As Mulheres de James Sirius Potter escrita por Lia Galvão, Miss Stilinski


Capítulo 20
Giulietta Diana Bellucci (parte II)


Notas iniciais do capítulo

Oi amores! ♥ Vim trazer a parte final desse capítulo e eu espero que vocês gostem. Queria agradecer a todas as novas leitoras que ingressaram agora nessa jornada com a gente e estão nos acompanhando e a todas vocês que, mesmo com a demora e os capítulos intermináveis continuam com a gente.
Eu gostaria, também, de dedicar esse capítulo a leitora Colour pelo que foi o maior comentário que eu já li na minha vida e foi algo que me deixou, assim como à Laís também, em níveis desproporcionais de alegria. Prometo respondê-lo em breve, assim como os demais
Aproveitem o capítulo! /Lia G.



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Um borrão de luz vermelha cruzou a rua e então meu agressor não estava mais ali. Sangue continuava a escorrer de meu rosto e eu sentia vontade de vomitar devido aos golpes em meu estômago. Juntei forças para tentar me erguer e cedi. Sufocando em meu próprio sangue e sem condições de respirar.

— James! — Um homem corria em minha direção e eu me arrastei até onde achava que minha varinha tinha ido. O sangue manchava minha roupa enquanto eu tentava alcançar o artefato, mas o homem me alcançou antes que eu conseguisse segurar minha única defesa. — James? Você está bem? — Perguntou, parando ao meu lado e então entregando a varinha em minhas mãos, cuspi mais sangue no chão e tentei puxar o ar pela boca. — Deus… — Comentou preocupado e então colocou um dos braços por baixo dos meus, fazendo força para me ajudar a levantar. Só então notei que o homem em questão era Paolo. — Onde você se meteu rapaz? — Quis saber, antes de me arrastar na direção da pensão.

Houve certa comoção assim que Paolo cruzou a porta comigo. Guadaluppe gritou e Ian correu de encontro ao Auror para ajudá-lo a me carregar. Bianca chamou por ajuda e logo a sala estava cheia de gente, inclusive Dimitri.

— PO… JAMES! — Gritou preocupado, aproximando-se, mas sendo afastado logo em seguida por Kisse, uma Quêniana que era formada em medibruxaria e cuidava de meus ferimentos. — O que aconteceu? — Ele quis saber e a garota o lançou um olhar mortal.

— Não acho que ele tenha condições de responder, senhor sei lá quem você é. — Disse e eu senti vontade de rir, mas engasguei com o sangue novamente. — Fique quieto. — Mandou e eu obedeci.

Logo ela tinha limpado todo o sangue e Aiyra aparecera com um chá que pareceu curar meu estômago pro dentro. Além disso, ela fizera um feitiço para colocar meu nariz no lugar, o que doeu um bocado.

— Os vergões e roxos eu não posso fazer nada para mudar. — Disse levantando-se e então permitindo que a multidão se aproximasse.

— Obrigado! — Disse em meio a tossidas, ela assentiu.
Dimitri dispensou todos com dois movimentos de mãos e se aproximou do sofá em que eu estava, encarando-me preocupado.

— O que você aprontou? — Nunca vira Dimitri tão preocupado.

— Eu juro que eu não sei.

— O show acabou. — Paolo informou batendo palmas e então grande parte das pessoas viraram as costas. Marco, Guadaluppe, Bianca e Ian foram alguns dos que continuaram.

— Eu estava vindo para cá e então esse homem… eu não sei quem ele é. Ele perguntou se eu era James e então começou a me bater. Não entendi o que ele estava falando, era italiano.

Bianca soltou uma exclamação descontente, só não sabia se era direcionada ao meu agressor ou minha falta de habilidade para a língua nativa.

Dios! Você quase morreu. Tem que ter feito algo, não fariam isso se você fosse inocente. — Guadaluppe acusou, mas eu sabia que ela só queria uma explicação, o que eu não podia dar. Balancei a cabeça, ela ainda doía e Dimitri levantou.

— Ele precisa descansar um pouco, chega de perguntas. — Disse com seu tom grave que fez o restante concordar e sair. Marco e Paolo foram os únicos que permaneceram e eu subi com a ajuda dos aurores para meu quarto.
Marco entrou por último e fechou a porta, Paolo jogou feitiços para abafar o som e então logo eu tinha três feições severas e preocupadas contra mim.

— Qual seu envolvimento com Giulietta Bellucci? — O auror mais velho exigiu saber e eu franzi o cenho. — O cara que estava te agredindo disse o nome dela, e outras coisas que não convém dizer, mas eu preciso saber, qual seu envolvimento com ela?

— Eu… nada. Nenhum. — Menti, então ouvi Dimitri socar a mesa.

Não minta, Sirius. — Disse em búlgaro e eu assustei, mas logo me acalmei, os outros poderiam pensar que Sirius era uma palavra búlgara.

— Não é a garota que você dançou no verão? Que você não parava de falar sobre ela? — Marco se intrometeu e eu suspirei.

— Nós estamos saindo. — Confessei e Paolo parecia tenso.

— Há quanto tempo?

— Uma semana, não mais que isso. — Disse e o olhei. — Conversamos por cartas já há três semanas, mas ninguém sabe.

— Bem, alguém sabe. — Ele parecia muito irritado e eu não estava conseguindo entender o que estava acontecendo. — James, você tem noção de quem é essa garota? Da furada em que se meteu?

— Você não a conhece. — Rosnei para ele que riu.

— Não, ragazzo, você não a conhece. — Enfatizou e Dimitri falou algo em italiano com ele que eu não entendi, nem sabia que Dimitri falava italiano. Marco parecia encantando quando intrometeu-se na conversa e recebeu olhares severos que o fizera assumir uma postura mais rígida.

— Não quero interromper o triozinho de ouro. — Resmunguei interrompendo-os. — Mas Giulietta é algum tipo de trambiqueira que quer me matar e roubar minha poção incompleta? — Marco riu, Paolo e Dimitri não partilhavam do bom humor do ruivo.

— Você não sabe, não é mesmo? — Dimitri pareceu ter xingado Paolo após a pergunta ser proferida e eles sustentaram uma discussão de cinco segundos.

— Sei do quê? — Quis saber.

— Porque Giulietta é uma Belucci. — Marco respondeu, mas algo me dizia que ele só estava sabendo das coisas pela discussão travada entre os aurores.

— Bem, talvez porque o pai dela tenha esse sobrenome. — Sugeri como se fosse óbvio e Dimitri encarou Paolo de um modo que me deixara com medo. Eles sustentaram a guerra de olhares por um minuto antes de Paolo ceder e suspirar.

— Ah, James… Você não sabe onde se meteu.

— O quê? Eu sei que é perigoso. Sabia disso, ela me avisou. Disse que eu não deveria falar com ela, me aconselhou a ficar longe, mas… mas eu não consegui e… eu sabia dos riscos. — Justifiquei e Dimitri apontou o queixo para mim.

— Então você já sabe porquê apanhou. — Denunciou e eu o olhei.

— Foi por causa dela?

— Aquele cara é um dos seguranças de Giulietta. — Paolo explicou e então eu entendi de onde já o vira. — Ele deve ter desconfiado que tinha algo acontecendo entre vocês e decidiu resolver as coisas sozinho. Ele não poderia denunciá-la ao patrão se não tinha provas, mas se desse um jeito em você sentiria que fez sua parte. — Ele parecia estar pensando em voz alta. — James… — Suspirou, balançando a cabeça. De repente eu senti como se Paolo aparentasse ter falhado em algo, mas não conseguia imaginar o quê. — Se eu pedir para você parar de vê-la não vai adiantar, vai?

— Eu não ligo dos riscos se puder vê-la. — Afirmei e ele confirmou.

— Se ela não te disse, não serei eu a fazer isso. Eu apenas… tenha cuidado, certo? Os Bellucci… sei que ela é diferente, como disse no bar aquele dia, ela se destaca do restante da família, mas eles são cruéis James, e se mais alguém descobrir sobre o que está acontecendo entre vocês… Não apenas você, mas creio que ela também, sofrerão mais do que pode imaginar. — Aconselhou e eu senti minha espinha tremer. — Tome cuidado criança. Da próxima vez eu posso não estar lá. Disse e então suspirou, antes de virar-se e deixar o quarto.
Dimitri resmungou e disse que logo voltaria, Marco me encarou.

— Ela vale a pena?

— Ela me faz sentir algo que eu não pensei que sentiria novamente. — Confessei e ele sorriu.

— Como se seu estômago fosse um redemoinho e sua boca fosse incapaz de parar de sorrir? Como se o mundo todo fosse um borrão quando ela está perto e a cor mais bonita de todo o universo é a cor dos olhos dela? Como se morrer fosse a menor de suas preocupações, desde que você tivesse o prazer de estar ao lado dela? — Perguntou e eu o encarei.

— É… exatamente assim. — Afirmei, gostando da definição, mas então sorri.

— Posso saber quem foi que roubou teu coração? — Marco ficou da cor de seus cabelos ao ouvir a pergunta e então olhou para os pés, balançando-os por um tempo antes de respirar fundo.

— Ian. — Declarou e eu não pude conter a surpresa. Eu sempre me surpreendia.

— Vocês estão juntos? — Ele assentiu.

— Desde a viagem para Verona. — Ele sorriu. — A carta para Julieta… ele meio que entregou para mim.

