Um leve punhado de gramado se ergueu no ar, com a pressão usada pelo pé direito de Heal para impulsionar seu corpo sobre o de Ayano. Tinha conhecimento, que quem acertasse o primeiro soco ou chute na batalha teria uma vantagem sobre o oponente. Ayano ao perceber a impulsão exercida pelo Elementalista, colocou seu corpo em posição de defesa e ao mesmo tempo ataque. Quando viu que o punho direito de Heal se fechou para desferir o soco, rolou para o lado e desferiu um chute na lateral esquerda do corpo do mesmo, porém sem sucesso, sendo bloqueada. Ambos se afastaram, dando um salto com as pontas do seus pés, abrindo assim uma distância de trezentos metros entre os dois. Os segundos pareciam ter sido minutos, até horas. Os Elementalistas das lutas anteriores estavam estáticos perante a situação.

A chuva que antes caía do céu, trazendo consigo enormes gotas d’água molhava a face dos dois, escorrendo por cima de suas roupas, onde seus peitos arfavam violentamente devido aos movimentos que recém tinham proferidos.

- Devo dizer que você é um excelente lutador. – Embargava respeito em sua voz.

- Posso dizer o mesmo Ayano, pena que apenas um pode se sair vencedor. – Foi a resposta que lhe foi enviada.

A Elementalista do Mal abriu suas mãos. Um vento começou a rodar o campo de batalha, energias novas eram puxadas sendo tragadas por suas palmas, Heal podia ver algo diferente começar aparecer, eram duas bolas roxas que de seu interior podiam-se ver pequenos raios cruzando-se e chocando às vezes um nos outros. Estava estático perante a cena da sua inimiga preparando uma magia poderosa, ela era a calmaria no meio de toda aquela tempestade. Seus olhos se fecharam e quando abriram-se novamente, trazia um roxo que emanava gigantesca presença por aquele campo. Trovões soavam alto agora, mais perto da batalha. Algo novo surgia dentro de Heal, o desejo pela luta, a ganância de querer apenas ganhar e nunca perder. Um choque. Cof. Sentiu sangue sair por sua boca, algo tinha lhe acertado o Elementalista levou a mão ao estômago, e logo após levantou seus dedos ao seu campo de visão. Vermelhos, sim, estavam vermelhos como as mais lindas brasas da fogueira gigante de uma festa de São João. Não teve tempo para reagir e logo a segunda esfera roxa lhe atingiu em cheio no peito, fazendo seu corpo ir em direção ao chão. Com o choque o corpo do jovem Elementalista foi arrastando pelo vasto campo verde até suas costas encontrarem às águas do lago. Seu corpo estava mole, fechou os olhos levemente, eles estavam cansados, às águas fizeram o trabalho de levarem sua pessoa para o fundo daquele lago.

- Healllll, levanta-se. Não vai cair apenas com isso não é mesmo?

- Eu reconheço essa voz. – pensava o Elementalista enquanto naufragava como um navio em meio às águas violentas.

- Quálé maninho, levanta aí. – outra voz soou reconhecida para o mesmo.

- Meu ferimento dói, foi profundo, sinto o sangue se esvair do meu corpo, como se fosse nada – respondia Heal para aquelas pessoas.

- Heal... – Essa voz ele não tinha como esquecer, era Shadow. – Estou ao seu lado há muito tempo, sei que você é forte. Vamos levante-se, é sua hora de triunfar. Não! É a nossa hora de reinar!

Tum... tum..tum... tumtum.O Elementalista podia ouvir a voz de seu coração, a voz de sua determinação e inspiração para estar ali. Shadow, meu querido e amigo Sadow.

- Heal, os escolhidos lhe aceitaram para você triunfar, e não para cair! – Falava King, o líder dos escolhidos de seu interior.

- HEEEAAALLL!

Dessa vez era Nagisa berrando, seus tímpanos mesmo nas mais profundas águas escutaram o desespero da voz da amada. Sentia vontade, seu espírito não iria se dar por vencido, as pessoas precisavam dele. Elas necessitavam viver, iria mostrar que todos podem mudar.

Os jovens Elementalistas que acompanhavam a luta estavam perplexos por o que tinham visto, Heal tinha recebido um golpe que o fez perder muito sangue, mesmo na chuva eles podiam ver o tamanho do ferimento causado. Nagisa, Sophie e Gabrielle, choravam com a cena dos ferimentos do companheiro. Após o segundo impacto e o corpo do mesmo ser arremessado e arrastado até ir de encontro à água. Foi triste, parecia um boneco de pano jogado no ar, algo sem vida, sem vontade ou determinação. Rick estava em estado de choque, não se movia ou falava, seus olhos tinham perdido o foco. Não, isso não está correto. É o Heal, não, não, NÃO! Repetia o Elementalista da Água para si mesmo. Foi então que um berro soou no campo, Nagisa tirou forças para dar um berro que nem mesmo ele sábia que a pequena conseguiria exercer.

