Hogwarts, Uma História escrita por they call me hell


Capítulo 2
Introdução: A Era Medieval e a Caça aos Bruxos


Notas iniciais do capítulo

Esta é uma introdução referente a como estava a sociedade bruxa durante a era medieval, para que vocês possam entender posteriormente as causas e consequências da construção de Hogwarts. É um capítulo curto, visto que não achei interessante me aprofundar muito, mas vocês em breve poderão ler explicações mais desenvolvidas a respeito dos fatos aqui citados em um link que disponibilizarei.



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A ERA MEDIEVAL E A CAÇA AOS BRUXOS

Os bruxos existem desde os primórdios da humanidade. Isso é perceptível através de detalhes históricos muito conhecidos, como, por exemplo, a construção das pirâmides no Antigo Egito; a curiosa estrutura de Stonehenge e sua história apagada no tempo; as linhas de Naska, feitas há cerca de 2500 anos; entre outras tantas evidências claras. Isso tudo apenas ilustra que, no princípio, bruxos e trouxas viviam em harmonia e a magia, ainda que não totalmente declarada dessa forma, era praticada livremente. Como de seu costume, estes homens e mulheres costumavam creditar os mistérios da vida aos seus deuses – que, em suas mitologias, possuíam grandes e variados poderes –, iniciando como seres da natureza e seus fenômenos, e posteriormente passando para seres com a imagem de seus idealizadores humanos. Retomando o exemplo claro no norte da África, a maioria dos bruxos ocupavam cargos importantes como sacerdotes, utilizando de sua magia para prever o futuro, curar doenças, eliminar pestes e realizar grandes celebrações às figuras superiores em que acreditavam. Outros usos típicos dos conhecimentos e habilidades mágicas na época podem ser vistos claramente em tarefas campestres, como o cultivo de diferentes tipos de plantas com maestria, sua utilização no preparo de poções com diferentes fins, e até mesmo na compreensão excepcional que esses povos tinham do céu, através de estudos rudimentares que geraram a astronomia.

Com o avanço do tempo, os homens, porém, mudaram. Já na era medieval, tornou-se impensável e inaceitável que pessoas entre eles pudessem ter os poderes até então creditados aos deuses, os quais passaram a ser vistos como uma afronta, por conta da inveja e medo dos trouxas. Isso, sem dúvidas, foi o que gerou a criminalização dos bruxos e resultou no hábito que temos até hoje de ocultar a nossa magia dos trouxas, nos dividindo em uma sociedade a parte. Se antes os bruxos eram admirados e queridos entre os seus diferentes, cabe a reflexão a cerca de que como todos nós mudamos a nossa concepção uns aos outros ao longo dos séculos, nos distanciando e, principalmente, travando guerras. Muitas das quais falaremos adiante por terem afetado direta ou indiretamente Hogwarts e as tantas pessoas que por ali passaram.

Foi com o início dos anos 400 que a caça aos bruxos passou de uma forma de “auto-proteção” para uma espécie de conquista pessoal. Os homens mais poderosos pagavam por suas cabeças, temendo a perca de seu poder de comando e econômico, financiando assim a morte de milhares de pessoas – muitas delas inocentes. Nesta época, vale dizer, a ganância dos mais pobres e o temor dos mais ricos tornou todo e qualquer fato digno de magia aos olhos daqueles que não a praticam. Se uma pessoa tinha grande conhecimento de plantas e através delas conseguia curar doenças mais simples, o que era bem comum pela então falta de remédios trouxas, era dita bruxa, posteriormente sendo morta sem direito de julgamento ou defesa. Existem ainda muitos outros exemplos simples da tolice humana e isso levou os bruxos a se esconderem por muitos séculos, temendo uma morte brutal e o fim da magia, para as quais a reclusão em pequenas comunidades passou a ser a saída.

Se a vida em cidades trouxas era difícil, de modo que o uso de seus poderes permanecia bloqueado, nas vilas exclusivamente bruxas nada era fácil, tampouco, sendo invadidas e exterminadas com violência em muitas ocasiões. Eis que, por falta de literatura e estudo adequado, cada região acabava utilizando tipos específicos de feitiços, próprios para a sua realidade. Os povos do leste europeu são conhecidos até hoje por dominar perfeitamente os feitiços de manipulação elementar, capazes de mantê-los aquecidos nos rigorosos invernos através do fogo. Por outro lado, não eram grandes conhecedores de magias protetivas, visto que passavam a maior parte do ano reclusos em seus lares, tendo uma vida quase que completamente rural. Em contrapartida, os povos de áreas mais povoadas acabavam por desenvolver muito mais os feitiços capazes de lhes garantir segurança, conseguindo ocultar pequenas comunidades formadas totalmente por bruxos e tornando suas vidas mais amenas. Assim, iniciou-se a divisão entre essas duas categorias tão distintas, que um dia viveram juntas em paz e harmonia. Que os trouxas é que perderam muito mais com isso, torna-se óbvio.

