Hoje era uma sexta feira. Nada de interessante aconteceu na aula, então vamos direto ao ponto: a aula de dança propriamente dita.

Chegando na escola, Hermione e eu encontramos Tris e as outras meninas na sala. A professora Emma já estava lá e logo começamos. As meninas tinham razão, era muito divertida e eu, surpreendentemente não estava com vergonha, porque todas as outras estavam dançando ao meu redor, me dando segurança.

Quando a aula terminou, Hermione ligou para sua mãe e Tris para a sua. Ficamos do lado de fora, esperando.

– Então, nós vamos sair esse sábado? – Tris perguntou prendendo o cabelo em um coque.

– Por que nós não saímos hoje? – perguntei.

– Por que hoje, Annie?

– Porque eu não tenho nada pra fazer amanhã e queria vegetar, sabe.

– Ok, pode ser. Mas avise os meninos então.

– Tudo bem, eu aviso. Nove horas no mesmo lugar?

– Isso.

– Ok, tchau Tris.

– Tchau. Até mais tarde.

Mione e eu fomos embora no carro da mãe dela. Chegando em casa me despedi e agradeci pela carona. Entrei em casa, morta de fome, e fui direto para a cozinha, encontrando minha mãe lá.

– Oi, mãe – disse pegando um copo d’água.

– Olá, filha. Chegou uma carta pra você.

– Uma carta?

– Sim, uma carta. Sabe, escrito e mandado por correio ...

– Eu sei o que é uma carta, mãe. Mas raramente recebi uma.

– Eu sei. Mas acho que você vai adorar esta.

Peguei o papel de sua mão e olhei. Era simples, mas sofisticado. Abri o envelope e comecei a ler o cartão lá dentro.

“Os senhores Fernando e Mônica Di Angelo, juntamente com sua filha Silena Di Angelo, convidam-no para o baile em honra ao dia do nome de sua primogênita.

A festa ocorrerá no salão tal (não me lembro do nome, desculpe), ás 19:00 do dia 14 de março.”

Dentro do envelope ainda havia um cartão com o nome de uma loja que vendia/alugava roupas de gala.

Preso ao envelope havia um cartãozinho de entrada e, atrás do cartãozinho, um outro, um pouco maior. Nele estava escrito:

“Se você recebeu este cartão, você está convidado a participar da dança do meu aniversário.

P.S.: se puder aceitar, por favor, enviar resposta o mais breve possível.”

Olhei para minha mãe.

– Onde o Ron está?

– No quarto dele.

– Obrigada.

Subi correndo os degraus. Nem bati na porta, o que poderia ter sido trágico se ele estivesse, por exemplo, se trocando. Mas para minha sorte ele estava apenas lendo.

Digamos que ele me olhou um pouco assustado quando entrei de supetão em seu quarto.

– Você recebeu?

– Recebi o que?

– Você não recebeu?

– Não recebi o que?

– A carta!

– Ah, a carta. Que carta?

– Ron! É sério.

Ele estava debochando de mim. Ele unia as sobrancelhas quando zombava de mim e era assim que ele estava.

– Ok, ok. Eu recebi sim uma carta. Agora posso saber o porquê de você entrar assim no meu quarto, sem bater?

– Foi mal. Queria saber se vieram dois cartõezinhos no seu também.

– Um de roupas e o outro para dançar? Sim, eu recebi.

– Ótimo. Adeus.

– Era só isso? Você só entrou aqui pra isso?

– Não – dei meia volta. – A gente vai sair hoje, só nós seis. Topa?

– Ok. Ás nove?

– Sim.

– Eu vou.

– Ok. Me chama então, por favor. E avisa o Percy e o Tobias.

Sai e fui para meu quarto. Já eram quase sete horas, então fui tomar banho. Depois que sai dele, liguei para Hermione.

– Eu aceito.

– Você aceita o que?

– O seu pedido.

– Annie, eu não me lembro de ter te pedido em casamento, então ...

– Idiota. Tô falando do convite do seu aniversário.

– Ah, isso. Obrigada.

– Será um prazer. Então, quando começam os ensaio?

– Semana que vem. A professora disse que é uma dança simples, então não precisava de tempo.

– Ok. Quem mais você chamou?

– Bom, da sala eu chamei você, o Percy, a Tris, o Tobias, a Lena, a Jean, o Charles e o Hugo. Eu chamei seu irmão da sala dele e da escola é só. Os outros são uns primos e amigos da minha antiga escola.

– Então você já morava aqui?

– É, eu só me mudei de casa e escola.

– OK. Depois nós conversamos mais sobre os detalhes. Vocês vão vir dormir aqui?

