O Sequestro de Madame Rowling escrita por Aluada


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Eu pesquisei algumas coisas sobre policiais ingleses para escrever este capítulo, mas não achei nada muito significativo. Por isso, eu posso ter me equivocado na descrição. Se alguém souber alguma coisa, ou achar algum erro, por favor, me avise.

O poema foi modificado do original em português d'O Cálice de Fogo, por isso não briguem comigo se carecer muito de rimas...

NOTA: Sinopse modificada.
NOTA 2: Mudei "Rua Arlington" para "Arlington Street" para manter a referência original.



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00h58
Na casa da frente

            — Cara, eu não sei se quero fazer isso...

            — Você tava com vontade até agora.

            — Não isso! Eu estou, mas... seus tios estão lá! E eles estão acordados ainda, olha lá!

            — E daí? É a minha casa e eu convido quem eu quiser pra entrar nela, vem.

            Larry Potter estacionou a viatura de qualquer jeito perto da calçada e puxou o amigo para dentro de sua casa, uma bela construção de dois andares que tinha herdado do pai. A partir dela, um fato era bastante óbvio: Larry, com seus vinte e poucos anos, já era um cara muito rico.  Um policial dedicado, acima de tudo, e extremamente teimoso – Donald Weasley sentia toda aquela teimosia na pele, literalmente, enquanto o companheiro o empurrava para dentro do sobrado.

            Sua primeira visão ao entrar não poderia ser pior e mais intimidante: dois pares de olhos esbugalhados e mal-humorados, que deixavam a televisão justamente para o encarar, pertencentes a pessoas cujo parentesco Potter era questionável. Os dois eram Venom e Pecúnia Dursley, o primeiro gordo até a morte e a segunda magra até morte, nenhum dos dois muito simpático.

            — Dá licença — Donald gemeu baixinho e fez questão de limpar o pé no carpete por tempo demorado sob o olhar de Pecúnia. Ela não transpareceu nenhuma expressão positiva.

            — Tio, tia, esse é meu amigo do trabalho, o Donald. Não temos muito tempo pra conversar, ele precisa usar o banheiro e já vamos sair — Larry apontou o caminho da salvação, e o outro saiu correndo.

            Seguiu-se um silêncio desconfortável entre sobrinho e tios, até Pecúnia decidir se levantar e ir bisbilhotar os vizinhos pela janela da frente. Aquele era seu sinal de incômodo maior. E ela era uma pessoa realmente incomodada, porque tendia a fazer isso o dia inteiro.

            O mecanismo de mostrar incômodo de Venom era diferente. Ele preferia resmungar, brigar e chutar. E ele também era alguém extremamente incomodado com a própria vida.

            — Você sabe que nós não gostamos de pessoas da sua laia perto da gente — fora direto e resoluto — Policiais são todos sujos e incompetentes, estão todos metidos em alguma coisa ilegal por fora.

            — Hum — Larry só coçou a cabeça e suspirou, porque estava acostumado com as crises existenciais permanentes do homem. Seu ato maior foi o de se jogar no sofá e roubar o controle remoto. Mudou de canal, pôs na MTV. Ah, como aquilo deixava seu tio irritado! Podia até vê-lo subindo pelas paredes.

            — É só isso que você vai fazer a respeito? Falar “hum”?

            — O que quer que eu faça? Que eu chame a polícia? — e riu, até perceber que o tom vermelho do rosto de seu tio não poderia piorar. Ah, como aquilo era divertido!

            Mas a alegria logo foi jogada fora pela fofoca da janela.

            — Venom, querido — a voz de Pecúnia soou irritante por baixo das cortinas — Aquela escritora maluca da frente está recebendo gente na casa dela a essa hora, acredita?

            — Quem é, dá pra ver? — ainda falava bravo, nada de novo.

            — Um Ford azul, e ainda por cima velho. Que nojo. Tem dinheiro e nem sabe escolher as companhias.

            — Azul? Se fosse o preto eu ia dizer pra gente já se preparar, porque é daquela cunhada dela escandalosa e capenga de filhos...— os ouvidos de Larry já estavam prestes a derreterem de futilidade quando Donald finalmente surgiu do banheiro.