— Então minha ideia não foi tão inédita assim. — Ri e ele me acompanhou. — Poxa cara! Eu espero que vocês consigam ser felizes sem que ninguém os espanque na rua apenas por estarem juntos. — Brinquei e ele me olhou.

— Disse o hétero. — Marco falou e eu fechei o sorriso, gaguejando ao tentar me desculpar.

— Não foi minha intenção eu… droga. Eu não pensei para falar. — Tentei justificar.

— Bem, você pensar para alguma coisa já é uma novidade. Mas está tudo bem, não se preocupe. — Aconselhou e eu assenti.

— Apenas quero que as coisas continuem dando certo para vocês, você parece gostar bastante dele.

Antes que Marco respondesse, Dimitri voltou.

— Aquela garota pode ter os seguranças dela, mas agora você também terá os seus. — Abri a boca para protestar, mas Dimitri não permitiu. — Quer fazer parte de um romance suicida? Certo, vá lá, não é da minha conta. Mas agora você não vai andar sozinho. Paolo tomará conta de você na empresa e vai providenciar que aquele segurança dela não entre mais. Quando eu estiver aqui será o meu turno e você está proibido, escute bem, proibido! De sair sozinho. Se eu estiver trabalhando sei que Marco estará aqui, o trabalho dele é estar aqui, e, Marco, pago duas vezes seu salário para não deixar James sozinho nem um minuto.

— Isso é absurdo! — Consegui me pronunciar e ele me olhou como quem não se importava, desde que eu continuasse inteiro.

— Quando for se encontrar com ela eu quero saber exatamente quando, que horas e aonde. Quero descrição do lugar James. Ela não precisa saber que eu estarei lá, mas eu vou estar. Não estou dizendo que ela levará alguém, mas não se sabe se eles irão ter a audácia de seguí-la e eu não vou permitir que você coloque sua vida em risco por uma garota. Você pode fazer loucuras de amor, se assim quiser, mas existem pessoas que se importam muito com você para que você se mate por ser irresponsável. — Disse e então saiu do quarto.

— Bem… — Marco disse após alguns bons minutos de silêncio. — Acho que essa é minha deixa. Boa noite, James. Melhoras. — Desejou, saindo em seguida.

Respirei fundo e joguei a cabeça contra o travesseiro. Podia senti-la latejando. As palavras de Paolo e Dimitri ribombavam em minha cabeça. A tensão naquele quarto só porquê eu havia apanhado. Ah… se eles me conhecessem quando eu conheci Viola. Aparentemente ela tinha mais estômago que ambos. Ou, talvez, só tivesse menos preocupações. Ou soubesse menos. Porquê eles claramente sabiam de algo que estava passando por mim.

Depois de muitos pensamentos, acabei sendo vencido pelo cansaço e apaguei. No dia seguinte fui acordado por um berrador de Viola que reafirmava seu desgosto por Giulietta e dizia com convicção que a próxima surra que eu levasse seria causada por ela própria.

***


Tinha tudo para ser o melhor dos natais, mas devido o incidente passou longe disso. Descobri semanas depois que havia perdido as evoluções com a poção, uma vez que Paolo me impediu de comparecer a empresa até resolver as coisas e mandou-me aproveitar os feriados quieto dentro de casa. Dimitri pareceu ter o triplo de trabalho para resolver no dia seguinte e eu não conseguia tirar da cabeça que Giulietta tinha deixado de me contar um detalhe importante. Além do fato de que a cada momento aparecia alguém para me perguntar como eu estava e perguntar o que havia acontecido.

Viola veio para o ano novo e tivemos uma longa conversa sobre apanhar na rua e garotas problema, no final ela entendeu que eu não estava disposto a desistir de Giulietta, principalmente agora que havia algo que eu não conseguia entender na história e foi embora dois dias depois, retornando às suas atividades.

O recesso da empresa acabou na segunda semana de Janeiro e eu retomei minhas atividades, como Dimitri prometera, sempre vigiado por algum dos três. Mas só voltei a ver Giulietta no final de Março, o que me deixou angustiado e ansioso todos os três meses que se passaram.

Ela passou por mim sem nem um bom dia e foi direto a sala de Pausini, de lá, Paolo me olhou e eu respirei fundo, voltando para o laboratório e sentindo minha cabeça doer. Depois de alguns minutos, deixei a empresa para conseguir respirar algum ar, e não me importava se Pausini iria me demitir pelo ato, visto que em seis semanas eu estaria de mudança para a Grécia.

— James. — A voz era de Paolo e eu respirei fundo, já prevendo o sermão por ter saído desacompanhado, principalmente quando Giulietta estava lá. Ele se aproximou, parando a meu lado e olhando para o céu azul da primavera que havia chegado há pouco tempo. — Ela disse que amanhã, às sete da manhã, no lugar de sempre.

Olhei para Paolo. Tinha um trabalho para entregar naquele dia e horário, mas, droga! Precisava falar com Giulietta. Ian poderia cobrir esta para mim, pediria para ele inventar uma desculpa. Eu assenti, sentindo um peso ser retirado de minhas costas e Paolo deu tapas em meu ombro.

— Obrigado. — Disse simplesmente.

— Não esqueça de dizer para Dimitri aonde é. — Lembrou-me e eu concordei. Era melhor aquilo do que nada.


No dia seguinte eu acordei cedo. Mal conseguira dormir, para falar a verdade. E Dimitri levantou-se comigo. Deixaria o trabalho de lado por um tempo. Decidi que iríamos mais cedo para que ele aparatasse comigo e encontrasse algum lugar adequado para se esconder perto do chalé. Mas não tão perto. Assim, depois de chegar lá demorei um bom tempo até ouvir a porta abrir.

— James! — A voz de Giulietta demonstrava alívio, felicidade e ansiedade, tudo junto, quando ela se jogou em meus braços.

Apertei-a forte, mas ela não reclamou, pois retribuía na mesma intensidade. Parei, apenas, ao notar que ela chorava.

— Você está bem? — Ela, mesmo em meio a lágrimas, quis saber. — Fiquei sabendo do que aconteceu. Eu sinto tanto, nunca quis que isso acontecesse… eu tentei te avisar, pedi para ficar longe. — Fungou, passando as mãos por meu rosto, procurando marcas da agressão. — Ele aparecera em casa dizendo que um dos funcionários da empresa estava me perseguindo e que havia lhe dado um corretivo. Soube que era você, consegui azará-lo antes de ele dizer, entretanto. Ah James… você não sabe o inferno que foi. — Puxou-me de volta para perto, abraçando-me, certificando-se de que eu estava ali. — Proibiram-me de ir à empresa, disseram que não era seguro, você não sabe o tanto que insisti para conseguir ir até lá ontem. Você está bem? Ele te machucou muito? Consegui demiti-lo. Sei que isso não apaga nada, mas convenci Orazio de mandá-lo para rua, inventei uma história. Bem, mal sei se ele ainda está vivo. Você está bem? — Perguntou pela terceira vez, parecendo adquirir calma enquanto falava e se explicava, mas ainda chorando. Eu sorri e ela me encarou. — O que foi?

— Eu nunca pensei que iria querer tanto como quero agora beijar uma senhorinha banguela. — Confessei e Giulietta parou por um instante antes de entender o que acontecia e então riu, em meio a lágrimas e todo o nervosismo ela riu, passando a mão pelas bochechas úmidas e enrugadas.

E, vendo aquela cena, ignorei a aparência que ela tinha, porque eu só conseguia pensar em como estava feliz por tê-la ao meu lado e como tudo parecia mais fácil ali. Assim, a beijei.

E quando nos afastamos ela já havia se tornado a minha Giulietta. Encaramo-nos por um extenso minuto e então meus lábios voltaram a encontrar os seus. Toda a angústia, toda a preocupação ia embora enquanto as mãos de Giulietta agarravam-se a meu colarinho como se sua vida dependesse disso e eu puxava-a para mim, colocando-nos tão próximos quanto possível. Quando o ar se fez necessário Giulietta colocou a testa contra a minha e abaixou meu rosto para que eu a encarasse.

— Eu quero você, James. — Sua voz era um sussurro, mas seus olhos rugiam e eu soube o que ela quis dizer com aquela frase. Por mais um minuto seus olhos permaneceram fixos nos meus, falando por eles o que ela queria dizer. No minuto seguinte ela se afastou e segurou em minha mão, puxando-me pelo corredor até o quarto de cama quebrada.

— Você tem certeza? — Quis saber e como resposta ela concertou e arrumou a cama com um floreio de varinha e virou-se para mim. Devido nossa proximidade podia sentir o coração dela bater como um tambor, não muito diferente do ritmo do meu.

Mais uma vez a beijei e, desta, ela caminhou para trás, puxando-me consigo até que suas pernas batessem contra a cama e ela caísse nessa, olhando-me, chamando-me para si. E assim eu fiz. Meus lábios foram de seus lábios para seu pescoço e então eu desfazia o nó do avental que ela usava, sorrindo ao perceber que ela usava as roupas de Margaretta que não lhe serviam. Ela se sentou, passando as mãos por meu tórax por baixo da camisa e subindo o tecido junto com seus movimentos, tirando-o de seu caminho.

