A Elementalista não conseguia entender o que estava acontecendo ali. Teria realmente o desgraçado conseguido conquistar a confiança dos esquecidos? Não estavam falando de apenas dez ou vinte Dragões, estamos falando de centenas deles que vieram geração após geração. Sendo mortos por seus pais, avós, bisavós e assim por diante. Mas Heal não era o único com uma carta na manga.

- Hahahaha. Heal, você me surpreende cada vez mais, infelizmente, não é o único que possui truques. – disse ela dando uma leve piscada para o jovem no meio do lago.

- Interessante, a partir de agora não irei segurar meus ataques. Então lhe aconselho a usar ele agora. – a resposta do Elementalista veio rápida e ríspida.

- Não vai precisar, já ganhei de você normal. Acredito que ainda consigo.

Ao pronunciar tais palavras a figura do jovem aos poucos foi sumindo do seu campo de visão, seu olhos procuravam no vasto campo de batalha aquela forma, porém nada encontrava. Onde diabos teria ido parar? A resposta soou levemente no seu ouvido esquerdo.

- Aqui.

Um sussurro no seu ouvido a fez estremecer da cabeça aos pés. Em um rápido movimento se virou de costas tentando acertar um soco na cara do desgraçado. Mas o mesmo já não se encontrava mais lá.

- Alguém já te disse que você subestima demais seus adversários? – a voz entoou ao seu lado novamente.

- Sim. Mas eu não dou bola, no fim o resultado é sempre o mesmo, eu triunfando sobre eles.

- Sempre existe uma exceção minha cara Ayano, lembre-se disso. Sempre tem mais que uma alternativa.

Após as palavras do Elementalista terem saído de sua boca, a única coisa que ela lembra era de seu corpo levantando-se do chão, algo tinha chutado suas pernas. E quando estava em pleno ar tentando entender o que se passava, alguma coisa agarrou seus tornozelos e começou a girar. Ao olhar para ver o que era, podia ver os dois olhos brancos lhe encarando. Brilhando como a luz de lua cheia que brilha sobre as noites mais escuras.

Logo seu corpo foi largado, o chão estava perto, se ela esticasse seu braço apenas um pouco poderia encostar a mão e sentir a grama roçar entre seus dedos. Pump! Foi o som que seu corpo fez ao encontrar o tronco de uma árvore. Sangue saia de sua boca, suas costas estavam doendo como nunca. Ela sorriu em resposta, pela primeira vez usaria uma das duas magias proibidas, mas se sentia feliz por ser gasta em tal oponente.

Seus olhos voltaram a ter a tonalidade roxa que suas bolas de energia emitiam. Deixou seu corpo levantar em uma altura de cinco metros e cuspiu as palavras para Heal.

- Você acha que conhece os esquecidos? Hahahaha. Não brinque comigo! Vou lhe mostrar os verdadeiros esquecidos, aqueles que todos temem e que quando esta batalha acabar andaram pela terra livres, através da minha escolha.

- Nos apresente seus guerreiros então Ayano! – Gritou King do meio do lago. – Estou doido por uma boa luta. – Os dragões acompanharam a decisão de King com orgulho, desferindo grandes baforadas e tomando posições de lutas.

- Como você desejar, velho dragão.

A Elementalista começou a entoar um cântico, ninguém o entendia. Provavelmente algum dialeto hoje já extinto. Seu sorriso ia ficando cada vez mais estampado, de suas costas apareceram assas, mas ao contrário das asas de Heal, as suas eram de um negro pútrido, onde pingos de uma gosma preta caiam como ácidos no chão davam uma sensação de algo que estava se deteriorando, apesar de estarem intactas. Estendeu a mão direita em direção a Heal e em sua palma trazia uma bola roxa de energia e como uma ordem, desferiu as palavras:

- Meine liebe Kreaturen kommen, um aus ihren Gräbern erheben und kümmern sich um meinen Ruf.  

E da mesma forma que as palavras apareceram um sorriso triunfante brotou. Da sua bola de energia raios começaram a sair cobrindo todo seu antebraço, quando ela percebeu que já estava pronta jogou aquela bola de encontro ao chão.

Um, dois, três raios começaram a cair sobre o lugar onde a esfera tinha acertado. Um círculo gigante começou a se formar no chão. Do seu centro saia uma mistura de cores entre roxo e verde musgo.

Heal não conseguia entender, mas aquele círculo o deixava intrigado. Não era agradável ver aquilo. Percebeu que algo tinha alcançado a beirada do círculo, era uma unha ou um dedo? Logo uma mão inteira emergiu do buraco, pelo tamanho o Elementalista sábia que o dono da mesma era grande, muito grande.

Quando o “monstro” já estava todo para fora, Heal ficou boquiaberto com o que ele via. As mãos eram gigantes, de seus cotovelos e ombros saiam pontas, seus rostos eram tampados por máscaras demoníacas. O resto do seu corpo era coberto por um manto negro. Deixando apenas a vista, seus antebraços e sua mascará de demônio. E com o passar do tempo foi saindo mais e mais igual aquele do buraco. Até igualar o número entre Dragões e Criaturas do outro mundo.

- Bom, esses são meus amigos, também conhecidos como Pesadelos. – sua face continuava a exibir seu gigantesco sorriso.

- Dragões! – O grito de Heal fez que todos os dragões fossem parar ao seu lado como um passe de mágica. – A partir de agora está luta não é apenas minha, é de todos nós. Vocês queriam lutar comigo lado a lado e bom, chegou a hora de transformar a vontade em realidade. Se for para nos incentivar, daremos força um para o outro, se for para lutar, lutaremos juntos e se for para cair... – Heal virou de frente e encarou um por um. – cairemos juntos.

