As Mulheres de James Sirius Potter escrita por Lia Galvão, Miss Stilinski


Capítulo 8
Louise Macbeth Holmes


Notas iniciais do capítulo

Hello, minhas queridas! Então quero começar explicando o por quê de não termos postado essa semana. O capítulo não ficou pronto até ontem à noite. E, mesmo que se tivéssemos conseguido terminá-lo a tempo, eu fui para minha vó e Lia está sem computador. Devido a isso, iremos postar todas as segundas, porque iremos ter tempo pra escrever, já que fica fácil pois nós duas escrevemos juntas. Porém, para compensá-las, iremos fazer a little surprise :3
Ah, e queremos dedicar esse capítulo a três MARAVILHOSAS leitoras que recomendaram a nossa fic com apenas sete capítulos *----* Obrigada, Mary Weasley, Meredyt Hill e Srta Jamie Campbell Bower! Nós ficamos doidas aqui hahahaha

Agora, vamos capítulo que está DAORA - Miss Hook.

O capítulo foi inspirado na nova versão do filme Romeu e Julita, estrelado por Hailee Steinfeld e Douglas Booth, coincidentemente nosso James e nossa Louise. Espero que gostem. *-* ~Lia G.



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As férias pareceram chegar mais rápido naquele ano; Elena seria para sempre uma incógnita na minha vida, mas eu não passaria o resto desta tentando resolver aquela equação.

Graças as dicas que a Brothback me dera sem saber, fiquei com mais garotas do que consigo me lembrar naquele ano, porém nenhuma marcante o suficiente para serem citadas aqui, mal lembro o nome de uma maioria esmagadora delas; mas voltando ao começo, as férias chegaram mais rápido do que imaginávamos.

Estava deitado no sofá da comunal, desfrutando minha última noite ali quando ouvi palmas e um pedido de atenção. Encarei a ruiva que sorria e esperei pelo discurso.

— Olá! Estão todos convidados a passar o verão no acampamento Delacour. Obrigada pela atenção. — Voltou a sorrir e deixou a mesa.

O Acampamento Delacour havia sido uma criação de Victoire quando a loira estava em seu segundo ano, o nome fora esse porque Weasley ficaria demasiado vago e ela queria mostrar certa exclusividade.

Por morarem na praia é possível imaginar porque ela criou o acampamento. Ficava a pouco mais de um quilômetro de distância em linha reta do Chalé das Conchas, o que os dava liberdade porém mantinha os pais perto o suficiente para nada sair do controle.

Agora Victoire parecia ter passado bastão a Dominique que, eu sabia, ao contrário da irmã, colocaria àquela praia abaixo.

Olhei para o lado e vi que Fred me olhava de uma maneira que conhecia bem e, aquele olhar indicava que iríamos detonar nessas férias, mesmo que para ele isto fosse meio limitado.

***

Todo o figurino era absurdamente proposital, porém não pude deixar de sorrir ao ver a cara da minha pimentinha ao me ver. Pés de pato me faziam andar feito um retardado, uma bermuda que mistura cores que não deviam ser misturadas estava firmemente amarrada, deixando ⅔ da minha bunda de fora. Óculos de sol a postos no rosto e de mergulho pendurados no pescoço, sem esquecer, é claro, do filete de protetor solar na ponta de meu nariz e das boias laranjas nos braços.

— James? — Ela chamou e eu abaixei os óculos para poder olhá-la sob esses. — Querido, o que significa isso? — Sua expressão era impagável, mas eu resistia a vontade de rir com todas as minhas forças.

— Bem, os pés de pato ajudam a nadar melhor, as boias vão me proteger do afogamento, o óculos é pra eu poder ver os peixinhos e respirar debaixo d’água e o pr..

— Não querido, eu sei pra que eles servem, é que… você não vai sair de casa assim, vai?

— Como você espera que eu chegue na casa do tio Bill?

— James Sirius! — Ela arfou. — Sem chances que você sai de casa vestido assim. E sobe essa bermuda! Ninguém é obrigado a ficar olhando para essa bunda branca! — Disse, enfim, se libertando das palavras que atormentavam sua cabeça desde que ela pôs os olhos em mim.

Desisti de resistir ao riso e gargalhei, curvando-me para frente e perdendo o fôlego duas vezes até conseguir parar. Minha cara de pimenta havia adquirido seu tom de … bem, de pimenta ao perceber que fora uma pegadinha e eu tirei os óculos escuros, virando a cabeça para trás e olhando para baixo.

— Hey! Eu tenho uma bunda linda, é uma honra para qualquer um poder olhá-la. — Disse levemente ofendido. — Aliás, se eu quero ser promovido de “bunda branca” para “bundinha da cor do pecado”. Eu preciso bronzeá-la.

— James Sirius Weasley Potter! — o sobrenome Weasley não estava exatamente na minha certidão de nascimento, mas sempre que mamãe estava a um passo de enlouquecer por minha causa ela o acrescentava ao xingamento.

— Ginevra Molly Weasley Potter. Olha que legal, temos os mesmos dois últimos nomes. — Disse sorrindo e a vi respirar profundamente cinco vezes antes de continuar.

— Vá lá em cima e vista-se direito se quiser mesmo passar as férias com seus amigos.

— Posso fazer um buraco na bermuda pra minha bunda pegar sol?

— JAMES SIRIUS! — Gargalhei e corri, o mais rápido que pés de pato me permitiam, para o andar de cima e, chegando em meu quarto a ouvi gritar. — E é bom que você volte para a casa com a bunda tão branca quanto é!

Após tirar toda aquela tralha, vestir uma camisa e, contra minha vontade, subir a bermurda, mamãe permitiu que eu partisse, fazendo-me prometer não tirar os olhos de Lily e Albus e, bem, eu com certeza ficaria de olho em Lily.

Papai até tentou nos fazer passar pelo chalé, mas garanti a ele que mais tarde cumprimentariamos nossos tios e que ele deveria nos deixar aproveitar “o vento beijando nossos cabelos, as ondas lambendo nossas pernas e o sol abraçar nossos corpos”¹.

Aparatamos a poucos metros do acampamento e eu observei admirado e com certo desgosto que Dominique tinha meio que convidado a escola inteira.

Nunca estive ali antes, apesar de Victoire sempre nos convidar, mamãe nunca me deixara ir por afirmar que eu era novo demais para aqui, agora eu estava ali, quem é novo demais, hã? Hã?

Assenti a cabeça, concordando com o que quer que seja que meu pai havia falado e recusei-me a abraçá-lo quando ele fez menção para isso. Albus o abraçou rapidamente e Lily agarrou-se em seu pescoço como um bicho-preguiça em um galho de árvore.

— Você entendeu James?

— Entendi velho, agora será que eu posso dar a volta, pular o muro e mergulhar no escuro?² — Perguntei e ele bufou, entendendo que eu estava em um dos meus dias impossíveis e não demorando muito para se despedir de Lily.

Assim que ele desaparatou, coloquei meus óculos de sol e tirei a camisa, jogando a mochila que levava nossas coisas para Albus.

— Não se afoguem. — Pedi e comecei a andar em direção ao acampamento.

— Aonde você vai? — Ouvi Lily perguntar.

— Vou ver a vida sobre as ondas³. — Respondi e freei meus pés assim que pude ouvi-la resmungar algo como “perfeito”, feliz demais para parecer irônico.

Girei os calcanhares na areia e baixei os óculos bem a tempo de ver Lily se livrando dos shorts e da blusa, ficando apenas de biquíni.

— Aonde é que a senhorita pensa que vai não-vestida assim? — Perguntei e ela me encarou, olhando em volta em seguida.

— Hã… nadar? — Respondeu meio sem saber se deveria e eu ri sem humor.

— Muito bom, ótima piada, já pode trabalhar nesse ramo sabia? — Conclui caminhando de volta até ela e enfiando minha camisa em sua cabeça.

— James! — Ela protestou tentando tirar, só que eu era mais forte e ela não conseguiu.

— Lily! — Disse de volta. — Albus, tem algum pano aí? — Perguntei e fiquei surpreso com a agilidade de meu irmão, que parecia concordar absolutamente com minha decisão e já havia pego uma canga que era jogada em minha direção.

Com o todo o jeito que eu poderia ter, amarrei a canga nas pernas de Lily até metade da canela e então observei, satisfeito, a múmia que minha irmã havia se tornado.

— Agora você pode ir. — Conclui sorrindo.

— Eu. Não. Consigo. Andar. — Disse arranhando os dentes e eu encarei Albus, antes de voltar a olhar para ela.

— Você disse que iria nadar, não andar. — Observei e observei enquanto seu rosto ficava tão vermelho quanto o de mamãe.

— Eu odeio vocês! — Berrou e suponho que ela planejou uma saída dramática, mas tudo que conseguiu foi uma saída cômica, já que ela mal conseguia dar um passo inteiro devido aos pés juntos.

— Não se afogue. — Repeti para Albus voltando para o acampamento e passando por Lily que soltava fumaça pelo nariz e orelhas enquanto tentava chegar no mesmo lugar.

***

Os dias pareciam passar rápido demais naquele paraíso, mas cada um deles era muito bem aproveitado.

Devido a falta de televisão eu e Lisa não tínhamos como continuar nossa maratona de Smallville, então cada um de nós aproveitava da melhor maneira possível. Na verdade não sei dizer se Lisa estava aproveitando alguma coisa, a vi apenas uma vez desde que chegara e se bem me lembro foi no primeiro dia.

Porém não estava ligando para o que meus amigos faziam nas férias, sei que eu estava as curtindo o máximo que podia. Durante o dia Louis tentava me ensinar surf, só tentava mesmo, e eu aproveitava quando ele desistia de mim para caminhar com algumas garotas ao longo da praia, se é que vocês me entendem.

Com o passar acelerado dos dias, o fim do mês de julho chegava e, com ele, o aniversário de Dominique. Eu e Fred havíamos passado toda a véspera enfurnados na cozinha, cuidando da parte do pergaminho que Victoire nos dera, a degustação.

Um dos elfos que eu não conseguia gravar o nome de maneira alguma havia acabado de deixar uma bandeja com um tipo de doce de abóbora e parou ao nosso lado, esperando ansioso para que experimentássemos.

— Larguem isso, por Merlim, vocês só sabem comer? — Dominique invadiu a barraca-cozinha, tirando os doces que estavam a meio caminho de nossas bocas, colocando de volta na bandeja e pedindo para que o elfo se retirasse. — Vamos logo. — Chamou se virando para sair da barraca fazendo com que eu e Fred nos entreolhássemos.