– Não sei. Vou ligar pra Tris e ver se ela vai poder. Depois te aviso.

– Ok, tchau.

– Tchau, tchau.

Terminei de me arrumar. Oito e meia Hermione ligou avisando que ela e Tris viriam sim. Faltando dez minutos para nove horas, meu irmão bateu na porta.

– Já tá pronta?

– Quase. Faz um favor? Liga pra Mi e pergunta se ela já vai trazer as coisas dela pra cá.

– Tá bom. Te espero lá em baixo.

Terminei de me arrumar e mandei uma mensagem para Tris perguntando se ela já ia trazer suas coisas. Ela disse que já estava entrando no condomínio.

Desci as escadas e encontrei meu pai e Ron conversando.

– Ligou pra Mi?

– Liguei. Ela disse que já está vindo.

– Ok. Pai, você leva a gente na pizzaria?

– Qual é a palavra mágica?

– Imperio? – sorri docemente. Meu pai adorava quando eu fazia referências.

– A outra palavra mágica ... – ele disse sorrindo.

– Por favor, papai?

– Melhor. Eu levo sim. Vamos só nós três?

– Não, Hermione e Tris já estão chegando.

Ouvimos uma buzina e duas vozes conversando. Quando abrimos a porta, Hermione e Tris entraram e colocaram suas coisas no chão.

– Oi, gente.

– Oi. Vamos?

– Claro, só deixa a gente colocar essas coisas lá no seu quarto.

– Ok. Vem, eu ajudo vocês.

Subimos as três carregadas de coisas. Pelo visto as duas tinham a política do só durmo com meus dois travesseiros e minha coberta. Resultado: uma pilha de coisas.

Voltando para baixo, meu irmão e eu pai já estavam no carro. Subimos e fomos para a pizzaria.

Chegando lá, Percy e Tobias estavam sentados numa mesa no canto.

– Oi. Demoramos?

– Não, acabamos de chegar.

Percy e Tobias se levantaram e puxaram a cadeira para eu e Tris nos sentarmos. Meu irmão fez o mesmo com Mione. Dei um discreto sorriso a Percy.

Fizemos o pedido e começamos a conversar sobre o aniversário de Hermione, é claro.

– Então, todos já confirmaram? – perguntei.

– Não. Só o pessoal da escola e alguns primos. Acho que as cartas do pessoal da minha outra escola ainda não chegaram.

– Mas você chamou todo mundo de lá e daqui?

– Daqui eu chamei todos, porque acho chato excluir os outros. Mas da outra escola só chamei aqueles com quem tinha mais contato.

– Certo. Mas Mi – perguntei de novo – os vestidos de quem vai dançar vão precisar ser iguais?

– Não. Na verdade, eu só tenho uma “exigência” quanto ao vestido.

– E qual seria, vossa alteza? – perguntou Tris ironicamente.

– Ele não pode ser bufante, por favor – soltamos uma risadinha.

– Por que não?

–Por que eu acho que não ficaria legal. E não vai ter espaço pra todo mundo se todas usarem vestidos bufantes.

Rimos novamente.

– E que cores você vai escolher, Mi?

– Eu ia ver se dava pra cada uma ir de uma cor, pelo menos o pessoal da valsa. Por exemplo, eu sei que a Annie vai querer azul e você vai querer vermelho – ela apontou para mim e para Tris. – Então, é só mudar os tons. Vocês vão querer claro ou escuro?

– Escuro – respondemos juntas.

– Ok. Depois eu anoto que vocês já escolheram.

– Ok. E a decoração e os enfeites?

E nós começamos, eu, Tris e Mione a falar sobre todos os detalhes e coisas até que o pedido chegou. Começamos a comer e mudamos de assunto, para os meninos, que estavam e sentindo excluídos, se juntarem a nós. Quando já estávamos prontos para pedir a conta, Tris cutucou Hermione.

– Mione, e a roupa dos meninos?

– Como assim, Tris?

– Eles vão usar ternos, certo?

– É, por que?

– Eles vão ter que usar cada um uma cor também?

– Essa é a ideia. Ai cada um usa uma gravata da cor do vestido da parceira.

– Ah, vai ficar tão lindo, Mi.

– Obrigada, meninas.

Pagamos a conta e fomos andando até chegarmos em uma pracinha ali perto.

Tris e Tobias continuaram andando, depois que paramos. O resto de nós se entreolhou.

– Vocês dois vão ficar bem? – perguntou Hermione.

– Claro, já estamos acostumados a ficar de vela, sozinhos. Podem ir – disse sarcasticamente.

Eles nos olharam interrogativamente.