Ficou sob os joelhos, seu rosto em minha direção quando me abaixei para beijá-la e ela me abraçou, levando-me para a cama junto a ela. Imitei seus movimentos ao desabotoar o fecho do vestido e logo o tecido deslizava por seus ombros, revelando marcas arroxeadas em seus braços. Passei meus dedos por ali e a encarei, perguntando sem pronunciar palavras.

— Eu caí. — Foi sua resposta, mas eu sentia que ela não dizia a verdade, assim tornei a olhar para os machucados, sabendo que nenhuma queda seria capaz daquilo. A mão de Giulietta segurou meu rosto e virou-o de volta para ela, fazendo-me olhar em seus olhos. — Não importa. — Ela sussurrou, e eu soube que ela não queria lembrar daquilo, então a beijei.

E novamente meus lábios trilharam um caminho de seus lábios para baixo. Pescoço, ombros, até os hematomas. Cada um deles recebera um beijo delicado antes de eu subir de novo para encará-la, que puxou-me para si com lágrimas nos olhos.

Depois da camisa e do vestido livramo-nos da calça e, depois, peças íntimas. Sem pressa, conhecendo-nos. Ela era minha maior preocupação e tudo que eu queria era que ela deixasse aquelas lágrimas para trás enquanto se entregava para mim. E tomei cuidado para que isso acontecesse.

Ela arqueou na cama, gritando em deleite quando consegui levá-la até lá. Suas mãos em meus cabelos afrouxaram e eu subi até ela, beijando cada centímetro de seu corpo, sabendo que, naquele momento, éramos tudo que existia. Seus olhos abriram e os pingos verdes haviam sumido, dando lugar a pupila que tomava conta de toda íris, seu peito subia e descia com a respiração pesada e seus lábios buscaram o meu, suas mãos espalharam-se por minhas costas, puxando-me para ela, até que cada parte de nossos corpos estivesse em contato, até que fossemos um só.

Suas unhas arranharam minha pele e eu ouvi suspirar, minha boca em seu pescoço fazia com que ela jogasse a cabeça para trás. O suor grudava nossos cabelos contra as têmporas, mas não dávamos importância para isso, não dávamos importância para nada além de um ao outro. Seu toque era ansioso e gentil ao mesmo tempo, enquanto eu não parava nem por um minuto de beijá-la. Seus lábios reproduziam meu nome em preces que não tardavam a ser atendidas. Apenas ao sentir que ela estava novamente alcançando seu clímax que eu me permiti chegar ao meu e, juntos, caímos na cama.

Giulietta se enroscou em meu corpo, beijando meu pescoço e passando a mão em meu abdômen enquanto eu lhe acariciava as costas. Corpos suados e nus um contra o outro. Respirações pesadas e uma sensação de que nunca estivera melhor em toda minha vida.

Após muitos minutos de carícias silenciosas, ela se ajeitou na cama, de modo a me encarar e eu a observei, ciente de que não me lembrava de um dia ter visto cena tão bonita quanto aquela. Minha mão afastou o cabelo molhado de seu rosto e ela se recostou, acariciando com a bochecha minha mão. Dimitri estava mais do que certo. Eu gostava muito daquela garota.

— Giulietta… — Chamei.

— Não. — Ela pediu. — Vamos continuar assim, para sempre. Não precisamos falar, nossas bocas já provaram que tem funções muito melhores que essa. — Disse e eu sorri, mas logo apenas a encarava, minha mão deixou seu rosto para alcançar seu braço e então desenhou as marcas lá presentes.

— Quem fez isso? — Perguntei e a ouvi suspirar, virando o rosto para o lado. Minhas mãos foram até seu rosto e virei-o para que ela me encarasse, olhando-a nos olhos para que ela soubesse que eu falava a verdade. — Eu não me importo. — Disse. — Eu não ligo para quem é sua família, ou o seu pai. Ou quantos caras virão me bater porque eu sou louco o suficiente para insistir em você. Mas eu… eu quero que você confie em mim, quero que saiba que pode me contar tudo, qualquer coisa. Porque eu não me importo com o resto, apenas com você. — Ela sorriu, mas as lágrimas, ausentes pelos últimos maravilhosos minutos, retornaram. Usei meu dedo para afastá-las dali.

— Eu não… eu não acho que você entenderia. — Pontuou e eu a encarei, sentando-me na cama e segurando suas mãos.

— Eu sou bem compreensível. — Afirmei com um sorriso, ela negou com a cabeça.

— Você não entende…

— Me faça entender. — Pedi e ela ergueu o rosto para cima, mais lágrimas escorrendo.

— Ah James… — Ela fungou. — Você jamais me perdoaria. — Lamentou enquanto eu a observava atento.

— Você matou alguém? Eu não me importo, podemos fugir. Arrumar alguma identidade falsa para você. É mais fácil do que parece.

— Eu devia ter te contado logo no começo. Devia… devia te contar agora, mas eu não consigo. Não… Eu devia ter te dito, mas eu queria você tanto quanto você demonstrava me querer. Eu não consegui. — Desculpou-se.

— Você tem que me dizer. — Pedi e ela fechou os olhos, negando fervorosamente.

— Não consigo. — Soluçou. — Eu sinto muito. Sinto tanto. Você também tem seus segredos. Por favor, não me faça dizer. — Pediu e então eu a observei.
“Você também tem seus segredos” Ela dissera, e então eu notei que ela ainda achava que meu nome era James Evans. E o único problema era que eu não estava disposto a mudar aquilo por enquanto. Por mais que eu gostasse dela, me importasse e a quisesse manter por perto, não estava disposto a abdicar daquele pequeno detalhe. Desde o começo de tudo aquilo ela fora uma das únicas pessoas que se entregou a mim sem se importar com quem eu realmente era, aceitando aquilo que eu mostrava como verdade absoluta. Sem nunca exigir nada ou insistir em perguntas que eu não queria responder. Ela me aceitou com todos os segredos que eu tinha, sabendo que eu deveria ter meus motivos para não revelá-los e, naquele momento, eu notei que era minha obrigação ceder a mesma confiança para ela.

— Está bem. — Disse enfim, acariciando-lhe o rosto e a puxando contra meu peito. — Está certo, tudo bem. Você não precisa. — Garanti, beijando-lhe a cabeça. — Apenas saiba que... isso… eu não vou permitir que isso aconteça novamente. — Garanti e seus olhos encontraram os meus. Giulietta beijou-me.

(...)

Por mais que tudo entre Giulieta e eu estivesse resolvido ela não apareceu no Centro de Poções nem naquela semana, nem na outra. E também não havia sinal de nenhuma carta escrita por ela em nosso esconderijo, o que me fez presumir que Giulieta ainda estava sob vigilância.

Eu tentava fazer com que isso não me abalasse, mas, mesmo assim, eu não conseguia entender como ainda existiam famílias com essas manias de tradições de séculos passados — fala sério! Nem os Malfoy são assim mais. —  Contudo, eu tinha esperança. Todos os dias de manhã, eu ia até o nosso esconderijo e tirava o tijolo, na expectativa de encontrar alguma coisa.

Mas nunca tinha nada.

Aquilo me deixava mal, pois, eu não conseguia tirar da cabeça o fato de que eu finalmente deixara alguém entrar em meu coração e me acontecia isso. Amores impossíveis, fora o que Maya me dissera anos atrás. Pois é, parecia que Merlin, Zeus — sim, eu li Percy Jackson, nem mesmo os bruxos esperavam por essa... deuses... — e Deus não queriam que eu amasse alguém por completo. Sempre tinha alguma coisa para impedir que eu fosse feliz.

Entretanto, eu tentava me concentrar em outras coisas. Havia a faculdade — que estava arrebentando minha vontade de viver — e minha poção, ambos ocupavam meu tempo e minha mente na maior parte do dia — infelizmente, não na parte da noite. Parecia que o cérebro gostava de especular e formar paranóias apenas de noite. E, quase sempre, eu ia dormir tão tarde quanto Dimitri. Embora ele não soubesse que eu ia dormir quando ele finalmente “desistia” de trabalhar em algo que ele estava começando a achar que não tinha solução.

Dimitri estava ficando desesperado e eu não podia fazer nada pelo meu amigo, a não ser que ele pedisse ajuda ao meu pai. Ele não gostou da ideia, dissera que aquilo era um desafio para ele e que queria passar por aquilo sozinho, com sua equipe. Disse que, quando se formara, sabia que seria difícil e que gostava de resolver coisas difíceis, por isso que fizera amizade comigo. Eu joguei meu travesseiro nele, o qual Dimitri não me devolvera e eu dormi com a cabeça no colchão.

Depois disso, outra semana passou e eu continuava sem notícias de Giulieta. Já estava começando achar que realmente não iríamos dar certo, quando recebi uma bela notícia.

Eu estava no laboratório, experimentando mais um ingrediente — depois do episódio do orégano, resolvi tentar com a especiaria trouxa — para a minha poção, quando um funcionário entrou e disse que haveria uma reunião no refeitório. Suspirei e fechei meu caderno de anotações, com poucos avanços,  seguindo-o e os demais para fora do laboratório.

Assim que cheguei, o refeitório estava parcialmente cheio, porém, o senhor Pausini já estava lá na frente, esperando o restante dos funcionários chegarem. Quando enfim todos haviam se acomodado, o senhor Pausini começou a falar. Sinceramente, eu não estava muito afim de ouvir o que ele tinha para dizer e, portanto, comecei a contar quantos aurores haviam se reunido com a gente. Havia três atrás do diretor, incluindo Paolo, e mais uns dez em volta, guardando todos ali.

