que eu podia fazer era aceitar da melhor forma possível.

– Você realmente acha que é o melhor caminho?

– Minha mãe acha que é o melhor pra mim. – estava tudo explicado. A mãe dela nunca gostou muito de mim, principalmente pelo fato de que eu ia bem na escola e a Bel nem tanto. Ela sempre me achou má influência, mas a Bel nunca havia se importado. O que havia mudado, então?

– Bom, eu não vou interferir nas suas decisões, mas você sabe o que eu penso, né?

– Sei. Olha, não vai ser nada fácil pra mim, também. Foi meio que por isso que eu vim hoje. Como se fosse nossa última noite juntas, sabe?

– Aham. – estava triste demais para argumentar. Estava prestes a perder uma das minhas melhores amigas. Odiava isso. Odiava demais.

– Mas não fala nada pra Mia. Vai estragar o aniversário dela.

– Ok, pode deixar.

Discretamente, peguei meu celular e mandei uma mensagem para Tristan:

> Você vem?

< Acho que não vai rolar.

> Eu tô super triste com uma coisa aqui.

< Com o quê?

> Te conto se você vier.

< Desculpa, Emi, não vai rolar.

Como se eu precisasse de mais um motivo para ficar mal naquela noite.


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