- Eu não sou uma pessoa que foge dos meus problemas, sra. Ayano - retruquei ao seu pedido.

- Fico feliz de ouvir isso sr. Heal - terminou com a sentença.

Olhei ao meu redor para saber da onde vinha sua voz, então comecei a seguir uma parede de uma pedra, e no topo da mesma se encontrava ela sentada com seus cabelos verdes balançando, seguindo o fluxo que o vento fazia seus cabelos irem, ela me olhava seriamente, com seu olhar penetrante que qualquer um conseguia se sentir intimidado, ou com receio de continuar a encará-la, mas bom, eu sou o Heal, e não outra pessoa qualquer, e parecia que ela realmente gostava de me encarar, era uma sensação divertida, eu gostava daquela troca de olhares, mas não sabia o motivo do por que.

- Que tal você subir aqui, para nós continuarmos a conversa com uma visão agradável? - falava agora voltando sua face para frente, firmando seu olhar nas ondas que se formavam ao fundo.

Olhei para a parte de trás da pedra, e tinha uma leve escada que contornava a mesma, comecei a seguir o caminho e quando menos percebi estava já de frente para Ayano, ela me fitou, deu duas palmadas no lugar vazio ao seu lado e pediu para me sentar, dei alguns passos e assim ô fiz, sentei e pude contemplar o mar, com uma beleza indescritível, a brisa batendo em meus cabelos, causando a sensação de liberdade que só o vento conseguia, e ver a lua causando aquele reflexo magnífico da sua forma na água, como se houvessem duas luas, uma na terra e outra no universo, fiquei feliz com a cena e não pude esconder um sorriso.

- Lindo não é mesmo? - falava Ayano, olhando para o mar.

- Muito, é realmente maravilhoso - respondi para ela.

- É por isso que nós lutamos - seu tom soava sério agora. - Pessoas acham que podem aparecer e destruir essas belezas, o que adianta viver em um mundo tecnológico para simplesmente destruir as coisas mais lindas que vem da natureza, realmente vale a pena evoluir? - puxou suas pernas para perto do peito, cruzando seus braços ao redor delas, e afogando seu rosto nas coxas.

- Não sei se vale a pena - quando falei isso, ela levantou seu rosto como quem não acreditasse no que eu tinha falado, consegui sua atenção, então continuei. - Mas também, não podemos de deixar de seguirmos em frente, se estamos aqui, mesmo que seja para destruir essa beleza, teremos que aprender com nossos próprios erros - me deitei na pedra colocando meus braços atrás da minha nuca, fazendo meus dedos se entrelaçarem como uma conchinha. - Mas temos o tal do Livre-arbítrio, ou seja, a gente tem a chance da escolha, sobre o que queremos fazer ou não.

- Mas destruir a natureza é tão errado - falava agora me encarando. - Prefiro fazer que tudo volte ao ponto zero, e a natureza tome tudo o que já foi seu.

- E se você conseguir isso, o que vai fazer depois? - perguntei curioso.

- Isso é óbvio, eu terei comprido minha missão, e simplesmente morrerei, como se nunca tivesse aqui antes - falava confiante.

- E morrer é algo bom? - perguntei novamente.

- Não sei, provavelmente não. Eu também tenho medo de morrer, mas fazer o que, essa foi a missão que me foi dada, eu tenho que completar - pude ver uma lágrima correr seu olho.

- Você não precisa fazer isso, apenas deixe as coisas seguirem um fluxo, não mude elas, passado, presente ou futuro, não pertencem a nós, não podemos simplesmente chegar e matar o mundo todo, e deixar que tudo o que conseguimos até hoje, vá por água abaixo - falei.

- E você acha que é fácil, eu já fiz coisas que você nem imagina, meninas na minha idade deveriam estar namorando, sendo feliz, e não criando planos para ferrar os humanos, mas não podemos escolher quando nascemos com esse chamado - completou.

- Eu sei, acredito que a coisa que você fez mais errado, e sente mais falta, foi ter matado seu Dragão, seu companheiro.

Pude sentir que ela estremeceu com minhas palavras, afogou seu rosto nas coxas novamente, seu corpo tremia, eu sentia algo diferente vindo de dentro dela.

- Shadow, você sente isso? - perguntei para Shadow.

- Sim, eu consigo sentir, ela realmente sente arrependimento, mas ela esta emanando um outro tipo de energia, ela parece ainda ter seu Dragão dentro dela, ela acredita que ô matou, mas na verdade ele está vivinho, ela só precisa sentir o novo ser dentro dela, e se aceitar, mas isso é quase impossível Heal - Shadow tinha dado sua sentença.

