As Mulheres de James Sirius Potter escrita por Lia Galvão, Miss Stilinski


Capítulo 16
Allison McBee & Holly Tricckle


Notas iniciais do capítulo

OI MEUS AMORES LINDOS DA MINHA VIDA. Vai ter capítulo de presente de feriadão? Vai sim. Demoramos pra postar? Um pouco, talvez, mas a vida anda corrida, estamos dando o nosso melhor e correr o quanto antes com os capítulos, não nos abandonem. Então, eu tenho tanto para vos falar. Uma das coisas é: acho que ainda não respondi todos os reviews do capítulo anterior, se isso aconteceu, perdão! Responderei em breve! Segundo: Mês que vem, dia 12, a fic completa 1 aninho *oooo* Vai ter surpresa? Slá, talvez, se essa autora sem vergonha que vos fala tiver passado de semestre, quem sabe? Terceiro: O último capítulo foi o capítulo com mais comentários da fic toda e, assim, eu surtei um pouco, talvez muito. Muitos fantasminhas surgiram, leitoras novas apareceram e eu só tenho a agradecer muito, MUITO MESMO! a todas vocês por todo carinho e apoio que vêm nos dado desde o comecinho dessa fic. Um agradecimento especial pelos 150 reviews, vocês são demais e, ok, calei a boca, podem ir ler. ~Lia/Vic.

Heeey, hermosas e hermosos - eu não sei hahah. Finalmente postamos o/ estamos SUPER contentes sobre os 150 comentários! Vocês são DEMAIS! E, como Lia/Vic disse, eu ainda não respondi todos os comentários, mas eu responderei ;) Esperamos que gostem desse capítulo, onde James vacila pra caramba. E, realmente, mês que vem a fic faz um ano! É muita emoção e amor envolvidos.
Bem, agora deixarei vocês lerem em paz kkkk
~Miss Stilinski



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Austrália, 2022

O barulho de um vidro se quebrando fez eu abrir os olhos e levantar, assustado. Os resmungos e xingamentos não estavam longe dali e logo uma cabeça aparecia no meu campo de visão.

— James! Eu sinto muito meu amor, não queria te acordar. — Desculpou-se, não me dando atenção por muito tempo e sumindo pela porta.

Pisquei algumas vezes e bati a cabeça contra o travesseiro, suspirando. Não muito tempo depois ela voltava para o quarto, ergui a cabeça e a observei enquanto varria o que quer que tivesse quebrado, ainda resmungando, e dei um breve sorriso.

— Está muito cedo para você estar nervosa assim. — Conclui e então ela parou os próprios movimentos, me encarando e então suspirando.

— Eu tenho uma prova importantíssima hoje e eu vou acabar explodindo se esse dia não acabar logo. — Disse em resposta, com um certo tom de manha na voz e eu alarguei o sorriso, decidindo me levantar e então indo até ela, tirando a vassoura de suas mãos e a segurando pela nuca.

— Você vai detonar com eles. — Afirmei, puxando seu rosto para perto do meu e aproximando nossos lábios.

— Você ainda não escovou os dentes. — Ela disse, desviando bem a tempo e beijando a ponta do meu nariz, eu ri.

— Isso é porque eu estava dormindo e são apenas.. — Parei minha fala para inclinar o corpo um pouco para a direita, afim de enxergar o relógio. — Nove horas! Putaquepariu Allison, por que você não me acordou? — Perguntei, mais acordado do que estava três minutos atrás e a soltando.

— Porque você não me pediu para te acordar. E você fica tão fofo dormindo. — Na última frase ela fez a voz que costumava fazer para se comunicar com bebês. — Cuidado com o … caco de vidro. — Suspirou ao mesmo tempo que eu gritava mais três variações de palavrões ao pisar no vidro quebrado com os pés descalços.

Ela suspirou e então mexeu na cômoda ao seu lado, voltando para mim sem demora e me empurrando para a cama.

— Amor, eu adoraria, mas agora realmente não é uma boa hora. — Disse, ainda sentindo o incômodo do caco de vidro e ela bufou, erguendo uma pinça e então puxando meu pé para perto. — O que você vai fazer? — Perguntei esganiçado.

— Fica quieto com esse pé! — Ela pediu, batendo em minha perna. — Eu vou tirar o vidro, vou ter que te amarrar nessa cama? — Indagou e meus olhos se arregalaram. — Você fica lindo agindo como uma criancinha. Agora feche os olhos e morda um travesseiro. — Aconselhou e assim eu o fiz.

Puxei o travesseiro mais próximo e o segurei com toda minha força, aquilo não deveria estar parecendo nem um pouco másculo mas eu nunca tive problemas com cacos de vidro e muito menos pinças, algumas coisas trouxas eram realmente assustadoras. Esperei pacientemente pela dor e por uma provável amputação e então, nem mesmo um minuto depois, ouvi o barulho da vassoura se arrastando pelo chão.

— Hey! Você não vai tirar isso aqui não? — Perguntei ao abrir os olhos novamente e ver que ela tinha voltado a varrer.

— Eu já tirei, James. Quanto escândalo para essa hora da manhã. — Resmungou e a menção ao horário me fez lembrar que eu chegaria atrasado se não me arrumasse logo.

Pulei da cama mais uma vez, desta tendo o cuidado de passar longe do vidro e peguei minha roupa jogada no chão, vestindo a bermuda enquanto caminhava na direção do banheiro.

— Amor, aonde…?

— Dentro do armário. — Gritou do quarto e eu abri o lugar indicado, encontrando minha escova de dentes e encarando o relógio mais uma vez enquanto colocava a pasta dental nela.

Sete minutos foi o tempo que eu levei para me arrumar e ainda conseguira lavar meu pé, eu devia entrar para aquele livro, Guiness? Alguma coisa assim. Apareci na sala bagunçando os cabelos e vi Allison sentada na mesa, folheando o jornal enquanto mordiscava um pedaço de biscoito.

— Aonde está a…

— Em cima do sofá. — Informou e eu caminhei até lá, puxando minha mochila para perto e então caminhando até ela.

— Já disse que te amo hoje? — Perguntei roubando-lhe um beijo antes que ela tivesse tempo para fugir disso.

— Não, é sempre bom ouvir. — Respondeu sorrindo assim que eu lhe soltei.

— Você está cheirosa… — Comentei, a analisando.

— Gostou? É o perfume que você me deu de aniversário. — Informou, contente por eu ter comentado.

— Devo me preocupar? — Perguntei sério e ela riu.

— É, como se eu tivesse olhos para qualquer um além de você. — Sorriu e então me puxou para perto, selando nossos lábios outra vez mas não demorando muito. — Você volta hoje? — Perguntou me acompanhando com os olhos enquanto eu caminhava para a porta.

— Que dia é hoje?

— 04.

— Eu te ligo. — Avisei e então deixei o apartamento.

Suspirei assim que a porta se fechou atrás de mim e então abri minha mochila, o primeiro item que peguei foi meu perfume e o espirrei no ar acima de mim. Logo em seguida, puxei a varinha do que o vendedor chamou de fundo falso, trouxas eram mais incríveis do que eu imaginava, e então desaparatei.

Minha cabeça estava doendo e, assim que cheguei no local desejado, conclui que precisava de um bom café da manhã. Enquanto calculava se daria tempo de comer alguma coisa antes de ir, fui surpreendido por uma cabeleira loira passando por mim antes de meus olhos serem tampados.

— Adivinha quem é? — Desafiou e eu sorri.

— Hum… — Fingi pensar por um tempo. — Seria a dona do meu coração? — Arrisquei e ouvi sua risada.

— Achei que não vinha mais. — Disse manhosa enquanto se colocava a minha frente e eu a segurei pela cintura.

— Temos planos para hoje, Holly, é claro que eu viria. — Afirmei, puxando-a para mais perto e a beijando.

— Então... — Ela disse, colocando os braços em volta da minha cintura e se afastando um pouco. Ela sorria. — Tenho uma surpresa para você.

— Gosto de surpresas.

— Que bom! Tenho certeza que vai amar! — Ela estava empolgada. — Vamos!

— Espera! — Chamei e ela me encarou. — Podemos comer algo antes de ir para a surpresa? — Perguntei e ela revirou os olhos, segurou a minha mão e, logo em seguida, aparatamos.

(...)

O lugar era imenso. Era um campus térreo e cheio de pessoas. Holly me contou que ali era uma espécie de faculdade bruxa, especializada em formar professores — independente da matéria — e que, apesar de existir um bocado de outras com a mesma função, a da Austrália era uma das mais conhecidas e renomadas mundialmente.

Holly me disse também que os melhores alunos, quando terminavam, podiam dar aulas lá. Ou seja, emprego garantido.

Sim, Holly era bruxa e estava sendo treinada para ser auror. Era dois anos mais velha que eu, tinha cabelos louros, olhos azuis e lábios muito bonitos. Nos esbarramos no meu primeiro dia naquele país e a cena fora engraçada, já que eu aparatei no beco em que ela estava e ela deixou sua varinha cair, então meio que ficou óbvio que ambos éramos bruxos.

A Universidade de Professores Bruxos da Austrália era muito impressionante e realmente dava vontade de estudar lá. Enquanto caminhava com Holly eu lembrei da minha vontade de ser um professor e conclui que, por que não?

Entramos no prédio principal e vi que tinham pessoas vestidas de todos os jeitos, vindas de todos os lugares possíveis no mundo bruxo. Incrível.

— Tem gente de todos os lugares aqui. — Holly disse, verbalizando meus pensamentos. — Estados Unidos, China, Brasil, África... é muita variedade de etnias e culturas. Cada um vêm com um propósito: ensinar. Como você. — Ela sorriu para mim. — Eu já sabia dessa universidade, desde que eu saí da Academia de Artes Mágicas Avalon, porque eu pensava em ser professora.

Eu nem tinha palavras.

— É simplesmente... incrível, Holly! — Ela sorriu ainda mais, satisfeita. E eu estava realmente encantado. Eu queria estudar ali. — Eu adorei a surpresa! Como faço para entrar? — Eu a olhei e ela fez um biquinho, entortando a boca como sempre fazia quando estava envergonhada ou irritada.

