O capitão operava o leme com nervosismo, fazendo com que o navio fizesse curvas rápidas pelo mar revolto. Os tripulantes mais inexperientes não sabiam oque fazer, então apenas gritavam desesperados quando avistavam algum perigo, como uma barreira de coral ou uma grande rocha. Os navios da marinha nos perseguiam com vigor. Nós contávamos apenas com um leme normal e com as velas para nos mover, mas eles possuíam equipamentos tecnológicos que permitiam que eles fizessem o impossível sobre as águas. Rajadas de água eram jogadas contra o meu rosto mas eu não me movia, continuava olhando para frente, enquanto aguardava ordens. Depois de dois anos vivendo com o capitão em alto mar, eu aprendi a permanecer desta forma. Não importa o tipo de perigo, eu não tenho medo. Não preciso mais de medo. Um dia precisei, mas agora é somente um sentimento inútil e que é reprimido com facilidade. As rajadas e respingos de água salgada continuam a se chocar contra o meu rosto, mas eu sei que não são efeitos proporcionados somente pelas grandes ondas que balançavam o navio. Asa balas de canhão que atingiam a água do nosso lados também faziam a água jorrar e o navio estremecer. Os novatos se abaixavam sempre que um estrondo anunciava novos disparos.

— Acho que esse é o momento certo para você usar a Akuma No Mi, primeira Imediata. — Anunciou o capitão, olhando para trás rapidamente, para identificar a posição dos navios da marinha e completar manobras evasivas rápidas.

— Você sabe o que vai acontecer se eu utiliza não é? — Respondo em um tom respeitável.

— Estou ciente do que irá acontecer. Mas eles não vão te pegar. É uma promessa. Eu vou proteger sua habilidade e leva-la de volta para a Ilha Kurifu em segurança. — O nome da ilha onde nasci. Uma ilha que ficava escondida. Que nunca foi catalogada. Sempre esteve escondida. Seu nome significava literalmente “penhasco” ou ”rochas”, o que faz com que sua aparência seja algo óbvio. Eu sei porque o capitão queria me levar de volta em segurança. Ele me tirou de lá e não queria que eu morresse por culpa dele. Ele sabe que se eu continuar com ele, serei morta pela marinha. A cabeça dele está com um alto preço, e isso afeta todos que são próximos a ele. E eu sou uma das pessoas mais próximas a ele, principalmente por ser a primeira imediata do navio.

— Você sabe bem que eu não me importo de morrer aqui, fazendo de tudo para deixá-lo vivo. Eu nunca te culpei por nada. — Respondo enquanto dou alguns passos pequenos para me afastar do leme, onde o capitão está. — Mas eu também não posso questionar nenhuma ordem ou pedido do meu capitão. Mesmo com o coração aos pedaços, eu não vou lhe questionar. Eu sempre me orgulhei da minha lealdade. E não será agora que deixarei que qualquer coisa coloque esse orgulho em risco. Mesmo que você morra, eu continuarei leal ao senhor e buscarei vingança. Mesmo que eu morra, eu continuarei leal, e lhe perseguirei no além. E se sobrevivermos e o senhor me deixar naquela ilha, eu continuarei leal e encontrarei uma forma de encontra-lo. Eu só lhe peço uma coisa, como uma amiga. Nunca me de uma ordem para deixar de ser leal ou para nunca mais procura-lo. E nunca me de uma ordem para deixar de amá-lo.

Depois de dizer isso, eu comecei a correr em direção a proa, descendo as escadas do convés. Eu sentia minhas lágrimas se misturaram as gotas de chuva mas eu continuava séria. Próximo ao novo navio, do lado esquerdo eu consegui enxergar outra embarcação. Eram nossos aliados, o navio de apoio. Poderíamos ter uma chance agora. Quando cheguei a proa, consegui ver com mais clareza um dos navios da marinha que vinham em nossa direção, tentando nos encurralar. Como capitão no comando do leme eles nunca conseguiriam fazer isso, mas eu não iria ficar de braços cruzados. Eu ergo minhas duas mãos para frente como se estivesse fazendo um sinal para que os navios da marinha parassem. E então, eu usei minha habilidade. Minha Akuma no Mi. Meu segundo orgulho.

As gotas de chuva em volta do navio pararam no ar. Era como se o tempo tivesse parado. As gotas começaram a se acumulas acima da minha cabeça e formaram duas grandes esferas de água. Dois canhões foram disparados pelo navio a nossa frente. As esferas de água se moveram um pouco e as balas de canhão acertaram-nas. Mas as pesadas balas não atravessaram as esferas de água que pareciam tão frágeis. Elas ficaram boiando no centro das esferas. E então, mudando um pouco minha expressão, franzindo minha testa e com um movimento de braço, as esferas de água foram em direção aos navios da marinha. Quando as esferas acertaram seus alvos, fizeram com que as balas de canhão explodissem também. Oque abriu um buraco na carcaça de um dos navios. O outro navio apontou as canhões para o nosso. Eu olhei para o capitão com seriedade, já era para ele ter feito a manobra evasiva. Mas ele apenas me olhou com um sorriso. O navio de apoio ficou na frente do nosso e o capitão virou o leme todo de repente, eu me desequilibrei um pouco e ouvi um disparo. Uma bala de canhão acertou o chão, perto de mim e eu fui lançada para frente. Imaginei que iria cair na água do mar e que estava morta. Mas eu senti o chão duro a popa do navio de apoio se chocar contra as minhas costas. Eu tinha sido lançada diretamente para o outro navio. A embarcação de apoio virou repentinamente, e começou a fugir. Eu me levantei e olhei para o nosso navio. O capitão tinha ordenado que as velas fossem baixadas e tinha deixado o leme. Os navios da marinha cercaram e começaram a estraçalhar o navio com os canhões. E enquanto o navio de apoio se distanciava eu pude ver, em segundos, o navio e o capitão que eu tanto amava, serem destruídos.