 

Em uma época de tamanha disputa, as uniões entre bruxos e não-bruxos eram praticamente nulas, mesmo que um dia tivessem sido tão naturais. Inclusive, o popular termo “trouxas” que utilizamos hoje para nos referir àqueles que não realizam magia, é creditado a ninguém menos que Salazar Slytherin durante a construção do castelo. Existem até hoje famílias que seguem este mesmo padrão, descendendo de bruxos puro-sangue e relacionando-se apenas com outros vindos dessa mesma linhagem e concepção. Alguns nomes comuns ao longo da história são de famílias como os Black – que posteriormente tiveram sua tradição quebrada por Andrômeda Black, que veio a casar-se com o mestiço Ted Tonks –, os Rosier, os Lestrange e os Malfoy, todos importantes para a história de Hogwarts nos anos posteriores. Apenas muitos anos depois é que se relataram as primeiras uniões entre trouxas e bruxos outra vez, sendo que estes últimos abdicavam de suas habilidades mágicas pelo bem da convivência e, às vezes, acabavam também por dar origem a abortos – bruxos mestiços sem qualquer capacidade para a bruxaria. Essas relações, infelizmente, não eram nada saudáveis e acabavam quase sempre em tragédia com o nascimento dos filhos, principalmente quando estes herdavam a magia de um dos pais e passavam a manifestá-la de forma incontrolada, como as crianças sempre hão de fazer antes do início da prática.

Foi durante essa situação histórica também que outra coisa muito importante tomou seu espaço entre os bruxos: a criação e utilização dos feitiços não-verbais. Os bruxos antigos utilizavam meios físicos para propagar sua magia – como as varinhas criadas pelos bruxos europeus através da família Ollivanders em 382 antes de Cristo –, mas com as perseguições trouxas se tornou impossível ter esse tipo de utensílio, forçando os bruxos a se renovarem na forma de realizar seus feitiços. A magia não-verbal provou ser não só uma forma mais segura de utilização, como também um desafio a ser conquistado. Esse tipo de encantamento exige não só um conhecimento profundo do feitiço em questão, mas muita concentração e prática constante. Por fim, difundiu-se principalmente na América, tornando-se o exercício mágico mais comum até 850, quando as varinhas voltaram a ser o utensílio preferido dos bruxos. A razão dessa súbita preferência e mudança de costumes é creditada a muitos bruxos que se especializaram na arte da criação de varinhas naquele ano, movidos pela febre que o resgate das tradições distantes causou. De fato, hoje em dia é particularmente difícil encontrarmos muitos bruxos que fabricam esse utensílio essencial. Isso se deve ao complexo conhecimento necessário para essa atividade em especial, a qual até hoje nos surpreende pela forma fantástica com a qual nossas varinhas nos escolhem. Se hoje podemos nos comunicar através de patronus, certamente é porque aperfeiçoamos e evoluímos a fabricação e usos de nossas varinhas.

Preciso dizer que em 850 aconteceram muitas coisas, se pensarmos bem. Este foi um marco para a restauração da moral bruxa, com o desenvolvimento das pequenas comunidades em vilas maiores e a expansão da gama de encantamentos utilizados pelo povo. O resultado disso foi a preparação dos bruxos para a Revolução Mágica de 920 e a própria criação de Hogwarts, provavelmente a primeira escola de magia primária no mundo. Até então, para entendermos bem, é necessário saber que o estudo da magia era realizado dentro dos lares e que os professores eram os próprios pais, tios e avós dos alunos em questão. Isso era extremamente benéfico para os sangue-puro, porém, resultou em muitos falsos abortos nas famílias mestiças, pois crianças desse tipo viviam em ambientes não propícios para o ensino mágico, impossibilitando seu aprendizado e desenvolvimento. Como não havia livros específicos para esses fins, visto que a escrita ainda era rudimentar, as aulas tinham sua teoria expressa de forma verbal e sua prática por vezes causava alguns problemas, como nos conta o quadro de Godric Gryffindor, em Hogwarts.