Algum tempo se passou e ela continuou séria, com sua cabeça entre as coxas, ela se levantou rapidamente e pulou da pedra, e foi até a areia, se virou e me chamou. Me levantei, bati a areia do meu corpo e fui em sua direção, quando parei a sua frente ela voltou a ter seu olhar firme novamente, o mesmo olhar daquela menina determinada a destruir tudo, esse era o olhar daquela pessoa do avião. A brisa ao redor de nós começou a ficar mais densa, logo podia ver que o céu começou a fechar com nuvens, e leves pingos de água caiam em nossos rostos, a areia estava doida ao nosso redor, subia e descia em bons grãos. Ayano deu um leve sorriso e começou a falar:

- Hoje de noite, decidiremos as lutas, vamos firmar quem luta contra quem, e o método da batalha, lugar, e claro, à hora - sorriu ainda mais. - De acordo?

Dei um leve aceno com a cabeça, e pude ouvir Shadow falando:

- Heal, chegou a hora do juramento, se prepare para fixar as coisas e lembre-se, tudo a partir de agora, é sua decisão - falava Shadow de dentro de mim.

- Mas Shadow, eu não sei nem o que fazer! Como você quer que eu tire essas conclusões sozinho? - perguntava.

- Deixa as coisas fluírem, confio em você - eu não entendia como ele conseguia confiar tanto em mim, mas ficava feliz com aquilo.

Quando menos esperei, uma onda de raios começou a se chocar na areia em nossa volta, trazendo buracos na mesma, na água acontecia a mesma coisa, isso era realmente uma visão linda de se ver, mas ao mesmo tempo, dava um tremendo de um medo. Olhei para os olhos dela, que agora brilhavam em um branco fosco, fiquei vendo aquela situação e quando ví, estávamos na mesma sala negra de quando estávamos no avião, só que dessa vez eu não conseguia falar com Shadow, e aquilo me preocupava.

- Agora vamos começar a reunião, eu decidi em um método que seria ambos para os lados, espero que goste de minha proposta - falou séria.

- Fale sobre ela então - respondi prontamente.

- Serão três lutas - levantou sua mão, com três dedos aparecendo, fazendo o sinal das três lutas. - De acordo com essa parte?

- Estou achando interessante, continue - falei cruzando meus braços.

- Serão duas batalhas de duplas e a ultima eu contra você - me fitou séria, com seus olhos em cores normal dessa vez. - Ou seja, você escolhe as duplas do seu lado, eu as do meu, se a minha ou a sua ganhar duas seguidas, a batalha foi decidida, mas se chegarem a um empate, será eu contra você na final, de acordo?

- Estou de acordo sim. Mas agora - dei uma leve pausa. - Minha vez de impor regras, tudo bem?

- Fale suas sugestões que eu direi se aceito ou não.

- Os lugares deverão ser afastado dos humanos, não podemos ferir nenhum deles até o fim da luta, caso vocês venham a prejudicar algum deles, vocês automaticamente irão perder a batalha, ok? - falei olhando sério para seus olhos.

- De acordo, você já tem suas duplas selecionadas? - perguntou curiosa.

- Desde o momento que você deu a idéia, e você? - devolvi a mesma pergunta.

- Também, vamos decidir o lugar da primeira noite?

Dei um leve aceno com a cabeça, logo que terminei o aceno, o lugar onde estávamos sumiu, e agora nos encontrávamos em algum lugar no céu, com nuvens ao nosso redor, ela apontou para baixo e podia ver ali a ilha, Hawaii, e suas ilhas, ela apontou para uma pequena e disse que a ilha Kauai era a que menos tinha população, eu concordei com a cabeça, o terreno tinha sido definido.

- E a primeira noite, será daqui duas noites, a contar dessa, escolha sua dupla e mande para lá, nós não devemos interromper a luta de modo algum, seja quem for, lembre-se, interrompendo a luta, você está automaticamente jogando a toalha - falava séria.

- Concordo plenamente, mas tem mais uma coisa que me incomoda.

- E o que seria? - perguntou curiosa.

- Não quero que aconteça baixas de ambos os lados, se a pessoa desistir, ou desmaiar durante a luta, ela está sendo considerada automaticamente fora da partida, mesmo que a luta acabe ficando em dois contra um, de acordo?

Ela acenou com a cabeça, e quando vimos estávamos agora na praia novamente, o céu aberto, sem chuvas, nem marcas de trovões na areia como tinha antes, teria tudo sido uma ilusão? E quando menos esperei começou a cair uma grande chuva, Ayano passou por o meu lado e deu dois leves tapas no meu ombro e sorrio para mim.

- Até daqui dois dias - disse ela.

- Até - e quando ela estava a uns seis passos de distância eu falei. - Ayano? - fazendo ela se virar para mim. - Olhe mais para dentro de você, assim você terá várias respostas descobertas.

- Hã? - foi sua resposta.

