Madame Nor-r-ra escrita por Yurie


Capítulo 1
Madame Nor-r-ra


Notas iniciais do capítulo

Tive essa ideia enquanto lia uma one original aqui do Nyah!: Mel (que, aliás, é linda), e, misturada com a morte ainda não superada da minha gata... Resultou nisso.
Aviso: altamente depressivo. Não recomendo a leitura a quem perdeu um animalzinho de estimação recentemente. Pode levar às lágrimas.



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A noite caía lá fora. A chuva torrencial caía junto, molhando os jardins e a terra. Filch limpou, resmungando, mais uma poça de lama. Aqueles alunos malditos. Como ousavam sujar o castelo depois de todo o trabalho que ele tinha para limpá-lo? Com podiam...

Ouviu um miado alto e longo. Soube imediatamente o que acontecera: algum outro maldito aluno estava sujando o castelo de novo. Irritado, o homem correu até a portaria e encontrou Potter e Weasley, as vestes de quadribol sujas de lama, parados no saguão. Irritado, correu até eles, mas os ruivos saíram correndo pelo outro canto, rindo do zelador já não mais tão jovem, manco pela guerra e incapaz de fazer magia.

Bufou, indignado, e parou com falta de ar. Já não era mais tão jovem quanto antigamente... Conseguia correr atrás de James Potter e Harry Potter, mas de James Sirius e Fred II... Ah, ele estava velho demais para isso.

Um miadinho chamou sua atenção, e ele se virou para a gata que se passava em suas pernas. Seu pelo estava mais despenteado do que nunca, seus olhos amarelos continuavam vivos, mas ela estava magra... Tão magra...

— Acho que estamos ficando velhos, minha querida. – sussurrou, pegando Madame Nor-r-ra no colo com delicadeza – Velhos demais para correr atrás desses moleques...

Dirigiu-se à sua sala, mancando com delicadeza. Nor-r-ra ronronava contra seu peito, agradecendo pelo cafuné. Filch preocupava-se mais com ela do que com o castelo. Já não pegava tanto no pé dos alunos, tampouco se preocupava com Peeves. Eles que fossem para o Inferno: Nor-r-ra era sua prioridade agora.

Depositou a gatinha com cuidado na cama improvisada que mantinha ao lado da mesa. Ela deitou-se e fechou os olhos, ronronando mais alto do que nunca. Subitamente ciente da baixa temperatura na sala, Argus tirou o casaco e depositou-o sobre a gata, esquentando-a o melhor que podia.

— Espere um pouco, minha querida. – sussurrou novamente – Volto já.

Mancou em direção às cozinhas, dessa vez não se importando nem um pouco com as poças de lama no corredor. Tinha um – e apenas um – objetivo em mente.

Adentrou o aposento e mandou os elfos domésticos prepararem o de sempre: leite morno com pão picado e um pouco de mel. Meio incomum, mas sua Nor-r-ra merecia apenas o bom e o melhor.

Apanhou o pires raso e foi, com todo o cuidado, para sua sala, pegando todos os atalhos que conhecia para ter certeza de que nenhum pirralho maldito o atrapalharia. Uma vez na sala, fechou a porta e depositou o leite, com todo o cuidado, na frente da gata. Fraca, ela começou a beber.

— Isso, minha querida. – sussurrou, acariciando sua cabeça – Vai ficar tudo bem... Tudo absolutamente bem...

Assim que ela terminou, ele deixou o pires de lado e pegou-a gentilmente no colo mais uma vez. Sua gatinha. Sua Nor-r-ra. Abraçou-a com força e ouviu-a miar. Um miado curto, fraco e gentil. Um miado que ele não a ouvia dar desde que ela era filhote há... Quanto tempo? Trinta anos? Mais? Ele não fazia ideia. Nor-r-ra tivera uma vida excepcionalmente longa, sabia disso, e era principalmente a esse fato que se devia tanto cuidado com ela...

— Eu te amo, minha querida. – sussurrou roucamente, surpreendendo até a si mesmo pelas palavras ditas – E eu não vou te deixar ir embora...

Mas, subitamente, o ronco sumira. Ela não mais miava ou ronronava – nem ao menos tremia de frio. Estava parada, o rosto contra seu peito. Como quando... Quando fora petrificada, quando a “Câmara Secreta” fora aberta pela última vez...

Mas desta vez não havia suco de mandrágoras para trazê-la de volta, e também não havia ninguém a quem culpar ou castigar. Não havia nada que ele pudesse fazer. Queria estraçalhar todos os alunos arrogantes daquela escola, todos aqueles que a odiavam, que desejavam isso...

Mas não podia. Não tinha forças para tanto. Pôde apenas depositá-la em cima da mesa e olhar com a vista embaçada pelas lágrimas sua querida. Sua gata. Sua fiel companheira, Madame Nor-r-ra.

Os criadores de caos da escola notaram, nos dias que se seguiram, que a gata não os seguia mais para lá e para cá, vigiando. Os times de quadribol notavam que não havia quem limpasse mais as poças de lama, e não havia mais gritos por aí amaldiçoando os alunos e queixas de que não podiam mais pendurá-los em sua sala pelos tornozelos...

Quando foram procurá-lo, encontraram apenas Filch, jogado em um canto, muito magro e pálido, lágrimas pelo rosto, abraçando um embrulho de pelos embolados muito frio e duro, com uma cauda, duas orelhas e dois olhos amarelos e opacos.

Não haveria mais ninguém para alertar o zelador de que os alunos estavam sujando o castelo, não haveria mais ninguém para farejá-los por aí, nem mesmo para acusá-los de fazerem algo errado e deixá-los nervosos mesmo quando não estavam fazendo nada de mais.

Não havia  mais Madame Nor-r-ra.


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Notas finais do capítulo

Mais uma vez, one-shot dedicada à minha Irina. Eu te amo, gatinha. Minha menina. =^.^=



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