— Hum… bem. Te trazer aqui não era exatamente a surpresa... Antes de você realmente fazer a matrícula você precisa marcar uma espécie de entrevista com o reitor. Dessa entrevista ele vai decidir se você é ou não qualificado para estudar aqui, e, daí você faz a matrícula. — Ela me olhou esperando por algum comentário mas como eu sentia que ela tinha mais a dizer não falei nada. — Bem, como eu sei que você quer ser professor e tudo o mais, eu meio que marquei sua entrevista. Começa em vinte minutos. — Confessou e mordeu o lábio, enquanto eu arqueava uma sobrancelha. — Você ficou bravo, não ficou? Eu sabia que devia ter te perguntado! Mas é que eu nunca consigo te surpreender!

— Não, não fiquei. Como poderia? — A interrompi, sorrindo e ficando animado com a ideia de ficar ali por um tempo. Holly bateu palmas, aliviada, e me arrastou até a diretoria.

Foram corredores e mais corredores para chegar até lá. Pessoas e mais pessoas para desviar também. Mas chegamos sãos e salvos. Os quadros se mexiam e falavam, com nomes em suas molduras. Descobri mais tarde que aqueles eram os diretores mais antigos da universidade. Olhei para um quadro ainda mais antigo, mostrando o campus como era antes de toda a modernidade tomar conta do mundo dos trouxas e dos bruxos. Era bem sinistra, com andares e feita toda de pedra... olha quem fala, Hogwarts tinha muito mais de mil anos.

Paramos em uma sala e Holly se anunciou, indicando para que eu sentasse e esperasse até sermos chamados. Eu realmente devia estar parecendo uma criança, eram tantas coisas para ver e assimilar que eu só percebi que estava em uma espécie de transe quando Holly me acordou dele, chamando-me para entrar.

— Sentem-se — disse o diretor, apontando para as duas cadeiras dispostas na frente de sua mesa. Ele deu a volta e sentou-se na sua própria cadeira incrível de madeira. — Senhorita Tricckle, senhor… — Ele deu a brecha e eu tirei minha atenção dos quadros para encará-lo.

— Hã… P… Jackson.

— P Jackson? — O homem perguntou intrigado e eu ri.

— Parrish Jackson, nomear os filhos nunca foi uma coisa que minha mãe soube fazer. — Eu ri, sem conseguir entender porque tinha escolhido o sobrenome de Maya como identidade secreta. O homem concordou, fingindo entender, e logo prosseguiu.

— Bem, é um prazer saber que o senhor tem o interesse de estudar em nossa escola, senhor Jackson, acreditamos que o ensino é uma forma de libertação e ensinar como ensinar é um dos maiores prazeres que temos. Agora, devo perguntar, o que foi que lhe fez querer ser um professor?

— Hum, bem… eu… Não muito tempo atrás um dos meus professores me deixou como… tutor, assim digamos, de uma das alunas que estava tendo dificuldades na matéria dele. No começo eu não tinha a menor ideia do que fazer e como fazer, mas, a partir do momento que eu comecei a ensiná-la e ao ver o resultado final foi… eu ainda não tenho palavras para descrever. Foi naquele momento que eu decidi que queria fazer isso o resto da minha vida. — Disse e sabia, mesmo sem ver, que Holly sorria.

Se ele havia gostado da minha resposta ou não, não demonstrou. Fiquei nervoso. Aquilo era a coisa mais honesta que eu já tinha dito durante aqueles meses.

O diretor me fez mais algumas perguntas sobre onde eu estudara, quais foram meus professores — e, quando mencionei Minerva McGonnagall, ele só faltou pular da cadeira, ainda que ela só fosse a diretora de Hogwarts — entre outras perguntas. Quando terminou, disse que iria avaliar e que precisava de uma ficha para a matrícula.

Nós saímos de lá, e eu ainda estava impressionado. E empolgado, como há muito eu não estava. Entretanto, quando passamos pela saída, havia um mural mágico com algumas matérias do jornal da faculdade, uns recortes do jornal bruxo local sobre a educação em Hogwarts, que era muito bem vista, ao lado de uma matéria sobre a UPBA. Só que não havia sido isso que tinha me chamado a atenção. Era o anúncio sobre um intercâmbio para formação de professores, entre as matérias oferecidas, DCAT, Trato das Criaturas Mágicas, Poções e Transfiguração; o programa passava por alguns países específicos, começando pela Escócia e terminando na França. Franzi a testa e peguei um folheto que se mexia, mostrando jovens estudantes sorrindo, com bandeiras dos países em que o intercâmbio passaria. Guardei-o no bolso e caminhei com Holly para fora do campus.

Ela se virou para mim.

— O que vamos fazer agora? — perguntou, ponderando. Eu dei um sorriso malicioso.

— Ah, eu tenho uma ótima ideia em mente. — Eu a puxei pela cintura, fazendo-a sorrir ainda mais.

— Então me mostre, garanhão. — E desaparatamos.

(...)

Eram exatamente 3:24am quando eu acordei, tinha certeza disso porque a primeira coisa que vi ao abrir os olhos foram os numerais azuis refletidos no ar por um despertador trouxa que Holly levara para casa uns meses atrás.

— Eles podem ser meio bobinhos, mas são criaturas magníficas! — Ela dissera, enquanto testava o aparelho e dava gritinhos como o de uma criança ao ver que o dispositivo conversava com ela.

E por falar em Holly, a loira estava enroscada em mim, as pernas por cima das minhas, um dos braços enrolado em minha cintura e a cabeça recostada sobre a lateral do meu peito. Suspirei e, cuidadosamente, a coloquei para o lado. Ela resmungou algo ininteligível, mas não parecia ter largado seu sono, virando-se na direção oposta e agarrando o edredom.

Sentei-me na cama e puxei a camisa pelo pescoço, estava úmida de suor e não era como se o tempo lá fora estivesse quente, na verdade ventava um bocado e o noticiário tinha avisado que a noite faria frio, conclui que acabaria pegando uma pneumonia ou qualquer outra dessas doenças se continuasse daquele jeito.

Usei minha própria camisa para enxugar a testa, estava úmida também, e, suspirando mais uma vez, levantei da cama, pegando meu celular no caminho para a saída do quarto e evitando fazer barulho ao abrir a porta.

Em um ato inconsciente passei a mão pelos cabelos e, em passos e atos automáticos, fui até a cozinha aonde deixei uma chaleira com uma considerável quantidade de água aquecendo.

O barulho no vidro da janela da cozinha não me surpreendeu como deveria, era como se ele estivesse batendo ali há muito mais tempo do que eu tinha reparado, mas não demorei muito ao caminhar até lá e abrir uma fresta para a coruja entrar. Para demonstrar que estava descontente com minha demora — lá fora realmente ventava — ela me bicou ao passar.

— Você sabe que eu poderia te deixar lá fora se quisesse, não sabe? — Disse para ela, levando o dedo ferido a boca e sentindo o gosto de sangue diluir em minha boca, enquanto a ave encontrava um lugar na mesa e me encarava, desafiando-me a retirar o pedaço de pergaminho amarrado em suas patas.

Como a pessoa precavida que era, visitei o cesto de pão e puxei um miolo antes de caminhar até a coruja, dando-lhe a recompensa antes de receber a encomenda e aproveitando de sua distração para pegar o que era do meu interesse. Bem, não exatamente.

Eu sabia exatamente o que encontraria naquele pergaminho quando o abrisse, tinha recebido um daqueles pelo menos uma vez por semana nos primeiros três meses e, depois, mensalmente. Cogitei não abrir, mas conclui que a água demoraria mais alguns minutos para ferver e, que mal faria?

Enquanto desenrolava o pergaminho, ri. Apenas por sua caligrafia eu podia dizer o que a senhora Potter sentia, no primeiro parágrafo, raiva. O segundo trazia um toque peculiar de frustração. O terceiro era absurdamente melancólico.

“James Sirius Potter! Sem queridos para você! Se esta coruja retornar com mais uma daquelas fitinhas verdes, eu juro por Deus que te acho nem que seja nas profundezas do mar vermelho! Sei pelas malditas tiras verdes que está vivo e bem, mas quero respostas, quero palavras! Você já é um adulto, Sirius, então aja como tal!

Seu pai tem se esforçado para me dar notícias suas, mas não tenho certeza se ele está conseguindo conciliar o trabalho com a busca, além do mais ele disse outro dia que você é muito bom em brincar de esconde-esconde. O que é um absurdo! Pela cueca velha e rasgada de Merlin! Você é o primogênito de Harry Potter! Como assim ninguém sabe aonde você está?!

E não saber também me deixa aflita, há meses não sei o que é uma noite de sono bem dormida, tenho pesadelos quase toda vez que fecho os olhos, estou preocupada com você querido, sei que não é fácil, mas eu sou sua mãe e estou aqui por você, por favor volte para casa, por favor, mande notícias mais precisas do que o que você considera como tal.

Com amor, mamãe”

Enrolei o pergaminho, meu lábio curvilíneo ensaiando um sorriso. A chaleira assobiou e eu levantei para desligar o fogo antes que fizesse mais barulho, a coruja tinha terminado com o miolo de pão e me encarava de novo. Mais uma vez, eu sabia o que ela queria, estava pronta para retornar. Suspirei, amassei o pergaminho e joguei-o no lixo. Abri uma das gavetas da cozinha e retirei de lá uma fita verde, amarrei com cuidado o pedaço de pano nas patas da ave e então ela bateu as asas, apressada, abri a janela e a vi voar para longe.

Me lembrei do aparelho apenas depois de encher minha xícara com água. A tela do celular brilhava e, enquanto as ervas se diluíam na água fervente, peguei-o para ver as novidades.

Um minuto foi o tempo que levou para eu conseguir desbloqueá-lo, Allison tinha me presenteado com um desses há pouco menos de um mês, afirmando que eu era uma espécie de ET por não ter um, mas até hoje eu não sabia muito bem como manuseá-lo.