— Estamos meio ocupados aqui... — Fred disse meio incerto e eu poderia apostar que Dominique revirara os olhos.

— Perda de tempo! Andem logo ou eu vou sem vocês. — Afirmou enfim deixando o local e sendo seguida de imediato por nós dois.

— Aceito explicações. — Disse ficando realmente surpreso ao ver que já era noite e que provavelmente estava tarde, já que a movimentação na praia era consideravelmente baixa.

— Todo ano é a mesma coisa, ela nunca desiste! — O tédio na voz de Dominique era perceptível e exitamos um breve momento antes de entrar na sua barraca.

Lisa, que dividia a tenda com a ruiva, estava sentada ao lado de uma porção de malas e consegui diferenciar duas das minhas ali.

—O que é isso? — Perguntei e Domi girou os calcanhares, encarando a mim e a Fred e suspirando.

— Minha mãe está planejando uma festa surpresa para mim. De novo. O problema dessa é que ela arrumou um vestido ridículo com tia Gabrielle e toda a Hogwarts está aqui, então eu meio que serei zoada até meu último dia de vida. Por sorte eu sou muito esperta e resolvi unir o útil ao agradável. Sempre quis passar mais que um dia no mundo trouxa e Lisa decidiu me fornecer isso como presente de aniversário. Vocês vem ou não?

Disse de uma vez, mas falando sem pressa para que conseguíssemos entender perfeitamente. Percebi que Fred tinha perguntas a fazer, mas desistiu delas e suspirou.

— Quando partimos? — Perguntou somente concluindo pelas malas que ficaríamos por lá um tempo considerável.

— Agora. — Ela disse caminhando até as bagagens e jogando grande parte delas em nossa direção. — Vamos fingir de desaparecidos amanhã, quando meu aniversário acabar eu dou um jeito de avisar que estamos na casa dos pais da Lisa.

— E os pais dela concordaram com isso? — Fred tornou a falar, tentando equilibrar todas as malas enquanto eu jogava as que me foram jogadas no chão.

— Eles não sabem. — A ruiva concluiu batendo palmas. — Então?

— Eu não posso deixar Lily sozinha, quero dizer, ela tem peitos agora. Não que dê para ver isso, mas ouvi minha mãe dizendo que ela tem e se ela disse isso é porque Lily tem peitos. — Expliquei rápido demais e Lisa me olhou insatisfeita.

— Você é patético.

— O quê ? Não! Eu sou um irmão mais velho muito preocupado. Não quero que se aproveitem da minha irmãzinha. Ela comia as grades do berço mas ... ainda é só uma garotinha. — Conclui mas ninguém pareceu convencido e Dominique havia se aproximado o suficiente para dar um tapa em minha cabeça.

— Você é o único James Sirius da escola, sem contar que Lily sabe se cuidar. Vamos ou não? — Tornou a perguntar e eu suspirei, finalmente concordando.

Dominique tinha tudo planejado, era uma organização vinda dela que eu desconhecia. Uma coruja estava sob ordens de entregar uma carta a seu pai assim que ele começasse a se preocupar, informando aonde estávamos e afirmando que todos estavam bem. Quatro elfos foram requisitados para aparatar conosco na casa de Lisa, aonde os pais dela dormiam e não nos viram chegar.

Dominique se juntou a amiga no quarto dela enquanto eu e Fred montávamos acampamento no quarto ao lado e, pontualmente as seis da manhã, com o céu ainda escuro, as garotas invadiram o quarto, nos acordando com o devido cuidado de não fazer barulho demais para acordar os pais de Lisa.

E por falar em Lisa, essa havia furtado a si mesma ao tirar uma quantidade significativa de dinheiro trouxa do seu cofre, afim de conseguir nos sustentar “pelo menos por aquele dia”. Isso porque a garota era humilde.

Pouco antes das sete conseguimos deixar a casa e quando estávamos prontos, e animados demais, para conhecer o novo mundo Lisa nos parou, encarando um por um antes de falar.

— Meu mundo, minhas regras. Não façam nada antes de me perguntarem. Detenções em Hogwarts são uma coisa. Cadeia para menores infratores é outra. — Disse severa e eu cocei os olhos, evidenciando que ainda estava com sono.

— Já estivemos aqui antes Lisa, não somos idiotas. — Disse com tédio e ela me encarou rigorosamente.

— Com seus pais na sua cola e não ficou mais do que poucas horas. É sério James, as pessoas aqui sabem quem eu sou, qualquer mínima coisinha que sair do controle…

— O que pensa que nós somos, Elisabeth? Babuínos? Naquele mundo as pessoas também sabem quem eu sou. Eu sei o que é ser filho de alguém famoso. Nós não podemos usar magia, estamos cientes disso desde os onze anos. Satisfeita? — Perguntei começando me irritar.

Normalmente Lisa tinha que se esforçar um bocado para me estressar, já que grande parte das coisas eu levava na brincadeira, mas o jeito que ela estava falando, como se fossemos aberrações ou algo do tipo, havia sido o suficiente. Ela suspirou e abaixou a cabeça, murmurando desculpas e eu concordei, encarando Dominique.

— Então? — Perguntei a ruiva e ela retribuiu meu olhar sem muita felicidade.

— Não está esquecendo nada? — Ela perguntou arqueando uma sobrancelha e eu pensei por um momento.

— Ah! E não precisa falar como se fôssemos crianças. — Comecei olhando para Lisa. — Já temos 14 e Dominique está fa… Pela cueca de Merlim! Feliz Aniversário Mini! — Gritei no meio da rua, a abraçando e a erguendo do chão.

— Me coloca no chão, seu trasgo! — Ela gritou esperneando e rindo, aproveitando para socar meu braço assim que fiz o que foi pedido.

— Olha só para você. Nem parece mais aquela garotinha de onze anos que despetalava inocentes flores fingindo ser a mãe. — Disse fingindo enxugar lágrimas.

— É, agora eu prefiro desmembrar seres humanos. — Ela tentou parecer malvada, mas seu sorriso não convencia.

— Despetalava? — Fred me encarava e eu bufei.

— Rose me deu um dicionário!

Fred riu mas não durou muito tempo.

— Eu tô com fome.

— A pergunta é, quando você não está com fome, Fred? Vamos, tem um McDonald’s aqui perto. — Lisa afirmou começando a andar e todos passamos a segui-la.

***

— Isso deveria ser considerado um crime nacional! — Afirmei jogando a embalagem já vazia na mesa. — Quero dizer, sete libras para isso?! Eu não sou o Fred e nem tampou o buraco do dente! — Reclamei emburrado.

— Você quem quis o McLanche feliz. — Lisa disse em defesa do estabelecimento e eu ergui a figura de ação que viera de brinde (e que Dominique insistia em chamar de boneca).

— É o Goku super saiyan quatro! Não tem disso no três vassouras. — Afirmei apertando um botãozinho que faziam as mãos deles brilhar com uma luzinha azul e ele gritar uma palavra estranha.

— Você não tem ideia do que isso significa. — Lisa rebateu e eu com toda minha maturidade lhe ofereci uma careta enquanto a imitava falando.

— Eu não preciso saber o que é, ele tem um cabelo legal e um rabo! — Era bom Lisa aceitar meu argumento, porquê era o único que eu tinha.

— Okay. Ninguém liga se o James preferiu um brinquedo a comer. Podemos ir agora? Quero ir ao teatro. — Dominique concluiu batendo palmas e Lisa concordou.

— Vamos comprar pipoca. — Avisei enquanto deixávamos a lanchonete e Lisa parava um ônibus. — E quero ir no segundo andar. — Informei e pude ver Lisa respirando fundo antes de subir as escadas.

Nosso destino acabou sendo o Fortune Theatre que, por sorte, estava acabando de abrir as portas. Lisa e Dominique entraram em uma discussão de meia hora sobre qual peça deveriam ver, na verdade Lisa sustentava a discussão sozinha, já que Dominique não tinha a menor ideia do que ela estava falando.

— Argh! Ok. Vamos de Rei Leão mesmo! — Lisa afirmou e eu contei mentalmente até dois. — Não, não. Você já é quase uma mulher formada.. Hamlet! Isso! E não mudo mais. — Disse de novo e segurou o pulso de Dominique, levando-a até a bilheteria.

— Eu compro a pipoca. — Fred se ofereceu e eu o segui.

— Sabia que você ainda estava com fome. — Disse e ele deu de ombros.

— Eu sou eu.

A peça já tinha começado há um bom tempo, eu talvez não fosse tanto tempo assim, mas ainda assim eu estava quase dormindo. Dominique e Fred não estavam exatamente prestando atenção nos atores e Lisa se distraía com a pipoca. Passei a mão no rosto, desejando não ter esquecido meu relógio no acampamento quando ouvi uma das falas perto demais.

— Pode-se pescar com um verme que haja comido de um rei, e comer o peixe que se alimentou desse verme.

Olhei para meu lado e observei a garota, tentando enxergá-la no escuro mas sem muito sucesso. Aproximei-me discretamente dela, colococando a boca perto de seu ouvido e sussurrando:

— Isso não é meio nojento? — Ela deu um pulo, assustada, e se afastou para poder me encarar. — Quero dizer, seguindo essa linha, isso é canibalismo. — Conclui e percebi que ela me analisava.

— Isso é poesia. — Elas respondeu friamente e eu ri roucamente.

— Canibalismo. — Corrigi e me virei um pouco de lado, para poder vê-la melhor, mesmo que não estivesse a vendo. — Veja bem. Pescamos o peixe que comeu o verme que se alimentou de um rei. Indiretamente estamos comendo o rei. — Expliquei e pela pouca luz pude ver que ela revirava os olhos.

— É uma metáfora.

— Gosto desse livro.

— O quê?

— O das metáforas, cigarros e câncer. — Expliquei e ela bufou.

— Isso é Shakespeare, não Jhon Green. Sem querer julgar ninguém, mas existe uma grande diferença entre os dois.

— Então me diga.

— Estou tentando ver a peça.

— Você sabe as falas de cor. Vamos lá, eu mal sei quem é Shakespeare. — Afirmei e a vi levando as mãos para o colo, como se estivesse ouvindo a notícia de uma morte.

— Como assim mal sabe quem é William Shakespeare? — Perguntou dando a entender que fora uma ofensa pessoal.

— É o cara que vende pipoca na porta? — Perguntei e vi seus olhos se arrelando.

