Hunter escrita por Jiinga


Capítulo 12
Infiltrada




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Quando acordei de manhã, estava sozinha. Fiquei confusa, não esperava que o Tristan fosse embora sem se despedir ou algo do tipo.

Levantei-me e coloquei meu amuleto no pescoço. Fui até o espelho para me olhar. Eu estava um caco, talvez tenha sido por isso que ele foi embora.

– Bu. – Tristan apareceu atrás de mim, dando-me um susto.

– Que droga! – coloquei a mão no peito – O que houve?

– Eu fui tomar um banho e trocar de roupa. Eu trouxe isso – ele estendeu uma caixa de isopor da padaria.

– Pão de queijo!

– Seu café-da-manhã favorito.

– O que você lê mentes agora, também?

– Ainda não.

– Como assim “ainda não”? – sentei na minha cama com as pernas cruzadas e peguei um pão de queijo.

– Bom, nós espectros, conforme vamos ficando mais fortes, adquirimos certos poderes, de acordo com jeito que matamos. Ler a mente é um deles.

– Legal! – exclamei e comi um pedaço da panqueca – Mas então, por que você tá aqui?

– Quero te levar a um lugar.

– Ah, ok. Eu só preciso tomar um banho, me arrumar...

– Eu volto em meia hora então. Pela porta da frente!

Eu ri.

– Tudo bem.

Ele pulou pela minha sacada e eu fui para o meu banheiro tomar um banho. Avisei meu pai que eu iria sair e Tristan chegou logo.

– Nós vamos a pé? – perguntei.

– Claro, não é muito longe.

Ele passou a mão no meu ombro, como costumava fazer. Achei que dessa vez eu tinha mesmo recuperado o Tristan.

Paramos no meio da calçada, num lugar assustadoramente perto da minha casa. No chão, logo abaixo de nós, havia algo parecido com um alçapão. Tristan o abriu e descobri que levava a um corredor mal iluminado.

– Eu tô ficando com medo.

Ele riu.

Andamos por mais uns quinze minutos até chegarmos numa porta. Tristan a abriu. Lá dentro havia uma enorme sala circular com cozinha americana ao fundo. Descendo dois degraus, havia vários pufes e sofás com uma mesa de centro. Num canto, uma TV LCD com vários vídeo fames. No fundo, havia mais algumas portas. Nem parecia que aquilo ficava no subsolo.

O local não estava vazio e logo reconheci alguns rostos.

– Oi, Emilia. – disse Rique, caminhando na minha direção e olhando para Tristan. Pude senti-lo assentindo ao meu lado.

– Rique.

Ele parou e ficou me encarando. De repente eu pulei e o abracei.

– Desculpa por tudo! – exclamei!

– Não, eu que tenho que pedir desculpas! – ele me abraçou de volta.

Acho que eu nunca tinha abraçado o Rique daquele jeito e, mesmo agora que eu não gostava mais dele, ainda era muito bom. Eu me sentia segura.

– Então, o que é aqui? – perguntei ao soltá-lo.

– É tipo o nosso quartel general. – explicou Tristan. – É aqui que tomamos decisões importantes, como se devemos ou não contar a você sobre sermos espectros.

– Ou se devemos ou não colocar uma máquina de fliperama aqui dentro. – Rique semicerrou os olhos para Tristan.

– O que ela tá fazendo aqui? – perguntou uma voz conhecida. Olhei por cima do ombro de Rique e vi Carol sentada em um dos sofás. Enquanto todos ali vestiam roupas normais como jaquetas de couro e calças jeans, ela vestia um vestido rosa com sapatos de salto rosa e ouvia música com fones rosa. Seus cabelos pretos já lisos estavam com chapinha. Parecia uma propaganda de perfume ambulante.

– Eu contei tudo a ela. – respondeu Tristan. Carol ficou emburrada e voltou a ouvir música. Eu tinha a leve impressão de que ela me odiava, mas não sabia porquê.

– Ela votou contra. – sussurrou Rique para mim. Não sei se ele se referia a mim ou à máquina de fliperama. Provavelmente aos dois.

Olhei em volta. Luís, Natasha, Vitória, Marina e Mia estavam lá. Marina nem parecia notar Tristan na sala. Isso era um tanto estranho. Não que os dois tenham algum dia tido o melhor relacionamento do mundo, mas mesmo assim...

– Bom, mas por que você me trouxe aqui? – perguntei ao Tristan.

– Ah, você é uma de nós agora. – respondeu. Fiquei confusa e ele pareceu percebeu – Emilia, nós... Bom, a maioria de nós confia em você. Você é uma caçadora, nós matamos espectros maus. Então, por que não nos unirmos?

– Não acho que meu pai vá gostar muito da ideia...

– Esse é o menor dos nossos problemas. – disse Rique.

– Ahn... Tudo bem, eu acho. Podem contar comigo. – sorri de leve.

Passei a tarde toda no QG dos espectros enquanto o pessoal me explicava tudo sobre o lugar e contava experiências passadas com espectros do mal. Quando estava quase anoitecendo, Tristan me levou de volta pra casa.

– Bom, tchau então. – comentei, mas ele não respondeu. Estava distraído mexendo numa pedra com a ponta do pé – Tristan?

– Ah, oi! Desculpa, eu tava meio distraído pensando em algo que vou fazer segunda...

– O que você vai fazer?

– Nada importante.

– Ah, qual é! Você não pode dizer uma coisa dessas e não terminar.

– Calma, não é nada! Sério!

– Então por que você não me conta?

– Por que tenho medo de que você comente alguma coisa com alguém e estrague tudo.

Respirei fundo.

– Não é nada que vá me machucar de algum jeito?

– Claro que não!

– Tem certeza?

– Tenho. Não vai afetar ninguém. Pelo menos ninguém importante.

– Tá legal. Boa noite, então. – abri a porta de casa.

– Ei! – virei para olhá-lo – Eu te amo, viu?

– É, é, eu também. – não estava para gracejos naquele momento. Tristan havia conseguido me estressar com aquele mistério todo.

Poxa, quando estava tudo ficando bem de novo, ele conseguiu me preocupar. O que afinal ele iria fazer na segunda-feira? As possibilidades eram infinitas. E de algum modo, eu sabia que era algo que me machucaria, mesmo ele dizendo que não.

A única coisa da qual eu tinha certeza era de que mal dormiria nas próximas duas noites.


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