Hunter escrita por Jiinga


Capítulo 2
Briga




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Estávamos eu, Bel e Mia no restaurante da escola, na sexta à tarde. Foi quando eu vi Lucas e dei um tchau. Lucas era um dos melhores amigos de Tristan e Henrique e costumávamos chamá-lo de bebê gigante, acho que o fato se explica por si.

De repente, juntaram-se a ele duas pessoas muito conhecidas: Henrique e Marina, com o braço na cintura um do outro, rindo. Marina era a atual namorada... Ou ficante... Ou paquera do Tristan. Tinha cabelos loiros muito lisos e olhos perfeitamente azuis. Era o estereótipo da raça ariana.

– Não creio! – exclamei – Ela tá totalmente dando em cima do Rique!

– Mas ela não era namorada do Tristan? – perguntou Bel.

– Pois é!

– Deve ser só um mal entendido. Vamos almoçar, depois tiramos isso a limpo. – sugeriu Mia e entramos na fila do almoço, contra minha vontade.

Mia era, na maioria das vezes, minha voz da razão. Com seu 1,58, cabelos ruivos e autonomia, não tendia a se preocupar com o mundo ao seu redor, diferente de mim. Mas isso não quer dizer que eu sempre a ouvia.

Almoçamos rapidamente e Mia foi embora enquanto eu e Bel fomos para a escada onde costumávamos sentar antes da aula de teatro. Era uma escada que levava do pátio fechado às quadras, ficava entre uma quadra cercada por rede e uma estátua do santo padroeiro da nossa escola. Estavam todos lá.

– Oi, pessoal! – cumprimentei e me sentei na escada. Bel sentou ao meu lado, em silêncio. Ela não se enturmava muito com o pessoal da aula de teatro.

Marina ainda estava abraçada a Henrique, sorrindo. Olhei para Tristan, ele parecia bem com a situação. Como ele podia ficar tão calmo enquanto a namorada/ficante/paquera dava claramente em cima de outro?

– Pessoal, a gente já volta! – anunciou Marina e saiu com Vitória e Carla, irmã de Tristan.

– Graças a Deus! – sussurrou Bel para mim.

– Você tá bem? – perguntei para Tristan, receosa. Ele costumava fingir emoções muito bem.

– Sim, tô ótimo. Por que não estaria? – ele estava sorrindo.

– Hum... Nada não. – virei-me para Henrique - E aí, Rique, já pediu a “coisa importante” para “uma pessoa importante”?

– Aham! – respondeu ele.

Ele havia pedido? Quer dizer que... Ele não ia me pedir...?

Nesse momento, Marina voltou inesperadamente, com Vitória e Carla sorrindo, e abraçou Henrique.

– Ah, Rique! Eu tô tão feliz!

Essa não. Era isso. Henrique havia pedido Marina em namoro e ela havia terminado com o Tristan e aceitado! Mas por que Vitória e Tristan estavam tão felizes? Essa explicação teria que esperar, porque senti meus olhos se encherem de lágrimas.

– Podemos ir? – perguntei para Bel. Ela assentiu.

Sem dizer tchau ou olhar pra trás, levantamos e subimos. Sentei na escada em frente ao teatro.

– O que aconteceu? – perguntou ela, sentando ao meu lado.

– Você não viu? O Rique pediu a Marina e agora eles estão juntos!

– Claro que não! Ela namora o Tristan!

– Bom, o relacionamento deles nunca foi dos melhores! Ah, que droga! Já não bastava ter que competir com a Vitória, agora tem mais uma na jogada?

– Calma, Emi!

– O que aconteceu? – ouvimos uma voz e nos viramos. Era Carla.

Carla era uma das poucas pessoas que sabiam sobre o triângulo Emilia – Rique – Vitória e uma das que mais tinham me apoiado.

– Como se você não soubesse. – respondi. Eu sabia que ela provavelmente não tinha nada a ver com a história, mas eu estava tão irritada que brigaria com qualquer um que subisse por aquela escada.

– Nossa, não precisa estressar! Só me conta.

– Eu vi, ok? Eu já percebi que o Rique e a Marina estão juntos!

– Emi... Acho melhor você ir ao banheiro comigo.

– Por quê? – perguntei, enquanto nós três íamos para o banheiro.

– Olha... A Marina não gosta do Rique...

– Como você sabe?

– Deixa eu terminar! Ela só... Tá feliz por que... O Rique pediu a Vitória e ela aceitou.

– O que? – senti a cor sumir do meu rosto.

– É isso mesmo.

– Não, não pode ser! – quase gritei.

– É sim.

Não dava. Eu havia agüentado até aquele momento, mas não podia mais segurar. Então, desatei a chorar. Carla me abraçou. Bel também.

– Eu sabia! Sabia que isso ia acontecer!

– Emilia, não é o fim do mundo! – disse Bel, tentando me acalmar.

– Como não? A minha vida só vai de mal a pior! – eu sabia que estava sendo dramática, mas isso não impedia que as lágrimas caíssem.

– Emi, ele é só um cara! – falou Carla.