— Venha comigo! — Chamou, levantando-se e saindo da fileira em que estávamos.

Sorri, começando a acompanhá-la quando Lisa segurou meu pulso.

— Aonde você vai? — Perguntou com os olhos semicerrados e eu revirei os olhos.

— Dar uma volta. A gente se encontra… no Big Ben as 13:00. — Informei voltando a caminhar mas ela me segurou outra vez.

—Você não tem dinheiro nem um relógio.

— Certo, vamos nos encontrar embaixo do maior relógio do mundo e saber as horas é um problema.

— Você continua sem dinheiro.

— Então me empreste, quando voltarmos para o acampamento eu te dou.

Ela não parecia nada contente com a separação repentina, mas puxou a bolsa para as pernas, tirando uma quantidade de notas e colocando em minha palma.

— Às uma hora, nem um minuto a mais ou eu te deixo perdido em Londres. — Resmungou e eu concordei, finalmente conseguindo andar e encontrando com a garota que me esperava na porta do teatro.

Agora que havia luz pude vê-la melhor. Ela era baixinha, devia bater em meu ombro, cabelos e olhos castanhos e um belo sorriso. Ok, a quem estou tentando enganar? A calça justa evidenciava o que eu gostava de chamar de belas pernas e escondia o que eu considerei uma bela bunda. Nenhum decote dava dicas sobre seus seios, mas pelo volume que produziam na blusa julguei serem... comuns.

— Han, han. — Ela pigarreou e eu subi o olhar de seus seios para seus olhos, sorrindo.

— Então... qual é o seu nome mesmo?

— Eu sou Juliett. — Suspirou sorrindo. — E suponho que seis Romeu. — Encarou-me sonhadora e eu pisquei.

— Quê? Não... Eu sou James. James Sirius Potter.

— Serio? Nem mesmo Romeu e Julieta? — Perguntou sem acreditar e balançou a cabeça com minha falta de reação. — Enfim, Louise Macbeth Holmes. — Cumprimentou fingindo segurar a ponta de um vestido e inclinando a cabeça.

— Macbeth?

— Sirius? — Ela retucou e bufou segundos depois bufou. — Nem Macbeth? Sério? Você não conhece nadinha de William Shakespeare?

— William Shakespeare! — Gritei para o moço no carrinho de pipoca, sem obter resposta. — É, não.

— É uma das peças mais famosa dele. Meu pai é historiador, minha mãe poeta, ambos apaixonados por Shakespeare, por isso meu nome.

— Você sempre sai contando sua vida para desconhecidos?

— Eu sei quem você é, James Sirius Potter. — Ela disse sorrindo de canto e a observei cuidadosamente, tentando descobrir de onde a conhecia.

— Você sabe?

— Claro! Você é James, um alienígena que não sabe nada sobre Shakespeare. — Afirmou e eu ri, sentindo-me tolo por pensar que ela poderia ser uma bruxa.

— Certo, e aquela coisa sobre John versus Will?

— Will? — Ela riu. — Vem comigo.

Só soube aonde ela estava me levando quando chegamos lá. A Biblioteca de Londres era uma das maiores livrarias aonde eu já estive, com exemplares raríssimos disponíveis em suas estantes.

Meu pai me levava ali vez ou outra, normalmente quando juntava uma tarde em família com o trabalho e precisava fazer algumas pesquisas em alguns daqueles livros.

Eu não era como Rose, mas gostava de ler, principalmente quando os livros eram interessantes.

— Você parece maravilhado. — Ela comentou e eu ri.

— Sempre pareço assim quando venho para cá. — Conclui e ela sorriu. — Então?

— Venha. — Chamou começando a se aventurar pelas prateleiras, seguida de perto por mim.

Caminhamos por várias estantes, sempre parando para ver a capa de um ou outro livro porém não demoramos muito a chegar aonde Louise queria.

— Aqui. — Concluiu tirando delicadamente um título da prateleira. — Romeu e Julieta. — Anunciou admirada enquanto estendia o livro para mim.

— E o que eu faço com isso? — Perguntei encarando a frente e o verso do livro.

— Para que os livros servem? — Disse contendo um revirar de olhos e eu sorri, concordando.

— Certo, mas isso não explica a diferença entre os autores.

— Claro que explica. Você já leu um livro de Green, lendo um de William você poderá por si só decidir a diferença entre ambos.

— Esse não foi o combinado... — Resmunguei e ela arqueou uma sobrancelha.

— E qual era?

— Você me contar. — Ela me encarou por breves segundos e então começou a andar pelas estantes, até encontrar uma área com mesas e poltronas praticamente vazia.

— Teremos que sussurrar. — Avisou e eu alarguei meu sorriso.

— Gosto disso, é sexy.

— Hey! O que você tá pensando? — Ela gritou, batendo em meu braço.

— Você não disse que não deveríamos gritar? — Perguntei sorrindo e ela emburrou. — Certo, desculpe, não estou pensando nada. — Sussurrei me aproximando de seu rosto e ela espalmou a mão em minha face, empurrando-me para longe.

— Ótimo. — Concluiu e me encarou por um tempo. — Então, Jhon Green é um bom autor, ele se dedica aos livros, mas ele é uma coisa muito do momento, entende? Shakespeare é imortal, praticamente todos no mundo o conhecem ou já ouviram falar em suas obras, ele é épico! Eu não tenho na…

— Então, quantos anos você tem? — Perguntei sem estar realmente interessado na diferença dos autores.

— Treze e você? Continuando, não tenho nada contra John...

— Quatorze, mas faço quinze em agosto. Mas...? — Voltei a observar, sorrindo ao ver que ela não parecia nada contente com as interrupções.

— Mas, Thoth que me perdoe, digo, nenhum livro deveria ser considerado ‘modinha’ mas ele meio que faz esses tipos de livros. — Confessou, me lembrando de Luna por um breve momento.

— Thoth quem?

— Em que mundo você vive? - Você nem imagina, pensei. Ela continuou: - O deus da escrita para os antigos egípcios. — Previ que ela daria continuação a explicação e então me adiantei.

— Por que acha que os livros são ‘modinhas’? — Fiz aspas no ar imitando seu movimento anterior e ela riu.

— Ah, eu não sei explicar. Quero dizer, leem os livros dele pessoas que normalmente não leem nem placas de trânsito.

— Isso não seria uma coisa boa? — Perguntei e ela pensou por um momento, suspirando.

— Certo, você tem razão. Que tola sou. Acho que eu prezo a leitura mais culta, essa coisa com mais trejeitos e história. Eu não sei, talvez apenas não suporte ver todos os garotos querendo ser Augustus Waters e todas as garotas querendo ter Augustus Waters. — Desabafou e eu sorri.

— Eu não quero ser esse cara.

— Estranho você não querer ser o tipo de cara que toda garota quer.

— Escute o que eu digo, toda garota quer um James Sirius Potter. — Afirmei tentando entender que problemas as garotas de hoje em dia tinham para querer um cara com câncer.

— Não todas. Eu quero um Romeu. — Afirmou apoiando o queixo no punho.

— Seu desejo foi realizado, prazer, James Romeu Potter. — Cumprimentei com uma breve reverência e ela riu.

— Pensei que fosse Sirius.

— De que vale um nome se a rosa sobre outra designação teria igual perfume? — Perguntei e ela não tentou disfarçar a surpresa.

— Você o conhece! — Acusou e eu ergui os braços em rendição.

— Culpado. — Dei de ombros e ela semicerrou os olhos. — Minha prima se chama Rose, ela vive dizendo essa frase e quando perguntei de onde ela havia tirado isso ela citou algo sobre Romeu e Julieta. Mas tirando isso eu não sei nada mesmo. — Ou eu havia aprendido literatura no último ano nas aulas de Estudos dos Trouxas e Shakespeare era figurinha repetida em toda aula.

— Nada mesmo?

— Okay, talvez eu saiba quem Shakespeare é e fingi que não sabia para sair com você, mas continuo sem conhecer as peças. — Meia verdade, eu realmente não conhecia essa tal de Macbeth.

— Você mentiu para sair comigo? — Perguntou novamente e eu lhe forneci meu mais sexy sorriso.

— Culpado de novo, qual será minha punição?

Ela balançou a cabeça, desacreditada, pegando um pedaço de papel e caneta disponíveis na mesa e rabiscando alguma coisa nele.

— Você terá que ler todo o livro. — Disse empurrando o exemplar de Romeu e Julieta em minha direção. — Depois dê um jeito de me encontrar.

— Para quê ler o livro se eu posso pegar o bilhete de uma vez? — Minha vez de perguntar, abrindo o livro na última página aonde o pedaço de papel fora deixado.

— Vamos fazer um trato! — Propôs fechando o livro em cima de minha mão.

— E o que você sugere? — Meu sorriso indicava que eu estava adorando a brincadeira e ela pareceu pensar um tempo.

— Que você leia o livro todo ou não saberá mais como me encontrar.

— Está me desafiando? — Semicerrei os olhos e ela sorriu, puxando o livro de volta e tirando o bilhete de lá. — Aonde está indo? — Perguntei assim que ela se levantou, puxando o livro e indo atrás dela.

— Bom dia senhora Grenteski. Você poderia anotar Romeu e Julieta em meu nome, de novo? — Perguntou sorrindo e a senhora retribuiu o sorriso, começando a mexer em alguns arquivos. — Se não se importa irei emprestá-lo para meu amigo aqui e, quando ele vier devolver, você pode entregar este bilhete a ele? — Ela piscou os olhos estendendo o pedaço de papel para a velha e eu a encarei, que logo retribuiu o olhar com um sorriso quase maligno. — E, por favor, só entregue a ele se ele lhe trouxer um resumo muito bem detalhado da obra.

— Isso não é justo! — Reclamei e ela fez bico.

— Punições não foram feitas para ser justas. — Afirmou e eu a encarei, antes de ceder e sorrir. — Então, James Romeu, a despedida é uma dor tão suave que te dirias boa noite até o amanhecer, se desejas reencontrar-me corra atrás disso. Esperar-te-ei até o pôr-do-sol do terceiro dia. - Poetizou e antes mesmo que eu pudesse pensar em uma resposta beijou minha bochecha, sorrindo e correndo para fora da biblioteca. Pensei em correr atrás dela, mas a senhora G. sei lá o quê me impediu, ordenando que eu esperasse até que ela finalizasse a locação do livro.