A primeira mensagem era da própria: “Tentei esperar por você, mas estou morta de cansaço e realmente preciso de um cochilo. Esperei por sua ligação, mas conclui que estava ocupado e acabou esquecendo. Se por algum acaso vier hoje, deixei uma chave embaixo do vaso de plantas para você. Te amo, beijos, Ali.”

Senti-me mal por um momento, devia ter dado um jeito de ligar e avisar que não iria naquela noite, mas Holly ficara no meu encalço todo o dia, não que eu estivesse achando ruim, mas é que apenas não dá para falar com uma namorada enquanto a outra está sendo criativa com a sua língua.

“Dormi com a cara nos livros, comentaram algo sobre uma prova inesperada Sinto muito, irei recompensá-la, amo você.” Digitei, e demorei dez minutos para conseguir tal façanha, e então cliquei o botão para enviar, deixando o celular de lado e focando em meu chá.

Eu sei o que vocês devem estar pensando, bocas abertas em indignação enquanto sussurram ou pensam o quão cafajeste e sem-vergonha eu sou, e, tudo bem, talvez eu fosse mesmo.

Conheci Allison na minha segunda semana ali, andava perdido por uma das ruelas do centro da cidade até que ela derrubou café em mim. Disse que a perdoaria pelo feito apenas se ela me deixasse pagar por outro, ela protestou, afirmando que fora culpa dela e tagarelando sobre como tinha que dar um jeito de ser menos desastrada, mas no final acabou cedendo.

Allison era encantadora. Alguns meses mais nova que eu, sempre tinha um sorriso no rosto, a cada dez coisas que estavam a seu redor, ela conseguia derrubar onze e era apenas gracioso o modo com o qual ela tropeçava nos próprios pés e ficava enrubescida enquanto eu tentava ajudá-la a se levantar.

Quando a conheci, já tinha uma … “coisa” com Holly, difícil explicar, apenas aconteceu, gostava da companhia de ambas, nunca pensei que chegaria a tal ponto, mas chegou. E, quando chegou, eu tive mais trabalho do que jamais imaginei ser possível em um relacionamento, certo, talvez porque eu estivesse em dois ao mesmo tempo.

Procurei em sites e pela cidade nomes de universidades e outros costumes trouxas, quando o lance com Allison começou a ficar sério, cheguei com a brilhante notícia de que tinha sido aceito para cursar Medicina na Universidade de Sydney. Ela comemorou, não escondendo a felicidade que sentia por mim, mas depois disse que era frustrante namorar um cara da universidade rival. Perguntei-me se a frustração dela passaria quando e se descobrisse que não passava de uma mentira.

Dobrar Holly foi um pouco mais difícil, em parte porque às vezes ela me olhava como se fosse um detector de mentiras ambulante, em parte porque, de vez em quando, me sentia intimidado por ela.

Logo quando nos conhecemos percebi que tínhamos um futuro promissor. Trocamos um par de palavras e eu estava pronto para seguir o caminho que eu não sabia qual era quando ela saiu resmungando que:

— Tudo bem, tudo bem, eu posso fazer o papel de guia turística por um tempinho, sorte a sua que abriu uma brecha na minha agenda. — Eu a encarei, desentendido, tinha me esforçado para representar o papel de que era um nativo australiano, ela exibiu seu sorriso de perfeitos dentes brancos e balançou os cabelos. — Um colonizado sempre reconhece seu colonizador. — Riu da própria piada e então saiu andando. — Você vem?

E no segundo seguinte eu estava andando feito um cachorrinho atrás dela. Tive certa intimidade com ela logo de cara, fiz piadas que foram inacreditavelmente bem aceitas, como quando ela disse que eu a lembrava alguém:

— Ah! Escuto isso bastante. Você é do tipo que assiste a filmes trouxas? Bem, deixe-me lhe contar uma coisa, uma vez, pouco tempo atrás, fui como uma pessoa inocente a Londres, apenas para dar uma volta em um mundo diferente, e fui parado por dezenas de garotas, aparentemente eu lembro algum ator inglês, Douglas alguma coisa. Fiquei parcialmente ofendido, nunca o vi mas tenho absoluta certeza que sou mais charmoso e simpático que ele.

Acreditem ou não, ela riu.

E, apesar de ela só ter descobrido meu sobrenome falso ontem, cheguei a lhe contar coisas que não contei para outros que eram bem próximos a mim, como, por exemplo, a vontade de ser professor.

E foi pouco depois de expressar essa minha vontade que ficou fácil de conciliar o tempo entre as duas. Holly tinha morado em uma espécie de bairro para estudantes bruxos em sua adolescência, não entendi muito bem e nem tentei, mas ela disse que eu poderia descolar uma grana com aulas particulares, o que me pareceu ser uma ótima ideia.

Dava realmente para ganhar um dinheiro com aquilo, eu treinava minhas habilidades, a maioria dos alunos tinha minha idade ou eram um ou dois anos mais novos, então a comunicação era fácil, além do mais eu estava com tudo o que eles estavam aprendendo fresco na memória. Eu realmente dava aulas particulares, só que não com tanta frequência quanto falava para Holly.

Basicamente era isso, trabalhava para uma, estudava para outra, e desdobrava-me para conseguir atender a demanda, vinha me saindo bem até agora.

— São 4:30am. — A voz sonolenta e manhosa de Holly me fez sobressaltar, assustado. Ela coçou o olho.

— Não consegui dormir direito, desculpe, fiz algum barulho? — Ela suspirou.

— E nem vai conseguir dormir se continuar tomando isso, chá tem cafeína, sabia? Ingleses e sua mania de chá. — Ela resmungou, aparentava estar mais dormindo do que acordada, o que me fez rir. — Vem. — Um biquinho se formou em seus lábios. — Eu tenho certeza que você será chamado para se matricular, precisa descansar, se isso acontecer - e vai - seu dia será cansativo. — Ela estendeu a mão para mim, os olhos apenas parcialmente abertos, como se não quisesse deixar o sono ir embora.

Fora minha vez de suspirar. Com uma dor quase física joguei o chá pelo ralo da pia e então fui até ela, agarrando-a pelas costas e a guiando de volta para o quarto.

Enquanto a possibilidade de entrar na universidade me atingia, pensei em como seria minha rotina dali em diante, alguns bicos com estudantes com dificuldades na escola, faculdade, duas namoradas. Parecia uma coisa impossível de conseguir conciliar em apenas 24 horas de um dia, e ainda conseguir tirar proveitosas horas de sono.

Então, assim que me deitei e Holly se enroscou em mim outra vez, ouvi uma voz dengosa e sempre sonhadora, que mesmo com seus setenta anos se encantaria com os filmes da Disney e choraria em alguma parte destes. “Você é James Sirius Potter, você consegue”.

Com um sorriso melancólico no rosto, adormeci.

***

— Eu disse! — O grito estridente e animado me fez resmungar, apertar o travesseiro contra o rosto e virar para o lado. — Você pode me agradecer depois, normalmente os alunos esperam semanas, mas o diretor Greysson é um velho conhecido do meu pai e acelerou as coisas para mim. — Ela continuou falando e então o colchão afundou. — Vamos, James! Não pode se atrasar, você conseguiu a matrícula! — Gritou e eu suspirei, afastando o travesseiro e piscando.

— Quantas horas? — Perguntei com a voz arrastada.

— 10:30. Você tem uma hora para se arrumar e chegar lá. Não faça essa cara, não tenho culpa se você não dorme a noite. Vamos, levante. Eu queria muito, mas não vou poder ir com você. Me chamaram para um trabalho de campo hoje. — Ela se interrompeu por um segundo para bater palmas. — O café está servido, e tem o seu chá lá, se quiser, Merlin! Como você gosta daquilo? Eu vou me atrasar, tenho que ir chutar a bunda de alguns bruxos das trevas, me conte tudo quando terminar! Amo você e não estrague tudo. — Disse mais rápido do que eu conseguia acompanhar, beijou-me nos lábios e então desaparatou.

Resmunguei, ajeitando-me na cama e fechando os olhos novamente.

— Senhor Potter, a senhorita Holly me disse que eu não poderia deixá-lo voltar a dormir. — E esse era o relógio falando. No segundo seguinte ele começou a tocar uma música em volume desnecessariamente alto.

— Ok! Acordei. — Resmunguei, jogando as cobertas de lado e me levantando.

— Bom dia, senhor Potter. Voltarei em cinco minutos para me certificar de que realmente fez isso. — Garantiu, mas não diminuiu o volume da música. Passei a mão pelo rosto e pelos cabelos e suspirei, tentando manter os olhos abertos antes de dar início ao dia.

O relógio não estava brincando. Ele voltou em cinco minutos e mais cinco minutos depois e assim continuamente. Só tive um momento de paz quando sai de casa, e eu bem que tentei quebrá-lo.

Allison me mandou uma mensagem assim que sai de casa, informava que teria que estudar hoje toda a noite e preferia não ter distrações, seu jeito adorável de dizer que eu não deveria ir lá esta noite, o que eu agradeci mentalmente, já que provavelmente não conseguiria dobrar a Holly.

Aparatei na universidade e, apesar de ela ser exatamente a mesma do dia anterior, continuei encantado. Tinha quinze minutos sobrando e foi esse o tempo que eu levei até encontrar a sala do diretor, ao chegar lá, ele estava abrindo a porta.

— Como eu adoro a pontualidade britânica! — Brincou e eu ri, entrando na sala e tomando o mesmo assento de anteriormente.

— Então, senhor Jackson… Confesso que metade das razões por eu ter te chamado aqui hoje foram por curiosidade, a outra metade pelo apresso que tenho a Holly, uma garota de ouro essa menina. — Começou e eu aguardei, suspeitando que viriam coisas desagradáveis a seguir. — Vamos começar pelo simples. Entrei em contato com Hogwarts ainda ontem, magnífica mulher, a senhora McGonnagal, e fiquei sabendo que nunca estudou nenhum James Parrish Jackson lá. Gostaria de se explicar?

