Estou nas férias faz um tempo mas não consigo parar de pensar no que rolou no momento que eu tava na enfermaria. 

Foi simples, pelo menos eu esperava que tivesse sido simples, mas na verdade foi uma das coisas mais difíceis que já fiz. Ou melhor, presenciei.

Havia um bilhete na mesinha ao lado da minha cama no meio da noite e eu o peguei.

"Existem pessoas como você. Você só tem que estar preparado para os encontrar" estava escrito numa letra caprichada e fina.

Eu me esforcei a pegar minha varinha e conjugar pena e tinta para responder. Escrevi no verso "Estou pronto" e devolvi o bilhete pro mesmo lugar.

Eu não sei se foi um sonho ou não, foi muito real para não ser mas também foi inacreditável, ainda mais porque minhas coisas não estavam lá quando acordei de manhã, nem o bilhete nem a pena e a tinta.

"Teddy"

Desperto dos meus pensamentos e a olho. Minha avó me olha preocupada aninhando Pressler em seus braços.

"Sim?"

"Você está bem?"

Assinto sorrindo suavemente.

Mas não faço a mínima ideia se estou bem.

Foi uma zoação? Quiseram brincar com meus sentimentos de não pertencer a nenhum grupo exatamente?

"Você não tocou na sua comida"

Olho pro meu prato. Minha comida favorita está nele. Como eu não notei?

"Estou sem fome" falo baixo, falando a verdade.

Mas isso só faz o olhar dela de preocupação aumentar.

"O que houve?"

Eu suspiro e me levanto, caminho lentamente até o sofá e ela me segue depois de colocar a gata no chão.

Quando me sento no sofá, ela se senta ao meu lado. Quando pego sua mão, ela me abraça e aninha.

Eu fecho os meus olhos e desabo no colo dela, conta do tudo que sinto e tudo que penso.

Conto cada detalhe. De como não me encaixo em lugar algum e como sinto que no fim das contas o único que talvez me entenderia seria o meu pai. Ele tem uma parte lobo como eu afinal.

Eu sinto falta do meu pai. E eu sinto falta da minha mãe.

Meu pai poderia me ajudar com a minha parte lobo e poderíamos discutir DCAT, ele poderia se orgulhar das. minhas notas e me repreender caso eu vacilasse nelas.

Minha mãe poderia ter me ensinado a voar, comemorando minhas vitórias de Quadribol e me ensinando truques legais para fazer com a metamorfomagia.

Mas eu não os tenho e com isso tenho medo. Tenho medo de não me encaixar em lugar algum nunca, principalmente porque não tive meus pais.

Até com o Luke, que é o meu melgor amigo e o meu irmão de alma, eu não me encaixo completamente. Por exemplo, se estivermos numa biblioteca eu vou ir ler mas o Luke não.

Eu solto todo meu desabafo nos braços da minha avó e ela me acaricia enquanto espera eu terminar.

"Meu anjo" ela chama quando termino. "Você nunca vai encontrar alguém totalmente igual a você, ser diferente é importante. Você não pode e não deve procurar pessoas iguais a você pois não encontrará, o que você deve é procurar pessoas que o façam bem."