Assim que fui liberado já não havia nenhum sinal de para onde Louise fora. Fiz uma careta, encarando o livro que carregava e depois olhando para o relógio, que ainda indicava onze horas e quarenta minutos. Revirei os olhos e acabei decidindo voltar ao teatro, era possível que a peça ainda não tivesse acabado e eu não estava muito interessado em andar duas horas sozinho por Londres.

***

Meu plano teria dado perfeitamente certo, se eu tivesse alguma ideia de como voltar ao teatro. Por não saber como chegar lá, eu havia acabado embaixo do Big Ben meio dia e meia, parecia que o relógio era um imã gigante e todos os ônibus eram atraídos naquela direção, então chegar lá não foi difícil.

Ainda tinha meia hora e absolutamente nada para fazer, graças a isso eu acabei sentando em um dos bancos ali perto e resolvi ler o livro.

Porém, mal havia chegado na terceira página quando ouvi o nome mais lindo de todo o mundo.

— James Sirius Potter!

Eu conhecia aquela voz tão bem quanto conhecia a sala de Filch, por esse motivo ergui o livro afim de tampar o rosto e decidi ignorar com a esperança de que ela pudesse achar ter sido um engano e ir embora. Mas assim que o livro foi tirado da minha mão sem um pingo de delicadeza percebi que havia falhado.

— O que é que você estava pensando? Aonde estão seus primos e a garota? — Exigiu e eu frizei os lábios antes de encarar minha mãe.

— Desde quando eu virei o sequestrador? Quero dizer, foi Dominique quem nos arrastou pra cá. — Tentei brincar mas logo deixei isso de lado ao ver que ela estava em um nao-habitual tom de pimenta malagueta. — Eu não sei. — Disse com toda a sincerade do meu ser, porém não pareceu deixá-la feliz. — Dominique e Fred provavelmente estão se agarrando por aí e Lisa de vela. Eu. Não. Sei. Marcamos aqui uma hora.

— Dominique o quê? — Eu poderia jurar que tio Bill havia engolido um inseto, mas não seria sensato fazer piada disso agora.

— Dominique está provavelmente amarrando Fred, você sabe como ele é difícil…

— Sério? Mais de duas mil palavras na língua inglesa e você não arrumou substituto melhor do que amarrando? — Girei a cabeça para Lisa que me encarava de braços cruzados. — Patético.

— Não é porque eu tenho um dicionário que o li todo. — Resmunguei e senti uma mão pesada contra minha cabeça.

— Tio Bill eu posso explicar. — Fred se adiantou tentando procurar palavras.

— Não, você não pode. — Dominique avisou e o som de sua voz foi o suficiente para despertar o monstro adormecido, também conhecido tia Fleur.

Mon amour, estamos em público. — Tio Bill disse tentando acalmá-la assim que ela começou a gritar em francês e deixem-me dizer, eu estava usando todas as minhas forças para não rir porque tio Bill falando ‘mon amour” era uma das coisas mais engraçadas da Terra.

— É, mon amour. — Tio George repetiu para tia Angelina que por sua vez gritava com Fred.

— Vocês não trabalham? — Perguntei observando seis pares de olhos nada contentes me fuzilarem. — Tipo, sério mesmo. Nenhum de vocês tem filhos para sustentar? — Perguntei e quase senti todos os tapas que eles com certeza queriam me dar.

— Você está de castigo pelo resto das férias. — Meu pai informou e eu o encarei indignado.

— Você não pode fazer isso!

— Quer apostar?

— Pai! — Lamentei. — Eu tenho coisas a fazer.

— Que coisas?

— Você não entenderia. Quero dizer, sem ofensas,mas você só namorou duas garotas na vida. — Disse e ouvi meus tios dizerem um "uuuh" interrompido pelos tapas das respectivas mulheres. — Eu disse que não queria ofender. — Ofereci um sorriso amarelo e ele não me encarou por muito tempo.

— Entra no carro, depois a gente conversa.

Ordenou e só então eu percebi que eles estavam em carros do ministério, suspirando e o obedecendo.

A viagem até o chalé poderia ter sido bem silenciosa, se não fosse pelo pequeno fato de tia Fleur ter gritado com Dominique durante todo o caminho.

Os carros passaram pelo acampamento, mas tínhamos ciência de que não iríamos para lá. Assim que estacionaram em frente a casa, todos fomos direcionados ao chalé das conchas.

— Vocês os acharam! — Victoire exclamou aliviada surgindo de algum lugar.

— Não se intromete, Victoire. — Dominique disse um tanto quanto rude e a loira a encarou nada contente com a atitude da irmã.

— Eu só estava preocupada com vocês!

— Estávamos bem.

— Vocês estavam em um mundo que não conheciam, faça as contas de tudo que poderia dar errado. Vocês foram irresponsáveis! — Gritou e a esse momento apenas as duas falavam.

—Lisa estava conosco, ela passou a vida lá!

— Lisa ainda é uma criança, como todos vocês!

— Eu já tenho quinze!

— Então cresça e crie um pouco de responsabilidade!

Victoire bufava e Dominique estava tão vermelha quanto seus cabelos. As irmãs se encararam por longos segundos enquanto nós, meros espectadores, observávamos.

— Não os culpe, ao contrário de qualquer um aqui eles só queriam me ver feliz no meu aniversário.

Dominique voltou a falar e então deu as costas, subindo as escadas correndo. Nem quinze segundos se passaram até Victoire suspirar e subir as escadas atrás da irmã. Achava incrível como elas viviam brigando e não conseguiam ficar brigadas nem por dez minutos.

— Então. — Meu pai chamou e eu o encarei. — Não é porque Dominique assumiu a culpa que vocês são menos inconsequentes por isso. Arrume suas coisas, James.

— Você realmente vai me deixar sozinho em casa? — Perguntei sorrindo e a resposta veio de minha mãe.

— Ele fica. Arrumaremos outro castigo para ele. — Disse e eu fingi estar triste.

— Se você deixar esse acampamento, você não sai de casa até ter vinte e um. — Meu pai avisou.

— Mas e a escola?

— Você estuda em casa. Tenho que ir agora, quem vem comigo?

— Pai... — Chamei e indiquei um canto mais vazio com a cabeça. — Tem essa garota e ela me emprestou esse livro e eu tenho que devolver. — Disse erguendo o livro que Louise me entregara. — Então será que tem a possibilidade de eu s…

— Você me manda uma carta quando terminar de ler. Ginny?

Observei não muito contente eles indo embora e, pela cara de Fred, ele também não ficou isento de castigo.

***

Dois dias. O tempo exato que levei para ler o livro e preparar o resumo que foi pedido, apesar de ter sido mais difícil achar pena e pergaminho do que fazer o resumo em si.

Assim que coloquei o último ponto sobre o pergaminho, coloquei-o dobrado dentro do livro e caminhei até o chalé, aonde enviei uma carta para meu pai e esperei exatos quarenta minutos até ele aparecer.

— Agora não precisa mais, ela disse até o pôr-do-sol. — Resmunguei impaciente pela demora e ele suspirou cansado.

— Não são nem quatro da tarde James, e eu não estou por sua conta.

— Se me deixasse sair eu já estaria lá.

— Se não parar de reclamar você fica aqui. - Avisou e eu me dei por vencido, caminhando até ele e apoiando a mão em seu ombro.

— Onde?

— Biblioteca. — Informei e, antes de aparatarmos acrescentei. — E faremos duas paradas.

Ele não pareceu muito contente com a notícia, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa fomos envolvidos naquela tão agradável sensação de aparatar. Ele tinha pego um caso sobre alguma coisa que envolvia forças das trevas recentemente, não sabia do que se tratava já que ele não contava mas minha fuga e agora isso estavam o atrapalhando de realizar seu trabalho.

Bem, é isso que acontece quando você tenta domar um leão indomável, tecnicamente ele quem ficara de castigo.

— É bom você ser rápido. — Informou assim que surgimos em um beco ao lado da biblioteca. E eu, como um bom filho, obedeci.

— Sou James Potter, aquele amigo da Louise Holmes. Aqui está seu livro e seu resumo. — Disse para a senhora G., retirando o pergaminho de dentro do livro e entregando para ela.

— É, ok. — Ela mexeu em alguns arquivos e me entregou o pedaço de papel que Louise deixara com ela, sem ao menos olhar para o resumo.

— Você não vai ler? — Perguntei arqueando uma sobrancelha e ela me olhou.

—Eu não sou paga para isso. — Disse, voltando a se concentrar nos arquivos.

—E se eu tiver escrito uma receita de bolo aí?

—Não é meu problema, criança.

A encarei por um breve tempo e bufei, desistindo ao ver que ela não me dava a menor atenção. No papel não havia nada além de um endereço, então caminhei para onde meu pai me esperava e entreguei o papel para ele, apontando para a escrita como se, caso eu não o fizesse, ele não fosse notar.

— Próxima parada. — Informei e ele me encarou.

— Diga-me onde é. — Pediu e eu soube exatamente o quê ele estava fazendo.

— Okay, eu não teria ideia do que fazer se estivesse sozinho. — Confessei e ele sorriu, parecendo satisfeito.

— Vamos. — Chamou e saiu andando, fazendo-me consequentemente ir atrás dele.

— Por que vamos andando? — Perguntei e ele parou quase ao mesmo tempo, cruzando os braços e olhando para mim.

— Porque fica do lado da biblioteca. - Abri e fechei a boca tentando formular algo suficientemente inteligente para dizer mas desisti, revirando os olhos e caminhando para a entrada do prédio.

— Você pode esperar aí. — Avisei antes de passar pela porta.

Se a placa na entrada não mentia, aquilo era uma escola de teatro e eu conclui que ela dizia a verdade pois, assim que cheguei aonde eu julguei ser o cômodo principal do lugar, dei de cara com uma… bem, uma sala de teatro, aonde pessoas corriam e paravam de repente no palco, fazendo sons sem sentido e outras coisas que me assustaram por um breve segundo.

Identifiquei Louise ao lado de uma garota, chorando - ou fingindo fazer isso, era difícil dizer- ao lado de seu corpo deitado no chão.

— Eles morrem! — Gritei para ela, começando a andar na direção do palco. Ela olhou em minha direção, na verdade todos fizeram isso, mas ela foi a única a sorrir.

— Nem sempre as histórias tem um final feliz. — Disse se levantando e eu observei um homem se aproximar dela cochichando algo em seu ouvido. Ela sorriu, entusiasmada e deixou o palco, correndo até mim e me arrastando para o palco mais rápido. — Esse é James Potter, o garoto de quem lhe falei. — Informou para o homem com os olhos brilhando.