E boom. Não consigo acreditar como foi que eu achei que aquilo funcionaria. Pressionei os lábios e cocei a nuca, rindo.

— Sabe, é uma história engraçada. — Comecei, mas a expressão do diretor me fez recuar. — Ok, Ok. O P não é de Parrish, é de Potter. — Confessei e o movimento na sobrancelha do homem me fez concluir que ele estava interessado. — Por isso hesitei ontem. É só que, estou tendo alguns problemas familiares e tão farto de conseguir tudo fácil só por causa do sobrenome que eu pensei que, talvez, uma mudança de identidade faria bem para o meu ego. — Tudo mentira, mas como já é de conhecimento geral, tive ótimas aulas de teatro um tempo atrás. — O histórico que você está procurando é de James Sirius Potter. — Confessei, com um falso tom de derrota na voz.

— Um Potter… — Ele não deixou mostrar se estava ou não maravilhado com isso, apenas tinha o tom de Sherlock Holmes quando estava prestes a explicar uma teoria para Watson. O quê? Eu gosto de ler. — Pode ficar tranquilo, rapaz, não será beneficiado em nada por seu sobrenome, não neste país, não na minha escola. Agora me estranha o fato de não o ter o reconhecido antes, afinal, o senhor Potter é bem conhecido ao longo do globo.

— Posso agradecer meu pai por sempre ter preservado nossa imagem, então tem sido fácil para mim. — Comentei e talvez aquela fosse a única verdade dita até agora.

— Ouça,rapaz, está tudo certo e esclarecido, sua vaga aqui dependerá do seu histórico escolar mas farei o possível por Holly. E, claro, uma das exigências é que você conte para ela a verdade. Enxergo aquela garota como uma filha e não gosto quando aparecem rapazes mentindo para ela. — Disse e eu balancei a cabeça, pensativo.

— Certo, eu… eu verei o que faço. Senhor Greysson, só mais uma coisa. Posso lhe pedir absoluta descrição quanto a meu paradeiro? Como disse, eu venho tendo alguns problemas familiares e não gostaria de ser encontrado.

— Manterei o sigilo, senhor Potter. Tenha uma ótima tarde. — Desejou e então eu apertei sua mão e deixei sua sala.

(...)

Holly fez um jantar especial para nós dois, em comemoração à minha entrada na faculdade. Na verdade, ela tentou fazer. Não era igual a Allison, que fazia Gastronomia na faculdade, cuja as comidas eram deliciosas. Mas Holly não era assim. Holly era mais ação, movimento, ela não gostava muito de pegar em cebola. Entretanto, ela fez essa forcinha para mim. O que resultou em uma pizza mesmo.

— Eu estou tão contente por você. — Disse, pela vigésima vez apenas naquela noite. O reitor tinha enviado a papelada da matrícula, começaria no início do ano de 2024.

— Estou feliz por mim também. — Ri quando ela socou meu braço. — Hey, Holls, eu preciso lhe contar uma coisa. — Não tinha certeza se queria realmente dizer aquilo, mas tinha prometido ao senhor Greysson então não tinha muitas escolhas, apesar dos pesares, eu ainda cumpria minhas promessas.

— O que é, Potter?

— É sobre meu... espera, o quê? — A encarei, perplexo e ela riu.

— James... — Balançou a cabeça, aproximando-se sorrateiramente e beijando meu pescoço. — Eu estou me formando para ser uma auror. Que tipo de profissional eu seria se não soubesse o sobrenome do meu namorado?

— Er... touché. — Foi tudo que consegui dizer, até porque não estava lá conseguindo me concentrar com Holly enroscada em meu cangote. — Por que você... por quê...?

— Quer que eu pare? — Indagou, parando as carícias e me encarando com a sobrancelha arqueada, neguei fervorosamente e ela riu. — Olha James, eu não sei porque você mentiu ou omitiu isso, mas creio que teve seus motivos. Se algum dia achar que pode me contar o porquê eu vou ficar feliz com isso, mas até lá, não vou te pressionar para o fazer. Agora, podemos ir para o que realmente importa? — Perguntou, passando a mão por dentro da minha blusa e arranhando meu abdômen.

— É uma ótima ideia. — Conclui passando minhas mãos ao redor de sua cintura e invertendo nossas posições.

Eu sorri com malícia e suguei seus lábios, fazendo com que ela suspirasse. Minhas mãos foram para a sua cintura, apertando-a enquanto eu a beijava. Holly passou os braços em volta do meu pescoço, inclinando-se mais para mim.

Deslizei minhas mãos até suas coxas, sentindo tudo esquentar de uma vez só. As mãos dela foram para a minha calça, acariciando meu membro, deixando-me louco. Então me livrei da sua blusa e de seu sutiã, e passei as mãos pelo seu corpo, seguindo suas curvas e chegando em seus seios. Holly se curvava para mim, querendo me sentir mais em contato com sua pele. Sorri entre o beijo, tirando minha calça e logo depois tirando a dela também.

Admirei seu corpo por alguns segundos e comecei a distribuir beijos. Primeiro seus lábios, depois seu pescoço, passei para seus seios - sugando, mordendo-os de leve -, sua barriga e desci mais e mais, sugando, lambendo sua região mais íntima, fazendo-a gemer e se contorcer, segurando minha cabeça entre suas pernas. Eu estava duro e ficava ainda mais ao ouvir seus gemidos estimulantes. Então eu voltei para seus lábios e afastei suas pernas, encaixando-me ali.

Eu a ouvir ofegar, enquanto eu suspirava. Apoiei-me nos cotovelos e comecei a me movimentar lentamente, ofegando e gemendo junto com ela. Depois de um tempo, nem Holly aguentou e pediu para que eu fosse mais rápido e eu obedeci. Ela segurava a minha cabeça e quando ela pensava em arranhar as minhas costas, eu guiava suas mãos para outro local.

Eu a apertava, sugava seus lábios, suas mãos se enroscavam em meus cabelos, enquanto eu estocava com mais velocidade, até que ela chegou ao ápice. Eu a senti arquear as costas e gritar meu nome, mas continuei dentro dela até que eu senti que ia gozar. Continuei movimentando-me e cheguei ao meu ápice, sentindo o prazer percorrer em minhas veias.

Depois, deitei ao seu lado e alcancei Holly e abracei o mais forte o possível. Não falamos nada, apenas ficamos deitados, apreciando a companhia um do outro. E, então, eu cometi o erro de cair no sono.

(...)

— James? James! — Abri os olhos e percebi que Holly me encarava, preocupada. — Está tudo bem? — Perguntou, pousando a mão em meu peito.

Recostei-me na cabeceira da cama e suspirei, puxando-a para perto e beijando sua testa.

— Tá tudo bem sim, foi só um sonho ruim, não precisa se preocupar. — Garanti e ela concordou, acomodando a cabeça em meu ombro e desenhando círculos com o dedo em minha barriga.

Ficamos em silêncio por um tempo, apenas encarando o quarto iluminado pela sinistra luz azul do relógio, cada um imerso em seu próprio mundo. Holly fora quem se pronunciou primeiro.

— James, eu estive pensando... — Eu girei a cabeça para encará-la, mas ela continuou olhando para frente. — Você não precisa aceitar, ok? É só que... você fica aqui em casa boa parte da semana e... eu não quero parecer apressada nem nada, mas... — Ela suspirou.

— Mas?

— Você trabalha, vai começar a estudar em breve e, bem, minha rotina também vai ficar um pouco apertada e eu pensei que talvez... Não, deixa para lá.

— Holly!

— É melhor não.

— Eu quero saber. — Desafiei e ela se afastou, ficando de frente para mim e cruzando as pernas.

— Que talvez você gostaria de se mudar para cá. — Disse e eu não consegui conter a surpresa. — Foi uma ideia terrível, eu sei, deixe para lá.

— Hey. — Foi o que consegui dizer em um primeiro momento, Holly me encarou, certa esperança em seu olhar. — Não é uma ideia ruim é só que... — Pensar em uma desculpa melhor do que "eu tenho outra namorada" foi a parte difícil.

Eu tinha um apartamento no centro da cidade, mas apenas passei a noite lá duas ou três vezes, eu sempre ficava na casa de uma das duas. Porém, se eu aceitasse a proposta de Holly, perderia meu álibi para ficar com a Allison e, naquele momento, não me parecia ser uma opção.

— Okay, olhe para mim. — Pedi e ela o fez. — Certo, sabe o quão difícil é ser um Potter?

— Você está rodeando. — Acusou e eu neguei.

— Pode parecer que é uma maravilha, mas não é bem assim. Quer saber por que eu menti? Porque eu não queria que soubessem quem eu sou, filho de quem eu sou. Eu sempre quis andar com minhas próprias pernas,fazer meu próprio caminho, ser independente e, sabe, não é fácil fazer isso quando você está condenado a viver sob a sombra se Harry Potter. Entretanto, desde que eu cheguei aqui, eu consegui tudo isso. Sendo James, só James, eu finalmente pude ser independente, sabe? E é maravilhoso. E, sua ideia é incrível Holly, mas eu não acho que esteja disposto a abrir mão disso rápido assim. — Grande parte daquilo era verdade, tirando que aquilo não era o real motivo para eu negar.

Ela suspirou e voltou a deitar-se em meu peito, continuando a desenhar círculos em meu abdômen.

— Eu gosto de James, só James. — Respondeu, finalizando o assunto por ali.

O restante da semana foi perfeito, agimos como se nada tivesse acontecido e Holly parecia mais amável que nunca.

Entretanto, eu estava com saudades de Allison. E eu queria vê-la, só não sabia o que fazer para que Holly não desconfiasse. Mas a oportunidade perfeita veio na noite de sexta-feira, quando Holly apareceu transtornada do trabalho. Eu estava olhando alguns papéis que eu teria de levar para a faculdade na hora em que a vi.

— O que foi? — perguntei, franzindo a testa.

— Minha primeiríssima missão! — Exclamou Holly, empolgada. — De verdade. Com tudo o que tenho direito.

— E isso não é perigoso?

— Sim! Não é excitante?!

