Hunter escrita por Jiinga


Capítulo 13
Aniversário




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Eu tinha prova de matemática na segunda.

Conforme as horas passavam, minha preocupação e minha ansiedade aumentavam. Eu não iria conseguir fazer a prova desse jeito.

O intervalo passou voando e quando percebi, estava sentada num lugar determinado por minha professora enquanto as pessoas se concentravam em lembrar algumas fórmulas. Mas nem todos estavam lá.

Quando percebi que Marina, Vitória e Mia não estavam na sala, soube que algo havia acontecido. Tristan?

De repente, Marina entrou na sala com os olhos vermelhos de tanto chorar, pegou sua bolsa e saiu de novo. Vitória e Mia entraram logo em seguida, falaram com a professora e também saíram.

Motivada pela curiosidade, terminei a prova até antes do tempo mínimo de permanência.

Quando fui liberada, peguei um elevador e fui direto para o quarto andar. Tomei coragem e bati na porta da sala de Tristan, afinal, eu era uma garota do nono ano batendo na porta de uma sala do segundo do Ensino Médio.

Eles não estavam em prova, então pedi para o professor (um cara magrelo e com uma cara engraçada, que parecia ser professor de física) para falar com Tristan e ele deu permissão.

Nós dois fomos até um dos vãos no corredor.

– Você terminou com a Marina? – perguntei.

– Uhum.

– Uau. – pisquei várias vezes, talvez tentando fazer a ficha cair.

– O que foi?

– Nada. Por que fez isso?

– Sei lá... Eu tava sofrendo muito e ela não tava nem aí.

– Entendo... E você tá bem?

– Sim. – mas eu sabia que ele não estava. Eu sempre sei essas coisas. Não só sei, eu sinto. E isso aumenta conforme o que eu sinto pela pessoa. Podia sentir a tristeza de Tristan como se fosse minha.

– Eu sei que não sou a melhor pessoa pra dizer isso, mas você fez a coisa certa.

– Há, você dizendo isso! – exclamou. Eu deveria me sentir ofendida, mas dei um desconto porque ele havia acabado de terminar com a garota que amava.

– Você devia voltar à aula.

– Verdade. A gente se vê.

Ele acenou e saiu.

O estranho era que por mais que tudo estivesse dando certo, por mais que eu devesse estar feliz, eu não conseguia. Eu sentia que algo muito ruim estava pra vir. É aquela velha história de que quando algo está bom demais, é porque vai ficar ruim demais.

Os dias que se seguiram após o término de Tristan e Marina foram tensos. Ela vivia chorando. Comecei a me sentir culpada, afinal, eu estava super bem e a Marina super mal. Mas não havia nada que eu pudesse fazer.

Principalmente por que o aniversário dele estava chegando e eu precisava pensar num presente. Quer dizer, ele queria um headphone da Skullcandy, mas era quase impossível de achar.

Eu disse quase.

“Quase” porque, num belo dia, antes mesmo de ele e a Marina terminarem, enquanto eu caminhava para a escola, percebi que haviam aberto uma loja da Skullcandy no caminho. Espiei a vitrine e logo encontrei o bendito headphone. Como era de se esperar, custava os olhos da cara. Eu nunca teria grana pra pagar aquilo. Cheguei a pedir ajuda a algumas amigas de Tristan com quem eu nem falava, só sabia os nomes, sem resultado.

Fui para a escola, um tanto desolada. As aulas passaram normalmente, até mais rápido do que o normal. A tarde chegou e eu estava com o pessoal mais velho na escada, sentada no colo de Tristan.

– Por que você tá assim? – perguntou ele.

– Por que amanhã é seu aniversário e eu não tenho nada pra te dar...

– Você podia amarrar um laço na cabeça. Tipo, sem falar pra ninguém o porquê. Ia ser divertido.

Eu ri.

– Beleza, vai ser isso.

– Já volto, vou comprar alguma coisa pra comer.

Eu fui para o degrau de baixo e fiquei ao lado o Rique.

– Rique, tá a fim de me ajudar a pagar um presente pro Tristan?

– O quê?

– Aquele headphone que ele queria...

– Ah, sei! Quanto custa?

– Cem reais.

– Ah, haha! Não rola! Não tenho grana nem pra rachar metade-metade com você!

Fiz uma carinha de gato do Shrek pra ele, sem resultados.

– Bom, então tenho menos de vinte e quatro horas para pensar num presente!

– Licença. – disse Luís, sentando entre eu e Rique – Ouvi a conversa de vocês. Ajuda se eu pagar metade?

Olhei para Rique, esperançosa. Ele afirmou com a cabeça.