            — Já?

            — Alarme falso — e acrescentou, com as orelhas vermelhas: — Melhor esperar um pouco pra entrar lá.

            — Aaahn... obrigado por avisar. Vamos.

            Larry até mesmo chegou girar a maçaneta da porta da frente sem perceber que Donald não estava nem um pouco interessado em lhe acompanhar. Talvez tivesse com medo de que aquela primeira má impressão dos Dursley fosse algo pessoal, ou algum sentimento de culpa por ter deixado sua “marca” no banheiro – Larry jamais entendia certos comportamentos educados para com seus tios, viessem de qualquer um. De qualquer modo, quando voltou-se para procurar pelo amigo, encontrou-o próximo à janela também, tentando travar um diálogo amistoso com Pecúnia.

            — Essa aí é aquela que escreve Harry Potter, não é?

            — Um-hum — ela limitou-se para somente abrir a boca ao marido: — Veja, Venom, veja, ela acendeu todas as luzes da casa!

            — Ela deve estar escrevendo aquele livro maluco dela — o homem resmungou, sem mover-se do sofá.

            — Ela não gosta de escrever em casa. Prefere cafés e pubs. O preferido dela é o Elephant House.

            Os três se viraram para o ruivo com uma digna surpresa.

            — Você também sabe qual é o número do sapato dela, é?

            — Qualé, Larry! É que... a Hermelinda, sabe, ela ama Harry Potter...

            Com as orelhas vermelhas, e sem que Larry pudesse impedi-lo, voltou para a viatura.

           

           

              
         

Um pouco antes, 00h31
Na mansão Rowling

            A cabeça martelava, martelava, martelava. A última vez que se sentira tão mal assim fora na noite em que inventara a idéia do Whiskey Flamejante. Agora, por algum motivo desconhecido, a mesma bebida não saía da sua cabeça. Será que tinha mesmo bebido whiskey? Ou, não – será que tinha sido mesmo Whiskey Flamejante?

            Isso é só coisa do seu livro, Jo, disse a voz da sua consciência ainda não tão consciente assim, mas ainda melhor do que seu ego.

            O livro. É verdade. Eu terminei de escrever Harry Potter and the Deathly Hallows. Até dei uma entrevista sobre ele, não foi? É. Com aquela mulher irritante. É. E foi... onde foi mesmo? Aliás – aliás, onde diabos eu estou?

            Aquela era uma pergunta difícil de ser respondida enquanto seus olhos se mantinham fechados. Estavam pesados demais para serem forçados a qualquer movimento, assim como o resto do seu corpo. Tudo estava tão confortável que ela sentia que poderia ficar daquele jeito para todo, todo o sempre... não fosse a sensação desagradável que sua consciência lhe fazia sentir inexplicavelmente.

            Com o qüinquagésimo oitava suspiro, resolveu abrir os olhos. A visão imediata da estranha figura masculina caiu em sua mente com um forte baque, e de repente tudo veio à tona: o semáforo, a chuva, a carona, Ana Bela, o sétimo livro, o abajur, a escuridão.  A sensação de conforto de seu corpo começou a incomodar quando percebeu que, na realidade, ela não podia senti-lo, não podia movê-lo. Estava atada a lençóis em sua própria chaise-longue.

            — Bom dia — Tony Riddle estava sentado a uma cadeira imediatamente à frente da escritora —, ou boa noite, como preferir, porque só se passaram quatro horas.

            — Quatros horas..?

            — Desde que nós chegamos aqui, sim. Talvez você esteja ainda muito confusa. Bea não sabe controlar seus impulsos violentos, desculpe, ma’am. Deixe-me recapitular os fatos pra você. Nós te encontramos no —

           — No semáforo, sei, sei, quando vocês milagrosamente me salvaram e tentaram me matar — aquela noite desagradável estava passando dos limites das noites desagradáveis —. Minha memória está intacta o suficiente para testemunhar contra vocês depois, obrigada.

            — Nossa, ainda bem que os nós de Bea são seguros — ele riu de um jeito nada engraçado —. Fique calma, madame – digo, Jo –, fique calma. Eu só quero conversar com você.