— Olha, o meu conceito de excitante não tem nada a ver com bruxos do mal tentando me matar. — Comentei, deixando os papéis de lado. — Com quem você vai?

Holly parou de pegar suas coisas e de jogá-las dentro de uma mochila para me olhar.

— E isso faz diferença? — Ela ergueu uma das sobrancelhas.

Na verdade, fazia. Eu me preocupava com ela e queria saber se ela ia com alguém de confiança. Quando eu era pequeno, eu fingia ser um auror — eu sei, mas eu ainda não sabia o que queria da vida — e via os papéis do meu pai em cima da mesa, como se fossem mapas de cada continente, com os nomes dos aurores mais importantes. Portanto, eu sabia da maioria dos aurores, já que meu pai tinha que viajar algumas vezes, e me sentiria melhor se ela estivesse com algum auror competente.

Mas Holly não sabia disso. E nunca saberia. Então eu me fiz de desentendido.

— Claro que não. Só que alguns nomes podem me dar segurança de que você vai estar bem. — Respondi, inocente. — Sei lá.

— Awwn, que amor, James! — Holly me deu um beijo.— Mas eu vou ficar bem. Um dos maiores aurores do mundo estará nessa missão.

— E não me dará o nome?

— Não é necessário — disse ela, apressadamente. — Vou ficar fora por cinco dias. Consegue sobreviver sem mim?

Eu ri e a beijei.

— Sobrevivi até agora, não foi? Mas sentirei sua falta — falei, verdadeiramente preocupado. — Tome cuidado. É sério.

— Eu tomarei. — ela pareceu séria também. — Tenho que ir. Te amo!

— Eu também — respondi, enquanto ela desaparatava.

A hora era aquela. Se eu não fosse, Allison — e confesso que eu também — piraria. Fazia mais de uma semana que eu não a via e ela me mandava mensagens realmente desgostosas. Não me xingando, mas achando que eu não estava mais interessado. O que não era verdade. Eu nunca havia parado para pensar que — mesmo que fosse repulsivo — era possível gostar de duas pessoas ao mesmo tempo. Ainda que não fosse o suficiente.

Então arrumei as minhas coisas e aparatei em frente ao apartamento alugado de Allison. Foi quando eu ouvi um gritinho e coisas caindo no chão. Arregalei os olhos e me virei, xingando-me internamente para sempre. Se alguém trouxa tinha visto eu aparecer do nada, eu seria obrigado a obliviar essa pessoa.

Mas a pessoa que havia dado um gritinho era Allison. Eu me xinguei mais um pouco.

— Oi, linda — sorri, disfarçando.

— James! Como surgiu... como...? — Allison balançou a cabeça e pegou as compras que havia deixado cair, comigo a ajudando. — Eu estava mexendo na bolsa e... BAM! Você estava aqui.

Eu ri e peguei as compras de suas mãos, antes que ela deixasse tudo aquilo cair de novo.

— Eu tenho um segredo para lhe contar. — Comecei e Allison ficou ávida para saber.

— O que é? O que é?

— Sou mágico. — respondi simplesmente. Allison parou e depois começou a rir descontroladamente. Eu não achei graça, pois, tecnicamente, eu havia dito que era um bruxo a ela. — É sério.

— Ah, James! É por isso que eu te amo. — Ela beijou minha bochecha.

— Eu estou falando sério, Ali. — Eu estava realmente sério. Eu havia dito a ela a verdade.

— James, o que você faz? Vai pedir que eu escolha uma carta? Ou vai enfiar um coelho dentro de uma cartola e vai fingir que ele surgiu ali? Querido, acho que não seja a melhor profissão para você...

Eu estava irritado, mas foi nessa hora que eu compreendi, da pior forma, que Allison era uma simples trouxa. Que não acreditaria em mim... não se eu não mostrasse que eu podia realmente fazer coisas que ela não sabia que existia. Então minha raiva passou e eu apenas a ajudei a levar as coisas para dentro de seu pequeno apartamento.

Ela abriu a porta e nós entramos. Aquele cheiro de canela e massa de bolo entrou em minhas narinas, me fazendo perceber o quanto Holly era péssima cozinheira e no quanto eu sentia falta de Allison. Estava tão distraído, que quase não pude ouvir o xingamento de Allison.

— Filho da puta! — gritou, segurando o pé e eu, imediatamente, ri. — Não ria!

— O que houve? — perguntei, indo até ela.

— Bati com o meu dedo do pé nesta maldita cadeira! Quem foi que deixou essa merda aqui? — quis saber Allison, de ninguém específico.

— Você, Allison. — Eu a ajudei a se sentar no sofá, enquanto ela massageava o pé machucado. Ela se aconchegou em meu peito e passou a mão em volta da minha cintura. Beijei o topo de sua cabeça.

— Senti sua falta, Jay. — Allison suspirou.

— Senti sua falta também, Ali. — falei, fechando os olhos. — E da sua comida. — Eu ri e ela me acompanhou.

— Interesseiro.

— Vou fazer o quê? Você me acostumou mal. — Respondi, fazendo-a levantar a cabeça para me olhar. — O que foi?

— Desculpe.

— Por...?

— Você falou tão sério naquela hora e eu zombei de você... — explicou, sentando-se normalmente e alisando minha camisa. — Você é mesmo um mágico? — sussurrou. — Eu não vou ligar se for, posso até fazer uns bicos como sua assistente de palco...

Eu fiquei olhando-a por um tempo, ponderando. Eu estava brincando quando falara que era um mágico; mas vê-la rir de mim, eu quis mostrar tudo a ela. Agora, vejo que ela não precisava saber. Não naquele momento.

— Eu vim pelo o outro lado do prédio. Vi que estava distraída, como sempre — fiz cócegas nela, que se contorceu, rindo — E parei ali.

Allison parou de rir e me encarou séria.

— É que você me pareceu ofendido quando eu disse aquelas coisas... então eu pensei em considerar...

— Shii — eu a interrompi. — Não precisa dizer nada. Eu... só quis brincar um pouco com você.

— Ah, sim. Eu até ia pedir para fazer um truque para mim. — Ela passou os braços em torno do meu pescoço. Ah, se ela soubesse dos "truques" que eu podia fazer... — Eu mesma sei de alguns.

— Isso inclui gente flutuando?

— Chegando ao céu. — Respondeu Allison, indo para o meu colo e beijando meu pescoço. Eu estremeci. — E vendo estrelas bem de perto. — Sussurrou, beijando meus lábios.

— Nunca vi estrelas bem de perto. — Afirmei e Allison sorriu.

— Ah, então hoje é seu dia de sorte.

— Eu sempre dou sorte. — E a beijei com ardor.

(...)

Eu passava as mãos em suas costas nuas, sentindo as mechas grandes de seus cabelos macios se esticarem até a cintura. Estávamos no sofá, sem nenhum pano cobrindo nossa nudez, encarando o nada. Allison havia cochilado um pouco, mas depois acordou, porque sentiu que eu não havia dormido.

Eu pensava na faculdade, em como seria, o que eu faria. Era tudo novo, mas, ainda assim, eu queria aprender. Eu queria ensinar de qualquer forma em Hogwarts. Eu queria ser como a McGonnagal, que, de acordo com algumas coisas que eu havia lido, podia executar três Patronos de uma vez! Além de ser incrivelmente foda em Poções, o que poderia chegar a causar uma comoção nacional, já que essa não era uma matéria muito bem vista. E esse era meu ponto. Poções, apesar de certas dificuldades, era uma das matérias mais incríveis que existiam, meu plano era torná-la uma matéria agradável e mais popular.

— Eu já sei. — Disse Allison de repente. Eu olhei para baixo, já que sua cabeça repousava em meu peito, e ergui uma das sobrancelhas. — Vou fazer para você um incrível cheese cake de amora. Que tal?

— Pode ter chá? — Eu quis saber, embora eu soubesse que teria. Por incrível que pareça, Allison gostava de beber chá, mesmo sendo norte americana.

— E quando meus bolos não têm chá? — perguntou ela, se levantando e se dirigindo para a cozinha. Nua.

— Não vai colocar uma roupa?

Allison olhou por cima do ombro, seu corpo brilhando à luz da lua.

— Só um avental está bom para você?

Eu a encarei, boquiaberto.

— Meu... Deus. Isso será a coisa mais sexy que eu já vi. — Comentei, seguindo-a até a cozinha.

Allison riu e colocou um avental, cobrindo sua parte da frente. Havia outro pendurado e eu o vesti, deixando apenas a minha bunda incrivelmente sexy — e branca — aparente. A bunda de Allison também era bem atraente.

Foi uma experiência bem diferente e excitante. Ver Allison cozinhando daquele jeito era extremamente estimulador; ela moeu o biscoito de maisena, separou a geleia de amora, fez a massa de cheese cake, tudo com apenas o avental, não deixando eu mexer em nada, a não ser o que ela pedisse. E, entre beijos e algumas carícias, terminamos aquela torta às três da manhã.

Enquanto a torta ia para a geladeira, tomamos banho juntos. Nos beijamos e fizemos sexo outra vez, depois disso acabamos adormecendo.

Os primeiros raios de Sol foram meu despertador, em um julgamento simples, parecia quente demais para aquela hora da manhã. Só não tão quente, talvez, quanto a silhueta nua de Allison sentada na beira da cama.

— Bom dia. — Saudei, a voz rouca devido ao sono, aproximando-me dela e beijando o vão entre seu ombro e seu pescoço. Porém, ao contrário do esperado, Allison se afastou. — Eu preciso escovar os dentes para ganhar um abraço também? — Brinquei, mas ela não riu e isso me deixou preocupado. — Querida, você tá bem? — Perguntei, colocando uma mecha de seu cabelo para trás e só então percebendo que tinham lágrimas em seus olhos. — Hey, querida? O que há de errado? — Insisti.

— Quem é ela? — Sua voz estava tremula quando ela falou, eu ri pelo nariz.

— Ela quem?

— A garota com quem você sonhou, a que você disse o nome durante a noite. — Acusou e eu senti todo o sangue deixar meu rosto, vendo assim uma vantagem por ela não me olhar.

