Hunter escrita por Jiinga


Capítulo 6
Altos e Baixos




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Férias. Eu finalmente estava de férias! Era tudo o que eu precisava. Iria esfriar a cabeça e esquecer os problemas. É claro que não eram as tão esperadas férias de verão, mas o mês de férias de julho viria a calhar. Além disso, eu preferia o clima frio.

Acordei tarde na quarta-feira de manhã, com preguiça de ligar o meu computador, então fiquei assistindo TV até a hora do almoço. Fiz um macarrão à bolonhesa, comi e finalmente abri no notebook.

Surpreendentemente, percebi que Tristan estava me chamando no Skype. Estranho, porque nunca conversávamos por Skype e porque eu não costumava responder a essas chamadas. Mas, naquele dia, resolvi atender e logo visualizei a imagem da câmera dele na minha tela.

– Eu quero tocar uma coisa pra você – disse Tristan. Ele estava usando uma camiseta azul e o cabelo estava todo bagunçado. Afastou-se um pouco da câmera e começou a tocar uma música do Owl City no piano.

– “Fireflies”! – comentei.

– Sim!

– Eu não sabia que você tocava piano!

– Piano, violão, saxofone...

– Legal!

– Olha essa! – ele voltou a tocar.

– “Alice” da Avril. Por que você não canta?

– Nem, hein! Minha voz é horrível.

– Duvido! Vai, canta!

– Tá bom, mas não me zoe depois! – ele voltou a tocar “Fireflies”, dessa vez cantando. Eu não imaginava que ele cantasse tão bem.

Eu estava prestes a pegar meu fone para ouvir melhor quando Carla apareceu na webcam, vestindo um pijama de vaquinha.

– Ei! Vocês tão conversando no Skype sem mim?

– Aham, a gente te odeia! – brinquei.

– Ei, Ca, vamos lá. Eu toco e você canta. – sugeriu Tristan.

– Beleza! – ela se sentou numa cadeira ao lado dele.

– Você sabe cantar “Clocks”? A Emilia adora.

Morri. Ele se lembrava disso! Senti minhas bochechas ficando vermelhas.

– Hum... Não... – respondeu Carla – Vamos cantar “Fearless”... Ou “Welcome to My Life”!

– Tá legal, vou pegar o violão. Já volto, Emi! – ele levantou e saiu da tela.

– E ai, amor, o que me conta? – perguntou Carla, aproximando-se da câmera.

– Hum... Seu irmão tá ouvindo?

Ela se inclinou para olhar para o que eu acho que era a porta.

– Não. Ele já tá longe.

– Bom... Eu... Acho que tô a fim dele.

– Ai meu Deus! – gritou Carla – Desde quando?

– Sei lá... Semana passada.

– Uau. Olha, fica sossegada, que eu apóio totalmente! A Marina não é a garota certa pra ele.

– Haha, valeu! Mas não comenta nada com ele, ok?

– Ok, flor!

Cerca de meio minuto depois, Tristan voltou com o violão e eles cantaram algumas músicas pra mim.

De repente, a tela travou e antes que eu percebesse, minha internet tinha caído. Tentei de tudo para recuperá-la, mas não consegui. Não pelo resto do dia. Fiquei muito mal por causa daquilo.

No dia seguinte, entrei no Facebook mas Tristan não estava online e não visualizou minha mensagem. Nem no dia seguinte. E nem nos outros três.

Comecei a entrar em pânico. Carla também não entrava. Será que havia acontecido alguma coisa? Comecei a pensar no pior e a cada dia, eu me preocupava mais.

Porém, na noite do quinto dia, ele voltou e toda minha preocupação foi embora.

Emilia Forstensi:

*Meu Deus você tá vivo!

Tristan Reed:

*Nossa, foram só cinco dias. Que exagero.

Emilia Forstensi:

*Mas eu senti sua falta!

*Achei que você tivesse morrido, sei lá!

Tristan Reed:

*Hum. Eu viajei. Você não vai viajar?

Emilia Forstensi:

*Não. Tenho que ficar e proteger a cidade.

Tristan Reed:

*Hum.

Emilia Forstensi:

*O que foi, Tristan?

Tristan Reed:

*Nada não.

E a conversa, literalmente, acabou por ali. Tristan simplesmente parou de falar comigo e minutos depois, ficou offline.

Comecei a chorar. O que, afinal, eu havia feito pra ele?

Nós não nos falamos por muitos dias depois disso. Em parte por orgulho meu, que queria que ele percebesse que estava me machucando sem que eu dissesse nada, e em parte porque eu não sabia como resolver essa situação. Triste, não é? E pensar que ele havia dito que íamos poder conversar durante as férias todas quando eu me despedi...