- Apenas olhe para dentro de si mesma, se nunca meditou, chegou a hora.

- Alguém já te chamou de louco alguma vez? Hahahahaha. Gostaria de ter encontrado você em outro tipo de destino Heal, teria provavelmente me apaixonado por você.

- Ainda não é muito tarde para mudar as coisas.

- O destino já foi selado, infelizmente não podemos voltar atrás, até daqui duas noites.

E logo que ela começou a pisar na trilha de madeira, a chuva começou a cair com força, ensopando minha roupa, mas eu realmente não estava afim de sair dali, estava tão bom, fui até a pedra e me deitei lá novamente. Após passar algum tempo tomando água no rosto e pensando em como Forest e Gabrielle iriam se achar em uma luta, mas acredito que eles iam fechar bem, não tão bem como Sophie e Rick, mas teria que trabalhar em cima disso, teria dois dias. Pude sentir que algo levantou minha cabeça e colocou em algo fofo, achei que estava imaginando, mas quando menos esperei, algo tinha tocado meus lábios, um leve beijo, eu ainda assim continuei com os olhos fechados, achando que era Gabrielle que estava ali me beijando, mas o beijo estava diferente, estava desajeitado, mas bom, tinha Gabrielle resolvido fazer algo novo? E respondi aquele beijo como nunca tinha respondido um antes, e me sentei, e fiquei beijando à pessoa, era algo bom, se um beijo pudesse te levar aos céus, com certeza era aquele. Ao me afastar da pessoa e abrir os olhos ví que quem estava ali na verdade era Nagisa e não Gabrielle.

- Droga, fiz merda - falei prontamente.

- Porque foi uma merda? Se tivesse sido ruim tu teria parado - falou ela prontamente.

- Ma... mas, eu namoro, isso não é certo. Eu gosto da Gabrielle, isso é errado, como eu vou encará-la agora? Como direi isso a Gabrielle, nunca serei perdoado pela minha conduta errada - escorei minha mão na nuca. - Isso não vai dar certo.

- Mas você não gostou? - perguntou me olhando.

- Eu gostei Nagisa, mas, tem a Gabrielle, se eu não tivesse com ela, eu estaria dando pulos agora.

Ela sorrio para mim e se levantou, olhou firme nos meus olhos e colocou uma mão em meu queixo, levantou meu rosto para que nossos olhos se encontrassem.

- Lembre-se do que lhe disse, ela não merece você e logo tu saberá que eu estou certa, estarei esperando você amanhã de noite, pois tu já terá descobrido até lá.

E assim um trovão ecoou à nossa volta, quando fui olhar ao redor, e voltar a visão ela já havia desaparecido de minha frente, voltei o caminho todo pensando em como poderia me desculpar com Gabrielle, passei pelos corredores do hotel e quando cheguei ao meu quarto Gabrielle não estava mais lá, troquei de roupa e resolvi ir até o quarto de Sophie e Rick, para saber se todos estavam lá, bati na porta e só Sophie e Rick se encontravam no quarto, dei um sorriso amarelo e falei que precisava urgente conversar com os Elementalistas reunindo. Fui em direção ao quarto de Forest, depois iria atrás de Gabrielle.

- Cara, abre a porta do Forest sem avisar, por que se ele estiver com as caras em algum livro, ele não vai ouvir de jeito nenhum - falava Rick.

- É verdade, o comedor de livros quando se prende a um livro, sai da frente - completava Sophie falando do irmão.

Dei risada com a situação e assim ô fiz, ao abrir a porta vejo que Gabrielle está nos braços de Forest, e logo se desprendem do beijo, Sophie e Rick largam em um final de voz a famosa frase "uooou", eu olhei e aquela cena me incomodou, doía, realmente machucava por dentro, mas não era hora para aquilo.

- Heal, espera não é o que você pensa - ela falava, se perdendo nas palavras.

- Bom, eu acho que é sim, mas depois resolveremos isso. Preciso reunir os Elementalistas para uma reunião urgente, vamos para o terraço do hotel - falei sério.

- Mas He... Heal, é claro que é importante, sabe nós? - falava agora se perdendo mais ainda.

- Não existe mais nós a partir dessa noite Gabrielle - olhei ela firmamente. - Mas conversamos isso depois, e Forest, você irá participar da conversa também - falei apontando para ô mesmo.

- Sem problemas - dizia ele arrumando seus óculos.

- Mas sobre o que seria essa conversa? - perguntou Rick.

- As lutas foram decididas! - respondi prontamente.

Um silêncio se instalou no corredor, a largada tinha sido dada, quem ganhará aquela batalha? Seria tudo salvo ou tudo terminado? Não sei, vamos descobrir daqui duas noites. Apenas comecei a andar em direção do terraço, sendo seguido pelos outros quatro Elementalistas.