            — Eu não. Me solte.

            — Eu vou te soltar, é só você me ouvir um pouco. Eu vou cumprir o que falo, e você não tem nada a perder.

            Ficou quieta, mas não porque tivesse concordado com o trato, mas sim porque aquelas palavras do jovem lhe atingiram o ouvido de modo assustador. Era como se já as tivesse ouvido antes, sempre as tivesse ouvido, dentro da sua mente, dentro... dos seus livros.

            — Ótimo, então eu vou continuar — e continuou: — Nós te encontramos no semáforo, sim, conforme o combinado. Seu carro parou e nós conseguimos te colocar dentro do nosso —

            — Espera – “conforme o combinado” — ? Vocês já tinham planejado tudo? Como — ?

            — Detalhes não são importantes — o tom de voz dele realmente a convenceu — Continuando, agora espero que sem interrupções: conseguimos te colocar dentro do nosso carro e entrar na sua casa. O que foi um grande feito, lógico, porque você jamais teria permitido que míseros fãs como nós entrassem aqui. Mas nós conseguimos, e ainda como recompensa por nossa bondade você gentilmente nos mostrou seu último livro. O último livro. Harry Potter and the Deathly Hallows. Basicamente do mesmo tamanho do anterior, bem mais sombrio, oh sim, mais detalhado e complicado também, cheio de personagens novos e jogados. E você realmente tem lido muitas fanfics, Jo, devo dizer que eu e Bea esperávamos que RAB seria alguém mais interessante que Regulus Black e aquela historinha óbvia da Horcrux no medalhão...

            — Vocês – vocês leram!

            — É lógico — aquilo era um pecado —, mas que fique bem claro que pedimos sua permissão antes de roubar ele de você.

            — Vocês não tinham direito!

            — Não, Jo, você está errada. Você não tinha direito de ter feito o que fez. Nós esperamos por esse livro há anos, anos, desde que pusemos os olhos pela primeira vez no mistério da família Potter. Não, ssh — ele não permitiu que ela interrompesse, e mesmo sua delicadeza parecia uma grande perversidade — Nós queríamos saber por que Voldemort queria tanto matar Potter. Você nos deu a profecia. Você nos disse que um não poderia viver enquanto o outro sobrevivesse.  Então, você mata Harry Potter – e o Menino Que Sobreviveu se torna o Menino Que Reencarnou! Como você pôde ter escrito uma atrocidade destas? Como..?

            — A história é minha.

            — NÃO! — agora o jovem simpático revelava finalmente sua forma bruta — HARRY POTTER NÃO MERECIA VIVER! ELE ESTAVA MORTO! MOR-TO!

            — Você queria um final triste?

            — Não; eu queria um final coerente! Um em que Voldemort tivesse conseguido o que queria, e não um em que Harry Potter sobrevive pela milésima vez e tem uma penca de filhos!

            — Você realmente está me dizendo que queria que o mocinho tivesse morrido no fim..?

            — Mocinho?! Potter era somente o protagonista, ele só dava nome à série – porque Voldemort sim fazia jus à história, ele é a pessoa que mais sofreu em todos os livros, ele que teve a infância solitária, ele que foi o jovem incompreendido, ele que foi perseguido por todo o mundo bruxo! Voldemort quase foi morto duas vezes na sua história, enquanto Harry Potter sobreviveu duas vezes! Você acha que isso é justiça? Você acha — mas ele não conseguia mais continuar, porque de algum modo seu corpo tremia de raiva — Olha, o fato é que o Lorde Voldemort é meu personagem preferido entre todos os outros, e o de Bea também, e você – você – VOCÊ ESTRAGOU TUDO!

            Jo mal atrevia a respirar debaixo de suas atas. Sua raiva descomunal tinha se transformado drasticamente em um pavor imenso de contradize-lo. Por um momento até que considerou todas as observações gritadas do jovem e sentiu uma ponta de arrependimento por tudo o que tinha feito ao ‘pobre’ vilão – e assim ela gemeu um “sinto muito” bem por baixo da respiração.