— Do que você... tá falando?

— Eu não estou doida! Eu ouvi! — Exaltou-se, levantando da cama e passando as mãos pelo rosto. — Quem é ela, James? Quem é Maya? É uma namorada nova? É por isso você não atende minhas ligações? — Ela falou mais algumas coisas porém não me lembro muito bem, uma vez que ao ouvir o nome Maya eu comecei a gargalhar, de nervosismo, talvez, mas eu ri, e isso não a deixou contente.

— Allison! — Chamei antes que ela lançasse o abajur em minha cara. — Eu posso explicar. Ou tentar. Apenas acalme-se. — Pedi, ainda tentando controlar o riso.

— Quem é ela? — Tornou a perguntar, quase aos gritos, quando eu não disse nada.

— Uma amiga. Uma… velha amiga. Eu não consigo pensar em uma boa razão para explicar porquê sonhei com ela, na verdade não tenho ideia de que sonho foi esse, mas ela é uma amiga, ok? — Garanti, sentando-me na beirada da cama e a puxando pelo braço. — Nós namoramos, mas isso foi há muito, muito tempo… — Ela arqueou a sobrancelha. — Eu tinha onze anos, Alisson!

— Você disse que sentia falta dela e que a amava. — Ela não resistiu a se aproximar, mas ainda estava distante e chorosa.

— Meu amor… — Disse calmo, conseguindo a puxar para mais perto e sentando-a em meu colo. — Quer saber o motivo pelo qual terminamos? Eu disse que não poderia amá-la. Como isso pode fazer sentido? Digo, eu aprendi a amá-la como amiga ao longo dos anos, mas não... desse jeito. — Pontuei e ela suspirou, mas não deixou o assunto para lá, continuava tensa, eu podia perceber. — Ali...

— É difícil para mim ok?! — Explodiu, sua voz ainda mais trêmula que antes. — As vezes eu sinto que existe alguém entre a gente. Eu não sei se esse alguém é uma pessoa do passado, se é alguém por quem você está pensando me trocar ou então se... se ela está presente. Eu só... sinto que tem alguma coisa, como se eu tivesse que dividí-lo o tempo todo com outra.

— Ali...

— Não! — Impediu-me antes mesmo de eu pensar em algo para dizer. — Sabe o que é o pior? — Era uma pergunta retórica. — Às vezes, quando você não está, eu imagino como ela é. — Ela riu, afastando-se de mim e cobrindo os seios com os braços. — Ela é linda, como você. Loira, talvez, alta, bem sucedida, perfeita. Ela com certeza sabe andar de saltos sem cair ou derrubar tudo a seu redor, ou simplesmente andar sem fazer isso. Ela é mais velha que eu, e que você, mas não muito. Ela é decidida e... — Ela balançou a cabeça, nesse momento uma lágrima escorreu de rosto. — Eu entendo se você preferir ela, eu também preferiria. — Outra risada sem humor enquanto ela apagava o traço da lágrima que.escorreu. — Mas o pior mesmo, de tudo isso, é que, de algumas dessas vezes em que eu a imagino, eu penso que, talvez, eu devesse ser mais como ela, porque ela é perfeita e tem você e eu... eu amo você James, eu não quero te perder. — As últimas palavras saíram emboladas,o choro ganhara a disputa.

Eu estava surpreso, era como se tivesse levado um soco bem na boca do estômago.

— Eu não sei porque estou chorando! — Gritou, frustrada. Levantei-me e a abracei, envolvendo-a em meus braços e beijando a lágrima que escorria.

— Eu amo você, Allison. Do jeito que você é. Estabana e risonha, é assim que eu te amo. — Disse afastando as demais lágrimas com o polegar. — Essa mulher que você descreveu, ela é... — A Holly, completa e totalmente a Holly. — Legal. Mas ela não é você e se não for você, eu não quero. Só vai me perder se você quiser. — Garanti e passei o dedo em seus lábios.

— James... — Ela murmurou, enquanto eu aproximava nossos rostos. — Você não escovou os dentes. — Observou e eu ri, a abraçando.

— Eu te amo, ok? Tenha isso, só isso na cabeça. — Pedi, beijando sua testa. — Agora, me conta uma coisa? Não tinha uma torta nos esperando na geladeira? — Ela sorriu.

— Sim, acho que sim, mas, sabe, acho que seria bom tomarmos banho antes, você sabe, depois da maratona de ontem seria uma boa pedida. — Comentou com um falso tom de inocência eu ri. — Você vem? — Perguntou se desvencilhando de mim e caminhando para o banheiro. Como é de se imaginar, a segui no mesmo momento.

Eu estava gostando mesmo de fazer aquilo; era diferente e distraía perfeitamente. Saímos do banheiro apenas de roupões e fomos à cozinha, onde eu preparei o chá — que era única coisa que eu cozinhava bem.

— Acho que, se você se empenhasse, se daria bem como cozinheiro. — Comentou Allison, enquanto a água fervia. Virei-me para encará-la; ela estava sentada em uma das cadeiras da cozinha, olhando pensativa.

— Por que acha isso? — Perguntei, indo até ela, levantando-a e colocando-a em meu colo.

Allison passou as mãos ao redor do meu pescoço.

— Nada do que você faz sai errado. É estranho, e não estou dizendo que você não tem defeitos... é só que... eu não sei. — Ela deu de ombros, enquanto me encarava. — Você consegue o que quer, quando quer. E ninguém reclama.

— É o poder da persuasão, meu amor. — Respondi, rindo. Ela riu e depois balançou a cabeça.

— Não. É apenas... você. — Afirmou Allison, fazendo-me parar de rir. — É por isso que eu digo que você se sairia bem. Se um dia quiser ter curiosidade de aprender algo sobre cozinhar... é só dizer.

— Eu quero dizer que... você só não é um desastre quando cozinha. — Eu ri, recebendo um tapa no braço junto com sua risada.

A verdade era que eu não sabia o que dizer. E, depois disso, eu precisei mesmo saber cozinhar. Foi como se ela tivesse acendido algo dentro de mim que aguçava meu lado grifano, aquele que não temia um desafio. E eu nunca havia tentado me virar na cozinha antes, pois sempre tivera as coisas na minha mesa. Aprender como se fazia um cozido simples, era útil, porque eu poderia precisar — como precisei — em algum futuro próximo. E Allison era uma boa e paciente professora.

Certo dia, enquanto nós cozinhávamos uma carne assada, Allison começou a fazer perguntas difíceis e me explicar não foi fácil.

— Então, como anda a faculdade? Tem dois dias que você não vai. — comentou ela, tranquilamente, não suspeitando que essa faculdade era mentira.

— Ah, bem... eu decidi trancar. — Respondi, enquanto descascando algumas batatas.

— O quê? Por quê? — Allison me olhou, surpresa.

— Pensei melhor no que eu realmente quero fazer. — Falei, pensando que eu devia a ela alguma verdade.

— E o que é?

— Quero ser professor de química. — Respondi e ela ficou me encarando. E, sim, eu sabia das matérias trouxas. Química era a coisa mais próxima de Poções. — O que foi?

— Nada. — Ela sorriu e voltou a espremer os alhos.

— Fale, Allison. — Pedi, porque queria saber da opinião dela.

— Eu sempre achei que você não tinha cara de médico mesmo. — Allison riu e eu sorri, aliviado por ela não achar ridículo. — Fico feliz que saiba o que fazer.

— Eu também. — E voltamos a cozinhar.

— O que vamos fazer hoje, além de engordar? — Allison apontou para a carne que, agora, estava na panela. Agora, cozinhávamos o macarrão.

— Não sei, sinceramente. Ver um filme?

Allison pareceu se lembrar de alguma coisa e saiu correndo para o quarto, esbarrando com o quadril na mesa ao passar. Ela devia estar tão absorta no que queria, que esquecera de xingar. Enquanto eu a olhava com cara de pastel.

Quando ela retornou, trazia consigo um DVD, com a capa virada para o seu peito. Allison tinha um ar risonho quando parou à minha frente.

— Olha só o que eu achei! — Exclamou e virou a capa para eu olhar.

— Ah! — falei, pegando o DVD e rindo. A capa era o perfil uma menina, que lembrava vagamente Louise, olhando para um garoto, também de perfil, que lembrava vagamente a... mim! — Douglas Booth. Romeu e Julieta. — Eu voltei o meu olhar para Allison, que sorria.

— Quando eu vi isso, imediatamente lembrei de você! Ele é a sua cara!

— Convenhamos, eu sou mais bonito. — rebati e ela riu, sentando-se à mesa. — E, fala sério, Allison. Meu nariz é mais fino que o dele! E os meus olhos, com certeza, são mais claros.

— Pelo amor de Deus, James! Olha para isso. — Allison pegou o DVD e apontou para a capa. — Vocês são idênticos!

— Então você não sabe o que é beleza. — Tirei a capa de suas mãos. Allison revirou os olhos e pegou o DVD novamente.

— Eu sei o que é beleza... e ele é mais bonito que você.

— Allison! — protestei e ela riu com gosto, se levantando e terminando de fazer a comida. — Qual é! Esse é um filme velho, tem o quê? 15 anos? Ele deve ser velho atualmente!

— Gosto de homens maduros. Vamos assistir? — Quis saber ela fingindo não ter dito nada.

— O quê?

— O filme. Romeu e Julieta... queria comparar você e o ator. — Respondeu Allison. Algo que Allison e Holly tinham em comum: não viam clássicos ou filmes românticos para suspirar com o romance ou qualquer outra coisa do tipo. Elas gostavam de ver o que tinha por trás daquilo tudo, o que era ridículo, o que era cabível e, principalmente, dizer as mentiras que haviam naquele romance todo.

Algo me dizia que uma certa trouxa não gostaria delas.

Mas eu não queria ver aquele filme. Não, preferia ver um de ação ou comédia. Eu já havia interpretado Romeu uma vez, mudado tudo e de repente. Não queria vê-lo morrer, como de fato ocorrera.