Quando já estávamos no meio das férias e eu estava cansada de ficar o dia todo trancada no meu quarto assistindo séries no computador (já que eu era a única que não havia viajado e por algum motivo a cidade andava tranquila), resolvi sair para fazer compras.

Coloquei um suéter, uma saia de lã, meias de lã, botas e um sobretudo. Lá fora, o frio do meio de julho era terrível, mas não mudei de ideia. Decidi ir até algum shopping e comprar algumas roupas novas. Quando estava andando rapidamente pela neve no caminho de volta, trombei com alguém.

– Ah, desculpa, eu... – olhei para frente e percebi que conhecia o tal alguém - Rique? – assustei ao me deparar com aquele rosto conhecido.

– Emilia! – ele me abraçou.

– Meu Deus, há quanto tempo eu não falo com você! Achei que você tava viajando, como todo mundo.

– Pois é, né? Espera, deixa eu te ajudar com essas sacolas! – ele pegou as sacolas de compras da minha mão esquerda – Quer tomar um café, ou algo do tipo?

– Pode ser!

Fomos juntos até o café que eu ia com o pessoal. Nós dois pedimos cappuccinos.

– Mas e aí, como vai a vida? – perguntou ele.

– Não muito bem.

– O que houve?

– Eu... – estava prestes a contar sobre o Tristan, quando parei para analisar os fatos. Tristan e Rique eram melhores amigos, então Rique podia muito bem contar a ele sobre o que eu sentia. Além disso, ele também era namorado da Vitória e até onde eu sabia, namorados contam tudo um ao outro. E a Vitória era melhor amiga da Marina e eu sabia que melhores amigas contam tudo uma pra outra. Se a Marina viesse a saber sobre isso... Eu estaria ferrada. Ela acharia que o que eu disse foi por egoísmo, contaria pro Tristan e ele me odiaria. Sem falar que ia tentar me separar dele por causa do namorado. Mas eu precisava contar para alguém, e algo nos olhos do Rique me dizia que ele era esse alguém– Não sei por que, mas acho que eu devo confiar em você.

– Talvez seja por que eu nunca menti pra você ou algo do tipo.

– Ok. Rique, pra te contar o que tá acontecendo, eu tenho que te contar a história toda.

– Ok.

– Sem que você me ache estranha.

– Tá legal.

– E você tem que me prometer que não importa o que aconteça, você não vai contar nada sobre isso nem pro Tristan, nem pra Vitória, mesmo ele sendo seu melhor amigo e ela sendo sua namorada.

– Claro. Emilia, pode ficar sossegada, se você não quiser que eu conte, eu não vou contar.

– Tá legal... Hum... – Observei-o por algum tempo. Há algumas semanas, aquele garoto parecia ser o amor da minha vida. Eu havia chorado loucamente por ele várias vezes. Agora, pensar no Rique desse jeito era relativamente estranho. Como o Tristan tinha apagado esses sentimentos tão rápido? Bem, eu não ia contar sobre ter gostado dele um tempo atrás. Ia ser no mínimo estranho. Então, decidi pular o começo da história. – Eu to gostando do Tristan.

– Hum, legal. E aí?

– E tipo... Ele costumava ser meu melhor amigo, sabe? E aí, do nada, ele foi super grosso comigo esses dias e a gente não se fala desde então. Não é possível que só eu ache que ele tá estranho...

– Entendo... Bem, ele não tá exatamente... Normal.

– Eu sei.

– Mas você já pensou em contar pra ele o que sente?

– Já. E não vou fazer isso.

– Por quê?

– Por que... Mesmo com ele agindo estranho, eu tenho medo. Medo de perder meu melhor amigo.

– Ei, ei, ei, calma, moça! Olha, eu conheço o Tristan há muito tempo e muito bem. Ele não iria fazer isso com você.

– Você não pode ter certeza...

– Shiu! Deixa eu terminar! Então, acredite em mim quando eu digo que iria ser muito melhor se você contasse. Ele iria tipo ter mais cuidado com você.

– Mas por que eu vou contar? Ele namora outra!

– Quando eu contei pra Vitória que gostava dela, não sabia se ela sentia o mesmo, mas mesmo assim, arrisquei.

– Eu tenho certeza de que ele não sente o mesmo.

– Na minha opinião, você vai se sentir muito melhor se contar. Além de sair um peso das suas costas, vai ajudar a esquecê-lo.

– E se eu não quiser esquecê-lo?

– Bom, aí já é um problema!

O garçom chegou com nossos cappuccinos. Eu observei enquanto Rique abria o pacote de açúcar e mexia o cappuccino, sem tirar as luvas de couro e nenhum momento.

– Você nunca tira essas luvas, não?

