Carta a Alexei escrita por Cosette Guinevere


Capítulo 1
13 de Março de 1960




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13 de Março de 1960

Caro Alexei,

Primeiramente, quero dizer que a culpa é toda sua. Eu sempre disse que não daria certo ter uma humana vivendo no meio de um grupo de imortais. Não era óbvio para você que sua querida Frances iria crescer e se tornar uma mulher? Você está vivo por tempo o suficiente para saber como as coisas funcionam, irmão. Seria mais bondoso deixá-la num orfanato para que fosse criada por humanos como ela. O que você pretendia? Transformá-la em imortal? Deixá-la envelhecer enquanto todos a sua volta continuam jovens para sempre? Qualquer que seja a opção, é deveras cruel e egoísta de sua parte.

Agora talvez eu deva me explicar. Você deve querer saber como isso tudo aconteceu bem debaixo de seu nariz, não é mesmo? Na verdade, acho que nós dois sabíamos o que iria acontecer assim que você chegou com aquele pequeno embrulho nos braços. Frances. Não tive muito contato com ela nesta época, admito. Mas ela me disse muitas coisas, ao meu ver você foi um ótimo irmão mais velho, senão um ótimo pai.

Ela foi crescendo e talvez eu estivesse com ciúme de toda a atenção que você, Mamãe e Giuseppe dedicavam àquela pequena coisinha. Iria viver o que? Provavelmente menos de um século. Como eu queria estar errado sobre isso... Mas infelizmente, sim, ela não viverá mais do que isso. Não vou transformá-la. Ela não merece viver nas sombras. Não ela.

Bem, acho que devo continuar a história. Saí de casa, cheio de mágoa e raiva. Tudo culpa daquela garotinha mortal. Vivi solitário por quinze anos e os deuses sabem o caos que eu causei enquanto estive fora. Não, isso não irá se repetir. Pelo menos enquanto eu estiver com ela, isso eu prometo. Quando voltei, passado este tempo, mesmo sabendo que Frances deveria crescer e seguir todo o processo natural das coisas, me surpreendi com seu intelecto, seus modos, sua beleza. Nunca foi esse o plano, eu queria matá-la e você sabia muito bem disto. Entretanto, foi em seu aniversário de dezesseis anos que tudo foi por água abaixo.

Ela estava deslumbrante, você se lembra? Um vestido de seda azul que contrastava com sua tez branca e suave, seu cabelo castanho preso em um elaborado penteado que estava na moda. Minha garota até mesmo pintou os lábios de vermelho e, céus, talvez eu nunca tenha desejado tanto beijar uma garota em meus 527 anos e foi o que eu fiz. Desculpe por isso, irmão. Mas você tem o direito de saber essa história.

A partir daí, talvez não queira saber, mas sua garotinha passou a me torturar. Cada dia ficava mais difícil ficar ao lado dela sem querer experimentar seu toque mais uma vez, mas tentei – e juro que tentei – me afastar de Frances como se a garota fosse veneno. Eu sabia que não deveria tocá-la. Eu sabia, mas a queria de tal modo que quase machucava. E ela sabia disto, irmão. Acredite quando digo que ela consegue ser cruel às vezes.

De qualquer forma, não ousei tocar em Frances até seu aniversário de dezoito anos. Durante a noite, ela saiu andou até meu quarto, onde me encontrou e me pediu um pequeno presente. Um beijo.

Não vou entrar em detalhes. Dei-lhe seu beijo. Consumamos nosso amor.

Entenda, estou terrivelmente apaixonado pela sua garotinha. Ela não é mais tão garotinha assim e sabe tomar suas próprias decisões. No entanto, sabemos que você nunca aceitaria. Continuamos juntos por mais dois meses, mas ontem Frances me pediu para que fugíssemos. Não me disse seus motivos, mas nunca poderia negar um pedido dela, ainda mais quando eu mesmo já ponderava sobre isto.

Espero que um dia você possa me perdoar, irmão. Acho que quando você ler esta carta, estaremos muito longe, mas peço em nome de Frances que não nos procure. Ela parece muito assustada, mas espero logo saber o que se passa realmente por sua cabeça. Eu a amo. Espero deixar isso bem claro.

Espero que consiga entender o nosso lado.

Prometo dar todo o amor que sua garotinha merece.

Com todo o respeito de seu irmão,

Vlad.

– Aquele bastardo! – Alexei amassou o pequeno papel em suas mãos, tentando em vão controlar sua raiva. Iria atrás de Vlad, nem que fosse a última escolha de sua vida.


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