— O Romeu? — Ele perguntou me analisando.

— Não, o James. — Corrigi e Louise riu.

— Eu contei a Karl sobre suas habilidades artísticas, quero dizer, você me enganou direitinho! E nós estamos precisando de um Romeu para a peça de verão, nenhum dos alunos chegou aos pés da personagem mas você? Você é perfeito! — Explicou animada e eu a encarei pelo canto do olho.

— Sim, eu sei, mas ainda não estou entendendo.

— Eu estou lhe convidando para participar da peça. — Disse mais detalhadamente e eu ri.

—Eu? Fazendo teatro? Sem chances.

— Ele aceita. — Virei a cabeça, dando de cara com meu pai e ele sorria, caminhando em minha direção e dando dois singelos tapas em meu ombro.



— Pai, essa não é a minha praia. — Disse entre dentes e o mais baixo que consegui.

— Pode não ser sua praia, mas é seu castigo. — Ele disse entre o sorriso e estendeu a mão para Karl. — Sou Harry Potter, pai dele. Estava mesmo a procura de uma atividade para ele nessas férias, o que ele tem que fazer? — Perguntou mostrando visível interesse e eu tentei sorrir.

— Ele teria que fazer alguns testes primeiro, obviamente, mas seu filho tem o perfil que procuramos para o Romeu. — O homem disse pensativo e Louise pulou de alegria.

— Vai ser tão perfeito, podemos ensaiar lá em casa se quiser, minha mãe é fanática pelo Romeu, ela conhece todos os trej…

— Han han, negativo. Não quero estragar sua felicidade mas eu sou lindo demais para morrer.

— Uma pena que isso não seja uma escolha sua. — Meu pai lembrou e eu expliquei da melhor maneira que podia.

— Pai, sem chances do mundo literário ficar sem um Romeu tão gato quanto eu.

— Exato, por isso mesmo que você irá fazer.

— Você entendeu errado… — Tinha mais argumentos mas seu olhar me indicavam para ficar quieto, afirmando que ele poderia piorar o castigo. Suspirei, desistindo de fugir daquilo e encarei Karl. — Quem é a Julieta?

— Eu sou. — Louise disse, parecendo um pouco chateada e eu sorri.

— Quer saber? Acho que posso fazer isso. - Aquilo seria... divertido.

***

— Onde você vai? — perguntou Fred, erguendo os olhos da fogueira que tentava acender com uma vareta. — Isso daqui é uma bosta de dragão — reclamou, largando o graveto no chão e se levantando.

— Vou ao teatro — respondi, arrumando minha mochila.

— Como é? — Fred exclamou. — Ah, não. Não, não. Eu estou me ferrando aqui, ajudando nessa bosta de limpeza, por causa do castigo, e você vai ao teatro?! Acho que o tio Harry deveria rever o conceito de castigo. Fora que tio Bill tá querendo me esganar.

— Pequeno gafanhoto — falei em tom conciliador. — Eu vou à aula de teatro. Esse é o meu castigo. Fazer teatro e usar colã azul ou verde — fiz uma careta.

— Preferia usar colã — respondeu Fred, infeliz.

Suspirei e coloquei uma das minhas mãos em seu ombro.

— Acredite, não preferia não. Tenho que ir. Meu pai vai vir aqui me buscar, tenho de esperá-lo lá fora. — Retirei minha mão de seu ombro e me dirigi para longe de Fred.

Enquanto eu ia até o local combinado, eu via os alunos de Hogwarts felizes em suas atividades. Vi Albus arremessando discos na direção de Saphira e Rose (não tinha ideia do que aquilo era), Mellody apenas assistia. Dominique tomava conta dos campistas como castigo; Lisa estava com Scorpius Malfoy... tive que parar para poder registrar aquele momento.

Eca, cara. Parecia que eu estava vendo Fred e Dominique se beijando. Era assustador e nojento. Passei pelos dois, sem olhá-los mais uma vez.

Havia um banquinho ali perto, onde eu me sentei e esperei. Não fazia ideia de como seria a aula, mas, se eu tivesse de beijar Louise, valeria a pena.

***

Meu pai chegou vinte minutos depois. Me levou às pressas ao teatro e depois foi embora, dizendo que me buscaria à cinco da tarde. Provavelmente estava tendo um dia difícil no Ministério.

Vi Louise e o resto do pessoal sentados no palco, olhando-me atravessar o corredor. Ela sorria para mim, enquanto Karl me observava atentamente. Quero deixar claro que eu só não estava me queixando porque Louise estava ali. Se não fosse por ela, eu teria dado um jeito de lavar pratos a ter que decorar algum texto e usar colã. Meu Sirius Júnior nã agradecia.

Karl fez sinal para que eu subisse ao palco. As luzes dos refletores me cegaram assim que eu subi as escadas. Louise se levantou e veio até a mim, com Karl em seu encalço.

— Ei li seu resumo — disse, sorrindo.

— Ficou ótimo, não?

— Sim, sim — ela parecia desinteressada sobre meu ótimo resumo. — Mas sabe o que eu achei estranho? — Neguei com a cabeça. — Aquilo que você entregou à senhora G. era um pergaminho? E você escreveu à tinta? Quero dizer, quem usa pergaminho e tinteiro hoje em dia?

Fiquei alguns segundos a encarando, tentando elaborar uma resposta convincente. Eu não tinha pensado que ela iria reparar naquilo. Na verdade, eu estava tão acostumado a usar pergaminho para escrever, que eu não lembrei que Louise não era bruxa.

No fim, eu acabei dando o meu melhor sorriso maroto.

— Quer dizer que ficou impressionada — falei, ainda sorrindo. — Eu quis fazer como eles faziam naquela época. Eu sabia que você iria adorar. — Essa foi dramática.

Louise gargalhou, ficando extremamente linda daquele jeito. Eu poderia tê-la beijado ali mesmo, se Karl não tivesse intervindo.

— Muito bem pombinhos, guardem essa paixão para o palco. Louise, para a sacada; James... mostre-me do que é capaz.

Respirei fundo, Louise se aproximou e beijou-me a bochecha.

— Quebre a perna.

— O quê?

— É boa sorte no teatro. — Riu. — Se tudo der certo, eu tenho um presentinho para você. — Prometeu e eu sorri.

— Eu não preciso de sorte querida, eu sou a sorte. — Informei enquanto ela se afastava para tomar seu posto.

Caminhei até um cara que me estendia uma capa e a peguei, vestindo-a de qualquer maneira e sendo xingado por esse mesmo cara que começou a arrumá-la como deveria ficar. Enquanto ele decidia qual parte do meu rosto deveria ficar mais escondida pelo capuz, vi Louise surgir na sacada e sorri.

Ela não mudara absolutamente nada desde a última vez que nos vimos, há cinco minutos, mas parecia mais radiante. Decidido a ganhar aquele citado presente afastei o cara da capa para o lado e avancei para o palco, com os olhos fixos em minha... Julieta.

— Que silêncio... Que luz brilha através daquela janela? Surge claro sol, e mata de inveja a lua, vento que tu, tua serva, és mais linda que ela!

Avancei sorrateiramente pelo palco e percebi que Louise me encarava pelo canto dos olhos, parecendo impressionada com meu desempenho até o momento.

— Ai de mim Romeu! — Suspirou e fingi esconder-me atrás de um arbusto.

— Oh, fala outra vez anjo de luz, pois é assim que te vejo. És o mensageiro alado do céu — Mal as palavras saíram da minha boca e eu conclui que aquilo ficava bem pior falado do que lido.

— Por que razão, Romeu, és tu “Romeu”? Nega o teu pai e o nome que vem dele, ou então jura que és o meu amor e eu não mais saberei ser Capuleto. - Agora eu conseguia ver porquê Louise fora escolhida para o papel. Ela não atuava, ela era a personagem.

— Continuarei a ouvi-la ou falo com ela agora?

O sorriso que discretamente se formava no canto de seus lábios me dava coragem a continuar, afastava a pouca vergonha que tinha e não me permitia esquecer as falas.

— Por inimigo tenho só teu nome, Montéquio ou não, tu és sempre tu mesmo. O que é “Montéquio”? Não é mão nem pé; Nem braço, rosto, nada que componha um corpo humano. Sê um outro nome.

— Vale isso o quê? Se a rosa sob outra designação teria igual perfume. — Percebi que ela sorria para mim como se guardasse um segredo e sorri de volta.

— Então me chama somente de amor e serei de novo batizado. — Aquilo era ridículo. Deixei a falsa moita em que me escondia, porém permaneci escondido pelo capuz.

— Conheço o som desta voz! Não és Romeu? Não és um Montechio? — Não, é James Potter. Disse sem palavras em sua direção e ela reprimiu um risinho.

— Nem um, nem outro, se os dois te desagradam. — Afirmei exibindo meu lindo e maravilhoso rosto para os demais espectadores.

— És louco! Como chegaste aqui? Corres perigo. Se algum de meus parentes lhe encontrar aqui, seria a morte.

— Ah, mais perigos há em teus olhos que em vinte espadas. — Não conseguia levar essa fala a sério, a dos anjos parecia mais real.

— Por coisa alguma desejo que te vejam aqui Romeu.

— Basta me olhar com tua doçura que estarei protegido de tanto ódio. — A esse ponto já tinha concluído que esse Romeu precisava ter umas aulinhas comigo. Nos dias de hoje ele não pegaria garota alguma com esse lero-lero.

— És louco.

— Prefiro que minha vida seja encurtada por um Capuleto que longa, longe do teu amor.

— Como chegaste aqui?

— O amor me guiou. Meu amor já tens, eu juro...

— Sobe na sacada. — Ouvi alguém sussurrando e então o fiz, começando a escalar a escada escondida por falsas folhas.

— Não jures... Embora suas juras me deixem feliz. — Duas palavras. Garota. Confusa. E eu estava parecendo o Troy Bolton, de High School Musical 3, só que mais dramático.

— Posso retirar se assim desejas, só para dizer-te outra vez. — Conclui pousando ao seu lado e ela sorriu, olhando-me nos olhos.

— Está acontecendo tudo tão rápido... Tão... - Com isso eu concordava, de acordo com o livro eles se conheceram naquela exata noite e já trocavam juras de amor nesse grau.

Uma voz no meio da plateia que, reparei ao sem querer olhar na direção, lixava as unhas chamou por Julietta. Fiquei parado um tempo esperando algo acontecer e Louise fez um barulho com a boca, chamando minha atenção de volta para si.