Depois que eu contei, a voz do senhor Pausini me fez prestar atenção.

—... Então, como fizemos bastante progresso durante esse ano, graças a todos vocês, os Bellucci — aqui, meu coração disparou —, que são os nossos maiores patrocinadores, decidiram dar um baile em comemoração por tanto avanço. Portanto... preparem os melhores trajes a rigor, porque um baile dos Bellucci, não é igual a nenhum outro que vocês já foram. Dispensados!

Todos se levantaram atordoados e animados. Parecia que os Bellucci realmente eram ótimos em dar festa; ouvi até uma menina dizer que era a primeira vez que convidavam todos do Centro de Poções. E eu? Bem, eu só faltava quicar enquanto andava pelos corredores até o laboratório. Era a minha chance. E era a chance de Giulietta se decidir de uma vez por todas.

(...)

O fim de semana chegou rápido. E eu gastara quase o meu último galeão para comprar aquela veste a rigor que, provavelmente, teria algum cara com a vestimenta igual. Não entendia como aquilo podia ser tão caro e tão... simples.

Quando enfim pronto, olhei-me no espelho e me vi com uma cara melhor do que no último mês e meio. Havia um brilho em meu olhar e eu estava gato para cacete, desculpem o linguajar. Eu estava bem. E estava animado. Nada poderia dar errado, quando eu sentia que, finalmente, tudo conspirava ao meu favor.

Saí do meu quarto e vi vários alunos espalhados pela república. Assim que me viram, assoviaram e eu dei uma voltinha, rindo para eles.

— Podem falar, estou um máximo! — disse eu e eles riram. Marco levantou-se e assentiu.

— É, dá pro gasto — ele riu e eu dei um empurrão de leve nele.

— Fala isso porque está comprometido — brinquei em voz baixa e ele riu. — Ok, tenho uma festa para ir. Tenham uma boa noite, porque eu, com certeza, terei. Até amanhã, queridos.

Saí da república e avistei Paolo do lado de fora me esperando. Eu não sabia onde era para poder aparatar no local. Poderia me machucar outra vez, então Paolo se voluntariou para me levar. O que ele certamente faria mesmo se eu soubesse exatamente onde ficava a mansão Bellucci.

— Finalmente — disse, quando eu cheguei perto o suficiente. — Vamos, estou atrasado — e estendeu um braço. Eu o aceitei, fazendo uma reverência e aparatamos.

Pousamos num gramado bem cuidado. Ainda não estava acostumado em aparatar, mesmo tendo aprendido a tal há pelo menos quatro anos, e desejava logo finalizar a minha poção que ainda nem nome tinha. Paolo esperava ao meu lado que eu me recompusesse. Assim que levantei e respirei o ar puro da noite, ele falou:

— Eu preciso verificar umas coisas com os outros aurores. Enquanto isso, por favor, não faça nenhuma besteira — pediu Paolo.

— Hey, quem disse que eu farei besteira?

Paolo me olhou como se me conhecesse bem. Eu revirei os olhos.

— Eu posso cuidar de mim mesmo — falei.

— Aham, com certeza. Te encontro lá dentro — sentenciou e eu ergui o polegar, balançando a cabeça.

Ele se afastou e eu pude olhar onde eu estava. Mesmo a luz da lua, ou talvez exatamente por isso, o lado de fora da mansão era de tirar o fôlego Parecia ser uma construção do século XV, um pouco mais moderna, mas sem deixar o ar antigo. Os portões eram altos e de ferro, onde dava para ver o jardim da frente da casa e o chafariz gigante de um dragão de mármore vivo, onde ele cuspia água ao invés de fogo (graças a Merlin).

Já havia muitas pessoas chegando para o baile. Cada um mais chique que o outro, cada uma mais elegante que a outra. Depois de um tempo absorvendo a magnitude da casa de Giulietta, decidi entrar. Meu ânimo estava de volta só com a possibilidade de vê-la outra vez.

Eu estava nervoso, também. Se a família dela era daquele jeito que me falaram e o que estavam fazendo com ela... Eu estava disposto a dizer o meu verdadeiro nome; talvez, se soubessem que eu era o filho primogênito do Menino-Que-Sobreviveu, eles poderiam considerar que nós podíamos ser felizes juntos. Eu podia ser o que eu fora em meu passado e até meu presente, mas nunca usei a imagem do meu pai para qualquer coisa. Dizer aquilo seria a coisa mais difícil que poderia fazer, mas, se isso significava uma chance de eu e Giulietta ficarmos juntos, eu estava disposto a fazer o que fosse necessário. E minha família poderia, finalmente, saber realmente onde eu estava.

Eu caminhava pela estradinha de pedras, junto com algumas pessoas, quando alguém, com pressa, esbarrou em mim. Eu olhei para cima e abri a boca, espantado.

— Se você disser o meu nome, você não falará por um longo tempo — ameaçou ele em um sussurro.

— Preciso da minha boca, muito obrigado — sussurrei de volta, sendo arrastado sutilmente para dentro. Ele sorria educadamente para as pessoas. Eu reparei no que ele estava vestindo. — Cara, eu podia ter vestido você melhor.

— Calado, James. — Ele se virou para mim. — Meu nome, hoje, não é Dimitri. Eu sou o Barão Banini, do sul da Itália.

— Barão Banini? Sério? — perguntei, quase rindo.

— Eu pesquisei, e ele realmente existe². Ou você tem algo melhor?

— Ok, Barão Banini. Vou nem perguntar o que está fazendo aqui, porque tenho uma vaga ideia. E vê se melhora esse sotaque, então. Sinto cheiro de búlgaro de longe — respondi e ele me xingou em búlgaro. — Não está ajudando.

— James, vá à merda — disse ele com sotaque em italiano.

— Melhorou — aprovei, sorrindo. Dimitri balançou a cabeça.

— Tenho que ir. Não apronte hoje, por favor.

— Não se preocupe, eu já tenho uma babá de plantão hoje. Faça o que tem que fazer. — Ele continuou me olhando. — Meu Merlin, não vou fazer nada!

— Aham, com certeza. Ciao, James — ele se afastou de mim e eu finalmente pude entrar.

Dei meu nome para o cara com uma lista flutuante e me vi no imenso hall de entrada. O piso e as escadas eram da madeira mais fina e polida que vocês podiam imaginar; o lustre ficava a mais de cinco metros de altura e as paredes de mármore tinham quadros que se moviam. Assenti e fui para onde disseram que era o salão e ele era enorme e tão imponente quanto o restante da casa.

Tinha capacidade para mais de trezentas pessoas, havia duas portas imensas de madeira, com desenhos que eu não pude distinguir; o teto era todo de vidro e eu podia ver o céu estrelado do lado de fora; Outro lustre pendurava lá em cima daquele teto. Tinha uma escada, também de mármore, por onde, eu pensava assim, os anfitriões do baile entrariam.

O salão já estava cheio, mas ainda caberiam mais pessoas ali. Em um canto, havia uma mesa gigantesca com todos os tipos de comida que você quisesse. Bandejas flutuavam o salão, com taças de champanhe e vinho que se serviam sozinhas; Pessoas com roupas elegantes dançavam na pista uma música bem agitada e da atualidade. Honestamente, assim que eu pisei naquele salão, eu estava esperando ouvir uma música da idade medieval, embora as mulheres não estivessem com vestidos daquela época.

Uma badeja flutuante passou por mim e eu pedi um suco de pêssego. A taça imediatamente encheu-se e eu a peguei. A música era bem legal e eu procurava por Giulietta por todo o lugar, me perguntando de onde ela sairia. Onde eu a veria. Eu estava ansioso para vê-la e para mostrar a família dela que eu era digno.

Várias músicas tocaram, várias taças de sucos eu tomei e várias comidas eu comi. Eu estava me divertindo, ainda que a minha ansiedade estivesse me matando. Quando ela apareceria? Vi uma sombra parar atrás de mim. Pela minha visão periférica, vi que era Paolo.

— Essa batida me lembra uma música — comentei alto, para que Paolo pudesse me ouvir.

— Qual? — ele perguntou.

— Não lembro... I think... I guess... — tentei, mas não conseguia me lembrar. Estava na ponta da língua.

— Fico contente que não tenha ido pro... Não tenha feito nenhuma besteira — disse Paolo, mas eu não ouvi nem a metade.

I’m... Não, não é isso — sussurrei e Paolo não me ouviu.

—... acho que tudo isso, não vale a pena e a família é perigosa...

I GUESS I’M FALLING FOR YOU! — gritei e ele parou, olhando-me.

— Olha, fico lisonjeado, mas achei que gostasse de mulher. E, particularmente, eu gosto de mulheres também.

— Do que você está falando? — franzi a testa. — Ah! Não! É o nome da música!

— Ah, tá — respondeu ele e nós dois começamos a rir.

Então, a música foi momentaneamente desligada. Eu olhei para Paolo e, de repente, vi que ele havia parado de rir.

— Fique aqui. Eu não irei demorar — falou e sumiu por entre os convidados. Franzi a testa novamente, estranhando seu comportamento.

Por fim, conclui que Paolo provavelmente se juntara a Dimitri na investigação e ambos deviam ter combinado algo naquela festa. Dei de ombros e esperei pelo o que estava por vir.

