— Que o traz aqui, Thor? É aquela história da sua humana de novo?

Sif soltou um barulhinho de desgosto com a boca, mas tão discreto que ninguém percebeu.

— Um trato. Uma troca — ele riu de canto ao ver Malekith olhar para seu artefato mágico com cobiça — Dê-me o que restou do Éter e poderá ficar com isto — balançou a Manopla — Na condição de deixar os nove reinos intactos.

— Oh, mas é claro. Por que não? — falou, num tom de voz estranhamente gentil — Boa proposta de paz, boa mesmo. Deixe-me pegar o... ACHA QUE SOU BURRO, LOKI?!

Então o elfo partiu para cima deles e os três engataram numa luta completamente injusta, quando o exército negro apareceu para defender seu líder. No entanto, Loki não saiu da sua forma "Thor" por motivos óbvios de força física. Enquanto Lady Sif lutava com maestria, Loki não conseguia desviar de todas as investidas. Era mais do que óbvio que suas habilidades mágicas eram infinitamente superiores e... Então era isso! Como ele não pensara naquilo antes?

O deus das pegadinhas entrou na mente de Sif e combinou outro plano de ação. Ela conteve uma risadinha e entrou na dramatização; Loki começou a arrancar pedaços da luva de ferro e jogar em direção ao elfo. A cada jogada, um grunhido de dor e um feitiço desviado. Quando estava para terminar, Sif corre para longe e grita:

— Que diabos está fazendo?!

— Já disse que vim fazer uma troca! — a voz grave de Thor saiu da boca do deus — Estou dando gentilmente para ele! Agora, Malekith, o Éter.

Loki voltou a sua forma original e se aproximou do elfo, que agora estava sozinho, afastado do resto. Agachou-se e sussurrou em seu ouvido:

— Ora, vamos, Malekith — reconstruiu a luva recém-destruída e colocou-a no chão, ao lado dele — Com os reinos em trevas eu nunca poderia fazer uma aliança com você. Dessa vez, eu consigo o trono. Farei acordos com todo o seu exército de elfos. Dou minha palavra, pode ficar com a Manopla. A guerreira ali não sabe de nada, pensa que estou aqui a mando de Thor.

O elfo negro rosnou qualquer coisa e não tirou os olhos de Loki. Este, dava mais uma de suas gargalhadas de vitória enquanto esperava uma resposta. Só não imaginava que ela viria em forma de socos e investidas. O exército de Malekith estava quase todo centrado em Loki e o líder deles gargalhava de prazer, deitado nas rochas do Mundo Sombrio.

— Quem está rindo agora, Loki?

E, com mais outra gargalhada, o elfo se levantou para entrar no campo de batalha. No entanto, fora surpreendido com um ataque lateral; sentiu um peso tremendo em suas costelas, algo bem pesado... Talvez uma rocha, quem sabe? Curvou-se de dor e então pôs os olhos no seu adversário:

— Um bom guerreiro nunca ataca de costas — Thor deu uma piscadela e voltou a se defender dos elfos mais próximos.

— Desgraçado! — o líder dos elfos gritou, enojado.

— Devolva o Éter, Malekith — Thor berrou, entre os zunidos de espadas e o barulho abafado de seu martelo — Será melhor para todos. Devolva-o para nós!

— Não faça-me de bobo, Thor. Não tenho acordos com ninguém!

— Eu sei que o meu irmão não é bom com esse tipo de coisa — falou, se desvencilhando de mais alguns e ficando finalmente de frente para o elfo — Mas eu, Thor, primogênito do Pai-de-Todos, estou aqui e posso assegurá-lo de que Loki diz a verdade. Estamos dispostos a fazer um acordo.

Malekith tinha os olhos fuzilantes, quase queimando. Avançou com sua espada para Thor, praticamente berrando.

— Já disse que não faço acor...

— Se o fizer, poupo sua vida — Thor interrompeu-o antes que pudesse ser derrubado. Inverteu o jogo, agora com o elfo preso aos seus pés, e com o nariz a centímetros do dele — Poderia acabar com você e o seu exército agora, mas estou disposto a deixa-los se aceitarem a proposta.

Thor virou o rosto rapidamente para ver o resto do campo de batalha: de um lado, alguns dos elfos com quem lutara estavam estirados no chão, desacordados; do outro, milhares atacavam seu irmão e Lady Sif, a qual dava conta de derrota-los praticamente sozinha numa batalha injusta. Mas era atrapalhado demais, aquele Loki. Se estivesse sozinho já estaria derrotado, provavelmente. Tudo o que sabia fazer era lançar metais sobre eles, mas havia muitos deles, aquilo não seguraria a onda por tanto tempo assim.

— Vamos, Malekith, o Éter — Thor estendeu a mão, com dificuldade, sem afrouxar um segundo sequer seu adversário.

— Não antes da Manopla — resmungou um tanto contrariado.

— LOKI!

O deus do gelo levantou as orelhas e ouviu o irmão gritar-lhe uma ordem. Notou a presença dele naquela hora apenas, estava tão ocupado lutando que nem prestara a atenção na chegada de Thor. Ficara surpreso, obviamente. Mas não conseguira esconder o sorriso de alívio ao vê-lo ali, ajudando. Loki não gostava de admitir, mas tudo o de mais forte que ele sentia pelo irmão mais velho era admiração; uma admiração tão intensa que se transformara em ciúmes e, posteriormente, em inveja. Mas estava mesmo aliviado por tê-lo ao seu lado. Lady Sif não aguentaria tudo sozinha...

Desde o momento das primeiras investidas, Loki havia se distanciado do seu alvo principal. Estava a alguns metros dos dois, mas de lá mesmo jogou a Manopla — que a essa altura ele já havia tirado do chão há muito tempo — para seu irmão, o qual agradecera piscando o olho. Malekith, por sua vez, tirou um frasco de dentro das vestes, com um líquido viscoso por dentro dele; estendeu-o ainda desconfiado, e por um curto momento ambos tinham seus objetos de desejo nas mãos para serem trocados.

Thor afrouxou seu inimigo e, vagarosamente, saiu de cima dele. Os dois se encararam sem dizer coisa alguma e guardaram seus pertences nos bolsos. Malekith, temendo qualquer inconveniência por parte de Thor, resolvera ir logo embora, mas não antes de ter certeza de que eles estavam fora do caminho. Por isso, ordenou que seu exército parasse com as lutas e estagnassem bem atrás dele.

Thor, Lady Sif e Loki encaravam-no de frente ao batalhão de elfos negros do Mundo Sombrio. Ventava muito, e o cheiro de sangue e carne morta era realmente angustiante. Estavam loucos para saírem de lá com tudo resolvido. Pouco antes de irem embora, Loki balançou o vidro com o Éter, sorrindo na direção dele, quando este sussurrou em seu ouvido:

— Você sabe que nosso acordo foi outro, não sabe?

— Mas é claro! — respondeu, completamente satisfeito.

— Você tomará o trono de Thor. Não se esqueça de nossa aliança. Não faço muito isso, mas quando aceito, levo a sério. Não fure comigo, moleque.

Loki balançou a cabeça, rindo, e acenou antes de correr para se juntar aos outros no portal.

— Tchau, Malekith. Aproveite as joias!