Hunter escrita por Jiinga


Capítulo 14
Recaída


Notas iniciais do capítulo

Começando a dar algumas dicas do porquê a Emilia é tão fraca e chorona...



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Cheguei em casa caindo aos pedaços. Aquela sensação horrível havia voltado. E estava ainda mais forte, se é que isso era possível. Quer dizer, a situação nem era tão tensa assim. Tristan e Marina iriam voltar, iriam virar o “casalzinho do ano” da escola e eu teria que vê-los se pegando na minha frente todo dia. Sem contar que minhas aulas de teatro já eram. Mas eu estava agindo como se fosse algo maior. Minha mente sabia que não era demais, mas meu corpo rejeitava isso.

De repente, senti como se alguém estivesse me observando.

Olhei em volta, não havia ninguém.

Era isso. A sensação que eu estava tendo. Como se uma força terrível estivesse me cercando e quanto mais triste eu ficava, mais ela se aproximava. E eu sabia que uma hora eu iria ceder e ela iria tomar conta de mim.

Eu precisava de um abraço. Meu quarto não me fazia bem.

Deixei minha mochila no chão e saí. Já sabia aonde iria e lembrava mais o menos o caminho. Estava frio lá fora, mas o corredor que levava ao QG dos espectros estava particularmente quente.

Quando abri a porta, planejando ficar sozinha, encontrei Tristan na sala, sentado numa das pontas de um sofá.

– Ah, oi! – exclamei, assustada – O que faz aqui?

– Ah, eu precisava de um tempo sozinho. Tem muitos animais na minha casa, não dá pra pensar.

– Ah... – me sentei na outra ponta do sofá.

– E você?

– Eu... – não me lembrava ao certo por que estava lá. A sensação havia desaparecido. – Tem algo estranho acontecendo comigo, Tristan.

– O quê?

– Sei lá, eu só... Não consigo ficar bem. Eu posso rir e me divertir, mas não consigo ficar bem. Como se tivesse alguma coisa impedindo isso, sabe?

– Aconteceu alguma coisa? – ele pareceu sinceramente preocupado.

– Não... Bom, ainda não.

– Como assim? Eu fiz alguma coisa? – ele sentou mais perto de mim.

– Não...

– Então por que você tá assim?

– Não é nada que você tenha feito, é algo que vai fazer.

– O quê?

– Não quero falar. – cruzei os braços, emburrada.

– Por quê?

– Eu tenho vergonha.

– Afe! – ele deu um soco leve no meu braço – Depois de tudo, você ainda tem vergonha de me falar alguma coisa?

– Tem razão. Bom... Você vai voltar com a Marina.

– Não vou não.

– Vai sim... Tristan, eu sei que você ainda gosta dela!

– E isso é motivo pra voltar?

– É, ué, ela também diz gostar de você.

– Tsc, você devia confiar mais em mim.

Aquilo me tranqüilizou um pouco.

– Bom, acho que eu já vou. – comentei, levantando-me.

– Você tá bem?

– Não, mas eu vou ficar.

Ele me abraçou e eu voltei para casa.

Por mais que Tristan tivesse me acalmado naquela noite, eu ainda estava preocupada. Minha preocupação só aumentou quando chegou sexta-feira à noite quando Marina postou no Facebook “Falta muito pouco pra eu olhar no seu olho e dizer: amo você”, letra de um música do Restart, que ela amava.

Era isso. A festa de Tristan seria no dia seguinte, na casa dele. Ela iria aproveitar a festa para se declarar e os dois iriam voltar.

Eu não podia mais ir à festa sabendo disso. Não ia agüentar sabe-se lá quantas horas olhando o casalzinho perfeito. Então, mandei uma mensagem pro Tristan dizendo que meu pai não tinha me deixado ir.

Na noite de sexta pra sábado eu tive um sonho. Não, um pesadelo. Nele, Tristan entrava no meio da minha aula de matemática com um buquê de rosas brancas para pedir Marina de volta. E ela aceitava, claro.

Quando acordei, estava suando e tinha lágrimas nos olhos, exatamente como quando sonhei que o Rique ia arranjar uma namorada. E foi então que eu soube: aquilo não havia sido apenas um pesadelo. Havia sido mais um tipo bizarro de premonição.

Passei o sábado todo esperando, preocupada, chorando uma hora ou outra. E então aconteceu. Marina postou “Nunca estive tão feliz! Te amo muito!”.

Era isso. Eles tinham voltado. Comecei a chorar desesperadamente, como nunca havia chorado antes. Quando Tristan entrou, perguntei se eles tinham voltado. Ele disse que sim, que havia resolvido dar uma segunda chance.

Foi o suficiente. Não aguentei mais. Fechei o computador.

Eu estava sozinha em casa, para variar, e a força havia voltado. Estava frio e eu estava tremendo, mas de medo, raiva e tristeza.

Peguei uma faca bem afiada na cozinha e voltei ao meu quarto.

Dessa vez, iria fazer isso direito.

Fiquei parada na frente do espelho com a faca na mão direita.

Podia sentir a força ao meu redor chegando cada vez mai perto, ficando cada vez mais forte. Ela queria que eu fizesse isso.

Juntei toda tristeza, raiva e medo dentro de mim e raspei a faca no meu pulso. Não foi um corte superficial, rasgou a carne do meu braço, abrindo-o de um jeito bem feio. Doeu pra caramba e o sangue logo começou a sair. Dei um grito de dor. Fraca, peguei a faca com a outra mão e cortei meu pulso direito do mesmo jeito.

Já não tinha mais força para segurá-la, então joguei a faca ensanguentada no chão.

O sangue escorria rapidamente dos meus braços, pingando no chão, enquanto os cortes latejavam profundamente. Então, comecei a ver tudo dobrado. O quarto começou a girar. Eu estava tão fria que o pingente do colar de Tristan queimava em minha pele.

Não devia ter feito aquilo, não mesmo. Não era o que eu queria. Então por que fiz? Estava difícil demais para pensar. Só sabia que eu não queria morrer.

Precisava parar aquilo de algum jeito, então virei para o banheiro e tentei correr, mas o quarto ao meu redor rodava tanto que eu cai no chão de joelhos. Quando vi todo aquele sangue no chão, achei que fosse vomitar e ao colocar os braços ao redor da minha barriga, encharquei minhas roupas com ele.

Precisava chegar ao banheiro, pegar o kit de primeiros-socorros e cuidar desses cortes. Mas eu não tinha força e sabia disso.

Era assim que eu terminaria. Morta em meu próprio quarto com uma faca de cortar carne.

Deitei no chão, derrotada e virei de barriga pra cima. Eu enxergava duas lâmpadas onde só havia uma.

Fechei meus olhos, esperando a morte chegar.


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