— Sua vez. — Sussurrou e eu levei um minuto para entender o que ela dizia, e mais um minuto para lembrar a fala.

— Não se vá! Fique. — Ela sorriu contente e antes que eu pudesse absorver seu sorriso mudou sua expressão para melancolia.

— Não posso.

— Quando posso vê-la novamente?

— Se teu amor for verdadeiro quanto dizes...

— Quero casar-me contigo. — E nesse momento tudo que eu queria saber era: Que doença tinha esse rapaz?

— Amanhã te mando um mensageiro.

— Já é hora de ir para cama, Julieta. — A mesma voz da plateia chamou mas desta vez não me deixei distrair.

— Já vou. Se for de tua vontade marcaremos a cerimônia.

— Senhorita!

— Estou indo... — Esperei por mais uma fala de Julieta até me lembrar que não havia.

— Bendita noite. Só espero que tudo isto não seja apenas um sonho.

— Julieta!

— Já vou. Boa noite Romeu! — Louise virou-se para sair de cena mas eu segurei seu braço, resolvendo fazer uma pequena mudança.

— Dê-me um beijo para aquecer meu coração com a esperança de teu amor e lembrar a meus lábios que tu serás minha. — Improvisei e Louise me encarou surpresa e admirada com minhas habilidades.

— Oh Romeu... — Lamentou-se e, se ela possuía outras falas, jamais iria saber.

Puxei-a para perto colando meus lábios nos seus e Louise suspirou, dando o sinal que eu precisava para prosseguir. Seus lábios se entreabriram permitindo o aprofundamento do beijo e senti o gosto de sua boca na minha antes de ela mesma intensificar o ritmo.

— Julieta! — A mulher da plateia gritou e eu quis enforcá-la assim que Louise se afastou.

— Tens que ir. — Disse sorrindo e eu não pude deixar de sorrir de volta.

— Boa noite, meu amor. — Finalizei e a observei deixar a sacada enquanto eu a descia e ouvi palmas dos presentes.

— Bravo! — Karl se aproximava ainda batendo palmas. — Nunca fui de duvidar de Louise mas apesar de ter uma ótima aparência para a personagem tinha lá minhas dúvidas sobre sua interpretação. Bravo, senhor Potter. Bravo!

— Obrigado? — Perguntei sem saber ao certo se aquilo era um elogio.

— Você foi perfeito! — Louise surgiu, correndo até mim e me abraçando.

— Eu sou perfeito querida.

— E humilde. — Ela riu. — Então? — Encarou Karl esperançosa e ele sorriu.

— Seja bem vindo, Romeu.

Apesar de não querer fazer aquilo, eu gostava de conquistas e havia acabado de conquistar aquele papel, então sorri e virei para Louise.

— Você tinha dito algo sobre um presente? — Perguntei e ela riu, me puxando para longe dali.

Ela me parou no que parecia ser onde os atores se trocavam. Havia espelhos e roupas diferentes espalhados pelas cadeiras e araras. Eu a olhei e a puxei para perto de mim.

— Espero que o meu presente seja um beijo — falei, passando minhas mãos pelos cabelos grandes dela.

— Oh, beije-me logo, Romeu — Louise deu um sorriso que eu considerei malicioso.

Me aproximei e encostei meus lábios nos dela. Louise sorriu entre os meus lábios e passou os braços em meu pescoço. Se havia uma coisa que eu adorava, era quando acariciavam a minha nuca, e Louise o fez inconscientemente.

Intensifiquei o beijo, passando minhas mãos em sua cintura e escorregando até seus quadris, enquanto movimentava meus lábios com precisão. Beijar Louise foi mais romântico do que quando eu beijei Luna.

Louise passou a mão para as minhas costas, alisando-as, fazendo-me arrepiar. Eu a curvei, como se fazia nos filmes, e seus cabelos lisos se espalharam pelo ar. Louise se segurava em meus ombros e riu mais uma vez em meus lábios. Dessa vez, eu a acompanhei.

Voltei a posição normal e nos separamos. Pisquei um olho e a levei para fora daquele lugar, encontrando meu pai conversando com Karl. Seu semblante não era um dos melhores.

— Seu pai me parece um pouco preocupado — comentou Louise suavemente.

— Ele é... policial. — Era meio que verdade. — Sempre tem dias difíceis.

— Sério? Cadê o uniforme dele?

— Hã... ele é especial. Não precisa de um — na verdade, ele tinha uniforme. Mas entrar num teatro trouxa com um "M" bordado a ouro no peito, com um sobretudo cinza de capitão, não era realmente uma boa ideia.

Louise soltou um "Ah", parecendo entender que meu pai era um superespião. Chegamos perto deles e meu pai me olhou.

— Vamos, filho? — Eu assenti e beijei a bochecha de Louise.

— Até amanhã — falei, sorrindo.

— Até — Louise sorriu também, colocando as mãos para trás.

Saímos de lá, enquanto eu pensava que não fora tão ruim... porque Louise ajudava.

— Pensei que fosse um castigo - suspirou meu pai, parando em um beco.

— E é. Aquele Romeu tem sérios problemas.

— É, mas em um castigo, você não fica com a garota — ele deu um sorriso, pegou a minha mão e aparatamos.

***

Segunda quinzena de agosto. Fim do acampamento Delacour e passagem de ida para A Toca, aonde ficaríamos até o final das férias.

Nas últimas duas semanas eu tinha seis horas de ensaios diários, com apenas uma folga até agora. Claro que os beijos de Louise compensavam o trabalho, mas ainda assim era muito cansativo e papai não poderia ter escolhido castigo melhor.

Depois do ensaio do dia 16 eu chegara exausto n'A toca e a primeira coisa que fiz foi cair no sofá e dormir.

Coisa da qual me arrependi logo pela manhã.

— Parabéns para você! Nesta data querida. — O grito veio desde a cozinha e eu abri os olhos ao sentir alguém pular em cima de mim, dando de cara com uma Lily risonha. — Muitas felicidades; Muitos anos de vida! Viva o James! — Berrou e abaixou-se, enchendo meu rosto de beijos.

— Lily! — Resmunguei com uma careta tentando a afastar, mas assim que estava prestes a conseguir, Rose se juntou a festa, me abraçando. — Eu estava dormindo aqui. — Comentei e recebi um tapa na perna em resposta.

— Seu grosso! — Vi a pequena Lucy surgir emburrada e suspirei.

— Ok, desculpe-me. Bom dia garotas. — Elas sorriram, contentes com minha mudança de comportamento e voltaram ao agarra-agarra.

— Parabéns para você... — A cantoria começou de novo e eu ergui os olhos, vendo um cupcake com uma vela sendo trazido por Victoire e mamãe, que cantavam acompanhadas do restante.

— Faça um pedido James! — Vic pediu sorrindo e aproximou o bolinho de mim.

Encarei as garotas ao meu redor, Roxanne, Domi e ambas as Molly haviam se juntado, e soube que não precisava de muita coisa. Soprei a vela com um simples pedido em mente e todas elas gritaram em comemoração. Fred, que eu acabei descobrindo estar dormindo no sofá ao lado caiu deste e levantou assustado.

— Essa foi rápida. — Comentei e mamãe me olhou feio. — Brincadeira! — Minha cara de pimenta semicerrou os olhos mas soube que ela não estava brava, pois no segundo seguinte ela espalhou as meninas e veio me abraçar.

— Meu bebê está virando um homenzinho! — Lamentou-se e eu fiz uma careta.

— Já sou homem há muito tempo mãe!

— Sempre será o meu neném. — Retrucou e forçou-me a sentar em seu colo. — Hoje o dia será todo seu. — Prometeu e eu senti uma macaquinha se empoleirar em minha cabeça.

— Isso foi só uma prévia. Vai ter uma festa.

— Lily! — Molly II gritou e a ruivinha a encarou por breves segundos.

— Que foi? — Perguntou mas ao não conseguir desvendar o olhar da morena prosseguiu. — Vovó fez um bolo lindo! E chamamos seus amigos do time de quadribol e outros. — Tagarelou ao tempo que Vic batia a mão na testa e mamãe também a puxava para o colo, tapando sua boca.

— Deveria ser surpresa, Lily. — Lucy lamentou e eu as encarei, rindo.

— O quê? Vocês acharam que eu não descobriria? — Perguntei estufando o peito e metade delas gargalhou.

— Estamos arrumando isso desde o começo do mês mané! — Roxanne explicou e Rose pegou carona.

— Você nem desconfiou, sempre ocupado demais com seu espetáculo. — Concluiu e Dominique não ficou de fora.

— Ah Romeu, Romeu, aceitas que és um tolo e que fostes enganado no aniversário teu. — A ruiva tentou poetizar e eu fiz uma careta para ela.

— Isso foi terrível. — Disse com toda a sinceridade do meu ser e ela mostrou a língua.

— Bem, agora que ele já sabe, não vamos precisar fazer as escondidas... — Vovó informou, dando-me um beijo molhado na bochecha e deixando a sala em seguida. — Meninas! Preciso de vocês aqui! — Gritou e então uma por uma deixou a sala, mas não sem antes me desejar feliz aniversário.

Conforme a manhã passava tive que lidar com mais felicitações dos meus outros familiares. O que eu nunca achei muito legal, já que a única coisa que você pode fazer em resposta é sorrir e dizer obrigado até que a pessoa desista de te desejar coisas boas.

Pouco depois do almoço meu pai apareceu para me levar para o ensaio e eu o encarei incrédulo.

— Nem mesmo no meu aniversário? — Perguntei e mamãe veio a meu auxilio.

— Já está de bom tamanho querido, já tem duas semanas! Até Dominique já acabou o castigo dela. — Disse e eu concordei, mas meu pai não parecia comovido.

— Não é mais pelo castigo, Ginny. É pelo compromisso. E, acredite em mim pois fui ver um ensaio escondido outro dia, ele passa quase a peça inteira beijando a garota. Até nas cenas que não tem beijo ele da um jeito, então não é nenhum sacrifício.

Meu pai disse e eu sorri maroto, com uma cara de quem foi pego no flagra.

— Ele faz o quê? — Minha mãe gritou e meu sorriso sumiu.

— Vamos pai, estamos atrasados! — Conclui e Harry riu, desaparatando dali.

***

Quando voltei a noite, exausto outra vez e levemente encabulado com o figurino -fora nosso primeiro ensaio com ele e ao me ver papai insistiu que eu continuasse com ele- dei de cara com a surpresa que vovó me prometeu.