— Não. Vamos ver outro. Ou... que tal uma série? — Sugeri e ela se alegrou, dizendo que amava séries policiais ou aquelas que tinham competição de comida, como cupcakes e bolos diversos.

Então, quando a nossa comida ficou pronta, nós fomos escolher o que iríamos ver. Era tão fácil estar com ela.

(...)

Se passaram cinco dias voando. No quarto dia, eu tive que ir à faculdade e o senhor Greysson tentou esconder sua incrível admiração pelas minhas notas. Sério, ele estava impressionado. E me disse, também, que Minerva McGonnagal mandou uma carta de recomendação dizendo que: “o que eu tinha de esperteza para pegadinha e a capacidade parar na sala dela de vez em quando, eu tinha de inteligência, paixão e outras coisas” e depois um bilhete especialmente lacrado para mim.

Nele estava escrito: "James Sirius Potter, não sei por que raios o senhor está se escondendo de sua família. Quero que saiba que eu não irei contar para os seus pais onde está, embora eu tenha essa vontade, mas a escolha é sua. É errado e você sabe que eles sempre irão te apoiar. Volte mais sábio, senhor Potter. Assinado, Minerva McGonnagal." Eu não soube como reagir e então, queimei a carta com a varinha.

As aulas só começariam em três semanas mas eu comecei a frequentar a escola no dia em que Holly voltara, por sugestão da própria, para me familiarizar com o lugar e checar como eram algumas aulas de penetra.

Allison ficou bem entusiasmada ao saber que eu já estava na disciplina que eu queria e, portanto, não me pressionou para ficar, mesmo o convite estando em aberto.

Tinha os dormitórios da faculdade e eu escolhi ficar lá. Era melhor para eu ver Holly e Allison, se querem saber.

As aulas eram engraçadas e divertidas. Como eu queria me especializar em Poções, eu não frequentava muitas outras matérias; apenas àquelas relacionadas a que eu queria fazer. Eles tinham aula prática, oral e escrita. E também tinha as aulas que ensinavam os alunos ensinar. Não vou dizer que era fácil, porque não era. Era bem difícil. Mas àquela sensação de desafio apenas me motivou ainda mais.

E eu continuava com Allison e Holly.

Estava conseguindo muito bem conciliar meu tempo entre elas e a faculdade. Tudo estava dando certo e o tempo foi passando e eu nem vi. Porque elas me distraíam e, honestamente, eu me divertia com elas. Por isso que eu gostava de ambas; elas conseguiam me... fazer esquecer tudo. E eu gostava disso nelas.

Mas então chegou a época natalina. E foi aí que tudo começou a desandar.

(...)

Eu sempre gostei do Natal. Mas aquele foi difícil, porque, além de eu estar longe da minha família e amigos há cerca de seis meses, eu tive que escolher entre duas pessoas com quem passar aquela data comemorativa. Quando, na verdade, eu queria mesmo era passar com as duas.

Ocorreu, então, de eu estar com Holly quando ela me convidou para passar o Natal com ela, sobrando-me apenas o Ano Novo para passar com Allison — e ela ainda nem sabia disso.

Portanto, lá estava eu, quando o convite aconteceu.

— Jay... — começou Holly.

— Oi...

— Você vai para Inglaterra, passar o Natal com seus pais? — quis saber ela e eu já sabia o que ela estava insinuando. Embora eu quisesse, bem lá no fundo, passar o Natal comendo as comidas da minha avó, eu não iria para lá por motivos que eu evitava pensar.

— Sabe que eu não... não estou muito bem com eles... — mentira. — Então vou ficar por aqui.

Holly assentiu, enrolando uma mecha do cabelo louro, pensativa.

— Gostaria de passar o Natal comigo? É uma coisa de família, todo mundo se reúne, meus pais estarão lá mas... não sei, talvez você goste. — Sugeriu ela, insegura.

— Claro, por que não? — Eu sorri, sentia que devia isso a ela após o episódio do convite para morar com ela e ela pareceu feliz. E, por isso, eu fiquei um pouco animado.

— Ótimo!

E me beijou, realmente contente.

(...)

— Ah, eu amo o Natal! — Exclamou Allison.

— Sério? Olha esse calor, Ali! — Eu disse, me abanando. — Você, mais do que ninguém, deveria se incomodar.

Eu estava com saudades da neve. Estava com saudades do peru. Estava com saudades de tudo. Eu queria sentir frio. Subitamente, eu lembrei de uma certa brasileira e em como ela estaria tirando sarro da minha cara naquele momento. Porque eu não estava aguentando o suor escorrendo pelas minhas costas. Até conseguia ouvir o que ela diria:

"— O que foi, Potter? Não aguenta um pouco de calor? — Teresa, então, riria. — O que houve com o "Potter Aguenta Tudo" ? O mundo dá voltas, não é mesmo?"

Ela iria adorar me ver naquela situação. E talvez iria rir de tudo aquilo... em outra era, provavelmente.

Allison me trouxe de volta à realidade.

— E eu estava incomodada quando estava em Nova York. — Reclamou ela, fechando os olhos e aproveitando a maresia. — Era só frio, frio e tempestade de neve. Aqui, podemos aproveitar os raios de sol no Natal. — Allison inspirou o ar. — Tem um cheiro diferente, já reparou? Durante o ano a gente não percebe, mas, quando chega o Natal, o ar é diferente.

— Allison, você é... estranha. — Eu ri, abrançando-a, enquanto ela tentava me afastar.

Nós estávamos perto da praia, na hora do almoço dela. Allison fazia estágio em um restaurante muito chique perto da praia de Sidney, que era onde estávamos naquele momento, e as vezes fazia alguns bicos como garçonete para juntar uma grana extra.

— E você não sabe de nada. — Retrucou ela e, então, ficamos em silêncio, apenas um recostado no outro. — Mas isso não quer dizer que eu não esteja com saudades da minha casa... — Allison suspirou e depois virou-se para mim. Seu olhar era cheio de esperança contida. — Vamos passar esse Natal juntos? Consigo uma folga para ficarmos juntos.

E lá estava eu, pensando em uma desculpa deslavada. Já estava parecendo que minha alma estava sendo sugada aos poucos por dementadores de tanta mentira que eu devia inventar, tanto para Allison, quanto para Holly.

— Eu não posso... — Ver a expressão de decepcionada de Allison encheu-me de culpa. — Decidi que está na hora de dar outra chance para minha família. E eu não quero que se sinta desconfortável se algo acontecer. — Quanta mentira, James Sirius Potter. De repente, lembrei da cicatriz no dorso da mão do meu pai "Não devo contar mentiras". — Mas o Ano Novo, vamos ver os fogos, só nós dois. — Ela assentiu.

Allison estava visivelmente magoada, mas ela preferia que eu fosse feliz com a minha família do que ficar com ela no Natal. E eu sabia o por quê. Porque ela própria não poderia ver os pais, já que ela não estava ganhando tanto para comprar uma passagem de ida e volta para os Estados Unidos. Apesar de dinheiro não ser um problema para mim, eu e ela não podíamos visitar nossos parentes - ainda que Allison não soubesse disso -, mas Holly tinha os pais que a aprovavam. Não estava "brigada" com eles e passaria a véspera de Natal com eles. Então Holly estaria completa e eu e Allison, não.

Entretanto, eu não podia desmarcar com ela. Se eu tinha prometido a ela, eu teria de ir, mesmo que a expressão de Allison tenha feio meu coração doer de culpa. Por isso, eu me abaixei e peguei um graveto do chão. Allison me olhou de maneira curiosa.

Nas aulas que eu frequentei de períodos avançados, eu aprendi a fazer magia sem varinha. A varinha é um meio fácil, mas numa situação sem ela, a magia com as mãos era útil. Era uma matéria extracurricular e mega difícil, de modo que eu não era muito bom nisso, Mas era razoavelmente bom com transfiguração sem varinha. Então eu fechei as mãos em volta do graveto e me concentrei; quando eu abri as minhas mãos, no lugar dele havia uma bela rosa.

Allison perdeu o fôlego e estendeu a mão, para se certificar se era real, se eu havia feito um truque. Mas era de verdade e ela percebeu isso, pois, além de eu não ter movido a mão em nenhum momento, a rosa era tão papável quanto uma rosa recém colhida. Allison estava admirada e eu sorri.

— É... é linda, James! — disse ela, embasbacada. — Como fez isso?

— Magia. — Respondi e Allison ergueu uma das sobrancelhas. — Pode me revistar. — Dei de ombros.

— Você usa uma varinha? — Perguntou, depois de me apalpar.

— Essa é a sua pergunta? - Estranhei, ela balançou a cabeça.

— Estou tentando absorver a informação.

— Não quando estou perto de você. — Admiti, decidindo que eu devia algo a ela. Eu já estava mentindo por tanta coisa! E ainda não passaria o Natal com ela... eu precisava dizer que tinha poderes.

— Por quê? — Allison parecia ofendida e ainda admirada.

— O correto seria não contar a você. — Respondi. — Os... as pessoas normais não aceitariam ou não acreditariam ou simplesmente viraríamos motivo de chacota. Você mesma riu naquele dia.

— Eu sabia que você tinha ficado aborrecido! Você é mesmo um... mágico?

— Eu prefiro o termo bruxo. É algo muito mais complexo que imagina. — Eu a abracei. — Temos escola em que nos ensinam a controlar a magia.

— Então os filmes mentiram?

— Os filmes mentem. — Confirmei, assentindo com a cabeça.

Allison ficou alguns segundos em silêncio, absorvendo as novidades. Depois, virou-se para mim outra vez.

— E você está confiando a mim esse segredo? — Agora ela estava espantada.

— Sim. E espero que o mantenha assim. — Falei o mais sério possível. Allison fez que sim com a cabeça. Eu não tinha medo de que ele contasse a alguém, mas não queria que isso saísse entre nós.

— Eu vou... quero ver você fazer alguma magia depois... com a varinha. — Disse ela, olhando para o relógio e pulou do banquinho. — Tenho que voltar! A gente se vê mais tarde? Esteja preparado, quando minha ficha cair eu vou fazer um monte de perguntas. Ou surtar. Espere pelos dois!