Ele sorriu e olhou para as mãos.

– Não... Eu sou muito legal pra isso!

Nós bebemos um pouco dos cappuccinos em silêncio.

– Então, sobre o Tristan andar estranho... Você sabe o que tá acontecendo?

– Sei.

– O quê? – fiquei surpresa. Não esperava que ele soubesse mesmo.

Ele respirou fundo e tomou mais um gole.

– Emilia... Tem algumas coisas acontecendo com o Tristan. Eu tenho conversado muito com ele, ultimamente.

– O que exatamente? Drogas, bebidas?

– Eu... Eu não posso contar, Emi. Só me escuta, tá? Você pode não pensar assim agora, mas... É melhor pra você ficar longe dele. Sério. Você não tem ideia de com o que está se envolvendo. Ainda há tempo pra você sair dessa.

– Calma... Como assim? – o que era toda aquela seriedade de repente?

– Desculpe, mas eu não posso falar mais que isso.

– Como não? – exclamei, ficando em pé – De que adianta me dizer tudo isso e não me contar a verdade?

– Emilia...

– Tchau, Rique.

Peguei minhas sacolas e fui embora, sem olhar para trás.

Enquanto esperava o semáforo de pedestres abrir, as perguntas começaram a passar por minha mente: O que estava acontecendo com Tristan? Por que o Rique não podia me contar? Por que era perigoso continuar gostando dele?

Quando cheguei em casa, já havia anoitecido e Tristan estava online no chat do Facebook. Respirei fundo e decidi tentar de novo.

Emilia Forstensi: EEjksoew

*Oi.

Tristan Reed:

*Oi.

Emilia Forstensi: EEjksoew

*Vai me contar o que tá rolando?

Tristan Reed:

*Tá tudo normal, Emi. Eu só to meio nem aí pro mundo.

Emilia Forstensi: EEjksoew

*Percebi '-'

Tristan Reed:

*Eu continuo a mesma pessoa e... Sei lá... Tô testando... Tipo, de tempo em tempo eu faço isso pra saber o progresso que eu consegui nas relações.

*Você sabe como eu sou, etc.

*Daí eu paro de ficar me disponibilizando pra tudo, de tentar conseguir o bem de todos, pra ver o que eu já atingi, quem eu atingi, quem eu já consertei e quem não se importa muito.

Emilia Forstensi: EEjksoew

*Você nunca me disse nada sobre tentar me consertar.

Tristan Reed:

*Ah sim...

*É por que não é importante, mesmo.

Emilia Forstensi: EEjksoew

–-'

Tristan Reed diz:

*Sério!

*Haha

*De qualquer forma: conclusões que devem ser tiradas deste diálogo: eu sou o mesmo, basta você se aproximar e olhar direito. Hum... A treta não é com você. E nem com ninguém importante. Se isso atinge você de alguma forma que eu não consigo entender, entenda os motivos e você me entenderá.

*Só isso, acho.

Emilia Forstensi: EEjksoew

*Tem certeza de que você tá bem?

Tristan Reed:

*Absoluta.

*E você?

Emilia Forstensi: EEjksoew

*Não sei.

Tristan Reed:

*Então eu não sei se tô bem.

*Vou ser sincero e você vai entender.

*Isso tá sendo desnecessário, não tá acontecendo nada. Mas você tem o direito de perguntar e se preocupar.

*Só que eu não concordo com isso, fico até meio triste por você duvidar do fato de eu estar bem com você. Agradeceria se você confiasse um pouco mais.

Emilia Forstensi: EEjksoew

*Não só comigo... Tipo, não com as pessoas. Só... bem.

*Você me conhece. Você sabe q eu não gosto de ver as pessoas mal. Então, é por isso que eu me preocupo quando eu acho que você tá mal...

*Mas não mal com as pessoas... Mal tipo só de estar mal mesmo.

Tristan Reed:

*Eu to ótimo, na verdade. Nunca estive bem assim.

*Melhor que isso, só dois disso.

Emilia Forstensi: EEjksoew

*Desculpa, tá?

Tristan Reed:

*Aham.

*Relaxa.

*Agora eu tenho mesmo que ir.

Emilia Forstensi:

*Ok. Beijos.

Tristan Reed:

*Beijos.

*Amo você.

Ah não, ele não tinha dito isso. Eu sabia que ele estava falando por falar, que era um amor de amigo, mas aquilo mexeu muito comigo...

Emilia Forstensi:

*Também amo você.

Fechei meu notebook. Eu sabia que aquela não era a verdade. Pelo menos não toda a verdade. Mas eu sentia que havia recuperado meu Tristan e se tentasse forçá-lo a falar ainda mais, ia acabar perdendo-o. Então me contentei com aquilo.


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