– Ele pode até ser, Jú, mas... Durante a minha vida toda eu sofri por caras que estavam longe demais, que eram impossíveis demais... E pela primeira vez, eu tinha achado um cara próximo a mim! Pela primeira vez, eu não sofria! Pelo contrário, o Rique me faz sentir bem quando eu tô com ele! Eu juro... Eu achei que eu tinha alguma chance!

– Mas não tinha. Emilia, não se preocupe, outros caras vão aparecer! Daqui uma semana você não vai nem mais se lembrar do Rique! – aconselhou Carla.

Escorreguei pela parede e sentei no chão.

– Queria que o Tristan estivesse aqui. – resmunguei. Nem sei por que disse aquilo. Mas era verdade. Naquele momento, eu sentia que ele era o único que poderia me acalmar.

– O meu irmão? – perguntou Carla.

– É. Ele é meio que meu psicólogo nessas horas.

– Tudo bem, vou chamá-lo. – respondeu Carla.

– Não! Nós estamos no banheiro feminino!

– E daí? Não é como se ele estivesse aqui pra ver garotas peladas! É só uma conversa entre amigos.

Hesitei.

– Ai, ok, pode ir.

Bel sentou ao meu lado, com a mão em meu ombro, enquanto Carla descia para chamar Tristan. Ela ficou em silêncio, mas não precisava dizer nada: só o apoio dela já era bom para mim. Logo, escutamos passos vindo para o banheiro.

– Vou estar lá fora se você precisar.

– Não, Bel, vai estudar. A gente tem prova sábado, não quero que você vá mal por minha causa!

Ela hesitou por um momento, preocupada, mas assentiu.

Nesse momento, uma cabeça apareceu na porta. Tristan tinha um olhar preocupado e a franja preta caía sobre seus olhos. Assim que o viu, Bel se levantou e acenou para mim.

– Tristan! – abri os braços para ele, que se abaixou e me abraçou. – Você já deve saber o que aconteceu.

– É, eu sei. – ele me soltou e sentou ao meu lado – Como você está?

– Não é obvio?

– Desculpa. – ele olhou para baixo.

– Tudo bem. – enxuguei um pouco minhas lágrimas.

– Não é por isso.

– Ahn?

– Não é por isso que estou me desculpando.

– O que você... – foi então que me lembrei do dia anterior, quando perguntei se Tristan sabia de algo mais. Agora, tudo se encaixava - Você sabia o tempo todo, né? – perguntei, não querendo acreditar.

– Sabia.

– Você... Sabia? – as lágrimas que já haviam secado voltaram a se formar nos meus olhos.

– Sim.

– E por que não me contou? Eu fui totalmente sincera com você ontem!

– Eu tentei te avisar!

– Ah, belo aviso! Por que você escondeu de mim? – eu já estava irritada de novo.

– Emilia, eu...

– Foi por causa da Marina, não é? – ele ficou quieto, então continuei – Ah, claro, tudo faz sentido agora! Ela é a melhor amiga da Vitória! Deve ter pedido pra você ajudar a juntar os dois e você obedeceu como um cachorrinho!

– Emilia! – ele exclamou, agora irritado.

– Tristan, você não vê que essa garota só está te usando?

– Desculpa, Emi, não dá pra conversar com você nessas condições.

Ele se levantou e me deixou sozinha lá no chão. Eu não estava mais triste, estava completamente irritada agora. Sentia-me traída.

Lavei o rosto e saí o banheiro. Trombei com Vitória na saída.

– Desculpa! – exclamei.

– Relaxa, eu tava mesmo atrás de você. Emilia, a gente precisa conversar.

– Não tem o que conversar, Vi. Você gosta do Rique, ele gosta de você, fiquem juntos. – tentei passar por ela, mas ela me barrou.

– Emilia, eu não quero que você sofra!

Olhei para Vitória. Para seus olhos. Eles pareciam completamente sinceros. Então, observei-a atentamente. Vitória era baixinha, tinha cabelos loiros bem curtos e lindos olhos azul-esverdeados. Era muito mais bonita que eu. Rique ficaria feliz.

Então, fiz uma coisa da qual sabia que iria me arrepender. Respirei fundo e mantive minha voz o mais estável que consegui:

– Vi, por favor, não se preocupe comigo. Você faz o Rique feliz e a felicidade dele importa muito pra mim.

– Não tem problema, mesmo? – ela me encarou, duvidosa.

– Nenhum.

– Ai, brigada! – ela exclamou e me abraçou. Eu me senti muito altruísta naquele momento, até demais.

Quando ela saiu do banheiro e foi para os braços de Henrique, senti que iria voltar a chorar, mas uma mão tocou meu ombro.

– Você não precisa ir pra aula se não quiser. – era Bel.

– Não. Eu não faltei em nenhuma aula de teatro na minha vida, não vou faltar agora por um motivo idiota desses.

– Então eu vou ficar com você.

– Não, Bel, eu já disse, vai estudar!

– Eu posso estudar outro dia, você precisa de mim hoje! – ela sorriu.

– Valeu! – sorri de volta e a abracei.

Antes de entrar no teatro, dei um olhar de decepção para Tristan.

Não aguentei subir no palco naquela aula. Fiquei vendo tudo sentada na plateia com a Bel, chorando.


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