Eu ri.

— Tudo bem. — Mas ela já corria de volta para o restaurante.

E assim foi. Passei alguns dias com Allison, que surtou por uns minutos em choque e após um copo d'água quis saber tudo o que eu podia fazer, enquanto eu media com cuidado o que dizia. Fiz alguns feitiços com a varinha, fazendo Allison ficar encantada. Era estranho, mas eu sabia que ela não ia contar a ninguém. Então eu, literalmente, relaxei.

Mais dias se passaram - estes os quais eu consegui mediar perfeitamente entre as garotas, a faculdade estava mais ajudando que atrapalhando, por mais que eu ainda não tivesse começado literalmente - e a semana do natal chegou.

Um dos meios que eu encontrei de compensar Allison fora passando grande parte da tarde da véspera em sua companhia, o que pareceu ser suficiente.

— Não quero te deixar sozinha. — Comentei parando na soleira da porta e a beijando.

— Não quero te fazer perder o vôo. Eu vou ficar bem.

— Tem certeza?

— Absoluta. Mamãe marcou uma conferência skype mais ou menos para hora que eles tiverem acordado, vai ser como estar lá. E, depois, eu arrumei um bico hoje a noite para tirar uma graninha extra. — Ela sorriu e eu suspirei.

— Voltarei em dois dias. — Prometi e ela assentiu.

— Resolva-se com eles e me mantenha informada. — Concordei e virei-me para ir quando ela segurou minha mão. — James? — Virei-me para encará-la. — Eu amo você.

Sorri e a puxei para perto, beijando sua testa.

— Eu amo você mais. — Sussurrei e antes que ela pudesse responder, desaparatei, ouvindo seu grito assustado antes de realmente partir.

O riso que eu pensei em reproduzir assim que cheguei ao apartamento de Holly ficou congelado em pensamento mesmo, abafado pelos gritos da loira que vinham de não muito longe dali.

— James Sirius Potter! Onde você estava? Já são quase seis da tarde! Você sabia que nós não toleramos atrasos também?! Sabe, por causa da colonização inglesa...? — insinuou ela e eu consegui soltar o riso.

— Desculpe. Estava resolvendo uma papelada de última hora na faculdade, recebi a coruja hoje de manhã. — Disse e me aproximei, mas ela se afastou.

— Já estamos atrasados demais! Você não podia ter deixado isso para depois? Vá tomar seu banho! Vou terminar de me arrumar.

(...)

Quando saí do banho, penteando — ou tentando pentear — os cabelos, Holly recebia um Patrono de um coala. Franzi a testa e ouvi.

— Hey, mana. — A voz era feminina. — Lembra do vinho incrivelmente especial, que eu sempre levo, daquele restaurante italiano incrível? Então, hoje você terá de levar, pois vou chegar atrasada na casa dos nossos pais. Ser medibruxa não é fácil, você sabe. Já avisei a eles, então... faça esse favorzinho para sua irmã querida? Não esqueça que ele fecha às oito na véspera de natal! Obrigada.

E o Patrono se dissolveu. Holly suspirou e eu deixei o pente de lado. Ela pegou a varinha e se concentrou. Holly sussurrou uma resposta rápida e um canguru Patrono saiu pela janela.

— Seu Patrono é um canguru e o da sua irmã um coala? — perguntei e ela pulou dois metros. Eu gargalhei e fui até ela, que me fuzilava com os olhos. — Isso é meio clichê... Ei, não me olhe assim. O meu é um pavão!

— Ok. — ela riu, suavizando o olhar. — Isso não é nada clichê.

— Ah, vamos logo! — exclamei e estendi a mão para ela. Holly revirou os olhos e pegou a minha mão, aparatando logo em seguida.

Só porque eu estava acostumado a aparatar, não quer dizer que eu goste de fazer isso. Ainda mais acompanhado. Respirei o ar fresco, mas ainda quente, de Natal e caminhei com Holly até a rua — já que havíamos desaparatado em um beco escuro.

Tudo estava iluminado para o Natal. Havia Papais Noel em vários lugares — em forma de boneco inflável, homens fantasiados ou mesmo bonecos mecânicos. Pisca-piscas também fazia parte das decorações; em formatos de estrelas cadentes, guirlandas e árvores de Natal. Ah, árvores de Natal... tinha pinheiros, todos iluminados também. Era muito bonito, pois não havia neve em volta e as poucas pessoas que estavam na rua vestiam bermudas e regatas.

Holly me guiou até a fachada de um restaurante cuidadosamente enfeitado com piscas-piscas. Assim que chegamos a entrada um homem muito bem vestido veio nos recepcionar, perguntando se queríamos uma mesa para dois.

Antes que Holly negasse, e ela ia fazer isso, eu concordei, sorrindo para o homem e passando meu braço por sua cintura;

— Estamos atrasados! — Ralhou comigo assim que o homem foi embora, deixando-nos sentar a mesa.

— Hey, só estamos fazendo o que sua irmã pediu. Precisamos sentar um pouco, experimentar os vinhos e esperar seu paladar distinguir qual é o que vocês normalmente tomam para, só então, ir.

— Eu sei de cor, James. — Suspirou.

— Ótimo, então tomaremos uma taça para eu ver se gosto, se não, levarei um de minha preferência em presente a sua família, ok? — Sugeri, inclinando-me sobre a mesa e a puxando para mais perto, mordiscando seu lábio inferior.

Antes que Holly cedesse a meu incrível poder de sedução e concordasse, porém, o barulho de uma garrafa caindo no chão tilintou em nossos ouvidos. Olhei para o lado e eu a vi. Allison.

Dessa vez, ela realmente não fora desastrada.

Eu me desgrudei de Holly tão rápido, que ela me olhou de um jeito confuso. E eu fiquei em ação, pois não conseguia tirar os olhos de Allison, cuja as expressões de dor, raiva, mágoa estava estampada em seu belo rosto.

— O que foi, James? — Holly perguntou e pegou a minha mão. Allison ofegou.

— Então James? É assim que você se resolve com sua família? Ela é o quê? Sua irmã? Prima? Por que não me contou que eram tão íntimos assim? — Allison finalmente achou a voz. Holly olhou para mim, inclinando a cabeça e franzindo a testa.

— Você a conhece? — ela quis saber.

— Eu.. a... eu... — Tentei dizer, mas não conseguia formular uma frase. Então Holly se afastou de mim, o cenho ainda franzido.

— É claro que ele me conhece! Dorme comigo ao menos três noites na semana. Às vezes durante a tarde, como hoje! — Exclamou Allison, espumando. Lágrimas caíam de seus olhos. Eu já disse que eu odiava ver garotas chorando?

— James, é melhor se explicar. — Holly cruzou os braços, levantando-se e ficando entre Allison e eu.

Eu ainda não conseguia dizer nada e não conseguiria, já que ao notar certo desentendimento o homem que nos recepcionou caminhou em nossa direção e, gentilmente, pediu para que nos retirássemos. Mas sua gentileza não fora a mesma com Allison, aquele, aparentemente, era o bico ao qual ela tinha mencionado.

— Hey amigo, não fala assim com ela. — Disse para o homem, passando por ele e indo até Allison.

— Uma explicação muito, muito boa! — Holly avisou.

— Não encoste em mim! — Allison gritou, desvencilhando-se de meu toque.

— Meninas… eu… — Passei a mão no rosto. — Podemos conversar lá fora antes que chamem a polícia?

— Que chamem a polícia! — Allison estava completamente descontrolada, mas a ameaça do homem a fez concordar em sair.

Eu não sabia se o agredia, se a amparava ou se explicava para Holly o que estava acontecendo.

— Eu sabia... olha para ela... eu sabia... eu podia sentir o gosto do batom dela... eu sabia... — dizia Allison, balançando a cabeça enquanto saia do restaurante.. E depois me olhou. — DIGA, DIGA PARA ELA! DIGA QUE VOCÊ ESTÁ COM NÓS DUAS!

Allison se aproximou de mim e eu permaneci no mesmo lugar.

— DIGA QUE VOCÊ DIZIA ME AMAR TAMBÉM! — A dor era evidente em sua voz. A mágoa, a decepção.

Holly me olhou, como se esperasse que eu chamasse Allison de louca. Mas eu apenas devolvi o olhar sem expressão e Holly entendeu que Allison não era maluca, que eu estava mesmo com as duas, usando-as.

Antes que eu conseguisse organizar minha cabeça e fornecer uma boa explicação para elas, senti uma palma cobrir meu rosto em um impacto forte e o lançar para a direita. Holly estava parada a minha frente, certamente disposta a me dar outro tapa daqueles.

— Eu... sinto muito. — Foi só o que eu disse. Holly riu, descrente.

— Por quê? — Ela perguntou e eu suspirei. Não tinha mais certeza se estava no mesmo plano que elas. Meus pensamentos tinham viajado para longe.

Logo depois, senti outra mão em meu rosto. Essa um pouco mais delicada, mas que ao perceber que o efeito do tapa não tinha sido o esperado, começou a esmurrar-me do melhor modo que pode.

Não fiz um único movimento para tentar impedí-la, apenas abaixei a cabeça e deixei com que os socos e tapas me atingissem.

— James Sirius! — Holly gritou, sem fazer um movimento para tirar Allison de cima de mim. — Eu quero uma explicação! Agora.

— Eu… nunca quis magoar nenhuma de vocês. Eu sinto muito. — Foi tudo que eu consegui dizer e, ali, no meio da rua, sem pensar nos trouxas circulando por ali ou no que pensariam, desaparatei.


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Notas finais do capítulo

E... é isso. Esperemos e acreditamos que o capítulo seguinte virá um pouquinho mais rápido, mas sem promessas, já que, como venho dizendo, falta tempo. Bem, O que acharam deste capítulo? Sei que pode surpreender um pouco vocês, mas em breve vocês descobrirão (ou talvez saibam) a razão de James ter ficado assim. Quero teorias e opiniões, tudo o que puderem me oferecer! Xo ~Lia/Vic.