Estávamos nos aproximando da cena em que eu, lindo e maravilhoso, morreria, então eu esqueci até mesmo que era meu aniversário, quem dirá que estavam preparando uma festa para mim.

Assim que aparatei na sala d'A Toca fui surpreendido com gritos de felicitações e parabéns e demorei um instante para entender o que estava acontecendo.

— Você fez isso de propósito não fez? — Perguntei olhando meu pai e ele sorriu, dando tapinhas no meu ombro.

— Parabéns filho. - Antes mesmo que pudesse assimilar quem estava ali e o que vovó aprontara, Victor, Fred, Stephen e Albus vieram ao meu encontro ao mesmo tempo, cada um com três piadas diferentes para a roupa que eu usava.

— Rá rá, muito engraçados, já podem virar comediantes. — Resmunguei e recebi socos em resposta.

— Parabéns capitão! — Victor saudou e eu sorri, só então percebendo que a festa fora enfeitada completamente com artigos de quadribol.

Era infantil, um pouco, mas, ainda assim, eu gostei. Eu sabia que aquilo tinha dedo da minha mãe, como se com a decoração da festa eu continuasse sendo uma criança. Mas o fato de ela fazer isso provava que eu já estava crescendo e isso me deixava mais feliz que a festa em si.

— Obrigado, capitão.

As pessoas começavam a se acumular para me parabenizar mas minha cara-de-pimenta conseguiu afastar todos e chegar até mim

— Você deve estar morrendo de calor! Vá trocar de roupa. Eu cuido das coisas por aqui. — Ordenou batendo na minha, linda e branca, bunda para que eu subisse.

Agradeci, realmente grato por poder me livrar das roupas e fui para o quarto reservado para os garotos, aproveitando da boa vontade de todos ali para tomar um banho.

***

Assim que fiquei apresentável e cheiroso, fui interceptado nas escadas antes mesmo de chegar a sala e, ao finalmente chegar nesta, tive uma feliz surpresa.

— Maya! — Saudei e ela riu, vindo em meu encontro e me abraçando.

— James! — voltou a rir. — Parabéns! — Desejou.

— Obrigado! — Sorri em resposta e ficamos alguns segundos sem falar nada. — É bom te ver aqui.... — Comentei e ela revirou os olhos.

— Vá aproveitar sua festa. — Mandou me empurrando em direção aos outros e eu concordei com a cabeça, sendo surpreendido assim que olhei para frente.

Encostada na parede parecendo um pouco deslocada e vislumbrada com a decoração, Louise mantinha-se quieta, apenas observando a movimentação.

— Louise! — Chamei realmente surpreso com sua presença e ela me olhou, sorrindo.

— James!

— O que você tá fazendo aqui, sem querer ser rude nem nada.

— Eu a chamei. — Mamãe surgiu ao meu lado nos assustando. — Depois do que seu pai disse hoje me senti na liberdade de convidar essa adorável garota para sua festa. Ela é mais bonita do que você costuma falar. — Disse sorrindo para ela.

— Mas eu não... — Parei a frase na metade, meus pais só podiam estar em um complô para ferrar comigo. — Sei como descrever tal beleza. — Deixei que Romeu encarnasse em mim e ela sorriu.

— Não exagerem. — Pediu e eu sorri de volta.

— Você pode esperar só um minutinho? — Pedi e antes mesmo de ela responder sai costurando entre as pessoas até encontrar Dominique.

— Faça qualquer um que possa usar magia não fazer isso. E diz para o Fred não mudar a cor do cabelo e cara dele.

— O quê? Por quê?

— Tem uma trouxa aqui. Vou distraí-la, quando voltar sem magia. — Pedi e , novamente sem confirmação alguma, caminhei de volta para Louise. — Então, venha comigo. — Pedi a segurando pela cintura e a guiando para fora.

— Espera. Trouxe isso para você. — Disse sorrindo e me entregando um embrulho levemente pesado.

— O que é? — Perguntei analisando o embrulho.

— Abre! — Insistiu sorrindo e eu voltei a caminhar para fora.

— Tem muita gente aqui, vem. — Insisti e ela e acompanhou, anciosa para que eu abrisse o presente.

— Abre! — Disse de novo assim que chegamos aos jardins.

— Por que a pressa? — Perguntei e comecei a desfazer o embrulho exageradamente devagar.

— James! — protestou e eu ri, terminando de desfazê-lo e antes que o embrulho caísse ela gritou, entusiasmada. — Uma mini-coleção de Shakespeare! — Concluiu batendo palmas e eu ri, analisando os livros.

— Obrigado. — Agradeci e deixei os livros sobre uma mesa que havia sido colocada nos jardins quando eu ainda era um neném. — Eu gostei do presente mas tem uma coisa que eu gosto mais...

Comentei e ela sorriu, apoiando os braços em meus ombros e, propositalmente passando as unhas em minha nuca.

— E o que seria? — Perguntou inocente e eu sorri, passando os braços em sua cintura e a puxando para perto.

— Acho que prefiro mostrar a falar.

Louise sorriu e eu encostei meus lábios nos seus, sorrindo levemente, quando uma voz muito conhecida surgiu às minhas costas.

— Dominique me disse que você estava com uma trouxa e por isso não podemos fazer ma... Hey... e aí? — Luna se interrompeu ao ver Louise se afastar com a expressão confusa.

— Me chamou de trouxa? — Louise ergueu uma das sobrancelhas e Luna deu o seu famoso sorriso de desculpas.

— Er... então... eu peço desculpas — pediu minha amiga. — Eu às vezes esqueço que James gosta mesmo de alguém. Você é uma exceção — ela sorriu.

Eu olhei para Louise e pousei minha mão em suas costas.

— Não liga para Luna... — Olhei para minha amiga sugestivamente, que assentiu. — Ela às vezes fala mais do que pode.

— Por favor, não fique com raiva de mim. Eu tenho namorado. — Eu virei meu rosto para Luna, com uma sobrancelha erguida. Ela deu de ombros.

— Acho melhor nós voltarmos — sugeri e indiquei que Louise fosse na frente, puxando Luna para o meu lado. — Luna, seja mais cuidadosa — sussurrei entredentes.

— E você não gosta dela — ela sussurrou de volta.

— Quem disse isso?

— Seus olhos, bobinho — Luna saiu na minha frente, parando ao lado da Louise.

— Você chama o Victor de Eric? — gritei para Luna.

— Chamo o de Príncipe — ela riu e foi para dentro da cada.

Balancei a cabeça e cheguei mais perto de Louise, colocando minha mão em sua cintura e a guiando para onde estava todos da festa. Ao que parecia, seria mais difícil do que eu pensei guardar segredo de uma trouxa.

Ela olhava para para tudo na casa dos meus avós, com uma expressão de curiosidade e estranheza. Passamos pela cozinha e ela viu o relógio do vovô, com os nossos rostos, arregalando os olhos. Eu a puxei para fora da cozinha, antes que ela parasse realmente para ver.

Antes mesmo de chegarmos ao fundo da casa, ouvimos gargalhadas e conversas se espalharem por ali. Louise deu um sorriso. Acho que ela nunca presenciara tanto falatório junto por ser filha única, numa família pequena. Eu retribuí o sorriso e a levei para fora.

A tenda que minha família colocara do lado de fora, flutuava na maior parte do tempo. Eu esperei com todas as minhas forças que Louise não reparasse nisso. E não reparou, Merlim me amava.

— E aí, você a t... a amiga nova de James! — exclamou tio Ron, com a sua sensibilidade no nível 10.

— Essa é Louise. Louise, meu tio Ron Weasley — apresentei e eles trocaram apertos de mãos.

— Prazer, senhor Weasley — ela sorriu, simpática.

— Fique à vontade, querida — meu tio piscou o olho e se afastou.

Passamos pelo meus tios e tias e todos se seguraram para não dizer algo que comprometesse nosso segredo. Lily quase deu com a língua nos dentes, mas eu a impedi de primeira. Essa minha família não tinha jeito.

Eu tentava ficar sempre junto dela, mas, em algum momento, tivemos que nos separar. Minha mãe cismara que eu tinha que tirar fotos com todo mundo ali. Quando, enfim, eu voltei para Louise, eu reparei que ela olhava para todos e para nada com uma expressão pensativa

— Um... uma libra para os seus pensamentos — falei, puxando uma cadeira para perto dela.

— O que é quadribol? — Louise me olhou, franzindo a testa.

— O quê? — me fiz de desentendido.

— Quadribol. Eu ouvi seu amigo Victor comentar... O que é isso?

— É um jogo que nossa família inventou. Jogamos todas as férias — respondi e Louise assentiu.

— Sua família é... peculiar — disse ela e eu ri.

— É, nem imagina o quanto.

Sei que a família Weasley e Potter eram animados. Mas nada se comparou com a entrada triunfal do meu tio George naquele segundo em que eu estava indo muito bem nas minhas desculpas.

— EU CONSEGUI! EU SOU REALMENTE MUITO BRILHANTE! — gritou ele e todos se viraram para encará-lo. — Parabéns, garoto. — Apontou pra mim e eu assenti, com cara de desesperado. — E parabéns para mim! Nem acredito nisso, pessoal. — Ele caminhou até onde todos estavam. — Os alunos de Hogwarts vão pirar quando forem ao Beco Diagonal comprar! Eu consegui reproduzir uma fênix que volta das cinzas toda vez que pica alguém que fez mal ao seu dono! Claro, que será compras sob encomenda...

Louise me olhou, totalmente confusa. Tentei dar um sorriso.

— George, querido... — disse minha tia Angelina, mas ele continuou falando, calando a esposa com um beijo.

— Eu estou tão animado...

— Pai, fica quieto — Fred apareceu para impedir e Roxanne veio ao socorro do irmão.

— É, temos visitas especiais — disse Roxanne.

— Do que vocês estão falando? — Ele balançou a cabeça. — Trouxe um protótipo! Não me sinto vivo assim desde... Bem, querem ver?!

— NÃO! - Todos nós gritamos ao mesmo tempo e meu tio se calou, visivelmente magoado. Eu nem havia reparado que estava em pé.

— Por que não? — perguntou em voz baixa.

Minha mãe, tio Ron e tia Angelina foram até tio George.

— James trouxe uma amiga... especial — falou Angelina, mostrando uma Louise totalmente chocada. A festa tinha parado e estavam todos encarando meu tio George.

Ele ficou a olhando, tentando descobrir o que era especial nela. Até que, finalmente, compreendeu a situação. Ele, então, soltou uma risada. Nós o olhamos enquanto ele se recuperava.