— Senhoras e senhores, os anfitriões da festa! — disse uma voz e eu imediatamente me animei.

Fui um pouco mais para perto da escada e olhei para cima, em expectativa.

— Apresento-lhes: Orazio Belluci e sua esposa, Giulietta!

Eu senti que ia cair, como se algo vindo de lugar-nenhum tivesse me acertado em cheio e em seguida pressionado minha cabeça até que a dor me fizesse ouvir zunidos. Olhei para cima e vi um homem, que aparentava ter uns trinta anos, com um sorriso satisfeito no rosto. Ao seu lado... eu queria tanto que fosse mentira! Giulietta estava com a expressão de quem havia acabado de levar um soco no estômago e ela olhava... para mim.

Eu dei um passo para trás, trombando em alguém, não vi quem era e não me importava com isso, só queria ir embora dali, o quanto antes. Não queria nada que fosse meu naquele lugar, principalmente a minha presença.

A sensação de ter caído num posso sem fundo voltara, exatamente como três anos atrás, mas, agora, com a sensação de ter sido enganado e usado. Aquilo não era se afogar, aquilo era morrer queimado. Ou morrer com centenas de facas nas costas. A dor, a ilusão de que ela gostava de mim… tudo foi arrancado de repente e eu vi tudo o que Dimitri e Paolo quiseram me dizer. Por que eu não dei ouvidos aos meus amigos? Por que eu preferi cair de cabeça em algo que eu não conseguia entender?

Assim que eu pisei do lado de fora, escorando-me pelas paredes, consegui respirar, mas o ar ainda não parecia o suficiente. Meus olhos ardiam e há muito eu havia deixado de reprimir lágrimas, então eu chorei e não tentei impedir. Enquanto eu ia para algum lugar daquela mansão terrível, as lágrimas caíam de meus olhos e me impediam de enxergar direito. Em meio ao choro, quase ri de escárnio com o trocadilho. Desde do início eu não enxergava direito. E ela ainda me disse. Mas ela me enganou durante todo aquele tempo. E meus amigos me disseram para eu não levar isso adiante… então, o sentimento de dor passou para raiva, assim que eu percebi que Giulietta havia me feito de idiota.

Ainda chorando, parei perto de um balanço de madeira, socando uma das astes, com raiva. Foi então que eu ouvi.

— James…

— O que foi? Veio rir da minha cara? — Perguntei e ela pareceu se encolher.

— Eu nunca riria da sua cara. Não é uma brincadeira — respondeu Giulietta. Eu ri, engolindo o choro.

— E o que foi aquilo? Você mentiu para mim! Me enganou todo aquele tempo!! Como pôde!!!? — Eu gritei e ela olhou para os lados, apreensiva.

Como uma destruidora de coração poderia parecer um anjo naquele vestido azul-claro longo, eu não conseguia entender. Conseguia entender, porém, que a raiva estava me consumindo, e que eu não queria conversar com Giulietta, eu não queria mais vê-la.

— Eu falei que não podia! Eu disse para não se aproximar! Mas você, o teimoso, não me ouviu!

Eu ri, não acreditando no que ela estava me dizendo.

— Mas você teve a oportunidade de me contar que era casada! De contar a verdade! — continuei a gritar. — Vem cá, como você fez pra esconder a aliança? — eu perguntei, inclinando-me um pouco para trás.

— James, se você me deixasse explicar... — Ela tentou me alcançar, mas eu me afastei.

— Não encosta em mim! — Ela recolheu a mão, com lágrimas nos olhos. — Eu não acredito que eu ignorei todos os meus instintos e deixei você entrar... — Eu enxuguei o rosto. — Você mentiu para mim!

— Eu falei para você! Eu tentei! Eu avisei que eu não era uma boa ideia! Mas você me escutou?

— Talvez eu tivesse escutado se você tivesse contado a verdade! — Minha voz ficou rouca por gritar mais que ela. — Mas preferiu me iludir... Me enganar... Quer saber? Fique com toda a sua riqueza, o seu marido, o Centro de Poções... Eu não quero mais nada com você. Não quero mais nada de você!

Eu voltei para os gramados, com ela me seguindo e gritando meu nome. Na saída, Dimitri me encontrou e me segurou, mas eu me desvencilhei, enquanto continuava a caminhar em passos decisivos para fora dali, sem saber exatamente para onde iria.

— James! — Ele gritou junto com Giulietta. Só que eu já estava longe e então aparatei.

(…)

Assim que eu aterrissei, vomitei tudo o que eu tinha comido e bebido no baile, que se misturou com as minhas lágrimas. Eu estava com o coração partido e enfurecido. Estava com tanta raiva que poderia explodir. A dor era tão grande, que tudo o que eu queria era gritar. E foi isso que eu fiz: gritei. Gritei o mais alto que eu pude, até não restar mais fôlego.

— O que é que está… — A voz não me era estranha, e eu soube que eu também não era estranho a pessoa quando meu nome foi sussurrado, em contraste ao grito irritado que ela começara, agora aparentava surpresa e incredulidade. — James?

Ergui a cabeça e consegui identificar o rosto de Allison na janela, a luz que vinha da própria sala era o que a iluminava, mas eu não saberia dizer como ela me reconheceu. Seu cabelo estava diferente.

— James, é você? Você… o que está fazendo aqui? Você tá bem? — Ela aparentava estar transtornada, mas eu também não estava no meu melhor.

— Deixa... Deixa eu subir? — Foi tudo o que consegui dizer, com a voz rouca e garganta doendo, não achava que já havia gritado tanto na minha vida quanto nos últimos minutos.

Ela me encarou por vários segundos, antes de concordar. Allison sumiu da janela e reapareceu no beco onde eu estava não muito tempo depois. Pelo barulho que ela fizera ao me ver pelo brilho de sua lanterna, eu conclui que devia estar no brilho, só que não. Mais um para a conta de Giulietta: ela afetara minha aparência.

— Vem, sobe — ela apenas disse e fez seu caminho até a entrada do prédio, trajeto que eu conhecia bem. Não tardei a me levantar e ir atrás dela.

Eu ainda não havia conseguido parar de chorar. Não estava conseguindo parar a dor que eu sentia em meu peito. Allison abriu a porta de seu apartamento e eu entrei. Sentei-me na cadeira que um dia dividira com ela, ainda sentindo as lágrimas rolarem por meu rosto.

Eu estava com raiva, com dor, triste. E não consegui soltar uma palavra, pois era capaz de eu descontar nela também e eu não queria isso. Allison buscou um copo de água e me entregou; depois, encostou-se na parede e cruzou os braços, esperando que eu me acalmasse. Eu bebi a água, mas não conseguia parar de chorar. Eu não conseguia parar, pois me lembrava outra vez daquela cena na Itália.

Perdendo a paciência, Allison suspirou e veio até a mim.

— Você está bêbado? — Perguntou com certa agressividade, chegando perto o suficiente e aspirando, buscando algum resquício de álcool.

— Não —  respondi em meio aos soluços.

— Ok... — Ela voltou a se afastar. — Então por que não toma banho e eu te arrumo umas roupas limpas? — Eu assenti e me levantei. — Vou colocar essas para lavar, deveria jogar fora, mas parece que foi caro. Não garanto que seque rápido, não sou bruxa, afinal.

— Pode queimar — falei e me encaminhei para o banheiro, sem olhar para aquilo. Allison não respondeu.

Ao terminar o banho, só o que me restara foi a raiva que eu estava sentindo. Aquele sentimento borbulhava como um caldeirão para poções. Vesti a roupa que Allison colocara em cima da pia e saí. Encontrei-a sentada no sofá.

— Pensei que não restaria nada meu aqui — disse, sem lágrimas nos olhos.

— Não são suas. — Ela pontuou de forma ríspida e eu assenti, fazia sentido.

— Obrigado. — Ela concordou.

Ficamos sentados em silêncio por alguns minutos, até que Allison virou-se para mim.

— Explique-se.

— Tudo bem.

Então eu contei sobre o intercâmbio, sobre quando eu vira Giulietta pela primeira vez, a faculdade, o Centro de poções até chegar ao que acontecera naquela noite. Allison ouviu tudo pacientemente e sem me interromper. Quando terminei, ela ficou me olhando por um tempo.

— Sabe... — ela finalmente disse. — Quando eu vi você pela primeira vez, eu senti algo que eu só vira nos livros que eu lia quando pequena. Você, todo lindo, andando pela rua… Você me distraiu, por isso eu joguei café em você… Você foi de tirar o fôlego. — A cada palavra dita, eu me surpreendia ainda mais. — Eu amava você de verdade, James. Tudo o que eu fiz e falei, foi puro. — Eu gostaria de não querer chorar naquele momento. — Mas existia uma outra pessoa, e ela gostava de você e te amava tanto quanto eu. Viramos amigas, obrigada por isso, a propósito. Mas o meu amor… ele não significava nada para você não é mesmo? Nem o de Holly. Você me enganou, enganou ela. E nem nos deu uma explicação. — Allison me olhou. — O que acha que aconteceu esta noite, James? Você se ouviu quando falou agora? Não acha que está sendo hipócrita demais? Agora você sabe o que eu e Holly sentimos. — Ela riu, mas não era um riso de algo engraçado, era algo mais amargurado. — Eu chamaria isso de carma. Tudo que você faz, volta para você. Você enganou a mim e Holly, agora foi enganado. Eu só acho engraçado que tenha vindo chorar no meu ombro, você deveria ter ido chorar no ombro do marido dela, você sabe, como Holly e eu tivemos que fazer. — Agora tinha certo humor na frase.