É ele também quem nos dá a visão de que o divertimento preferido dos bruxos da época eram os duelos – fossem eles armados com espadas e escudos ou com varinhas e capas. Estes duelos marcavam importantes momentos, principalmente o de transição da infância para a vida adulta de um indivíduo. Em muitos lugares, ainda segundo Gryffindor, era comum ver as crianças aprendendo a magia em seus lares para, aos dezesseis anos, passarem por um teste de fogo, o qual consistia em, primeiro, demonstrar domínio sobre os feitiços mais simples e cotidianos para, posteriormente, enfrentar seu professor em um duelo. Esse tipo de competição era admirada principalmente por atestar a capacidade e o respeito dos indivíduos, possibilitando que tivessem maior liberdade e, conseqüentemente, maiores responsabilidades em suas vilas. Essa liberdade, por vezes, era tão ansiada que em muitos vilarejos tornou-se comum o hábito dos jovens abandonarem seus lares por alguns anos para aprender magias diferentes em outros lugares, iniciando novamente o processo de estudo e de se atestar competência antes de retornar para casa com novas histórias para contar. Godric Gryffindor foi um bruxo extremamente famoso nos anos 900 graças a esse tipo de experiência. Nascido e educado em uma vila típica de seu tempo – que passou a se chamar Godric’s Hollow em sua homenagem, anos depois –, o criador da Casa que leva seu sobrenome em Hogwarts aprendeu com a mãe os mais úteis feitiços bruxos, enquanto seu pai lhe demonstrou como manejar com perfeição a espada. O resultado disso é bem conhecido nos dias de hoje, mas a história de Godric como o grande duelista que foi, é claro, não deve ser adiantada em nossa cronologia. O que tiramos desses relatos surpreendentes é que apenas no final do século X os bruxos começaram a se erguer novamente, o que nos leva até a Revolução Mágica de 920.

 

Com a estabilidade adquirida pelos bruxos em suas comunidades cada vez maiores e mais desenvolvidas, os trouxas se tornaram ainda mais temerosos quanto ao seu futuro, principalmente por conta das matanças injustificadas no passado. Assim, a revanche veio através de um ataque a uma das maiores vilas trouxas da Grã Bretanha, quando os bruxos repetiram o que lhes fora feito durante tantos anos vingando suas famílias através de uma nova onda de ataques. Desgostosos com os rumos tomados, os trouxas foram astutos, ao menos uma vez. E teriam perdido a disputa, apesar disso, se não tivessem conseguido capturar o desprevenido Baelir, filho mais jovem do famoso bruxo Finnerath, um dos maiores líderes na libertação da comunidade bruxa da época. Finnerath, como o bom homem que era no fundo do seu coração, ordenou que os ataques parassem e quis negociar o retorno de seu filho em troca da interrupção das mortes. Infelizmente, como conta o quadro de Finnerath nas escadarias do castelo de Hogwarts, os trouxas não aceitaram o acordo e, tendo uma vantagem, mais uma vez assassinaram um número ilimitado de bruxos, mantendo o pobre Baelir consigo durante toda a sua vida precocemente findada. Se hoje nos parece tão impensável que a comunidade mágica tenha atado suas mãos diante dos trouxas quando tinham a magia a seu favor, devemos então nos lembrar que eram outros tempos, onde a magia ainda não era tão desenvolvida e com um número muito superior de trouxas que, anteriormente, já haviam rebaixado os números de bruxos em suas terras, acuando-os.

A nova fase que seguiu-se a isso, sem dúvidas, foi impulsionada pelos primeiros ideais que mais tarde originariam o Estatuto Internacional de Sigilo que entrou em cena apenas no ano de 1962, quando os bruxos de todas as comunidades mágicas pelo mundo decidiram esconder dos trouxas as suas capacidades mágicas para evitar conflitos desnecessários. Como no passado, as relações entre bruxos e trouxas foram cortadas, e, principalmente, os casamentos deixaram de ocorrer não apenas por uma questão ideológica, mas por respeito à lei. O hábito que muitas famílias hoje possuem de se nomear “puro sangue”, é claro, surgiu durante essa época e refletia não o fato de seus antepassados nunca terem se misturado com trouxas - o que, claro, é quase impossível -, mas sim representava a sua posição diante desses casamentos. De todo modo, os primeiros debates nos anos 900 que originariam tudo isso, tornaram o momento extremamente propício para a construção de Hogwarts, como veremos adiante.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?