— Ai, bem vinda! — Ele veio até nós e abraçou Louise. — Já me disseram que eu tinha problemas. Maaas, todo mágico têm os seus, não é mesmo, queridinha? — Tio George piscou o olho e eu pude respirar. — Tenho estudado mágica, tenho até um... — Ele me olhou e eu sussurrei "circo" — um circo! Meu filho, Fred, é o Palhaço. Minha filha, Roxanne, é a Mulher Barbada.

— Ok... - interrompi. — Acho que eu já nasci, né, mãe? Corta esse bolo.

Minha Cara de Pimenta assentiu rapidamente e adiantou-se para a pegar o bolo da geladeira e assim cantar o parabéns.

Eu não queria nem olhar para cara de Louise. Eu não estava envergonhado; eu estava apreensivo de ela desconfiar de que o "peculiar" da minha família fosse algo a mais.

***

Depois que cantamos a famosa musiquinha de parabéns, o pai de Louise ligou, dizendo que a estava esperando do lado de fora da A Toca. A festa ainda rolaria até de manhã, mas ela nova, uma trouxa e os pais dela não conheciam a minha família inteira.

Eu a acompanhei de mãos dadas até o lado de fora, ultrapassando a barreira de proteção que meu pai e meu tio Ron haviam colocado. Louise estava em silêncio e eu não sabia o que dizer a ela. Talvez ela não quisesse me ver mais.

Antes de sair e ir até o carro do pai, Louise parou e me encarou. Dei o meu melhor sorriso. Meu tio havia feito pequenos truques para ela quase a noite inteira.

— Desculpe...

— Ah, nem termine essa frase, James — ela me repreendeu. — Tudo bem que sua família é esquisita e seus amigos mais ainda. Entretanto, eu nunca me diverti tanto! As festas que eu vou são entediantes e sem vida. — Ela fez uma pausa e sorriu. - Sou filha única, posso ser meio reservada diante de tanto barulho e animação. Ser filha de um historiador e uma poetiza não é fácil... é silêncio o tempo todo. Eu posso ter ficado confusa, mas a sua família é confusa também. — Ela riu e eu estava sem palavras. — Obrigada por essa noite maravilhosa, James. Eu...

— Vai ser maravilhosa se você me beijar — eu a interrompi, sorrindo. Louise revirou os olhos e ficou nas pontas dos pés, passando os braços pelo meu pescoço.

Selei nossos lábios logo depois, mas não ficamos muito tempo assim. Louise se soltou e correu até o carro. Antes de entrar, ela se virou e gritou:

— Parabéns, só James Potter!

E desapareceu dentro do carro. Eu ri e acenei até que o carro do pai dela sumisse pela estrada. Fiquei ali parado por alguns segundos, antes de respirar fundo e volta para minha festa.

Quando cheguei, todos pararam. O silêncio foi total e eu ri.

— Essa foi dramática, pessoal! — Todo mundo riu e eu entrei como se fosse o dono do pedaço. — Vamos jogar quadribol, galera. Tô afim de ganhar algumas pessoas.

***

Duas semanas depois daquela fatídica festa chegou o fatídico dia de apresentação.

Estava em meu camarim, realmente tremendo de nervoso, quando mamãe entrou sorrindo.

— Meu bebê! — Exclamou sorrindo e eu revirei os olhos.

— Mãe. — Protestei e ela alargou o sorriso, beijando-me no rosto.

— Já te disse que sempre será o meu bebê. — Afirmou apertando minhas bochechas. — Está tudo bem?

— Por favor, eu nasci para fazer isso.

Ela riu, olhando-me pelo espelho.

— Eu vou pegar meu lugar, boa sorte meu querido. — Concluiu deixando a sala e eu encarei meu reflexo.

— Eu não preciso de sorte. — Afirmei. Agora só precisava me convencer disso.

Cerca de dez minutos se passaram até uma cabeça surgir na porta, sorrindo para meu reflexo.

— Está tudo bem aí? — Perguntou entrando.

— Tudo ótimo, estou apenas admirando o quão bonito sou. — Afirmei e ela riu.

— Eu sei que a primeira vez é ... complicada.

— Do que você está falando? — Perguntei sorrindo sugestivamente e ela me deu um tapa no ombro.

— Da sua primeira peça. — Disse emburrada e eu ri.

— A maldade está nos olhos de quem vê. — Disse ela fez uma careta.

— Continuando... — Disse optando por me ignorar. — Eu sei que tem toda a pressão da platéia, do que eles irão pensar mas...

— Eu sou incrível. — Afirmei, pela primeira vez tentando me convencer disso.

— Sim, você é. — Ela me encarou sorrindo e então se aproximou, beijando meus lábios. — Você vai subir naquele palco e vai fazer o mundo se apaixonar por você, porque você é James Sirius Potter. — Disse sorrindo e eu não pude deixar de sorrir de volto.

— O mundo? — Perguntei duvidoso e ela tombou a cabeça para o lado.

— Bem, todos os londrinos que vierem. — Ri junto a ela e a observei-a puxar uma cadeira e sentar ao meu lado. — Então... — Começou e eu arqueei a sobrancelha, esperando-a terminar. — Hoje é o último dia de férias. — Disse encarando as pernas e eu a observei.

— Entendi. — Disse suspirando e ela fungou. — Olha, eu adoraria dizer que vamos nos ver todos os dias, — comecei, erguendo seu queixo com o polegar e a fazendo me olhar. — Mas eu...

— Estuda em um internato, é, você falou. — Concluiu e eu acariciei sua bochecha.

— Na Escócia. — Acrescentei e ela suspirou, livrando-se de minha mão e escondendo o rosto com o cabelo. — Eu não quero te dar falsas esperanças. — Expliquei e ela respirou fundo, jogando a cabeça para trás.

— Eu sei. — Disse com a voz trêmula. — Você é nobre James. — Concluiu sorrindo fracamente. — Tem mais de Romeu do que imagina. — Afirmou e eu ri.

— Se você diz...

— Sim, eu digo. — Ela respirou fundo mais uma vez, afim de afastar as lágrimas. — Mas eu tenho que te agradecer.

— Pelo quê?

— Por ter me dado um amor de verão. — Ela riu, melancólica.

— Hey. — Chamei e ela me encarou.

— Não acabou até que tenha chegado ao fim.

— Isso foi profundo.

— Eu falo sério. — Sorri voltando a acariciar sua bochecha. — Você ainda é minha Julieta certo?

— É, isso é. — Ela sorriu, levantando. — Ainda temos um espetáculo a fazer.

— Ei, Romeu. — Karl apareceu. — Você entra em cinco minutos. — Disse e sumiu tão de repente como quando viera.

— Eu tenho que me arrumar. — Louise disse aflita. — Quebre a perna. — Sorriu, beijando-me outra vez nos lábios e correndo para onde eu julguei ser seu camarim.

***

Corri até o túmulo de Julieta, parando ao alcançá-lo e observando Louise que mal respirava deitada em seu leito.

Graças a dica que Will me dera de imaginar toda a plateia nua, eu havia conseguido conter o nervosismo.

— Oh! Minha querida Julieta, porque estás tu ainda tão bela? Devo acreditar que o incorpóreo fantasma da morte se apaixonou por ti, e que esse monstro esquálido e hórrido te guarda aqui na escuridão para fazer de ti sua amante? - Podia sentir a apreensão da plateia nesta cena e isso não ajudava muito, já que as falas daquela cena eram deveras difíceis.

— É para te defender que ficarei a teu lado para sempre e nunca mais abandonarei este palácio, onde reina a sinistra noite. [...] Vem, piloto sem esperança, e atira contra os rochedos o meu batel fatigado da tormenta! Por ti, minha amada! - Afirmei, erguendo um patético vidrinho cheio de água e tomando-o.

— Abençoado boticário! É ativa a tua droga! Assim... morro com um beijo! - Suspirei aliviado, sabendo que não teriam mais falas dali em diante e selei os lábios de Louise, fingindo estar tonto e vendo-a abrir os olhos antes de cair a seu lado.

— O que é isto? Um frasco tão apertado na mão do meu fiel amor? Agora vejo que foi o veneno que tão cedo o levou. Oh! Egoísta! Para que o bebeste tu todo e não deixaste uma gota amiga que me ajudasse a ir ter contigo? — Ela beijou-me. — Vou beijar teus lábios, talvez assim encontre um resto de veneno...

Podia ouvir Louise em toda sua majestade sofrendo como Julieta a morte de seu Romeu. O que deu em mim eu não saberia dizer, mas no segundo seguinte eu estava rindo, muito.

— O que é isso? — Louise perguntou entredentes.

— Sinto muito. — Pedi tentando transformar as risadas em tossidas.

— Oh Romeu! Voltaste para mim? Diga-me que meus lábios foram capazes de anular tal desgraça que provara. — Improvisei e, impressionado, abri os olhos para juntar-me a ela, pedindo a Merlim para que eu conseguisse.

— Teria eu direito a uma estada no céu, tendo pecado como fiz? Porém escuto o som da voz de minha amada e sei que na pós-vida não há outro lugar para minha doce Julieta que não o céu. — Disse me levantando e pude perceber que Louise queria me matar, porém estava satisfeita.

— Oh Romeu! Continuas vivo, continuas meu! Nosso Senhor abençoara nosso amor e o infeliz boticário que lhe dera o veneno passara-te o frasco errado. Feliz sejamos meu amor, pois a vida nos aguarda.

Ela sorriu, beijando-me e o teatro explodiu em palmas, enquanto Karl fechava as cortinas as pressas e nossa narradora também dava seu jeito de improvisar.

— O que foi que aconteceu aqui? — Karl veio em nossa direção e eu deixei a cama de pedra.

— Sinto muitíssimo Karl, eu comecei a rir e...

— Sua sorte Potter, é que o público gostou. — Avisou e saiu caminhando de novo.

— Eu te disse que era muito lindo para morrer. — Avisei no ouvido de Louise e ela arregalou os olhos.

Porém se planejava algo contra mim jamais saberia, pois nos segundos seguintes as cortinas se abriram e tivemos de dar as mãos para os demais atores para agradecer a plateia.


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Notas finais do capítulo

¹,² e ³ são trechos da música "De Repetente Califórnia", do Lulu Santos; alguns diálogos deste capítulo foram retirados da Obra Romeu e Julieta, de William Shakespeare, versão resumida. ;)
Esperamos que gostem e... comentem!