– Ela quis dizer que podem ir e ficaremos bem sentados aqui – Percy disse pacientemente. Estranho, a paciente ali normalmente era eu.

– Ok. Annie, celular ligado, por favor.

– Ok, Ron. Adeus.

E ele e Hermione pegaram o caminho de cima. Percy e eu nos sentamos num banco ali perto. Começamos a conversar e de repente eu a vi. Num vestido tubinho com um copo meio suspeito na mão, Bella e suas seguidoras, que também estavam de vestidinho, vindo em nossa direção. Na boa, eu me sinto usando uma burca perto delas, e olha que eu também estava de vestido.

– Percy, disfarçadamente, olhe para a sua esquerda.

Ele olhou como se tivessem acabado de explodir uma bomba ao seu lado.

– O que que tem?

– Você não viu quem está ali?

– Não.

– A Isabella, Percy.

– Ah. E o que que você quer que eu faça?

– Não sei. A gente pode ir tomar sorvete e rezar pra ela não nos ver.

– Ok, mas pra todo caso, eu estou tomando conta de você.

– Em primeiro lugar, ninguém acreditaria nisso. É bem mais fácil acreditarem que eu estou tomando conta de você. E em segundo lugar, ela tá com um copo na mão. Ela deve estar bêbada já.

– Então vamos para a sorveteria.

Nos levantamos e fomos caminhando, Percy com o braço sob meus ombros e eu abraçando sua cintura, tentando parecer normais. Chegamos em frente a sorveteria e, quando pensamos que havíamos nos livrado dela, do nada, ela apareceu, como eu presumia, bêbada.

– Oi, gente. Nossa Percy, tá bem hein – ela disse com a voz super alterada.

– Oi Isabella – dissemos.

– Mas, Annabeth, você não me disse que vocês dois não estavam namorando? Desse jeito eu vou ter que infernizar sua vida, viu? – ela começou a rir descontroladamente.

– Não Bella. O Percy só está me fazendo companhia, porque os outros saíram pra namorar. Ele é todo seu.

– Sério? Obrigada, Annabeth.

Nesse ponto já havíamos nos sentado numa mesa de quatro cadeiras do lado de fora. As amigas de Bella haviam ido para dentro da sorveteria pegar sorvete, não deviam estar tão alteradas assim. Ela se sentou na cadeira ao lado de Percy e aproximou-a de Percy. Segurei o riso. Isso ia ser engraçado. Melhor filmar. Peguei meu celular e liguei a câmera.

– Percy, eu sei que sou linda e praticamente irresistível, então por que negar que você quer ficar comigo? – ela fez um biquinho e apoiou a cabeça na mão.

– Bella, entenda. Não sou igual a esses seus ficantezinhos que só ficam com você por interesse.

Ela começou a gargalhar.

– Ah Percy querido. Vai continuar negando? Sinceramente, não amo você, mas quero ficar com você para lhe dar status. Já pensou, não ser mais um nerd naquela escola?

– Acho que prefiro continuar com meu pequeno status do que ficar com você.

– Que pena pra você, Percy. Mas não se preocupe, sei perceber quando alguém está alterado e acho que esta é a sua situação. Farei a oferta novamente quando estiver em condições de responder.

Ela puxou-o e deu-lhe um beijo estalado na bochecha. Teria ficado com ciúmes se não tivesse sido a careta de nojo dele. Ela levantou-se e foi embora. Percy pegou um guardanapo e limpou sua bochecha, borrada de batom, enquanto eu ria da cena. Pedimos nossos sorvetes quando elas foram embora e começamos a toma-los.

– Eu não aguento mais essa garota. Na boa, ela me irrita.

– Mas você tem que admitir que foi engraçado, Percy.

Ele me olhou sério.

– Foi engraçado porque não era no seu colo que ela estava quase deitada.

Pontada de ciúmes: confere.

– Não posso fazer nada se ela ama você...

– Tem razão. Não tenho culpa de ser totalmente irresistível.

– Ai deuses, começou.

Terminamos e saímos da sorveteria. Nos sentamos no mesmo banco e, quando íamos começar a namorar me lembrei.

– Percy, e se ela vir a gente?

– Annie, ela está totalmente bêbada. Se ela vir a gente, é só nós mostrarmos o vídeo que você gravou e dizermos que foi uma ilusão e que nós nunca ficaríamos.

– Nossa, olha quem virou filho de Atena de uma hora pra outra? Deve haver um motivo muito bom para isso.

Ele sorriu maliciosamente e eu fiz o mesmo.

– Acredite, Sabidinha. Só uso meus conhecimentos naquilo que vale a pena – ele disse antes de me beijar.