Eu a olhei e não sabia o que fazer. Se eu estava mal, naquele momento eu fiquei péssimo. Eu entendi o que ela quis dizer. Eu finalmemte entendi. E, cara, como eu pude ser tão... Babaca? Como eu pude fazer aquilo com ela? E com Holly? Quando tudo o que fizeram foi me ceder seus corações. E o que eu fiz? Pisei neles. E o pior: eu nem notei. Estava tão concentrado em minha própria dor, que esquecera que elas eram seres humanos também. Ou… eu estava tão focado em não pensar em nada, que nem mesmo me importei.

Lágrimas escorreram novamente pelo meu rosto. Eu olhava para Allison, mas percebi que eu não a magoava mais, ela parecia apenas querer uma explicação. Ou, no momento, acho que ela estava satisfeita com o lance do carma. Eu me arrependia por cada dor que elas sentiram. E me arrependia por não ter dado uma chance à Giulietta de se explicar. Não que uma coisa anulasse a outra, mas se eu tivesse conversado com elas ao invés de apenas fugir… Suspirei, notando que fugir era tudo o que eu fazia nos últimos anos, abandonando meus problemas e correndo deles o mais longe que conseguia. Não importava se teria que ir a Austrália ou a Bulgária para isso. Que ótimo grifano eu estava sendo. Godric deveria estar orgulhoso.

— Eu... sinto... tanto, Allison — falei, com todo o meu coração. — Eu fui egoísta em pensar na minha própria dor... Não tem... Eu sei que nada do que eu disser vai melhorar, mas eu realmente me arrependo. E me arrependo ainda mais por não ter notado isso antes.

Ela respirou fundo, então eu notei que ela parecia ter lágrimas nos olhos, mas olhou para cima e ao tornar a me encarar estas não estavam mais lá.

— Eu... — Ela engoliu a saliva. — Eu superei. Dói lembrar e é pior vendo você, mas eu aceito suas desculpas. Pelo menos isso foi sincero. Eu sempre soube que você era uma pessoa incrível, James. Mas sempre senti que não deixava ninguém ver.

— Sinto muito.

— Não sinta. O que nós passamos pode doer, mas aprendemos com ele.

— Obrigado, Allison.

Ela assentiu e voltamos a ficar em silêncio. Eu podia pensar com clareza agora. Como eu pude ser estúpido tantas vezes?

— Allison — chamei.

— O quê?

— Posso dormir aqui essa noite? Não quero voltar para lá agora — falei e ela me olhou. — Eu não quero dormir com você. Ficarei na sala. Quieto.

— Tudo bem — respondeu depois de algum tempo. — Vou pegar uns travesseiros para você.

Eu assenti e ela se levantou. Eu a observei ir até o quarto e voltar com as roupas de cama. Eu arrumei o sofá, enquanto Allison me olhava com as mãos na cintura.

— Tenha uma boa noite, James.

— Boa noite, Alli.

(…)

— Bom dia, Allison — eu acordei e ela já estava de pé.

— Oi, James. Fiz o café. — Ela respondeu, se virando para mim. Eu acenei com a varinha e as roupas de cama foram dobradas perfeitamente. Fui até ela e sentei-me à mesa. Allison puxou uma cadeira e ficou observando as roupas dobradas.

— Sabe, você ficou me devendo uma magia — ela disse.

— Desculpe.

— Tudo bem. Sente-se melhor?

— Não — respondi, dando meia risada. Allison me acompanhou.

— Imaginei. — Ela fez uma pausa. — Come, vai se sentir melhor. Sabe que eu gosto de cozinhar para as pessoas. — Eu assenti, com um sorriso.

— E a sua faculdade? — Perguntei antes de beliscar um pouco do brioche e, deuses, eu havia esquecido como ela era boa cozinheira. Ela sorriu com a pergunta, pude ver o brilho em seus olhos.

— Me formei, ano passado. — Parecia estar orgulhosa.

— Achei que iria voltar aos Estados Unidos depois disso… — Comentei e ela ergueu os ombros.

— Aconteceram… coisas… — Comentou, querendo manter um tom de mistério, mas não resistindo e sentando-se com pressa na mesa, exibindo-me a mão direita.

— Você está noiva? — Perguntei, com a boca cheia de comida, surpreso, enquanto encarava o anel.

— Sim! Ele me pediu no dia da minha formatura, e eu tinha conseguido um ótimo emprego em um bristol e… eu estou ganhando tanta experiência! Vamos nos casar no outono e eu espero poder abrir o meu próprio restaurante na primavera. — Ela estava brilhando, eu sorri, olhando mais uma vez para o anel de diamante no dedo anelar. Não era nada exagerado, era simples e delicado… assim como Allison.

— Isso é… ótimo! — Conclui contente por vê-la feliz. — Alli, é maravilhoso… Eu… eu realmente estou feliz por você. Espero que ele te mereça.

— Ele merece. — Garantiu e eu sorri.

— E Holly? — Perguntei e Allison me encarou com uma cara que dizia “Apenas você é capaz de perguntar sobre uma mulher para a outra e fazer isso parecer casual”. — A última notícia que tive dela foi em uma carta que ela desejava minha morte. Eu quase realizei esse pedido… — Comentei baixo a última parte, Allison suspirou.

— Ela está ótima. Não a vejo já há um tempo, ela mudou para a Inglaterra, foi promovida e trabalha com alguém importante agora. Berry, Jerry... eu não lembro… Larry? — Eu engasguei com o café e Allison me encarou. — Porter. Larry Porter. — Concluiu contente com sua memória e eu tossi mais algumas vezes.

— Harry Potter. — Corrigi e ela deu de ombros, indiferente.

— Não é como se ele fosse o Barack Obama e todo mundo o conhecesse, ele é famoso no seu mundo. — Justificou-se e eu assenti.

— Bom… para ela… eu acho. — Mencionei indo atrás de um copo d’água para me recuperar. Minha ex-namorada estava trabalhando para meu pai e… estava ok.

— Ande logo, James, eu tenho que trabalhar. — Me apressou, servindo-se de mais uma xícara de café.

Nós terminamos o café rapidamente e nos levantamos. Eu a olhei e ela fez o mesmo. Queria sentir o que ela sentiu quando namoramos. Arrependia-me de tê-la magoado, mas não por ter passado semanas em sua companhia. Eu poderia ter sido feliz com ela. Ou até mesmo com Holly.

— Obrigado por me deixar ficar. E por me fazer enxergar que eu sempre estive errado.

— Eu te... Perdoo, James. E espero que não cometa o mesmo erro duas vezes.

— Pode deixar.

— Eu falo sério, James. Holly e eu gostaríamos de uma explicação, talvez tivesse doído menos na época… Existem muitas maneiras de se cometer um mesmo erro. Se ela quer se explicar… — Ela suspirou. Eu a olhei e assenti.

— Gostei do cabelo curto. Combina com você.

— Não me elogie, James! — Ela me repreendeu, mas riu. — Obrigada. E Boa sorte, James.

— Um dia a gente se vê.

Allison deu de ombros e eu pisquei, aparatando logo em seguida.

(...)

— Onde é que você estava? — Perguntou Dimitri assim que eu pisei na república. — Você mudou de roupa?

— Fui na casa de uma... Antiga amiga, se é que eu posso chamá-la assim — respondi.

— Amiga? — Ele ergueu umas das sobrancelhas. Eu assenti, seguindo para o meu quarto.

Dimitri me seguiu de perto, um tanto cauteloso. Estranhei por ele não estar me fazendo mais interrogações, mas não falei nada. Concluí que eu estava com a aparência muito melhor do que da noite passada. Antes de abrir a porta, Dimitri segurou meu braço.

— Ela está aí desde ontem à noite.

Eu o olhei e abri a porta, encontrando Giulietta sentada em minha cama com o mesmo vestido de ontem eos olhos inchados. Talvez os meus estivessem do mesmo jeito.

Eu fiquei em silêncio, apenas olhando-a. Eu não estava mais com raiva. Naquele momento, eu só queria a verdade, o conselho de Allison permanecia fresco em minha mente.

— Eu vou deixar vocês sozinhos. — Dimitri avisou e eu assenti, não havia nada que ela fosse me falar que ele provavelmente não soubesse.

Entrei no quarto e fechei a porta, encarando-a. Giulietta tinha a maquiagem borrada e lágrimas ainda escorriam pelo rosto. Fechei a porta e enfeiticei o quarto para que ninguém ouvisse.

— James…

— Direto ao ponto, Giulietta. — Cortei e ela engoliu em seco, olhando para as próprias mãos. Notei uma lágrima caindo de seus olhos para seu vestido.

— Meu pai…

— Você já pode se referir a ele como Marido, todo mundo já sabe… — A interrompi, ríspido.

Giulietta me encarou e então se levantou, dando dois passos em minha direção e encarando-me nos olhos.