            — Eu sabia que você sentiria — foi o que ela surpreendentemente ouviu daquela voz masculina que, antes descontrolada, agora soava novamente gentil. Viu ele se levantar, se agachar ao seu lado e se pôr a desfazer suas amarras — E é por isso que eu e Bea ainda estamos aqui.

            — Tudo o que nós queríamos era saber o final — continuou —, que, você sabe, ficou horrível. Pavoroso. Decepcionante. Um desastre. Então, como primeiros leitores da sua obra, nós decidimos lhe dar mais uma chance. Nós queremos — e por fim livrou-a — que você reescreva o fim.

            — Reescrever..? — ela realmente tinha dificuldades em entendê-lo.

            — Sim, sim, um que seja justo com nosso verdadeiro herói — deu uma piscadela e chegou extremamente perto do rosto da autora — Por favor, ma’am, não nos entenda mal. Nós te amamos, amamos mais do que qualquer coisa. Desculpe se foi grosso, te desrespeitei, ou... Tivemos que te prender porque sabíamos o quanto você ia ficar brava com a gente. Mas já passou, não é? O motivo é justo, não é?

            Ah, claro, respondeu internamente a voz em sua cabeça – mais sarcástica, impossível.

            — Vou te deixar pensar agora. Qualquer coisa não hesite em nos pedir — viu ele se levantar, e teve um ímpeto de chamá-lo antes que saísse:

            — Meus filhos! — falou alto — O que vocês — ?

            — Não se preocupe, ma’am, eles estão afundados no sono desde que chegamos, lembra? Bea colocou a Nanny — e apontou o aparelho de monitoramento à distância em cima da escrivaninha, semelhante a um walkie-talkie — pra você poder ouvir eles. Ela é muito atenciosa com essas coisas.

            Tony se virou de volta a seu caminho, e Jo não pôde continuar segurando sua questão – a resposta era quase óbvia, mas era como se ela tivesse que ser ouvida de verdade para movimentá-la a fazer algo concreto.

            — Riddle – e se eu achar a história já basta? E se eu não quiser escrever um novo final?

            Se pudesse, teria voltado atrás e evitado a pergunta. O sorriso que o jovem deufoi terrivelmente perigoso, fez suas entranhas se revirarem de geladas, e por muito tempo depois não pôde esquecê-lo.

            — Você quer.

            Quando ele deixou o escritório, o fez com um click de trinco girando.





01h15
Ainda na mansão Rowling

  
         
Sem telefones, sem celulares, sem computador, sem internet, sem fax, sem qualquer meio de comunicação com o mundo externo. Também estava sem as chaves que sempre carregava no pescoço. A única janela do recinto estava igualmente fechada, com algum obstáculo do lado de fora – nada significante, aliás, porque apontava para o jardim de trás, longe da vista dos transeuntes. Jo constatara tudo isso nos longos e aflitos minutos que se sucederam à conversa “amistosa” com Tony.

            A única passagem para fora era a porta.

            Ah, se eu soubesse como fazer um Alohomorra agora, pensou nervosa, enquanto revirava os cabelos antes elegantemente preparados para a entrevista. Ela já tinha lido tantos livros na vida, tantos policiais, tantos em que aquele truque tinha dado certo... impossível não funcionar na vida real... pronto! Segurou entre os dedos trêmulos o fino grampo que lhe prometia a liberdade.

            Traçou o plano: abriria a porta, procuraria por uma saída, provavelmente se esconderia embaixo do sofá, de onde teria uma visão completa. Dali, decidiria o que fazer; provavelmente a porta da frente estaria fechada, e teria que procurar por um celular no andar de cima. Nada muito garantido, mas o melhor que poderia fazer até o momento.

            Encostou o ouvido na porta de madeira enquanto encaixava o grampo no buraco da fechadura. Procura sentir as engrenagens, encaixa-lo da maneira perfeita. Girou, girou, já funcionou em tantos filmes, girou, girou, vamos, querido, vamos, até que... click! Lá estava a porta, destrancada perante seus olhos.

            Abriu uma fresta.