Os gritos dos dragões ecoaram pelos quatro cantos do campo. Eles desejavam aquela batalha como nunca antes. Tinha chegado à hora da verdade e mostrariam a Heal suas gratidões com ele, iriam mostrar que os Esquecidos tem grandes motivos para serem lembrados.

- Shadow...

O dragão ao ouvir seu chamado olhou para seu mestre, o mesmo estava de cabeça baixa e logo que levantou podia-se ver que escorriam lágrimas de seus olhos, o querido amigo sábia que aquela hora tinha chego, a hora da decisão final, o último seria colocado em prática.

- Heal, ainda tem tempo para mudar de idéia.

- Essa é a única que vai realmente resolver as coisas. – Ele olhou admirado mais uma vez para aquele Dragão, aquele seu companheiro e amigo. – Cara, eu nunca lhe disse isso, mas eu amo você.

A feição de Shadow passou de sério para alegre, um misto de sentimentos desconhecidos brotava no coração do Dragão, podia sentir as verdadeiras palavras saírem da boca de seu querido mestre. Algo cruzou a face preocupada de Shadow, fazendo assim o mesmo levar sua pata até o rosto, podia ver que lágrimas saiam do seus olhos, seu coração estava chorando. Como ele admirava aquele humano. Levou sua cabeça em direção ao rosto de Heal e o Elementalista assim lhe desferiu um beijo. A amizade e o amor entre os dois nunca iria sumir ou desaparecer, além de companheiros de batalha, eram amigos.

As pessoas que assistiam a batalha não entenderam os últimos movimentos de Heal, mas podiam ver que de longe tanto como Shadow, os dragões ao redor estavam chorando também, “mas o que infernos está acontecendo?” perguntavam-se em pensamentos.

- Ayano, a batalha irá acabar no próximo movimento.

- Não zombe da minha cara Heal! Isso está divertido, está apenas começando.

O jovem Elementalista observava o quando a sua inimiga estava cansada, seu peito arfava mais que o normal. Tinha chegado o momento, ela não podia se recuperar. Era agora ou nunca. Encheu seus pulmões com o magnífico ar do campo e berrou:

- Atacar!                  

E assim os Dragões comandados por Shadow se dirigiram ao campo de batalha para lutarem contra as bestas. Felizmente os Pesadelos não eram fortes, porém conseguiam incomodar, os guerreiros de Shadow mordiam, jogavam seus bafos de fogo e gelo sobre o inimigo, causando desespero e desordem em suas tropas. A batalha estava sendo vencida pelos Dragões. E logo também seria por Heal.

O Elementalista bateu suas asas e ao chegar a quinze metros de altura, abriu seus braços e cruzou suas pernas. Ficou na mesma forma que Jesus quando foi crucificado na cruz. Ayano ao ver aquilo não acreditou que ele iria usar e voou até sua altura, emparelhando assim  - Você é louco em usar isso? – perguntava incrédula.

- Vai dizer que tem medo agora? Venha para cima de mim com tudo o que tem. – indagou Heal.

E assim seu desejo foi atendido. A inimiga começou a formar suas duas bolas de energia novamente, porém desta vez maiores e com mais energias concentradas.

O Elementalista podia sentir que todos os Elementos ali reunidos vinham até seu corpo. Água, Terra, Fogo, Ar e Espírito. Seu corpo estava completo, nada mais lhe faltava. Fechou seus olhos deu um leve suspiro e quando voltou abrir seus olhos seu corpo já se encontrava a caminho em direção ao de Ayano.    

A primeira esfera lhe acertou no ombro direito fazendo assim ele ouvir um crack, de seu osso quebrando. Mesmo não perdendo as forças se dirigiu até ela. Os olhos da Elementalista pareciam surpresos, ele não tinha parado e se aquela energia toda a atingisse ela estaria morta. Logo que o corpo de Heal encostou-se ao dela a mesma abaixou a cabeça e desferiu um soco na barriga do adversário. Quando voltou a olhar para Heal as duas bolas de energia estavam na cara dela, a centímetros, mesmo com o braço quebrado, como ele conseguia isso?

- Porque Heal? Porque isso? – perguntou curiosa.

- Se lembra da nossa conversa? Todos merecem uma segunda chance para viver e com você isso não seria diferente. O que seria desse mundo sem nós? Ou nós sem esse mundo? Podemos destruir a natureza, porém, damos as pessoas saúde de alguma forma, claro temos que alcançar os países menos desenvolvidos. Cof. – uma bola de sangue voou de sua boca e acertou o peito de Ayano que arfava com o momento. – Mas com o tempo as pessoas vão colocar a mão na consciência e vão procurar um jeito para melhorar a natureza e levar saúde para aqueles que não tem. Por isso Ayano, não olhe só para o mundo que está sendo deteriorado, olhe para as pessoas que tentam fazer dele um mundo melhor.

As bolas de energia de Heal foram se apagando aos poucos e seus braços perdendo suas forças até caírem. A Elementalista o levantou e olhou para seus olhos. Levou um susto, pois aquele olhar de vida, felicidade, já não existia mais, tinham sido tomados por uma cor fosca, opaca, sem vida. Ela o segurou firme nos braços e chorou, aos poucos foi descendo com ele até o campo.

Pesadelos já não existiam mais, apenas Dragões, Elementalistas e uma manipuladora se encontravam naquele vasto campo. O grupo de jovens e dragões se deslocaram até onde estavam os dois Elementalistas dos Espíritos. Ao se aproximarem viram algo que não gostariam de ter visto, o corpo de Heal estava sem vida. Aquele alegre e tímido jovem não existia mais, apenas havia um corpo jazido ao gramado daquele campo de batalha.