– Você salvaria minha vida se fizesse isso! – exclamei.

– Beleza!

– Não tem problema mesmo? – perguntei.

– Claro que não. Olha, amanhã cedo a gente te entrega o dinheiro e você corre comprar no seu horário de almoço, ok, Emilia? – perguntou Luís.

– Perfeito! – exclamei. Mal podia acreditar na minha sorte.

– O que é perfeito? – perguntou Tristan, acabando de chegar com um folhado numa mão e um suco na outra.

– Nada. Abraça o Luís pra mim, ele merece!

– Por que você mesma não abraça? – perguntou Tristan.

– Por que seus abraços são melhores. – sorri, toda animada.

Recebi o dinheiro dos garotos na manhã seguinte e corri com Thaís e Yuji até a loja da skullcandy. E para minha surpresa, quando cheguei lá, o último headphone daquele modelo tinha sido comprado. Droga.

Depois de meia hora pensando sobre o que fazer, acabei comprando o mais parecido que tinha, por dez dólares a mais (sorte que o Yuji tinha dinheiro para me emprestar) e voltamos para a escola correndo.

Quando cheguei lá, só havia pessoas do segundo ano. Nem sinal de pessoas da minha sala. Não que eu fosse me importar mais, afinal Tristan havia voltado a ser meu amigo. Mas eu sabia que ele ainda gostava da Marina e ela ainda gostava dele.

Tristan estava na cantina, então me sentei na escada com o headphone na mochila, deixando um espaço para ele no degrau de cima e planejando como iria entregar.

– Oi. Quer? – perguntou ele, sentando no tal lugar e me oferecendo seu lanche.

– Não, brigada. Não quer ouvir música?

– Agora não.

– Tem certeza?

– Aham.

– Nem mesmo no seu novo headphone? – tirei o presente da mochila e entreguei a ele.

– Caramba! – exclamou ele, pegando o headphone – Não acredito, vocês compraram isso?

Ele parecia uma criancinha de cinco anos ganhando um presente do Papai Noel. Era fofo. Então ele me abraçou.

– Aham. Agradeça ao Luís, ele pagou a maior parte!

– Valeu Luís! – exclamou Tristan e abraçou o amigo muito maior que ele.

– Ah, eu já ia esquecendo uma coisa! – exclamei, tirando uma fita da mochila e amarrando no meu cabelo como um laço.

– Isso! – exclamou Tristan, rindo.

– Emilia, por favor me deixa arrumar o laço na sua cabeça? – olhei para cima, provavelmente com uma cara muito estranha, e me deparei com Bia.

– Oi?

– É que eu tenho um problema com laços... – ela desviou os olhos.

– Ela é a melhor pessoa para fazer laços que existe. – comentou Tristan, rindo.

– Hum... Ok... – resmunguei, ainda me sentindo estranha, e deixei que Bia arrumasse o laço. Horas mais tardes eu descobriria que ele tinha ficado realmente perfeito depois que ela arrumou.

Nesse momento, Natasha, Marina e Carla apareceram e parabenizaram Tristan. Ele me deixou por um momento para dar atenção a elas. Eu não liguei muito na verdade, ele já havia me dado atenção suficiente para um dia. Foi o que aconteceu depois que o terceiro ano foi embora que acabou com meu dia.

Marina sentou na escada e começou a chorar.

– Ah, Mari, não fica assim! – exclamou Natasha, passando o braço ao redor dela.

– Eu não acredito que eu deixei ele ir embora, Na! – exclamou Marina.

– Amor, vai ficar tudo bem. – disse Carla, ajoelhando-se na frente de Marina.

Enquanto a cena toda se passava, eu estava sentada sozinha alguns degraus acima delas.

– Eu o amo, Carla!

Aquilo cortou meu coração. Como assim? Eu achei que a Marina só namorava o Tristan por popularidade.

– Olha, você devia dizer isso a ele, Mari. – sugeriu Carla – Quer dizer, ele terminou com você por que achou que você só estava usando ele!

Ai meu Deus. Eu não podia acreditar! A Carla estava me traindo. Na minha frente. Esse tempo todo com aquela conversa de “ah, eu sou totalmente a favor de vocês” e agora estava ali, juntando a Marina e o Tristan. Era óbvio que se a Marina pedisse pro Tristan para eles voltarem e dissesse que o amava, eles voltariam na hora.

Nesse momento, Carla percebeu que eu estava chorando, levantou-se e veio até mim.

– O que aconteceu?

– Nada, me deixa em paz! – gritei.

Ela pareceu extremamente brava e magoada, então saiu de perto de mim.

É, eu estava ferrada.


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