Dez segundos se passaram desde o berro da jovem, nenhum sinal. Ayano já tinha tomado pose de vitoriosa, suas companheiras gritavam “Vitória” vendo sua líder se afastar do campo e vir em sua direção. Outros vinte segundos se passaram e a Elementalista dos Espíritos se juntou aos demais.

- Acho que a luta terminou. – Dizia triunfante.

Todos estavam paralisados perante a sentença, não era possível. A tempestade aos poucos foi passando de pingos grossos a leves gotas, e assim se reduzindo até terminar. O vento tinha desaparecido totalmente, como se nunca tivesse estado presente naquela luta.

- Mas que diabos está acontecendo? – Abordou Forest.

- Sabe que eu não faço idéia – falou Ayano. – Talvez seja a minha sentença sendo aceita pelos Deuses.

- A... a... a... a.... a... – Todos olharam perplexos para Kyooshi.

- Para de gaguejar menina – falou Kim, sua parceira de batalha.

A única reação de resposta da Elementalista do mal foi apontar seu dedo em direção ao lago.

Algo estava sobre as águas do lago. Seus olhos eram brancos como a neve do pico do monte Everest. Duas asas brancas aparentemente com três metros saiam das costas daquele ser.

- A... Ak... Akuma¹ – as palavras que antes não saiam, agora proferiram sua sentença.

Um sorriso apareceu na expressão fria que aquele rosto trazia. Um dedo começou a levantar e apontou em direção a líder dos Elementalistas do Mal.

- Agora a verdadeira luta vai começar Ayano!

Heal tinha surgido no meio do lago como um espectro aparece por vingança. Estava diferente, sua presença no campo era gigantesca. Seria o mesmo Heal que conheceram? Eles não tinham mais conhecimento de nada. Apenas que o amigo estava bem, e isso era o suficiente para lhes agradar. Sorrisos e choros de alegria brotavam nos corações e rostos daqueles jovens.

O Elementalista curvou-se sobre a água, fazendo um sinal de reverência aos amigos e aos Elementalistas do Mal, que se encontravam ao seu lado.

- Eu gostaria de apenas lhe apresentar para alguns amigos.

As pessoas se entreolharam, seus olhos expressavam uma curiosidade jamais vista, podiam ver o sangue escorrer do corpo do Heal onde as duas esferas tinham sido acertadas, então o Elementalista começou a falar com uma voz calma e serena.

- Vocês os deixaram, mas eu os busquei. Deram uma razão para morrerem tristes, eu apresentei uma razão para viverem felizes. Vocês os esqueceram, mas eu me lembrei. Apresento para alguns de vocês, os esquecidos.

Um facho de luz branca tomou os céus. Não existia mais dia ou noite, era um fenômeno único, apenas podia-se ouvir o som que seus pensamentos falavam como sussurros do além que preenchiam cada lugar do seu cérebro lhe dando idéias do que poderia ser aquilo. Um rugido estridente soou do nada, sendo embalado pelo vento até os ouvidos de cada Elementalista ali em campo, olharam para o céu e podiam ver cores voando. Verde, vermelho, preto, branco, azul. Era um misto de cores, um por um foram descendo ao chão e pousando com leveza, Rick e Sophie tentaram contar, mas desistiram quando a contagem chegou a cinqüenta, quantos mais há de aparecer? Seus corpos e assas gigantes eram cobertos por uma armadura que começava em suas cabeças e seguia até o fim de suas caldas. Alguns com chifres outros não. Suas faces expressavam ódio perante a cinco pessoas em comum ali. Os odiados Elementalistas do Mal, que os matavam para ter suas forças. Desgraçados, arrogantes, era para serem parceiros e não inimigos de guerra.

Os Dragões cercavam todo o lago em forma de “u”, mantendo Heal no centro do mesmo, trazendo assim uma imagem de capitão, os Dragões eram seu soldados de batalha que com apenas um comando eles bateriam nos lombos de suas montarias e seus cascos iriam começar a se chocar no gramado, fazendo assim seus cavalos correrem pelo campo de encontro ao destino cruel. Cinco dragões se portaram atrás de Shadow, que se mantinha autoritário atrás de Heal com seus trinta metros e suas assas estendidas, emanando sua presença, exigindo o seu devido respeito.

Um deles, o vermelho e poderoso King olhou para Ayano e pronunciou as seguintes palavras.

- Quanto tempo não é mesmo? Minha adorável mestra. – E curvou-se ao lado dos Dragões para Ayano.      

- K... Ki..King.

Um doce sorriso surgiu na face do Dragão.

- Minha promessa será concretizada hoje.

A única reação da Elementalista dos Espíritos foi dar dois passos para trás. 

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¹Akuma, em japonês significa Demônio.