            Encarou a sala de estar, silenciosa.

            Livre.

            Sorriu consigo mesma.

            Abriu-a mais um pouco, o suficiente para deixar passar seu corpo todo.

            Pôs uma perna para fora, depois a cabeça, depois —

            Encontrou os olhos faiscantes de Beatriz Lestrange, furiosos em sua direção, muito próximos ao seu rosto, quase colados aos seus próprios.

            — Nós aprendemos uma valiosa lição com seus livros, sabia, madame Rowling?

            — Aaahn... amor?

            Beatriz empurrou-a volta para dentro de um tal modo que a porta se escancarou, batendo com força na parede, ao mesmo tempo em que Rowling caía de costas no carpete. Bateu o cotovelo no chão, e por alguns instantes ficou cega pela dor – isso não a impediu de ouvir as gargalhadas agudas da mulher, distantes, loucas e cruéis.

            — Amor..! Há! Amor! — ainda rindo, agachou-se ao lado da escritora e agarrou-a pelas bochechas, suas unhas afiadas quase perfurando seu rosto — Não querida... Vigilância constante!

            Ainda rindo, deixou-a largada no chão, trancando a porta atrás de si.

            Não chovia mais.





02h20
Na viatura

  
         
O rádio passava barulhento a noite toda.

            (chiado) ... KAP, KAP! Assalto na Baker Street com Privet Drive... Baker com Privet Drive... (chiado) ... Positivo, a caminho! ... (chiado) ... KAP, pichadores na Arlignton Street com Elm Street... (chiado)

            — É nosso! — Larry pegou o microfone — Positivo, a caminho! — e virou à direita na esquina mais próxima.

            — Deve ser a gangue do Malfoy de novo... — Donald se lamentou, escondendo o rosto entre as mãos.





Um pouco antes, às 02h02
Na mansão Rowling


            Sem ter qualquer noção do tempo, Jo continuou deitada no chão. Alguns outros planos surgiram em sua cabeça, todos muito absurdos e mirabolantes, prováveis efeitos de sua longa convivência com Harry Potter. Suspirou seu – e já até tinha perdido a conta – suspiro. Se pudesse matá-los como matava seus personagens, tudo seria tão mais fácil...

            Jo!, censurou-se, e não pensou mais nisso – até o exato instante em questão, quando teve a ligeira impressão de que algo passava por debaixo da porta. Ergueu a nuca e, de fato, encontrou um cartão.

            Em sua frente, havia uma feia caligrafia de forma:

 

A esta altura, você já deve ter percebido que nosso livro favorito é o quarto, não é?

 

No verso, ao contrário, uma letra de mão muito bem floreada. Era um poema assustadoramente familiar...


           Não se esqueça de que estamos na sala de estar,
           Ansiosos pelo livro que vamos ver,
           E se quiser fugir, pense bem:
           Levamos o que lhe fará muita falta,
           Uma hora inteira você deverá escrever,
           Para recuperar o que lhe tiramos,
           Mas passada a hora – adeus esperança de achar.
           Tarde demais, foi-se, ela jamais voltará.

            CONTINUE ESCREVENDO.


           Jo lembrava-se detalhe por detalhe das circunstâncias em que tinha escrito versinhos parecidos. Eles pertenciam ao quarto livro. Sim, o quarto livro, o favorito de sua dupla de seqüestradores, aquele em que Bellatrix Lestrange aparecia pela primeira vez, aquele em que Lorde Voldemort ressurgia em definitivo, aquele em que Diggory era assassinado sem motivo algum.

Diggory, o menino que tinha buscado Jessica em casa..?

            Tarde demais, foi-se, ela jamais voltará.

Tomada pelo ódio e pela angústia, não pôde se dar conta de que tinha investido furiosamente contra a porta, desferindo seus socos e chutes mais fortes.

— JESSICA! O QUE VOCÊS FIZERAM COM A MINHA JESSICA? O QUE VOCÊS FIZERAM COM ELA? JESSICA! JESSICA! JESSICA..!

Depois, cansada e torturada, voltou-se para seu bloco de papel.

Não havia mais nada a fazer, senão escrever.


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