— Eu vim aqui, arriscando… tanto… para poder me explicar. Para tentar… James… Eu… — Ela fechou os olhos, respirando fundo. — Se você não quiser me ouvir, você tem o seu direito, apesar de que te deixar pensar isso de mim quebra meu coração. Mas, se você quiser, mesmo que por curiosidade, ouvir o que eu tenho a dizer, você vai ter que me deixar falar. — Disse e, mesmo por baixo do choro, sua voz era decidida.

Giulietta me encarou, esperando um ultimato. E então eu respirei fundo. Ela fazia tanta questão que eu me interessara mais em como aquilo podia ser explicado. Assim sendo, caminhei até a cadeira e sentei, encarando-a, indicando com a mão que ela devia continuar. Giulietta tornou a se sentar na cama.

— Meu pai é um homem… preconceituoso. E tão… — Ela balançou a cabeça. — Abusivo e … mandão. — Ela não me olhava mais, mas encarava o rodapé da parede. — Ele sempre agiu como se controlasse todo o mundo, todos faziam tudo que ele queria. Menos eu. A única garota e tão… rebelde. Eu o deixava louco. — Ela riu secamente. — Ele não gostava disso. Nem um pouquinho. Um dia eu levei uma amiga para casa. Ela era mestiça, a menina mais doce do universo. — Ela enxugou bruscamente uma lágrima que escorrera. — Ele foi horrível com ela e me bateu. Eu não sabia o que fazer, não existiam palavras para me desculpar… Ele dizia que eu era um problema para ele. Que eu precisava aprender a me comportar… Mamãe não podia fazer nada, ela… ela não podia. Então ele deu um jeito de se livrar de mim, porque eu não me importava com os tapas, os métodos de educação que ele usara em meus irmãos não funcionavam comigo então… Ele se livrou de mim. — O olhar dela estava distante enquanto falava, e, apesar de toda a raiva e angústia, enquanto ela contava aquilo, senti vontade de abraçá-la, mas me contive. — A pureza sanguínea é algo que ele preza. — Disse com desgosto. — E ele fazia negócios com os Bellucci desde muito antes de eu nascer. Decidiu, então, que eu passaria de problema a negócio.

Continuei a encarando. Ainda estava irritado e isso me fazia ter vontade de falá-la para andar logo aquilo, mas eu havia indicado que a deixaria falar, então esperei.

— Ele negociou com Orazio que eu casaria com ele. Isso já tem cinco anos, eu tinha apenas 18… — Ela balançou a cabeça. — Deus… eu o odiei desde o primeiro dia. Ele me tratava… me trata como… como se eu fosse uma especiaria que ele conseguiu por muito dinheiro. Ele adora me exibir por aí, mostrando para todo mundo sua perfeita esposa, mas… mas eu o odeio. E ele sabe. Mas ele não se importa. Ele… Orazio é um homem que vive de aparências. Ele é horrível… um… — Ela respirou fundo, sua mão acariciou inconscientemente seu braço, o mesmo local aonde as marcas de machucado estavam da última vez que nos encontramos. — Mas ele não se importa com nada, desde que todos pensem em como ele é perfeito, e como possui a família perfeita. Nunca consegui me livrar, não importava o quanto eu tentasse, ele fez de mim uma prisioneira. Mas aí você apareceu. — Giulietta ergueu a cabeça, seus olhos, antes perdidos, pareceram me encontrar. Lágrimas rolaram por eles e ela soluçou.

“Você apareceu e dançava tão terrivelmente que era adorável. — Ela riu. — E depois aquela cantada horrível de Romeu… — Revirou os olhos úmidos. — Eu quis tanto poder passar a tarde com você, fazendo citações de Shakespeare e rindo. Mas eu nunca pude. Meus… guardas apareceram logo, e eu tive que ir, certa de que nunca mais veria o menino que dançava mal. — Confesso que fiquei um tanto quanto ofendido nessa parte. — Mas você voltou. Eu estava no ambiente de Orazio, resolvendo os problemas dele, com quatro guardas atrás de mim e… você estava lá. E você, louco, sem saber da verdade, comigo. Você não fazia ideia… — Ela balançou a cabeça. — De alguma forma, sua loucura passou pra mim e… eu queria te ver, queria falar com você. Mas eu não podia. E eu sabia disso. Eu sabia! Era insano e… perigoso. Mais para mim do que para você, mas com certeza para você também. Isso tinha que parar então… Eu tive que dar um jeito para fazer com que você não me procurasse mais. Então eu procurei Margaretta e pedi ajuda, e ela… ela tem ótimas ideias. Quando eu estava pronta, saindo para tentar te encontrar, eu reparei que não queria fazer aquilo. Eu não sei o que aconteceu comigo James, mas você me encantou, as poucas vezes que nos vemos…. Eu queria poder ver mais, queria poder conversar com você…

“Mas eu tinha que fazer o certo. Então eu fui. E eu te avisei que deveria ficar longe e não falar comigo. Mas antes de ir eu joguei minha única carta na manga. E enquanto eu torcia para que você não notasse eu queria tanto que você visse… — Ela sorriu. — Sua carta veio na segunda, você não faz ideia do tanto de história eu tive que inventar para que conseguisse ir naquela empresa com a frequência que estava indo e… Eu vi esperança. Eu devia te contar, devia falar, mas você tinha ressuscitado Romeu, e naquele momento aquilo me pareceu mais importante. Eu me apaixonei por você, James. Mesmo sabendo que era errado, que eu não devia e que você merecia a verdade. Eu me apaixonei, e vi em você todo o amor e toda a liberdade dos quais eu fui privada. — Ela enxugou as lágrimas e se levantou. — Eu sei que pode não ser o suficiente, que você não tem nada a ver com a minha vida de merda e que eu não tinha o direito de te usar para esquecer os meus problemas. — Parecia um soco no estômago. — E eu sinto muito por isso. — Ela não conseguia controlar as lágrimas, por mais que tentasse. — Eu sei que a culpa é minha, que eu podia ter evitado todo esse sofrimento, mas eu apenas não consegui. Eu me agarrei ao único resquício de felicidade que tive em anos, eu fui egoísta e eu sinto muito James, de verdade. Eu não queria ter te causado problemas. Mas eu quero que você saiba, que apesar de tudo, eu amo você. E independente do que aconteça agora, eu sou grata por ter, mesmo que por pouco tempo, me dado um motivo para ser feliz.”

Ela tentou sorrir, mas um soluço a impediu disso, e Giulietta virou a cara, caminhando em direção à porta. As palavras, a história, tudo que ela dissera ainda estava sendo processado em minha mente. Parecera muita informação de uma só vez, mas, enquanto eu ainda tentava entender tudo, notei que minha mão segurava seu braço, impendindo-a de ir embora. Giulietta primeiro olhou para minha mão e então me encarou, tomando ar. Seus olhos pediam para que eu dissesse algo.

— Eu… Você… — Respirei fundo. Ela tinha dito que me amava, mas odiava o próprio marido. Minha mão subiu por seu braço, até onde os machucados estavam. — Foi ele? — Perguntei.

— Não… não dói mais. Há muito tempo, parou de doer. — Seu olhar dizia o contrário. — É só uma forma de ele me mostrar que eu casei com uma versão do meu próprio pai. — Entre o riso forçado, ela chorou, e eu a puxei para perto, apertando-a em meu abraço.

— Eu sinto muito. — Pedi e ela balançou a cabeça em negativa.

— Sou eu quem tenho que me desculpar.

— Não! Não… eu… eu te julguei, não te dei chances para se explicar e… você não merece isso Giulietta. Eu disse que eu não deixaria aquilo voltar acontecer com você e eu… não vou!

— Você não pode! — Ela parecia desesperada. — Entenda. Eu não me importo com o que acontecer comigo, eu sabia de todos os riscos, mas eu jamais me perdoaria se algo acontecesse com você… de novo! Um dos capangas dele já te bateu James. Eu não poderia me perdoar e… ele é poderoso, influente e agressivo. Não há nada que possamos fazer. — Seus olhos somavam a seu tom para indicar o quão desesperada ela estava.

— Fuja comigo. — Falei e ela me encarou. — Fuja comigo Giulietta, ele não deve ter tanta influência assim e… eu te garanto que consigo a influência necessária para manter-nos salvos e vivos. Fuja comigo. Minhas aulas acabam essa semana, irei com o intercâmbio para a Grécia no sábado. Fuja comigo e vamos recomeçar nossa história do zero, em um país sem Orazios ou capangas. Podemos ser felizes. Venha comigo e eu juro que ele nunca mais irá encostar um dedo em você. — Eu a encarava nos olhos e minhas mãos seguravam as suas como se eu dependesse delas para continuar de pé. Vi um brilho no olhar de Giulietta e então ela riu, entre todas as lágrimas, o primeiro riso sincero do dia.

— Diga-me onde. — Disse e eu a puxei para perto, a beijando.

— Na loja de ervas. Onde nos encontramos antes de ir para a cabana pela primeira vez. Às sete da manhã.

— Estarei lá. — Prometeu, aparentava agora estar leve.

— Só aguente mais uma semana. — Pedi e ela concordou, mas agora, assim como Allison pela manhã contando sobre o trabalho e noivo, ela brilhava. — E seremos felizes e loucos juntos.

(...)

Os dias que se passaram foram mais leves para mim. Giulietta não havia aparecido no Centro de Poções e eu a entendia agora. Depois do que ela me contara, depois que eu digerira tudo o que ela dissera... eu sentia nojo e ódio do homem que o pai dela a fizera casar. Aquilo era tão errado de um nível tão grande, que tudo o que eu sentia era vontade de bater nele até que ele mal pudesse respirar.

No meio disso tudo, eu recebera uma carta da minha cara de pimenta. Eu estive tão ocupado e transtornado que nem pude ler o que minha mãe me escrevera. Eu acho que estava muito abalado emocionalmente, porque eu realmente chorei ao ler sua carta. E eu me senti tão... mal e com saudades, que eu, finalmente, lhe mandei “Eu estou bem. Te amo” e coloquei a fita verde em sua carta.

As notas da faculdade saíram e todos estavam apreensivos. Por mais que eu fosse maravilhoso, tudo aquilo acabava com a nossa sanidade. Para ser um professor que fosse aceito para trabalhar em Hogwarts, eu teria de sofrer. Esse era o preço.

E, por mais que minha vida pessoal estivesse a maior bagunça, minha notas estavam impecáveis. Claro, que em algumas coisas eu havia ido mal, mas no geral, eu conseguira passar com dignidade. Passar com aquelas notas... eu queria muito contar para Giulietta assim que eu a visse sábado.

No estágio, eu também me saíra bem. Dois dias antes de sábado, o senhor Pausini me chamara em seu escritório.

— Senhor Potter! — exclamou assim que eu entrei. — Sente-se, ragazzo.

Eu assenti e sentei-me na cadeira de frente para sua mesa.

— Eu vi suas notas, meu ragazzo. E elas estão ótimas.

— Eu me empenhei bastante senhor. — Repondi, um tanto nervoso.

— Eu sei. E eu vi isso aqui também. — Ele deu um sorriso de satisfação. — O seu progresso, tanto quanto com a sua poção, como com as outras, foi realmente satisfatório. Sinceramente, eu achei que você seria um problema — então ele não sabia nem da metade —, mas você acabou se mostrando melhor do que eu podia imaginar. Li seus relatórios e eles são úteis e bons. Portanto, lhe fiz uma carta de recomendação, que valerá para qualquer estabelecimento que lide com poções. Sabe, eu sou bastante influenciável.

Eu estava boquiaberto. Pensei que ele soubesse de tudo o que eu passara naquele lugar, principalmente por causa de Giulietta. Àquela altura eu imaginara que Orazio Belluci queria minha cabeça cortada ali. Entretanto, eu sabia que o senhor Pausini não era um homem que era mandado, nem sob ameaças. Ele mandava. Jamais deixaria ninguém lhe dizer o que fazer.

— Eu... eu não sei o que dizer... Quero dizer... obrigado. — Eu ri, nervoso porém feliz.

— Você mereceu, ragazzo.

— Mais uma vez, obrigado. — Ele assentiu, dando um sorriso, e apertou minha mão. Saí de lá na expectativa para que chegasse sábado e eu pudesse contar tudo para Giulietta.

Na sexta, Dimitri me contou que continuaria na Itália por mais algum tempo. Sua missão ainda não terminara e ele precisava achar o chefe dos mafiosos (pois descobriu-se que o tráfico ocorria através de uma máfia) e sua sede. Eu gostaria que ele viesse comigo em todos os países que o intercâmbio passasse, mas tinha ciência de que, quando ele pegasse o culpado, voltaria para Bulgária e só Merlin sabia quando eu o veria novamente.

Assim que sábado chegou, acordei mais cedo do que todos. Sabia que como mais da metade do pessoal do intercâmbio estava república teríamos que nos encontrar perto dali, para pegar a chave de portal às oito da noite. Eu combinara com Giulietta às sete da manhã, então teríamos tempo.

Na saída, esbarrei com Paolo.

— Vim me despedir. — Ele disse, abrindo os braços. Sorri e fui até ele, abraçando-o.

— Obrigado pelas conversas cara… — Agradeci e ele deu tapinhas nas minhas costas.

— Foi um prazer passar o tempo com o cover do Jason.

— Eu realmente preciso conhecer esse cara. Até Giulietta… — Comentei e então Paolo me encarou.

— Você descobriu tudo, não é?

— Sim.

— E você vai se encontrar com ela agora, não vai?

— Na verdade… — Caminhei para um canto da sala com menos pessoas. — Ela vai comigo. — Respondi, olhando-o.

— Oh James… — Paolo respirou fundo, parecendo desistir do que pretendia dizer. — Bem, você não terá mais Dimitri e eu de guarda-costas. Então tenha cuidado, ele é um homem perigoso. — Avisou e eu assenti. — Mas eu não vim aqui apenas para lhe dar um abraço. — Avisou. — Bem, não sei se agora que você está acompanhado vai ser muito útil, mas nunca se sabe… Enfim, eu tenho um conhecido na Grécia, ele foi meu auror-mentor na minha primeira missão de campo, ele trabalhava na Uganda, onde eu me formei e… enfim. Ele já se aposentou, hoje tem um boticário que vende ingredientes para poções e uma família grande. Descobri que a família dele será uma das que irá recepcionar os intercambistas e… bem. Você sabe, para sua poção… é bom ter contatos. — Eu sorri. — Ele se chama Héktor Michaelides, se for o ver, mande lembranças minhas.

— Você é um guarda-costas tão dedicado! — Brinquei, dando-lhe outro abraço. Ele riu, afastando-se.

— Você nem imagina. Agora vá, você tem uma lady a ser resgatada ou qualquer coisa assim. — Incentivou e então eu fui.

Cheguei no local dez minutos antes do horário marcado. Aproveitei o tempo disponível para comprar flores de uma senhora na rua. Lembrei-me da vez que Viola me dissera os significados das flores, e fiquei feliz ao saber que a senhorinha sabia me explicar que o lírio-do-vale significava a volta da felicidade, novos começos. Com um grande e largo sorriso, comprei um buquê destes e fui a meu posto, esperar por Giulietta.

A loja estava fechada, então permaneci do lado de fora, com o buquê em mãos e uma felicidade que mal me cabia. E era bom. Talvez eu tivesse me esquecido daquilo, o sentimento de amar e ser amado. Fazia tempo, afinal. Mas, como os lírios em minhas mãos indicavam, agora eu teria um novo começo, assim como Giulietta. Uma etapa mais feliz de nossas vidas. O intercâmbio terminaria em três anos. Na verdade, as matérias obrigatórias para a formação de um estudioso de poções tinham acabado na Itália, porém, a trajetória passaria por mais três países, aprofundando-se nos estudos da arte. Assim, alguns colegas se despediriam — Como Ian, que afirmou que havia assuntos na Itália que gostaria de resolver e que tinha chegado ao fim de sua jornada pela Europa. — Mas outros, como Guadalluppe, tinham muitas coisas para ver.

Minha poção ainda estava em desenvolvimento, eu pretendia, antes de voltar para a casa, terminá-la. Apesar da saudade de meus amigos e familiares, eu começara a gostar do rumo que minha vida estava tomando. Sem estar na sombra de meu pai e sem nenhum tipo de fantasma, a cada dia eu me descobria mais como homem e evoluía como ser humano. Assim, apesar de todos os pesares, estava disposto a terminar aquilo antes de voltar.

Contaria naquela noite minha verdadeira identidade para Giulietta. Assim que estivéssemos seguros em solo grego. E esperava que ela me entendesse, apesar de sentir que ela entenderia. Mas isso não chegou a acontecer. Porque o tempo passou. E os lírios começaram a ficar amassados. O dono da loja chegou e esta se abriu, horas depois, ele foi embora, fechando-a. Junto com o comerciante, o Sol e a senhora das flores sumiram. Logo não havia ninguém na rua além de mim, um jovem com um buquê de flores murchas em mãos. O apito de meu relógio avisou-me que faltavam cinco minutos para as oito. E Giulietta ainda não tinha chegado.

Meu coração se apertou. Por quê ela ainda não tinha chegado? Algo teria acontecido, ela não me abandonaria assim… faria? Não queria acreditar nisso. Ela me prometera. E tinha Margaretta. Ela estava bem. Ela disse que viria, então logo apareceria. Só estava um pouco atrasada. Mesmo que horas tivessem se passado, comigo parado no mesmo lugar. O vento primaveril soprou, meu relógio indicava apenas dois minutos para às oito. Eu não poderia me atrasar, do contrário perderia o grupo, eu nem sabia como ir para a Grécia e onde eles estariam. Não podia ir depois. Um minuto. Uma corredora passou pela rua, me enchendo de súbita esperança, que foi embora junto a ela, virando a esquina. Trinta segundos. Minha garganta ardia.

As flores caíram no chão e eu aparatei.


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Notas finais do capítulo

O mundo dá voltas, não é mesmo? Aposto que vocês achavam que tudo daria certo agora, James e Giulietta fugiriam e seriam felizes para sempre. Mas... é, ainda vai demorar um pouquinho para essa fic chegar ao final. E não odeiem Giulietta, ela tem muito a contar/explicar ainda e vocês poderão ouvir/ler a versão dela da história em breve (não tão breve) na nossa página no facebook, então dêem uma passadinha lá, estamos sempre postando umas coisinhas para estar em contato o máximo de tempo possível com vocês. O que acharam desse capítulo huh? Surpreenderam-se? E o que acharam da Allison surgindo e dando um puxão de orelha no James? Let me know! COntem-me todas as suas teorias mirabolantes porque eu AMO lê-las
/Lia G.